14 agosto 2024

«O prior Alberto» - Lourenço Moura

O sol já se pusera lá na serra
Desertas, as ruas da aldeia
Cada família no seu lar se encerra
À luz ondulante da candeia

Alberto, novo prior de Caria
Ouvia Albertina em confissão
As frases sofridas que ouvia
Davam-lhe grande comoção

A triste viúva relatava
P’la primeira vez o sucedido
Aos dois maridos que velava
Tão cedo haviam falecido

O primeiro, fora o João
Abnegado trabalhador
Terá morrido de exaustão
Em longas noites de amor

Luís, o segundo, um boémio
Apaixonado, mas absorto
Ela dava-lhe como prémio
Todos os recantos do seu corpo

O coitado, não resistiu
A dias, semanas, de paixão
Mal comia, de êxtase sucumbiu
Feliz, mas de frágil coração

Alberto estava em surdina
Ouvindo relatos tão ardentes
Imaginando a bela Albertina
Nos enlaces ditos, eloquentes

Padre nosso e Avé Maria
Deu-lhe então por penitência
Pediu-lhe - vá depois à sacristia
Queria dar-lhe uma advertência

Seguiram como combinado
A sós – a igreja vai fechar
Alberto foi à frente apressado
Atrás a Albertina “a rezar”

No lusco-fusco da sacristia
Ficaram em silêncio frente a frente
Debaixo da sotaina algo mexia
A ela o prazer veio-lhe à mente

Então agachou-se no soalho
Levanta-lhe a sotaina num repente
Beijou-o, guiou o hirto caralho
Para a desejosa cona ardente

Por instinto pegou-a pelas coxas
Boca, sexo, nada os detém!
Ele em pé rijo como rocha
Ela em movimentos de vaivém

Ela trabalhava com mestria
Capaz de converter até judeus!
Alberto em clímax, euforia
Só dizia “ai meu deus, ai meu deus!

O bom prior o orgasmo alcança
E no chão cai extenuado
Mas ela novamente avança
Sobre ele - carícias do diabo

Como por milagre endireitou
O que pouco antes já jazia
E sobre ele cavalgou
Um novo momento de euforia

Alberto estava extenuado
A Albertina muito fresca
Mais três orgasmos acabados
Ela excitada, animalesca!

Desesperado o nosso prior
Foge antes que a vida apague
Cambaleando em tremor
E seguindo ao ziguezague

Abre a porta meio desmaiado
Como alma-penada desce a rua
Cai de bruços, desamparado
Ao pé de uma fonte à luz da lua

Acudam, acudam, altos gritos
Albertina viera dar conforto
Junta-se muito povo - tão aflitos!
Alberto, na fonte, jazia morto!

Jura ela, p’los maridos seus
As últimas palavras do falecido
Foram “ai meu deus, ai meu deus”
Deixando todo o povo comovido

Santo padre Alberto, abençoado!
Ajoelharam-se em seu louvor
Desde então o povo emocionado
Chamou à fonte “Fonte do prior”!



Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia