06 abril 2022

Luís Gaspar lê «Que importa?…» de Florbela Espanca


Eu era a desdenhosa, a indif’rente.
Nunca sentira em mim o coração
Bater em violências de paixão 
Como bate no peito à outra gente.

Agora, olhas-me tu altivamente.
Sem sombra de Desejo ou de emoção, 
Enquanto a asa loira da ilusão
Dentro em mim se desdobra a um sol nascente.

Minh’alma, a pedra, transformou-se em fonte;
Como nascida em carinhoso monte
Toda ela é riso, e é frescura, e graça!

Nela refresca a boca um só instante…
Que importa?… Se o cansado viandante 
Bebe em todas as fontes… quando passa?…

Florbela Espanca
Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930), batizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, é uma conhecida e popular poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotismo, feminilidade e panteísmo.

Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

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