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29 julho 2018

Definição de amor

Saberemos o que é o amor quando, ao falarem-nos dele, pensarmos obstinadamente no nome de uma pessoa e nunca numa definição.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

14 julho 2018

«Xeque-mate» - por Rui Felício


Peças eróticas e tabuleiro de xadrez
exclusivo da colecção de arte erótica
«a funda São»



Correu pela álea deserta que atravessava em diagonal o imenso jardim.
Ela, de braços abertos, esperava-o lá ao fundo.
Na ânsia do desejo, abraçou-a e gritou:
Xeque-mate!

Antes de tombar, o Rei excomungou o Bispo por ter comido a Rainha...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

19 maio 2018

«De Galomaro a Bissau (desenfianços)» - por Rui Felício

No começo, em Mafra...

Já de si, o apelido originário da ascendência estrangeira da sua Família, o tornava notado. A sua invulgar estatura de quase dois metros, os olhos salientes, o cabelo arruivado, a pele branca e sardenta e o corpo magro, longilíneo e desengonçado, completavam a estranha figura propicia ao sorriso e aos mais díspares comentários.
Falo do Parrot, que conheci em Mafra e que fez parte do meu pelotão do 1º Ciclo do COM da incorporação de Abril de 1967.
Não era fácil, porém, tirar o Parrot da sua fleumática postura de “não te rales”, por mais provocações que se lhe tentassem fazer. Ele era a calma personificada, e senhor de uma inteligência fora do comum.
Não eram portanto as piadas sem graça que alguns lhe dirigiam que o faziam reagir ou mostrar desagrado. Mostrava-se superior a essas coisas...
Era fácil perceber, que colmatava os sacrifícios da vida militar, para a qual claramente não nascera, substituindo-os por insondáveis pensamentos que lhe davam o ar de quem pairava acima dos comezinhos problemas de quase todos nós. Fez quase toda a recruta em Mafra de fato de treino e sapatilhas, porque só já muito perto do juramento de bandeira é que lhe foi conseguido fardamento adequado às suas medidas.
Enquanto não teve fardamento, estava autorizado a sair do quartel à civil, o que lhe proporcionou algumas vantagens em relação ao resto dos cerca de 800 cadetes que, como ele, ali recebiam instrução militar.
De facto, enquanto todos nós, para sairmos do quartel, tínhamos de nos sujeitar a formatura de saída e à revista, com os inerentes riscos de sermos “chumbados” nessa revista, o cadete Parrot saía calmamente à civil do quartel pela porta de armas, como se de um oficial se tratasse.
Aliás, por mais de uma vez o sentinela da porta de armas, incapaz de conhecer todos os muitos oficiais que serviam no Regimento, tomava o Parrot como mais um e saudava-o com as honras militares que supunha lhe serem devidas!
Perdi completamente o rasto do Parrot desde que saí da tropa, o que lamento...
Assim como já o havia perdido antes, quando depois da recruta ele foi fazer a especialidade não sei em que outra Escola Militar.

O Reencontro, em Bissau...

Reencontrei-o uns dois anos mais tarde em Bissau, onde ambos pernoitávamos na “Vala Comum” do Quartel General.
A “Vala Comum”, para quem não saiba, era uma espécie de caserna situada no QG, onde dormiam os oficiais milicianos que por algum motivo vinham do mato até Bissau, durante alguns dias. Das poucas vezes que consegui pretexto para vir a Bissau, esquecendo por alguns dias a monotonia e os perigos do mato, fiquei quase sempre no Grand Hotel, a minhas expensas, mas desta vez em que reencontrei o Parrot, tinha decidido ficar na “Vala Comum”.
Não lhe perguntei o que fazia em Bissau, porque era óbvio que a razão oficial para ali estar não passaria de mero pretexto, tal como o meu, para fugir por uns dias à chatice e aos perigos da guerra. E nem sequer lhe perguntei nada sobre o que tinha sido a sua vida militar desde que saiu de Mafra, porque quem conhecesse o Parrot sabia que ele não gostaria de falar disso. Preferia falar de coisas ligeiras, de preferência sem qualquer ligação à tropa.
Ao lado da “Vala Comum”, existia a piscina do Quartel General que o Parrot frequentava pelo meio da manhã, depois de acordar. Como não tinha calções de banho, enrolava uma camisa nº 3 da sua farda de trabalho, atava as mangas em volta da cintura e dirigia-se para a prancha de saltos mais alta da piscina, de onde se despenhava em desengonçado mergulho para a água da piscina.
Repetia isto duas ou três vezes e regressava à “Vala Comum”, para tomar um duche, vestir-se e sair para dar uma volta pela cidade. Acontece que as esposas dos oficiais do QG que viviam com os maridos nas instalações do quartel, como não tivessem nada que fazer, estacionavam ora no Bar de Oficiais ora na Piscina, tentando matar o tempo com conversas e mexericos. E, qual pudicas e ofendidas damas da falsa alta sociedade militar guineense, decidiram queixar-se ao Tenente Coronel que geria a Piscina, pelo comportamento, a seu ver incorrecto e imoral, do Sr. Alferes Parrot!
O motivo da queixa assentava no facto de o Parrot não só não se apresentar decentemente ataviado para frequentar a piscina, mas também e principalmente porque, ao voar da prancha de saltos para a água, permitir que a camisa nº 3 que lhe servia de fato de banho esvoaçasse ao vento, deixando exposto aos olhares das senhoras o seu sexo pendurado e desnudo.
Na verdade, o Parrot achava que não valia a pena usar cuecas por baixo da camisa nº 3!
O Tenente Coronel, contra a sua vontade, mas pressionado pelas esposas dos seus camaradas, não teve outro remédio senão mandar chamar o Parrot.
Esclareço que os oficiais colocados no QG, na sua maioria, nunca tinham estado no mato e evitavam entrar em conflito com os alferes que de lá vinham esporadicamente a Bissau, porque receavam as reacções indisciplinadas de alguns que, “apanhados do clima”, achavam que já nada tinham a perder. Por isso, o Tenente Coronel rodeou-se de todos os cuidados, mediu bem as palavras e abordou cautelosamente o Parrot, dizendo-lhe que as senhoras que frequentavam a piscina se sentiam incomodadas pelo facto dele usar a camisa nº 3 da farda de trabalho quando ia mergulhar.
Pedia-lhe por isso, para evitar problemas, que não a usasse quando quisesse ir para a piscina.
O Parrot, com o seu habitual ar desprendido acatou a sugestão do Tenente Coronel e sossegou-o, prometendo-lhe que tal não voltaria a suceder.
Parecia tudo resolvido. Mas não estava...
O Parrot, logo na manhã seguinte, voltou à piscina, com a camisa enrolada à cintura a fazer de fato de banho, subiu as escadas da prancha de saltos e mergulhou como habitualmente!
À semelhança dos dias anteriores, repetiu os saltos duas ou três vezes e regressou impávido e molhado à “Vala Comum”.
Comportamento atípico este! O Parrot era desprendido mas não era um provocador, e muito menos propositadamente indisciplinado! Posso garantir!
Inexplicável portanto o seu comportamento! O Tenente Coronel também sabia disso e não compreendia...
Por isso, chamou de novo o Parrot e pediu-lhe que se justificasse, que lhe explicasse porque quebrara a promessa do dia anterior...
O Parrot, com ar cândido e aparentando grande admiração por ter sido de novo chamado ao Tenente Coronel, explicou:

- Ó meu Coronel, acho que houve aqui uma deficiência de comunicação. Quando o Senhor ontem me disse para eu não voltar a usar a camisa nº 3, entendi que a não considerava adequada por fazer parte do fardamento de trabalho... e acatei. Compreendi que queria que, em vez dessa, eu usasse antes a camisa nº 2, da farda de saída, atendendo a que se tratava de um local onde se justifica alguma etiqueta na apresentação... e foi o que fiz!!!! - culminou o Parrot, com o ar mais celestial do mundo - A camisa que hoje usei era uma camisa nº 2 do fardamento de saída, meu Coronel!

NOTAS: O fardamento de saída, designado por farda nº 2, era o que os militares usavam quando circulavam na cidade. Portanto o adequado a qualquer situação mais protocolar.
O fardamento de trabalho, chamado farda nº 3, destinava-se a operações militares e a trabalhos de instrução dentro do quartel. Inadequado portanto para ambientes mais requintados.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

12 maio 2018

«Novo Maio a seguir a Abril» - por Rui Felício








Entro nos meandros de Maio
Envolvo-me no teu olhar
Perdido no teu labirinto
Sabendo que dele não saio
Na volupia do que sinto.
Não se escapa a quem se amou
Nem à espuma das ondas do mar
Que refluem e depois voltam
Nem ao turbilhão do tornado
Que dá lugar à brisa suave
Nem ao sol quente, escaldante
Que nos queima e vivifica
Nem à luz cálida da lua
Que dá cor ao nosso sonho
Nem às gotículas da chuva
Que escorrem pela vidraça
Nem às estrelas do céu
Onde brilhas mais do que elas.
No labirinto de que não saio
Entro nos meandros de Maio...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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05 maio 2018

«Noites cálidas de Abril» - por Rui Felício



Em cada poste de iluminação da Rua Vasco da Gama, era colocado um altifalante em forma de funil, donde brotavam, roufenhos, os acordes dos mais populares êxitos musicais, emitidos de uma cabina de som instalada no Centro de Recreio do Bairro.
À medida que a noite ia caindo, aquela que é a rua mais larga que rasga o casario do bairro de uma ponta à outra, enchia-se de grupos de jovens que a percorriam num sentido e no outro, em alegre algazarra de risos e dichotes.
Quando passavam perto do Centro, alguns dirigiam-se a um minusculo guichet ao lado da porta principal e pediam que fosse difundida uma determinada musica, pagando o respectivo preço de um escudo.
Era uma espécie de programa radiofónico de discos pedidos...
O aliciante do pedido consistia em que através da instalação sonora se anunciasse a transmissão, com uma dedicatória prévia, normalmente redigida de forma cifrada que só os destinatários compreendiam.
O locutor então dizia:
- E agora, com dedicatória à loirinha que está á conversa junto ao marco do correio, vamos escutar o Gianni Morandi...
A loirinha apressava-se a afastar-se do marco do correio para não ser facilmente reconhecida pelos passantes, e com o coração aos pulos, ia conjecturando para si mesma sobre quem teria sido o autor da dedicatória.
As amigas mais próximas diziam:
- Só pode ter sido o fulano. Ele anda doido por ti.
- Está bem livre, retorquia a loirinha para as amigas. Eu não gosto dele !
Um quarto de hora mais tarde, com ar desprendido e disfarçadamente, ela própria se dirigia ao tal guichet e encomendava uma transmissão, com a dedicatória:
- Para quem se lembrou de pedir o Gianni Morandi, vamos ouvir e sonhar com a bela música do Petite Fleur.
Pelo meio, outras canções em voga preenchiam a noite da Rua Vasco da Gama.
Desde Elvis Presley, Adamo, Rita Pavone, Françoise Hardy, Beatles, Chico Buarque, Aznavour, Tony de Matos...
......
E tal como hoje, alguns dos velhos mais rezinzas não perdiam a ocasião para criticar:
- No meu tempo não era nada disto. Havia respeito.
Esta juventude de hoje, em vez de estudar anda só nestas poucas vergonhas...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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12 janeiro 2018

«Conceito de beleza» - por Rui Felício

Passam agora oito anos que nos dias 7 e 8 de Janeiro de 2010, cerca de quarenta investigadores de dezasseis países diferentes cruzam a política, a história, as artes, a literatura, o desporto, a medicina e as ciências sociais para reflectir sobre o “belo” e o “feio”.
Tratou-se de uma iniciativa do IELT, organizada em parceria com o CORPUS – International Group for the Cultural Studies of the Body .
Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Esta notícia sugeriu-me a seguinte reflexão:
Nas últimas décadas, tem vindo a ser recuperado o conceito de beleza helénica, de linhas equilibradas, simétricas, suaves, expurgadas de imperfeições.
As mulheres eram apresentadas de seios pequenos, erectos, nariz atilado, lábios cheios, cabelo tratado.
Os homens, de cabelo encaracolado, olhos profundos, peitorais firmes, musculados, ventre liso e pénis pequeno.
Pelo meio dos séculos, o conceito de beleza passou por variados padrões. Todos se lembram das matronas anafadas da Renascença ou das macilentas mulheres da época romântica.
Ou dos homens rudes, guerreiros, mal lavados dos tempos da Reconquista Cristã.
Ou mesmo dos efeminados cavalheiros do séc XVIII, de cabelos empoeirados e finas pernas envoltas em apertadas meias de seda.
O belo e o feio são conceitos, são modas.
Mas, transversal a todas as épocas é o conceito imutável de que a beleza resulta mais daquilo que se é, do que daquilo que se aparenta ser.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

30 dezembro 2017

«Pombo correio» - por Rui Felício

«A menina do chapéuzinho vermelho e
o lobo relativamente mau»
Livro de José Vilhena, 1975
Colecção de arte erótica «a funda São»
O Murta até nem era frequentador habitual do Café do Silva, mas ultimamente não falhava um dia.
Andava loucamente apaixonado e, naquele tempo, excepção feita aos bailes de garagem dos fins de semana a que ele e a linda rapariga acorriam pressurosos, os contactos nos restantes dias eram extremamente dificeis.
As raparigas eram mantidas numa férrea redoma.
Mesmo quando, excepcionalmente, tinham permissão para irem aos tais bailes, era habitual serem acompanhadas pelas mães que fiscalizavam o seu comportamento com olhos de lince.
Raras eram as familias que tinham telefone em casa e, mesmo naquelas onde o havia, seria impensável um telefonema de namorados se, como era o caso, o namoro formal ainda nem sequer tivesse sido autorizado pelos pais da moça.

Mas a necessidade aguça o engenho...

O pai da moça, cujo nome aqui omito por respeito à sua memória, usava chapéu como a maioria dos homens de então, e fazia parte das suas rotinas diárias, pendurá-lo num cabide atrás da porta da sua casa.
Colocava-o na cabeça sempre que saía de casa e voltava a pendurá-lo no cabide que existia no Café do Silva logo que ali chegava para tomar uma bica e jogar às damas.
Alisava o cabelo empastado de brilhantina com as palmas das mãos, secava-as às calças e sentava-se a uma mesa , convidando algum dos presentes para uma partida de damas, ou encetando alguma conversa acalorada sobre os últimos jogos de futebol do União ou da Académica.
O Murta aproveitava então a sua distracção e subrepticiamente retirava do forro do chapéu pendurado no cabide, um bilhetinho dobrado da sua amada.
Depois de o ler, escrevinhava nas costas do mesmo bilhete, uma dúzia de palavras carregadas de amor, voltava a dobrá-lo e recolocava-o no forro do chapéu.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

26 agosto 2017

«Tanto trabalho para nada!» - por Rui Felício

O retinir do telefone interrompeu-lhe o raciocínio daquele capítulo do novo romance que estava a digitar no computador.
Contrariada, esticou o braço para alcançar o telemóvel e atendeu com brusquidão.
- Estou!
- Está? Sou eu, o Eduardo. Não te queria incomodar, mas estou perto e gostava de ir ter contigo. Posso?
Com o coração descompassado, arrependeu-se de não ter sido mais simpática ao atender.
- Não incomodas nada. Podes vir, claro. Quer dizer, sim, vem...
Que ridículo! A Ana, nervosa, gaguejava, como se fosse uma adolescente.
- Cheguei agora a Coimbra e lembrei-me de te telefonar para saber se estarias por casa e se posso dar aí um salto.
A voz do Eduardo era segura, calma, pausada, autoconfiante. Isso ainda mais a fazia sentir-se uma idiota por ter gaguejado nervosamente daquela forma.
Reparou que estava vestida com um velho e um tanto sujo fato de treino, com o cabelo atado num carrapito, com madeixas mal amanhadas a despontarem sem nexo.
- Ana, estás aí?, inquiriu o Eduardo perante o prolongado silêncio.
- Oh sim, estou. Desculpa, pensei que tivesses ficado sem rede, mentiu a Ana para disfarçar a atrapalhação. Dá-me só um quarto de hora. Estou a escrever. Deixa-me só acabar a ideia antes que perca o fio à meada.
- Claro! Vou ao café tomar uma bica e daqui a um quarto de hora estarei aí.
......
«Jovem depois do banho»
Genya Kondratyeva, Ucrânia
Pastel e café sobre cartolina, 40x60cm, 1998
Colecção de arte erótica «a funda São»
A Ana desligou, inspirou profundamente, ansiosa. Saltou da cadeira e correu ao quarto. Tinha que se mostrar apresentável. Não podia receber o Eduardo em sua casa, naquele desleixo. Parecia que não tomava banho há dias.
Tirou a parte de cima do fato de treino, atirou as calças para longe com um pontapé e escolheu à pressa um top preto e uma saia justa em tons cinza. Correu à casa de banho, passou desodorizante nas axilas, perfumou os pulsos, o pescoço e os seios. Olhou para o relógio. Tinha ainda dez minutos. Pegou no secador, alisou os cabelos, colocou rimel nos olhos e um baton discreto nos lábios.
A campainha tocou. Foi abrir. Ainda bem que não se tinha maquilhado. Sentia o rubor a aquecer-lhe as faces. Devia estar corada, como sempre acontecia quando via o Eduardo.
Uma paixão dos tempos de estudantes que nunca frutificou mas que nunca esqueceram ao longo dos anos...
.........
O Eduardo gostava dela assim, livre, natural, fresca, sem maquilhagem. A beleza dela não necessitava de artificios.
Só era uma pena que hoje ela não estivesse vestida como ele mais gostava.
Adorava vê-la de fato de treino meio amarrotado, com o cabelo apanhado com elástico num carrapito tão engraçado que lhe dava um ar descontraido de adolescente simples e desprendida.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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27 maio 2017

«O mandador» - por Rui Felício

«Dançarina do ventre nua»
Óleo sobre tela, 60x50cm, 2003
Colecção de arte erótica «a funda São»
Por esta altura do ano, já o Calmeirão andava a ser solicitado para o ponto alto das Fogueiras de São João que ocorriam no mês dos Santos Populares em todos os bairros de Coimbra.
Na Arregaça, nos Olivais, no Calhabé, no Tovim, no Terreiro da Erva, na Alta...
No auge da festa, o Calmeirão empoleirado num palanque, de onde emergiam grinaldas de coloridas flores de papel, comandava a roda de pares que de mão dada circulava em torno da orquestra que tocava as marchas alusivas à época.
Era um homem corpulento, dono de um vozeirão que se sobrepunha aos instrumentos da orquestra e que ecoava pelas paredes do casario que envolvia o largo onde decorriam as fogueiras.
Mandava avançar, mandava inverter a marcha, rodopiar, mandava levantar os braços dos dançarinos, chegarem-se, afastarem-se, que lhe obedeciam com rigor.
- Todos para a direita, ao contrário palmas, chegadinhos, mulheres ao centro, tudo certo! - gritava ele a plenos pulmões.
Algumas frases da sua autoria incentivavam, aumentavam o calor dos corpos e dos corações.
Houve uma que ele cantava e que nunca esqueci:
- Nesta roda não há putas!... - cantava o Calmeirão martelando as silabas.
E os pares, ingénuos, embriagados pela alegria, respondiam em coro no mesmo tom:
- Há... Há... Há...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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20 maio 2017

«Cinema no Teatro Avenida» - por Rui Felício

(onde também era feito o Sarau da Queima das Fitas)

Para a época, o Teatro Avenida, em Coimbra, era uma sala de espectáculos que enobrecia a cidade.
Nela assisti a inúmeros filmes e várias peças de teatro.
«Cinema Erótico»
Ensaio de Douglas Keesey/Paul Duncan, Colecção Outras Obras,
Editora Taschen, Köln, 2005
Colecção de arte erótica «a funda São»
Lamento que tenha desaparecido e sido transformado em centro comercial. Agora e sempre o mesquinho interesse económico a sobrepor-se à cultura.
Era uma sala espaçosa, com uma ampla Plateia encimada e coberta em parte por um varandim onde se desenvolvia o Balcão, frisas e camarotes, tudo sustentado por uma fiada semicircular de pequenos pilares..
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Vivia-se numa sociedade fechada, em que as autoridades impunham um puritanismo férreo, proibindo revistas mais ousadas e até cortando passagens de filmes que considerassem atentatórias dos bons costumes.
Naquela noite, corria o filme “A queda do Império Romano”, em que Sophia Loren era protagonista.
Na sala cheia, nem o mais leve zumbido se escutava, numa cena em que a artista conversava com Lívio e aparecia com um avantajado decote que deixava adivinhar os volumosos seios, cuja nudez integral a imaginação juvenil da maioria dos espectadores procurava desvendar.
Como pelo efeito de uma bomba, a paz sonhadora dos jovens foi quebrada pela voz tonitruante do Batarda que, instalado na primeira fila do Balcão, gritou cá para baixo:
- Aqui de cima vê-se tudo!

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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29 abril 2017

«Infidelidades» - por Rui Felício

«As guerras do esperma - infidelidade,
conflitos sexuais e outras batalhas na cama»
Ensaio de Robin Baker, Colecção Outras Obras,
Editora Veja, Lisboa, 1ª edição, 1996
Colecção de arte erótica «a funda São»
O João estava cheio de remorsos! Tinha traído a sua mulher, Sandra e, arrependido, tinha que lhe contar e pedir perdão pelo momento de loucura que o tinha levado a dar o passo em falso.
Ia ser difícil. Andava há uns dias a ganhar coragem para lhe confessar a traição com a vizinha de cima.
Finalmente decidiu-se. Entrou, cabisbaixo na cozinha onde ela preparava o jantar e disse-lhe:
- Meu amor tenho de te confessar uma coisa. Dormi uma vez com a Isabel, nossa vizinha.
- E eu também ando há tempos para te confessar uma coisa, João! Ao longo da minha vida fui para a cama com 20 homens, contando contigo, disse-lhe a Sandra.
O João atalhou de imediato dizendo-lhe que não queria saber do passado dela. Que lhe importava ter sido o vigésimo homem da sua vida, se ela era o amor da vida dele?
A Sandra, esclareceu-o:
- Não, João! Tu foste o 19º... o vigésimo foi o Filipe, marido da nossa amiga Dulce...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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01 abril 2017

«Teletransporte» - por Rui Felício

Como quem partilha o sabor de um fruto
Como quem reparte o som da melodia
Como quem aspira o perfume duma flor
Como quem tacteia a pele aveludada
Como quem olha o corpo escultural
Ele queria naquele instante estar na lua
Nessa lua sensual onde ela habita

Dito isto, nesse mesmo instante, ele estava lá.
Teletransportada, a matéria chegou ao seu destino.
Mas de que vale a matéria sem o sentimento?

«The collector of butterflies (O coleccionador de borboletas)»
Óleo sobre tela, Cristi Toderascu, Roménia, 2002, 67x108 cm
Colecção de arte erótica «a funda São»

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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25 março 2017

«Jogar às escondidas» - por Rui Felício

A Praça dos Açores era normalmente o local escolhido. Amplo, rodeado de casas com jardins, arbustos e árvores de fruto, reunia boas condições para o jogo.
A voz de galo roufenho e os primeiros pêlos da cara a despontarem, eram os sinais visíveis dos rapazes acabados de entrar na idade da adolescência.
Os pequenos e rijos seios espetados debaixo das blusas e as ancas alargadas a encherem as justas saias, denunciavam a puberdade das raparigas.
Jogar às escondidas era um divertimento que possibilitava que, ocultos pelos arbustos ou atrás de casinhotos e muros dos quintais, muitos desses jovens se acasalassem, encostados e em silêncio, longe dos olhares do descobridor.
Este descobridor, escolhido por sorteio, era obrigado a tapar os olhos, encostando a cabeça a um portão de madeira, enquanto contava em voz alta de um a cem, para dar tempo a que os jogadores se escondessem.
Finda a contagem, movia-se lentamente pelos locais onde suspeitasse que havia alguém escondido e, se descobrisse algum, corria para o portão, dava três toques com os nós dos dedos na madeira e gritava o nome e o local onde tinha descoberto o jogador escondido.
Os que ainda não tivessem sido descobertos, esperavam, escondidos, pela oportunidade em que o descobridor estivesse distraído com a sua pesquisa, para então correrem céleres para o tal portão e baterem os três toques combinados antes que o descobridor o fizesse.
Lembro-me de uma das vezes em que uma das raparigas exultava, no fim do jogo:
- Fui a vencedora!
- Fui a primeira a dar os três!
Santa inocência!

«Mulher com toalha»
Peça em porcelana
Colecção de arte erótica «a funda São»

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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18 março 2017

«O que se há-de fazer à prenda que está para sair?» - por Rui Felício

Alguns não se lembrarão deste jogo.
Joguei-o várias vezes na Rua Infante Santo e na Praça de Ceuta, com a Milu, a Betinha e a Letinha (estudantes de Letras e hóspedes em casa do Sr. Milheiro), a NôNô, a Olivia (filha do conhecido Carlos “Veneno”), a Eduarda, a Regina Morato, o Rui Pato, o Mário Oliveira (vizinho do Rui Pato), os Moratos (idem, idem), o Pedro Gama (primo da Milú), o Paulo Nobre e o Cruz.
Este último, o Cruz, morava na Rua do Brasil mas ia ao bairro porque namorava a Milú, minha vizinha.
Mais tarde andei com ele em Mafra e encontrei–o algumas vezes na CP onde viria a ser engenheiro.
Era um jogo algo feminino mas os rapazes adoravam jogá-lo...
Já vão perceber porquê.
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Um dos jogadores metia entre as suas mãos uma “prenda” que poderia ser um anel, um brinco, um botão, qualquer coisa que ali pudesse permanecer bem escondida.
As mãos eram juntas como se estivesse a rezar e, com a “prenda” entre elas, passava-as entre as mãos dos restantes jogadores também na mesma posição de oração, um por um.
A cada um deles, no momento de passar as mãos, perguntava:
- O que é que se há-de fazer à prenda que está para sair?
O jogador inquirido respondia aquilo que lhe viesse à cabeça, como por exemplo:
- Aquele (a) a quem sair a prenda vai ter de dar um beijinho a fulano(a).
O jogador que distribuía a “prenda” tinha que obrigatoriamente deixá-la cair nas mãos de um dos outros jogadores , mas de forma a que ninguém se apercebesse qual deles(as) teria sido o(a) escolhido(a).
No final, as mãos de toda a gente eram abertas ficando-se a saber quem tinha sido o(a) contemplado(a).
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A “sentença” que esse contemplado tivesse dado antes de lhe ter sido atribuída a “prenda” era então executada.
Onde estava o aliciante deste jogo?
Tão somente nisto:
1. - No passar das mãos dos rapazes nas mãos das meninas e vice-versa, o que equivalia a uma carícia encapotada, coisa que a moral e os bons costumes da época não permitia senão através destes subterfúgios.
2. – Na execução da sentença que, na maior parte das vezes, se traduzia em beijos ou abraços.
Claro que o efeito pretendido não surtia quando o executor da sentença era do mesmo sexo do executado.
As sentenças bem imaginadas eram aquelas que previam essa hipótese e deixavam alternativas.
Vejam a ingenuidade dos nossos jogos.
E a imaginação com que eram inventados, como forma de permitir o contacto físico ainda que simples e inócuo, entre rapazes e raparigas e que se restringia ao dos bailes e, mesmo assim, sob apertada vigilância materna.
A geração mais nova que ler isto vai ter dificuldade em compreender, eu sei...

«Jogos do Prazer e da volúpia»
Uma Mulher do Mundo, 1991, Colecção Canto Nono, Editorial Teorema
Colecção de arte erótica «a funda São»

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

11 março 2017

«Divórcio» - por Rui Felício

O advogado a quem recorreram para lhes tratar do divórcio ficou a saber que viveram 20 anos de casamento, nunca discutiram, comiam em silêncio, viam TV em silêncio, cada um no seu aparelho de televisão, ela tratava da casa com esmero, ele cumpria as suas obrigações profissionais, não despegavam os olhos dos respectivos smartphones, faziam amor calados...
O antigo Código Civil era omisso quanto ao silêncio como causa de divórcio. Quando foi alterado, passou a bastar o mútuo consentimento para que se concretizasse, permitindo-lhes finalmente separarem-se legalmente. Foi das poucas vezes em que se falaram. Para manifestarem expressamente a sua vontade...

«Johnny Zipper - às suas ordens»
Boneco sado-masoquista em borracha com fecho tipo zipper metálico na boca, numa caixa em formato de jaula.
Cha Cha Cha, Espanha, 2005
Colecção de arte erótica «a funda São»

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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25 fevereiro 2017

«A alcoviteira, o corno e o amante» - por Rui Felício

A Joaquina pelava-se por cirandar pela baixa de Coimbra, a meio da manhã, de cesto de verga na mão, lenço florido na cabeça, bamboleando o corpo de mulher madura ainda atraente e cheio de promessas que os olhares masculinos cobiçavam.
Na Rua do Corvo, entrava numa loja, espalhava os mexericos do dia, saia e entrava na loja seguinte e nas outras, uma por uma.
Dali seguia para a Visconde da Luz, Ferreira Borges, noticiando as últimas em cada loja, em cada café, até na farmácia.
Quando virava costas, os comerciantes e empregados sorriam e exclamavam uns para os outros:
- Lá vai a alcoviteira. Sem ela a Baixa não seria a mesma coisa.
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Morava na Travessa das Canivetas no 2º andar de um velho prédio, sem filhos, casada com o Henrique, ferroviário da CP, homem trabalhador e por todos respeitado.
Naquele dia, a Joaquina trazia uma noticia bombástica:
A D. Teresa, mulher do Sr. Dias, andava a ser enganada pelo marido, asseverava ela.
- Coitada da Senhora, lamentava a alcoviteira, abanando a cabeça pesarosa.
O empregado do Jorge Mendes, com as mãos espalmadas em cima do balcão de madeira, não se conteve:
- Desculpe lá, D. Joaquina, não acredito. O Sr Dias é um comerciante impoluto, toda a gente sabe que ele jamais faria uma coisa dessas. De resto, toda a gente vê a maneira carinhosa como ele trata a D. Teresa.
- Alguma vez lhe menti? - reagiu a Joaquina com ar ofendido.
O empregado não respondeu à pergunta, preferindo reforçar a sua opinião de que o Sr. Dias era um homem sério, trabalhador como poucos.
- Toda a gente sabe que se levanta de madrugada para preparar a abertura matinal da sua loja de fazendas da Rua da Louça.
A Joaquina saiu, com má cara, e foi pregar para outra freguesia. Mas desta vez, a reacção de todos era a mesma. Não, não podia ser. O Sr. Dias, conceituado comerciante de Coimbra não era infiel à D. Teresa. A alcoviteira estava a passar as marcas...
Voltou para casa, para preparar almoço para o marido e uma lancheira com o jantar.
O Henrique, como de costume, tinha de apanhar o comboio da tarde para Lisboa.
Já em Santa Apolónia abria a marmita, jantava calmamente e entrava no comboio que partiria as 23:00 com destino ao Porto.
Era o comboio conhecido como o “recoveiro“...
Parava em todas as estações e apeadeiros para carregar e descarregar mercadorias e correio. O Henrique era o auxiliar que ajudava à transfega.
Depois da lenta e demorada viagem, chegaria a Coimbra pelas 7 da manhã, onde desembarcava depois de ser substituído por um colega que, vindo do Porto, aguardava pelo “recoveiro“ para fazer o resto do percurso.
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Entretanto o Sr. Dias tinha passado a madrugada num quartinho anexo à sua loja da Rua da Louça, com a sua amada Joaquina.
Quando o corno, coitado, chegava a casa pelas 7:30, já a alcoviteira dormitava na sua cama da Travessa das Canivetas...

«A cama do macaco»
Estatueta em bronze com um macaco em cima da cama, com o pénis em erecção. A estatueta tem duas partes que se destacam rodando os quatro pés da cama, que são parafusos. Revela-se assim um casal a fazer sexo.
Bergmann, Áustria
Colecção de arte erótica «a funda São»

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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18 fevereiro 2017

«Post mortem...» - por Rui Felício

O Paulo e a Mónica tinham combinado que aquele que morresse primeiro contactaria o que ficasse vivo para lhe dizer como era a vida depois da morte.
O Paulo morreu e não se esqueceu da promessa. Comunicou com a Mónica e ela perguntou-lhe como é que as coisas eram do lado de lá.
O Paulo contou-lhe:
- De manhã acordo e faço sexo. Depois levanto-me tomo o pequeno almoço e faço sexo. Vou até ao campo de golfe, passeio por lá um bocado e faço sexo. Volto para casa, deito-me para descansar e faço sexo. Passado um bocado, vou passear pela floresta, como qualquer coisa e faço sexo. Admiro a paisagem, deitado sobre a relva, passo pelas brasas e quando volto a acordar faço sexo. À tarde fico em casa, durmo a sesta, faço sexo e saio novamente pelos campos verdejantes. Lancho, aspiro a frescura da erva húmida e faço sexo. Quando volto para casa, deito-me faço sexo e adormeço para retemperar forças e retomar as mesmas actividades no dia seguinte.
- Mas isso é o Paraíso, Paulo!, disse a Mónica entre admirada e invejosa…
- Não direi que é o Paraíso, Mónica. O que aconteceu é que reencarnei e caracterizo-me pela elevada fecundidade. Agora sou um coelho…

Roleta de coelhos em posições sexuais
Relógio de pulso Swatch com mecanismo
Colecção de arte erótica «a funda São»

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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11 fevereiro 2017

«Prevenir é preciso» - por Rui Felício

Pistola com surpresa
Mecanismo em barro vermelho pintado
Caldas da Rainha
Colecção de arte erótica «a funda São»
Na obscuridade da discoteca, enevoado pelo álcool, seduziu uma bela mulher, levou-a para o apartamento e no escuro do quarto descobriu aquilo que não queria e nem sonhara.
Arrependeu-se mil vezes de não ter feito antes o "test drive"...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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07 janeiro 2017

«Espermograma» - por Rui Felício

O Sr. Silva tinha atingido os 70 anos de idade há pouco tempo.
Submeteu-se a uma série de exames médicos, análises ao sangue, radiografias. Enfim, a um check-up geral que a sua idade aconselhava e que o médico lhe mandou fazer.
Faltava apenas fazer uma análise ao sémen.
Como o médico lhe tinha dito, foi à farmácia e comprou um frasco apropriado para a recolha.
Relógio de pulso da Kit-Kat com espermatozóides
Colecção de arte erótica «a funda São»
Já em casa, usou a mão direita, depois a esquerda, até as duas ao mesmo tempo.
Exausto, sem nada conseguir, pediu ajuda à mulher.
Ela usou as mãos, suavemente ao princípio, a seguir mais firmemente, depois com força, chegou a tentar até com a boca, mas sem sucesso.
Pediram apoio à vizinha, mulher experiente, que tudo fez, com as mãos, com a boca, chegou a usar as pernas como tenaz, mas igualmente sem resultado.
Lembraram-se da jovem e bela filha da vizinha que, embora constrangida, acedeu a também ela tentar ajudar. Mas nada!...
O septuagenário, conformado, desistiu de novas tentativas e dirigiu-se à farmácia, pedindo à empregada para lhe arranjar outro frasco porque àquele que ele tinha levado, ninguém lhe conseguia abrir a tampa.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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22 dezembro 2016

«Passar os limites» - por Rui Felício

«Borracha com desenho de mulher»
José Guimarães
Colecção de arte erótica «a funda São»
Primeiro a boca, os dedos, depois os pés, as mãos, as pernas, os braços, o pescoço,o peito...
Helena deixou escorrer pelo corpo, o amor que experimentava pela primeira vez.
Imaginou-se envolta pelo mar, comparou os arrepios aos salpicos das ondas, os odores ao cheiro a maresia, a incompreensão das sensações à imensidão do oceano...
Até que, num súbito desejo, mergulhou! Morreu afogada pouco depois. A Helena não sabia nadar...
Rui Felicio

Rui Felício
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