Tim levantou-se, espreguiçando-se e esbocejando ruidosamente. Abriu e fechou os olhos e abanou um pouco a cabeça. Era a melhor forma para se sentir bem desperto.
-Ai, que bom - pensou, quando se sentiu com a vida a entrar em pleno pelos sentidos adentro.
Andou alguns passos pelo quarto enquanto pensava no sonho que acabara de ter.
Na verdade, Tim tinha estes sonhos recorrentemente. Sonhava amiúde com sexo, embora na verdade jamais tivesse tido alguma experiência sexual. O seu parceiro sim. Esse, o João, trazia-as para casa e havia de tudo.
Ele limitava-se na maior parte das vezes a ficar a olhar, mas outras vezes afastava-se para a varanda e entretinha-se a observar o trânsito. Costumava ir com ele para os engates e até costumava ser um chamariz para a atracção feminina.
Todas gostavam dele mas, na hora da verdade, quem as levava era o João. Era ele quem lhes sabia dizer as palavras que Tim, por mais que se esforçasse, não conseguia que saíssem. Olhava para elas com os belos olhos grandes e meigos que possuía, mas umas palavras de circunstância e um ou outro gesto de afecto tinham sido o máximo que os representantes do belo sexo lhe tinham dedicado. Ultimamente, porém, um episódio tinha alterado as relações com o seu melhor amigo.
Tinham-se zangado precisamente por causa das mulheres. Num dos encontros de João com duas senhoras, ele, Tim tinha simplesmente entrado no jogo. Aos gritos e risos das parceiras, João elevara-lhe a voz e mandara-o para varanda.
Como Tim se mostrara indignado, João abrira-lhe a porta da rua e dissera-lhe:
- Se queres mulheres, arranja-as tu! - e, acto contínuo, fechou-lhe a porta, deixando o Tim a vaguear pelas ruas noite dentro. As coisas compuseram-se entretanto, mas não se podia dizer que tinha havido uma verdadeira reconciliação.
Tim andou mais um pouco pela cozinha e pela frincha da porta da marquise aspirou os aromas da rua. Olhou para o fecho mas não lhe apeteceu abrir mais.
De repente, ouviu passos na escada e sentiu uma leve excitação. A chave entrou na fechadura e João abriu a porta. Quando João o encarou, Tim esboçou um sorriso. Aproximando-se dele disse:
- Toma, Tim. – e atirou-lhe um objecto. Tim tentou apanhá-lo, mas a prenda ia alta demais. Passou-lhe por cima e caíu no chão. Depois, Tim apanhou-a e, abanando o corpo de satisfação, correu para o João, empinando-se a ele com o osso na boca...
Charlie