06 novembro 2006

Diário dum Padre VIII

O flagrante

por charlie

Sem mais vencêramos num voo o lance de escada que ligava a sacristia com os meus aposentos e na ânsia de nos termos, nem a porta fechara.
- Meu Deus. - exclamara eu ainda no confessionário quando ela sentada no meu colo me beijara enquanto a sua mão procurara a essência da minha virilidade.
- Isto não pode ser pecado! Isto é tão bom, tão doce…! É o Paraíso que se me abre as portas de par em par! Isto, meu Deus, é o suprassumo da graça Divina. -
Como poderia a partir desse instante alguma vez olhar para uma mulher com outros olhos que não fossem os da cobiça, esse outro pecado que tanto mortifica a alma, como me fora ensinado anos a fio?
Tudo decorrera num relance, num quase nada de tanto que o desejo se me acumulara.
- Mais...mais - Gritava agora que eu atingira o orgasmo e ela ainda ascendia na rampa dos sentidos rumo ao pico que rompe a barreira do azul onde se inventa o céu com as outras cores que estão por detrás das fontes onde nascem os arco-íris.
Olhei bem para ela, para o seu rosto vermelho de olhos perdidos em brancura, os lábios cor de sangue a latejar nas têmperas e senti com um misto de dor e prazer indescritíveis, as unhas a rasgar-me a pele, cravando-se fundas nas minhas costas ao fechar-se lhe as mãos quase em êxtase.
Como era linda e agora toda minha! Mal notara a minha breve perda de erecção após o orgasmo, todo o meu corpo pedia mais e mais sexo. Tanto tempo recalcado e reprimido. Tantos anos a enganar-me, a inventar pecado na coisa mais sublime e maravilhosa que um ser humano pode experimentar. Penetrei-a uma e outra vez com suavidade e depois com mais e mais insistência, quase violência enquanto a sentia a apertar-se sobre mim e a tornar-se tensa.
A dado momento todo o seu corpo silenciou. Como nos instantes de acalmia estranha que precedem as tempestades. O seu gemer, a respiração ofegante, tudo ficou suspenso, como se o tempo tivesse parado. Entrevi o raio de sol por entre as folhagens de gotas pingentes numa pausa de segundos entre duas chuvadas.
Depois a explosão. O relâmpago! O grito intenso! O corpo em estremecimento e as mãos a fecharem-se sobre a minha pele dilacerada.
Senti dor e desconforto.
Gritei com ela o que lhe aprofundou ainda mais o prazer.
Depois o corpo afrouxou. Sem abrir os olhos abriu as mãos e afagou-me o rosto. Eu continuava em erecção. Sentia agora a acalmia doce, o remanso suave do porto de abrigo onde o meu navio de velas ainda enfunadas procurava irmanar o descanso.
Foi nesse momento que dei pela presença estranha.
Estava junto à porta do quarto e olhava-nos incrédula. Fiquei sem saber o que dizer e sem pensar saiu-me: - Eu já falo consigo Dona Genoveva...feche a porta por favor. -

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