23 outubro 2018

«Surpreendes » - Susana Duarte

surpreendes as memórias,
num presente anunciado:
todo o tempo é terreno,

todo o mar salgado
é uma ave rara

por cumprir.

surpreendes, todavia, as memórias
e acordas as navegações
de um ventre oculto

onde as palavras mortas
recuperam a água
e renovam o vôo.

são águas novas,
as que se sobrepõem à morte.

são vôos novos,
de aves antigas. são vôos
delicados de aves temerosas.

são os dias
de agora. são os dias
das deusas e das estações.
são os dias das quimeras,

onde as aves atrasam o vôo
e as mulheres se entregam às nébulas,
tao rarefeitas como elas

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Para que conste

"Para quem não sabe, mamas é o termo científico da coisa. Não é nem seios nem peito(s) nem maminhas nem mamocas. É mamas."
Pureza

Felizmente há quem saiba trazer para o Twitter as questões verdadeiramente importantes da sociedade. Quem me conhece sabe que não estou a brincar.

Sharkinho
@sharkinho no Twitter

Um casal em cada maminha

Soutien bege e preto com folhos, da La Perla Black Label, estampado com gravuras de casais em posições sexuais.
Junta-se à lingerie da minha colecção.










A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

20 outubro 2018

«Escrevo-te» - Susana Duarte

escrevo-te, para que saibas onde estou

perdi-me para além das amoreiras bravas,
que me pintam os lábios, e a pele, e os sentidos,
com as cores profundas das noites azuis

escrevo-te, para que saibas onde estou

perdi-me para além dos oceanos, onde nereidas
consomem o sal sereno dos mares calmos,
e a história nos reescreve nos dias salgados da procura

escrevo-te, e quem sabe, descobrir-me-ás

onde as Náiades serenam as águas já doces
e as amoras me preenchem com o rubro das suas bagas,
e o sumo delas me escorre pelos lábio, que beijas,

na procura incessante dos horizontes para além dos quais me perdi

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«Love by grace» - Mário Lima



"Não vim aqui para te deixar..."

Mário Lima

«Faz hoje anos» - Rui Felício

Estudantes de Coimbra... das Caldas
na colecção de
arte erótica «a funda São»
O Quim Reis desafiou-me e eu, sempre pronto, acedi.
Ele namoriscava uma moça da terra da avó dele e queria ir até lá para estar com ela.
Tarei era a terra próxima de Vila da Feira onde teríamos que nos dirigir.
A dormida não seria problema, garantiu-me o Quim Reis. Ficaríamos uns dias em casa da avó, uma vivenda grande e antiga de rés-do-chão e primeiro andar. Quanto à viagem teríamos que a fazer à boleia pelo que, para a facilitar, convinha que fossemos de capa e batina.
E assim fizemos. Saímos do bairro e postámo-nos ao pé da Estação Velha.
Depois de três boleias diferentes, lá chegámos a Tarei.
As vindimas tinham ocorrido uns dias antes pelo que na manhã do dia seguinte, fomos convidados para irmos provar o vinho “monstro”, corruptela popular para designar o mosto.
Era um liquido dulcíssimo, obtido após a fermentação inicial, em que a quantidade de açúcar ainda elevada e não completamente convertida em álcool lhe dava um travo agradável ao paladar, encorpado, quase mastigável.
Já não me lembro de quantas adegas visitámos. Pareceria mal não retribuirmos a simpatia dos convites, razão pela qual em todas bebíamos um ou dois copinhos do néctar.
À tarde, regressados a casa, as tripas começaram a revolver-se, pois que o vinho “monstro” provoca desarranjos intestinais, segundo nos explicou serenamente a avó do Quim.
Depois de sucessivas correrias para a casa de banho até ao anoitecer, a juvenil idade ajudou a restabelecer a normalidade. E ainda bem, porque nessa noite estava programado, no terreno fronteiro à casa, um bailarico para assinalar o fim das vindimas.
Ao som de uma concertina, um bombo e um violão, os convidados dançaram freneticamente as modas que os músicos iam tocando.
O Quim com a sua namorada.
Eu, com a criada de servir da casa.
Mau grado o calor, e porque outra roupa não tínhamos levado connosco, dançámos vestidos de capa e batina.
A minha parceira de dança e eu, que os calores do tempo e da juventude incentivavam, enrolávamos os corpos colados num misto de alegria e desejo.
A certa altura, a rapariga, certamente convencida, pelo traje que usávamos, que nós éramos seminaristas, segredou-me:
- Você, para padreco, é muito atiradiço...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido