Mostrar mensagens com a etiqueta Maria Árvore. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Maria Árvore. Mostrar todas as mensagens

22 maio 2019

A Nova Vida Sexual dos Ácaros

Imagem relacionada

Poderíamos pensar que os ácaros são uns fetichistas por gastarem tanto do seu tempo a introduzirem-se nas nossas camas sub-repticiamente e de mansinho se encostarem às escamas da nossa pele, fingirem que nos acariciam e estão apenas a sugá-las todinhas. Até parecem aquela gaja ou gajo lá do trabalho que roda à nossa volta com sorrisos concupiscentes e palmadinhas nas costas e beijinhos de chegada e de partida só para nos sacar algo melindroso que possa vomitar no colo dos superiores.

Também poderíamos supor que são uns coprófagos por nos encherem os colchões e almofadas com os seus excrementos que nos enchem de coceira, tal e qual como os seus primos carraças fazem aos cães.

Contudo, a vida sexual dos ácaros caracteriza-se por uma proliferação do incesto e do abuso de crianças, capaz de entupir os tribunais se eles os tivessem e de lhes encher as prisões pela dificuldade de colocar pulseiras electrónicas em seres de uns 300 mícrons de tamanho.

A coisa passa-se assim: o bebé ácaro macho permanece no conforto do lar materno calmamente à espera que lhe nasça uma irmã e nessa hora feliz até dispensa os seus préstimos à mãe para ajudar no nascimento e logo que a bebé fêmea vê a luz do dia, acopla-se a ela com toda a força. Tradicionalmente, a recém-nascida detesta este costume de boas-vindas e voa para longe dali ficando o menino junto de sua mãe, à espera de uma nova irmã.

27 março 2019

Duas meninas...

Duas meninas, filhas de pai gordo e mãe magra. À chatice de não terem nascido gémeas, juntara-se-lhes a dificuldade dos feitios, e para isso não houve anestesia ao crescerem. Uma fez-se moça depressa, e a outra ainda pior, já nascera mulher. Usavam vestidos iguais, azuis, com bolinhas encarnadas e sob as cabeças havia um soalho com tábuas soltas, que servia de esconderijo a sonhos infinitos. São era a mais velha e só tinha espinhas a salpicarem-lhe o rosto. Três anos mais jovem, Clara era engraçada de se ver com demora, isto para quem gostasse de gordas bonitas. Os sujeitos vinham ao mel destes dois favos recheados. Rapazes famélicos, que iam vê-las atrás da serração, durante as manhãs dos Sábados de Julho, que amanheciam mornas e secas. O pai gordo era o dono, e pusera um regador ligado a uma mangueira ligada a um reservatório ligado a um gerador, e uma cortina de renda que rodeava dez passos em todo o redor, para que as filhas fizessem amor com a água, onde ele tinha os cães de guarda à disposição. Surgiam completamente nuas por entre as confusas nebulosas do serrim, e havia um banco de três pernas junto à estrutura de rega que montara laboriosamente para que as filhas estivessem à vontade e não precisassem de sair detrás da cortina para descansarem os aromas mentolados que dali exalavam. Um pai é que sabe, ou talvez se cansasse dos lamentos contínuos sobre a estreiteza das portas e a exiguidade da casa-de-banho da residência. As suas conversas predilectas eram sobre receitas de bolos e nos aniversários eram sempre as primeiras a sentarem-se à mesa ou, para lhes dar passagem, todos teriam de se levantar. O primeiro namorado de São não a leva ao baile, e no cinema ela não cabia. A irmã, inquieta, vigia a todo o instante o desastre iminente. - A Clara não é nada maldosa – desculpa a outra sem azedume. – Eu é que sou feia por ser mais velha. O segundo namorado, apesar da oposição da irmã, instalou-se à porta de casa, mesmo que o pai gordo o impedisse de passar o portão do jardim. Seguia-lhe o volume pelas frinchas e pelas janelas, do lado de fora, e ia dando voltas à casa até cair zonzo. Tinha um pé inchado e faltavam-lhe dentes e São quase não dormia, preocupada com aquele vulto lá fora. O pai gordo trouxe um dos cães da serração e amarrou-o com uma longa corrente que esticava até ao cu do moço. O rapaz tropeçou no pé e, de esfregar uma coxa na outra a grande velocidade ficou com aquilo em carne viva. Enquanto isto, Clara mantinha-se sentada no alpendre a tricotar cachecóis de lã que nunca terminava. Nem uma vez levantou os olhos, mesmo na altura do grande frenesim. - Tu tens vergonha de mim? – Choraminga-lhe São. – Perdeste peso a tricotar e nota-se. - Que tolice! – Afirmava a irmã. – Se perdi peso foi só a ver. Agora era o pai gordo que quase não dormia. A mais velha estava a cair para o fim do prazo e continuava a transbordar um leito só. Embevecido, passava as noites a vê-la ressonar. Por sua insinuação todas as manhãs apareciam tinas de lama medicinal para ela aplicar no rosto. - Já viu isto – exclama Clara para a mãe magra – que pouca vergonha! Ardia um Sol de cobre e era Sábado. São foi ao baú buscar um conjunto lavado de roupa interior e Clara passou por ela sem a olhar, sentou-se na cama, do outro lado, e calçou umas alpargatas lilás. Não trazia roupa de baixo vestida. A irmã notou e ficou com a respiração muito alterada e a segunda soltou uma gargalhada cheia de boa saúde. - Anda, molenga – disse-lhe – fazemos uma corrida até à serração? Sob o travesseiro mil bombons e a manhã ainda mal nascera. - Vais ficar à espera? – Pergunta-lhe São. Com uma dor no coração Clara recusa-se a responder-lhe. Cada gaveta era um manancial de guloseimas e ainda por cima ao feitio de São dava-lhe para beber. Esta desconfia do riso nas suas costas e arrasta-se na longa caminhada até à serração. Lambia o suor copioso e recordava os sonhos. Atrás das orelhas havia um ligeiro cascão de lama ressequida. Clara já estava nua antes mesmo desta virar a esquina ao lado do barbeiro. Três sujeitos esfomeados compraram bilhetes para o espetáculo e arrumavam-se nos melhores lugares da lotação, atrás dos carvalhos centenários.

08 março 2019

Passarinhos


Podia a genética ter-me dado problemas nos dentes ou na tiróide, diabetes ou até cabelos brancos mais precoces mas o que essa ditadora me colou bem fundo na cabeça foi a imagem do meu pai.

Ainda hoje não fujo de desejar homens de barbas e aqueles olhos amendoados de cor indefinida, mais brilhantes que uma super lua, fazem-me uivar. Olho-o e sinto-me o sapal de Corroios almejando esse maçarico-de-bico-direito a bicar-me toda a carne e a introduzir-se nas águas em arrancos seguros de quem busca alimento, primeiro rápido e depois, devagarinho.

E só quero repetir aquele colchão de penas latejante, mais e mais, antes do dia da partida desta ave migratória barbuda.

01 março 2019

Croché



Assim como assim são raros os homens heterossexuais que não nos olham como colchas de renda, lindas para se esparramar sobre uma cama, ou como toalhas de mesa de dias de festa para conferir algum luxo ao acto de comer.
Assim como no tempo das minhas avós era bem visto uma mulher falar francês e tocar piano, sinal que tinha a mentalidade de uma boneca de porcelana, também agora o croché vestido parece indicar um regresso ao passado, de quando os homens mandavam nas mulheres e daí não vinha mal ao mundo como nos mostraram os nossos pais e avós.
Talvez o futuro esteja nesse fio condutor, feito de linha de algodão ou de polipropileno, de fio de pesca, fio dental, fio de cobre ou cordel de embrulho aplicado à roupa de dormir ou de cama, para se ir puxando um a um para não mais ser possível fazer sexo sem preliminares.

14 outubro 2018

Toma conta disto!


A imagem pode conter: 4 pessoas, pessoas a sorrir
Como nos westerns ele ostentava a barba por fazer numa cara tisnada do sol. Uns olhos penetrantes, azulados como a água. As formas proporcionadas e simétricas à Tom Cruise e sei que foi a malvada da simetria que me fez pensar que era tão lindo que até doía!...

Bastas vezes eu assumia o papel de moura encantada e encostava o meu ventre ao dele, escutando o som das suas frases, tocadas palavra a palavra. Todas as imperfeições da carne, desde o sinal escuro e inestético à meia dúzia de pelos no peito se dissolviam na ânsia de o sentir a medrar dentro de mim. E apertá-lo, porra!... Deixar a minha vagina pulsar nele compulsivamente até àquela parte em que o fazia involuntariamente por uns segundos e esmorecia. Um dia, na casa caiada da planície despovoada, de filete azulinho nas janelas, chegou-se a mim e beijou-me tão fundamente que juro que pensei estar a engoli-lo esófago abaixo como se fora um pastel de nata triturado em saliva. Depois com os braços esticados e as mãos atachadas nos meus ombros, envolto no dramatismo de Humphrey Bogart em Casablanca, desferiu um Toma conta disto! e abalou.

Da costa vicentina saiu o seu barco direitinho aos reinos algarvios. O bimotor de outro aventureiro voou para o topo da costa africana e voltou carregadinho de matéria prensada, ensacada em sarapilheira. Só que a polícia não dorme Senhor Doutor e foi logo acordá-los depois de transferirem a carga para o barco e antes de largar ferro.

07 outubro 2018

Negras da praxe



A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e meias


Assustam-me os bandos de raparigas de negro que nos últimos dias enxameiam Lisboa. Só me trazem à ideia os rituais ciganos da viuvez ou daquelas avozinhas já muito velhinhas de uma qualquer aldeia perdida na Beiras que perderam o marido há 400 anos, todas de semblante carregado.

Assustam-me e não é por se vestirem de negro que também o fiz nos anos 80 mas por se vestirem de igual, incluindo aquele instrumento de tortura que apelidam de gravata, ao ponto de usarem uns horríveis sapatos sem nada que os distinga a não ser o mau gosto. E aquelas meias de mousse ou de lycra apesar do calor que está apenas porque faz parte da farda.

Como se entrar na Universidade não fosse para usar a cabeça mas para seguir ordens, tal e qual como se pede aos instruendos militares, como se não fosse para produzir conteúdos mas apenas para projectar uma imagem austera de integração no Sagrado Mistério das Escravas de Qualquer Poder Instituído.

30 setembro 2018

Can Can do Ciúme

A imagem pode conter: 4 pessoas, pessoas a sorrir, pessoas sentadas

Ó minhas senhoras, por favor, poupem-me aos vossos ciúmes ou ao vosso desejo de me controlar.

Lá porque eu apareço a gostar de publicações do(s) homem(ns) que querem apanhar eu só estou a gostar mesmo da publicação dele(s).

Qualquer homem de quem eu queira algo mais do que aquilo que aqui publica, sabe-o. E não é de certeza pelos laiques que aqui lhe faça que saberá isso.

Por favor, não me peçam amizade só para ver o que eu faço e se o vosso Príncipe desejado coloca ou não laiques no meu mural.

Considerando eu os ciúmes algo extremamente primitivo e de que não gasto desde os meus 14 anos é algo que obviamente não vou querer aprofundar nos outros.

Allons enfants de la Patrie!

09 setembro 2018

Pénis e vaginas


Durante a semana nem liguei à questão de designar a vagina como «buraco da frente» pela enorme estupidez que me pareceu discutir o que é evidente. Se chamamos mão à mão, pé ao pé, tendo até modalidades desportivas dessas partes do corpo como o andebol e o futebol, assim como à perna apelidamos perna e à cabeça, cabeça, só podemos denominar vagina e pénis e testículos e mamas.

Usar eufemismos é como continuar a velha máxima do «vícios privados, públicas virtudes». Como se a mão pudesse ser falada em pública mas não as mamas que alimentam os bebés, esses seres humanos pequeninos que todos louvamos publicamente.

Mais curioso ainda é perceber que se existem inúmeros termos de calão para designar os órgãos sexuais humanos, logo para os esconder e não os considerar naturais, existem também milhentas formas de gíria para designar a pessoa amada, de que são exemplo «o meu gajo» ou «a minha patroa». Será que gostar de alguém é um vício privado?...

06 maio 2018

Stevia afrodisíaca




Creio que a stevia é afrodisíaca embora ainda não tenha compilado todos os dados para uma conclusão clara. Reparem que até usei o verbo compilar que já por si é significativo sabendo eu que se tivesse nascido homem jogava na outra equipa, tal a fascinação que tenho por pilas.

Ao certo, comprei rebuçados adoçados com stevia que apresentam uma coloração azul tal como aquele comprimido que produz erecções do pénis. Não sei se o meu clítoris se sentiu influenciado, se ficou sugestionado, o que terá sido mas desde aí está todos os dias desperto e aprumado. Creio também que comunica com os mamilos que se não fossem os sutiãs de copas reforçadas toda a gente julgaria que eu trazia duas estátuas do Cutileiro espetadas entre o pescoço e o umbigo.

O que me vale é poder desfazer equívocos logo de manhã graças a um kit de sobrevivência no deserto que uma amiga minha me fez o favor de oferecer e que inclui um pinchavelho a pilhas tão lindo, não azul, mas violeta da cor do Prince.