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05 janeiro 2008

Bem hajas, Encandescente!

Ó grande poetusa,
Vá-se lá saber porquê, apetece-me mesmo republicar aqui o primeiro de muitos (mas que sabem sempre a pouco) poemas teus que aqui divulguei, em 27 de Abril de 2004.
Depois disso, publicaste já vários livros, tive o privilégio humedescente (olha, por mim poderia bem ser o teu nome) de te conhecer em pessoa e ganhei por ti um afecto especial muito para lá do virtual.
Por tudo o que nos tens dado, bem hajas, Encandescente.
São Rosas

"- Diz o meu nome como só tu sabes.
Di-lo como fazes sempre, como se amasses cada letra.
Nunca ninguém disse o meu nome como tu.
Ela disse.

- Toca-me como só tu sabes. Faz do meu o teu corpo.
Nunca ninguém amou o meu corpo como tu.
Ela tocou.

- Agora, vem. Deita-te em mim. Deixa-me entrar em ti como só eu sei. Dar-te o que só eu sei.
Nunca ninguém tocou a tua alma no teu corpo como eu.

Ela recebeu-o.
E foi alma e corpo.
"
Encandescente

24 outubro 2007

CISTERNA da Gotinha

A obsessão de Mariazinha de ser vítima de um assalto no quarto: "Despoja-a, para já, de um beijo. Depois, enfim, de qualquer coisa mais."

A verdadeira Mulher-Saco: foi presa quando tentava entrar no Presídio do Róger com 260 comprimidos de Artane, um telefone celular, duas baterias de celular e duas antenas, escondidos na vagina. Acabei de descobrir a irmã dela que tinha "vários papelotes de maconha dentro da genitália, embrulhados dentro de um preservativo."

Sexy Sports

Blog Poesia Erótica com dois poemas da Encandescente.

24 julho 2007

Amor Hollywood

Que se lixe o amor bacoco
"I'll never forget you love of my life",
Filme, Hollywood, guião traçado
Never, forever,
De mãos dadas
Lado a lado.
Que se lixem as juras-promessas de amor verdadeiro
Puro, exclusivo e derradeiro,
Conversa da treta, destino traçado,
Romeu-Julieta,
Tragédia grega,
Sina e fado.
Que se lixe o amor exclamação,
Sem ponto final ou interrogação.
Eu mudo de linha e a tracejado,
A negro escrito bem carregado,
Declaro mentira o amor fado,
O amor garante de eternidade.
Palavras vãs,
Palavras ocas,
Palavras ditas por um momento,
Querer magia e encantamento,
Ilusões ocas,
Sonhos vazios,
No happy endings mas endings frios.
Sonhos desfeitos, desbaratados,
Corações-cacos, logo colados,
Que o novo amor mora ali ao lado
Único, puro e derradeiro.
Como foi o último
Ou como o primeiro,
"I’ll never forget you love of my life".
Novas promessas e encantamentos,
Eternidade por uns momentos.
O corpo outro,
Igual o fado,
Que o amor forever tem tempo marcado.

Foto:Agnieszka Uziębło

22 julho 2007

Não a sigas


Viu-a no momento em que ela chegou e se aproximou de outro que não ele, e o outro sorria como ele sorria quando ela chegava, e sentiu o beijo e o olá que ela sussurrou ao ouvido do outro como lhe sussurrava a ele, quando eram dele ela e olá, e o outro sorria o dia enquanto ela se afastava na direcção da casa de banho, e ele recordou quando a seguira num café como aquele depois dela lhe dito, “volto já vou ao wc”, e ele chegara ao pé dela no minuto em que a porta se fechava para ela sozinha, e entrara, e fechara-a para os dois e disse-lhe, “quero-te tanto”, e ela surpresa, e ele, “quero-te tanto agora”, e ela com medo de serem surpreendidos como fora surpreendida por ele…
E ele pensando, olhando a mesa e o outro que a esperava,” não te levantes, não a sigas… “
E ela presa entre ele e a parede, as palmas das mãos coladas à parede já rendida, ela que nunca se rendia, e ele querendo-a tanto que o corpo lhe doía, que o corpo tremia, e ela rendida, e as mãos dele na roupa dela abrindo a camisa, a boca colada ao pescoço, mordendo, “quero-te tanto”, e ela rendida…
E ele pensando, olhando o outro e a mesa, não te levantes, não a sigas…
E as mãos dele na roupa dele, abrindo calças, expondo o sexo que gritava e doía e a queria a ela que rendida gemia, e ele levantando-lhe as nádegas, abrindo-lhe as coxas … E ele pensando olhando o outro, “não te levantes, não a sigas…”
E o outro a levantar-se sorrindo o dia porque ela chegara, e a tocar a mão dela que ele queria sua, que fora sua, e os dois a sair e ele ali sentado, querendo-a e tremendo, e doendo e pensando…
“Não te levantes, não a sigas…”
Encandescente

Foto: Stanmarek

11 julho 2007

Centro do teu centro


Quando estendias a mão começava a viagem e eu, perdida a razão, esquecia pensamentos
Tão intenso o sentir, tão violento o desejo, tão nítida a consciência do corpo.
Tu puxavas-me para seres centro do meu centro
Eu ancorava-me em ti algemada às tuas pernas.
E tu crescias, e tu erguias-me,
E eu ganhava asas e subia e voava
E tocava estrelas e via o paraíso,
E era do paraíso que te diziam os meus olhos
E era no paraíso que o meu corpo queria entrar…
Mas tu seguravas-me querendo-me terra, querendo-me sólida
E prendias as minhas asas e refreavas o meu ímpeto e adiavas-me no teu centro…
Parando…
Prendendo-me…
Subjugando a minha vontade,
Retendo-me...
E eu sem ar procurando a tua boca
Respirando-te,
O corpo tremendo, o peito batendo, não querendo pausas,
Não querendo parado,
O teu centro no meu centro.
Tu oscilavas embalando-me nos braços tentando marcar o compasso e recomeçar devagar.
Mas já o meu corpo bramia
A razão perdida
A cadência lenta que eu não queria
A partida veloz que eu te exigia e tu me davas…
E o mundo invertia-se e a terra era céu e o céu era terra,
E eu rodava porque tu rodavas,
E o paraíso estava na cama
E as estrelas estavam no corpo feitas gotas de suor,
E o tempo nos meus braços,
E o teu centro no meu centro...
E era eu que te puxava e era eu que te exortava e era eu que te exigia
E tu subindo e tu seguindo-me e eu erguendo-te
Eu as tuas asas,
Para ser uma a jornada
Para ser um o caminho
Para juntos chegarmos ao destino
E ser corpo e paraíso
E ser centro do teu centro.

Encandescente

Foto: Howard Schatz

20 junho 2007

Poemas breves

1º Poema breve

Se existir
For esta explosão dos sentidos
Quando dentro de mim és.
Então existo.
Se viver
For esta força que me toma o corpo
E o eleva
E o arrebata
Ao sentir o teu corpo meu.
Então eu vivo.
Se o nada
For o tempo que te prende
Numa ausência permanente.
Então eu morro.
De saudade de ti.


2º Poema breve

Se soubesses do nó que sinto no ventre
Nó que é fome
Desejo quente
Premente
Que cresce e arde
Que cresce e abrasa
As coxas cerradas
E palpita no sexo
Desperto
Deserto
Faminto do teu.


3º Poema breve

Quisera eu só pensar
Em carícias claras
E em beijos lentos,
Em abraços voos nas asas do vento.
E seria o meu sono
Nosso sonho.
Se pudera eu das noites,
Só as nossas noites
Ter no pensamento.

Encandescente
Blog Erotismo na Cidade
Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).

12 junho 2007

"A vulva" da Encandescente na voz de Luis Gaspar


Recomendo uma visita ao audioblog Poesia Erótica de Luís Gaspar, que dá voz a textos de diversos autores.
E um óptimo pretexto é começar com dois poemas da nossa Encandescente: "Poema em redor da Vulva" e "Orgia Vocabular V - Da vulva" .
E aprendam, como eu aprendi, o que é uma cantiga de seguir.
Os poemas originais estão aqui.


O OrCa é conão pode ouvir falar em vulva que ode logo:

"faz-se do mundo o tempero no destempero vulvar
o tempora, o mores... sempre de amores para dar
quando afinal desses lábios astrolábio do prazer
agulha aguda se aguça e se adoça de viver

que não fique avulsa a vulva e que devolva de vez
para não ficar devoluta a volúpia sem arnês
e que ao receber da vulva o que ela devolver
nos fique a doce volúpia de mais vulva apetecer"

17 maio 2007

Tragédia em 3 actos


1º Acto - No sofá

Durante o jantar, ele num gesto gentil, comprou ao vendedor paquistanês uma frô e ofereceu-lha. Ela agarrou-lhe a mão e beijou-a, a língua rolou e rodeou-lhe os dedos, e na palma da mão aberta que segurava, ela deixou um beijo-agradecimento.
Ele moveu-se na cadeira apertado nas calças justas. A pressão no sexo que despertara com o beijo, tornava incomódo, calças e sentar.
Desconfortável, procurou outra posição e pensou:
- Hoje é dia de desjejum.
E rapidamente trocaram as cadeiras do restaurante pelo sofá da casa dele.
Ela sentou-o no sofá, sentou-se nele, tirou-lhe a camisa, acariciou-lhe os braços, os dedos escondidos nos cabelos do peito dele, brincavam, desviavam cabelos para encontrar e beijar e sugar mamilos….
E ele apertado nos jeans, desconfortável, pensando:
- Muito gosta ela de preliminares.
E ela as nádegas roçando-o, arrastando-se em carícias. Uma mão acariciando o contorno do volume nas calças dele.

E ele as mãos quietas nas ancas dela, dando-lhe beijos breves que diziam, despachas-te?
E querendo passar ao acto, querendo penetrações rápidas, orgasmo, e menos preâmbulos, prólogos e preliminares.
Levantou-se, levantou-a, deitou-a no sofá, desabotoou as calças, despiu-se, despiu-a, abriu-lhe as pernas e tentou penetrá-la… E tentou… E tentou… E ela ajeitou-se melhor no sofá… E ele tentando… E ela mordendo-lhe os braços…. E ele tentando, puxando o sexo, ajeitando-o… E ela molhada, esperando…. E ele tentando… E...
Nada!
E ele disse:
- Isto nunca me aconteceu!

2º Acto - À janela

Ele levantou-se e encostou-se à janela.
Pensava, enquanto tocava o sexo tentando obter reacções e erecção:
- A culpa é dela!
Ele até era um gajo sensível e gostava de preliminares, mas breves.Mas as gajas não. As gajas gostam e demoram-se tanto em preparativos, que se um gajo já estava pronto para o acto, depois fica assim: sem vontade e murcho.

E ela deitada no sofá. Olhando-o nu junto da janela. Nu iluminado pela luz da lua. Nu a tocar sexo e luar.
E olhando-o com olhos de comer disse:
-Vem.
E ele:
- Espera um pouco.
E ela:
- Quero-te já!
E nua levantou-se. E encostou corpo ao corpo, sexo ao sexo.
E brusca o empurrou e encostou à janela.
A mão desceu directa e urgente tentando obter o que ele não conseguia, tentando acordá-lo da letargia. E tentou tocando... E tentou beijando…

E ele retraído e traído por uma erecção que devia e não tinha, e pensando:
- Agora quer tudo à pressa?
E quanto mais pensava mais se retraía, consciente da boca dela,na falta de desejo dele. Envergonhado com o sexo e zangado com ela, que agora queria tudo à pressa, e o queria pronto, e disse:
- Podes não acreditar, mas isto nunca me aconteceu!

Ela endireitou-se, e disse-lhe ternamente enquanto o beijava:
- Estás cansado, isso acontece. Vamos dormir um pouco?

3º Acto - Na cama

E na cama, nua, ela era linda.
O corpo adormecido inerte e lindo.
Ele olhava-a deitada, parada, e queria o corpo, queria sentir-se dentro dela, queria explodir nela, queria quebrar jejum de corpo e de sexo.
Sentindo um início de erecção encostou-se a ela. Tocou-a entre as pernas, beijou-a, e ela quieta....
E a erecção a aumentar…

Ela sentiu-o e ajeitou-se o corpo e ele tentou…. E ela mexeu-se mais … E ele tentou… E ele bem tentava...
E ela levantou-se, olhou-o, e disse:
- Podes não acreditar, mas isto nunca me aconteceu.
E partiu.

E ele ficou olhando as marcas dela na cama, cheirando os lençóis que ela amarrotara.
O sexo agora duro, agora erecto, pedia alívio.
Levantou-se, abriu a porta do roupeiro, pegou na Belinha e na bomba de ar, e procurando-lhe o pipo, encheu-a um pouco mais para não ranger.
E sem preâmbulos, prólogos, pré-preparações ou preliminares, deitou-se sobre ela e passou ao acto.

Fim

Foto: Marcin Biedron
Encandescente

27 abril 2007

Carta secreta de Soror Mariana ao cavaleiro de Chamilly - V



Escreveu Soror Mariana na sua cela:
Quão aflita estou, meu amado cavaleiro!
Noticias de vós não tenho, desde antes da Quaresma.
Dizei-me,
Que pensais? Que fazeis? Por onde andais?
Temo mil desgraças, calamidades, desventuras:
Que do cavalo tenhais caído,
Que estejais moribundo e ferido
Sozinho sofrendo torturas e horrores.
Ou então, que de mim vos tenhais esquecido,
E que de vós eu tenha perdido:
O bem-querer, a amizade e os favores.
Meu amado mandai-me novas! Porque de vós nada me dizeis?
Será que alguma dama, visita de vossa tia a Viscondessa,
Ao ver-vos na recepção, em que por minha causa, vossa espada ficou tesa,
Me roubou, meu cavaleiro, vosso querer, vosso coração?
Choro, meu amado, um amor que já não existe?...
Ou morrestes?
E viúva de vós fiquei, e sem saber de luto por vós já estou?
Dai-me noticias cavaleiro, eu vos imploro,
Meu coração por vós sangra e tanto dói que no convento
A Madre Superiora, de castigo e a pão e água já me pôs,
E minhas irmãs na fé, colocaram algodão nos ouvidos,
já não suportando de mim ouvir,
Tanto ai, tanto lamento...

Resposta do cavaleiro de Chamilly:

Perdoai-me, meu amor! Perdoai-me a falta de notícias.
Não vos quis meus males contar para não vos apoquentar,
E para que não sofresseis com meus males e minhas desditas.
Foi nos jardins de minha tia, a Viscondessa,
Quando envergonhado fugia da recepção
Tentando esconder o meu rubor e o meu tesão,
Que uma dama que, vos juro desconheço,
Me perseguiu, sem que de tal facto eu desse conta.
No meio do roseiral apanhando-me desprevenido,
Traiçoeiramente pelos braços me agarrou.
Por terra caí sem poder me defender,
De mim, a roupa, a pérfida arrancou
E desvairada só tentava meu sexo pegar
E violar-me!...
Violar-me meu amor,
Foi o que essa dama libertina intentou.
Quando ouvi gritos lancinantes e aflitos, julguei serem os meus,
Por outras mãos, que não as vossas, me estarem a tocar.
Mas era o esposo da dama que procurando-a, ali chegara,
E ao ver-me nu, deitado na terra naqueles preceitos,
A esposa quasi nua me cobrindo,
Julgou-me, a mim! A mim! O causador da situação.
De espada ao léu fugi do esposo furioso,
Que de espada na mão querendo vingança me perseguia,
Chamando-me devasso, verme infame, celerado imoral.
Eu imoral, Mariana...
Sobrevivi, minha amada, ao vil ataque do casal,
Mas meus males se mantêm e ainda me atormentam.
Do sexo, uns duzentos picos de rosas já tirei,
Deitado estou, meu amor, tentando tirar mais uns oitenta.

Foto: Rafal Bednarz

Encandescente
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Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).
Crica aqui para leres a carta IV e a III. Ou aqui para relembrares as cartas I e II, bem como a nossa ida memorável a Beja, ouvir a leitura da carta III da Soror Mariana, pela Gisela Cañamero, em frente à janela do convento.

19 abril 2007

Fado corrido e falado III - por Encandescente

Os amantes do mar.



"Teresinha chorava o ouvido colado
À parede do quarto que era tão fina,
Sofria horrores com os ais e os gemidos,
Lamentava-se ao ritmo do amor rangido
Que faziam o cunhado, e a irmã, a Tina.
O amor entre os cunhados começou e explodiu
Na manhãzinha duma quinta-feira,
Teresinha julgando-se sozinha
Esperava na cozinha só de cuequinhas,
O café ficar pronto na cafeteira.
Toni que por ela se tinha embeiçado,
E lhe mirava os jeitos e os seios de lado
Quando julgava que ninguém o via,
Agarrou-a e beijou-a, apaixonado:
- Teresinha, de hoje não passa. Vais ser minha!
Teresinha que há muito o amava
E todos rejeitara por causa daquela paixão,
Tirou a minúscula peça que tinha vestida
Perdeu a virgindade, deu a queca sonhada,
Consumou o amor, cometeu a traição.
Teresinha e Toni fugiam sempre que podiam,
Encontravam-se no bote que este possuía
E escondidos na noite onde ninguém os via
Deitados nas redes com cheiro a peixe
Trocavam promessas, faziam amor.
Mas Tina da traição começou a desconfiar
Quando em Teresinha começou a detectar
O mesmo odor piscícola que tinha Toni,
E Toni há muito na cama não a procurava
Era com a irmã que o sacana se enrolava!
Foi numa noite de temporal que o drama se desenrolou,
Tina confrontou Toni e Toni, nada negou,
Tina chorou, pediu e rogou: Toni e os nossos filhos?
E empurrando Teresinha, tia, irmã e traidora
Aos gritos expulsou-a de casa, na mesma hora.
Pela porta voaram panelas, pratos e tachos
Teresinha fugiu escadas abaixo,
Toni, não resistiu, correu atrás dela,
Deixando as crianças pequenas chorando à janela
E a mulher rogando pragas e jurando morte e vingança.
Tina perseguiu-os de caçadeira na mão
E querendo ver mortes, desfecho e confusão
Toda a vizinhança correu atrás dela,
E eram tantos os mirones que parecia manifestação
Liderada por Tina, em fúria, de caçadeira na mão.
Esta jurava aos vizinhos indignados
Que nenhum dos amantes à morte escaparia,
A Teresinha torcer-lhe-ia lentamente o pescoço
E a Toni, além de o matar, os tomates caparia.
Entalados entre o mar e a multidão
Toni remou para o centro do temporal,
Tentando escapar a um destino pior,
Tentando salvar-se e ao seu amor,
De serem linchados na doca do Clube Naval.
Mas o mar estava bravo e as ondas gigantes
A cada remada submergiam os amantes
Que sentados, abraçados, esperavam a onda mortal,
Morreram jurando amor num beijo final,
Toni marido de Tina, e Teresinha irmã e rival.
No dia seguinte um pescador que puxava as redes
Olhou pasmado, intrigado, a estranha pescaria,
Sete tainhas cheirando a gasóleo e umas cinco percas,
O Toni de traje de gala feito de algas,
E a Teresinha, com um vestido de noiva, feito de alforrecas.
Ainda hoje se diz que em noite de lua cheia
Se vêem os dois amantes abraçados a passear
Vestidos de noivos os trajes feitos de mar,
Seguidos de um cortejo de golfinhos especial
Que os segue entoando a marcha nupcial."


Encandescente
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O primeiro «fado corrido e falado» foi «
a morte de João do Viso», que tive o prazer de ler para a maltinha no Sãorau do 6º Encontra-a-Funda. O segundo foi «Ivone campeã dos defuntos. A Serial killer das Fontainhas».

29 março 2007

Carta secreta de Soror Mariana ao cavaleiro de Chamilly - IV



Escreveu Soror Mariana na sua cela:
Por vós, meu amado cavaleiro, pecadora me tornei.
Quebrei votos e juramentos.
E são tão libidinosos e pecaminosos meus pensamentos...
Que juro-vos, meu amor, minha alma não tem salvação.
Mesmo quando rezar eu tento,
É a vós que eu vejo.
E logo meus lábios se juntam num beijo
Meus dentes se cerram de desejo
De vossas coxas morder,
E minha boca, num gemido, diz vosso nome,
Não uma oração.
Se me pudésseis ver agora, meu cavaleiro, meu amor,
Verias como palpita o meu peito
Como se arqueiam minhas ancas
Como pronta estou para vos receber.
Ah… Como eu anseio a vossos pés poder ajoelhar
Correr meus dedos, não pelo terço, mas por vossa lança
E morrer trespassada pela vossa espada nestas lajes frias.
Onde por vós eu clamo, na hora em que soam as Avé-Marias.

Resposta do cavaleiro de Chamilly:

Ah Mariana… Se soubésseis o efeito que em mim causou
Ler vossas palavras tão cheias de desejos e fantasias…
E não podia, Mariana, não podia…
Ao lê-las, logo tocando vossos seios me imaginei
E a vós de joelhos senti, tocando minhas virilhas.
E mesmo preso, por vós, meu sexo se agigantou
Fiquei em fogo, ruboresci, todo eu tremia.
E não podia, Mariana, não podia…
Não podeis imaginar a confusão que se gerou.
A capa nada cobria, era curta, pois estamos no Verão,
E mesmo cruzando as pernas o vulto enorme se via.
Duas damas desmaiaram ao notarem o que eu tentava ocultar,
E tive de sair correndo, apontado a dedo, o sexo teso,
Da recepção a que assistia no Solar da Viscondessa,
Minha tia.
E não devia, Mariana, não devia…

Foto: Rafal Bednarz

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Crica aqui para leres a carta anterior. Ou aqui para relembrares as cartas I e II, bem como a nossa ida memorável a Beja, ouvir a leitura da carta III pela Gisela Cañamero em frente à janela do convento.

19 março 2007

Chamamento - por Encandescente

"Meu querido

Foto: Gilad BenariLembro-me daquele dia em que nos encontrámos, tu estavas num extremo da cidade, eu no outro. Tu esperavas-me impaciente, e chamavas-me e dizias: Vem.
E eu levava tanto amor nas mãos que caíu um pouco nas pedras da calçada que eu pisava firmemente. Porque tinha pressa, e a minha pressa eras tu.
E as pedras ficaram tão brilhantes que luziram como pérolas, e o brilho encandeou um homem que conduzia e ouvi o bater de carros atrás de mim, mas nem liguei ou me virei, porque me esperavas, e não queria perder tempo, e corria para te ver.
E as pessoas sorriam-me quando eu passava, e eu envergonhada, porque pensava que liam nos meus olhos o porquê da minha pressa. E que sabiam que eu me apressava porque te queria dar-me, e o meu corpo era já entrega.
E quando sem querer as tocava, um pouco de mim nelas ficava, tal era a vontade que eu tinha de ti. E sorriam para mim e umas para as outras, felizes sem saberem o porquê.

E quando estava mesmo quase a chegar ao extremo da cidade onde tu estavas...Parei...
O meu coração batia tanto que não conseguia dar um passo.
Via-te parado. As mãos fechadas como as minhas. E soube que o meu coração batia assim forte, assim depressa, porque batia com o teu.
E estendemos os braços, e abrimos as mãos e caminhámos juntos.
E atrás de nós, as pedras do caminho iam ficando brilhantes do amor que caía das nossas mãos.
Juntas, entrelaçadas.
E chegámos à porta que era o nosso destino.
E as pessoas juntaram-se olhando no chão as pedras brilhantes. Olhando a porta e sorrindo.Sentindo o calor que atravessava a porta e as envolvia. Sentindo no calor magia.

E por detrás da porta estávamos nós.
Eu e tu. Tu e eu.
E o teu corpo estava tão quente que ardias. E o meu corpo estava tão quente, que juntos éramos fogueira.
E o calor aqueceu as paredes onde nos abraçámos, as cadeiras onde nos beijámos, o chão onde nos amámos.
Eu e tu. Tu e eu.
E na cama... Ai meu amor… Na cama as carícias foram tantas, que escorreram dos lençóis, e agarraste-me no chão e seguraste os meus gemidos.
E o quarto era calor, e o quarto eram sussurros, e o quarto era prazer...
E gente que não sabíamos sorria, e aquecia-se de amor junto à porta. A nossa porta.

E nós...
Tu e eu. Eu e tu.
E uma porta fechada..."


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11 março 2007

Fado corrido e falado II - por Encandescente

Ivone campeã dos defuntos. A Serial killer das Fontainhas.

Foto: Katia Chausheva

"Ivone debruçada à janela
Mais frio que a noite sentia o coração.
Devagar passava a madrugada
Chegava a manhã
O seu Zé é que não.
Fechou a janela com a fúria
Com que marcaria a face do canalha.
E com a morte na alma
Jurava vingança
Chorava a traição
Agitando a navalha:
- C'um raio te parta maldito
Que o chão se abra e te coma
Que te passe por cima um camião.
Eu esperando-te aqui gelada
E tu o cu regalado
Dormindo aconchegado
Num outro colchão.
Vou descobrir a desgraçada
A vaca, a galdéria
Que de mim te levou.
Que à Ivone das Fontainhas
Nenhuma mulher
O homem roubou.
De manhã quando saía desembestada
Disse à vizinha da escada:
-Mais uma noite sozinha!
Mas eu mato o desgraçado
Ou não seja o meu nome
Ivone das Fontainhas.
Parece que é sina, que é fado
Ficar sem os homens do meu coração.
Morreu-me o Zeca asfixiado
O Chico afogado
E debaixo dum comboio
Trucidado o João.
A vizinha arrepiada disse:
- Mulher nem me lembres isso
Cada vez que olho a linha
Onde morreu o João.
Ainda vejo, sem o ter visto
Os bocadinhos do teu homem
Espalhados pelo chão.
- É destino meu, oh vizinha
Perco-os a todos de repente
Como perdi o João.
Mas nenhum foi um canalha
Por isso ando com a navalha
Ao Zé, tiro-lhe o coração.
- Mulher, tu não te desgraces!
Mulher, tu deixa lá isso
Que homens há mais que muitos.
Mas se te morre mais este
Ainda ganhas a alcunha
De Ivone das Fontainhas
A campeã dos defuntos.
Mas Ivone não descansou
Enquanto não descobriu
O seu Zé e a desgraçada.
E um dia que chega mais cedo
Vê o seu homem aos beijos
Com a vizinha da escada.
Puxou da navalha e aos gritos:
- Enganaste-me malvada!
Traíste-me bandido!
Atirou-se ao Zé e à vizinha
E a ele com dois golpes despachou
À outra o pescoço cortou
Como se faz às galinhas.
Com o reboliço que se armou
Com a gente que chegou
Ficou tudo explicado.
Quer a morte dos defuntos
Que já eram mais que muitos
Quer o sumiço das vizinhas.
- Matei todos, sim senhores
Matei galdérias e traidores
Confessou a Ivone na esquadra.
O Zeca, o Chico e o João
Como o Zé me partiram o coração
Com as vizinhas de escada.
E ainda hoje se conta a história
Que não se apaga da memória
Que ninguém esquecerá jamais.
A da mulher que matou homens
Mais que muitos
E deu sumiço a quatro vizinhas.
A de Ivone dos defuntos
Serial killer das Fontainhas."


Encandescente
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Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).
O primeiro «fado corrido e falado» foi «
a morte de João do Viso», que tive o prazer de ler para a maltinha no Sãorau do 6º Encontra-a-Funda.

10 novembro 2006

Palavras Mutantes - da Encandescente

A Polvo lançou o terceiro livro de poesias da Encandescente... a nossa Centinha, que adora gatôs, òrdôvres e outras delicàtessen.
«Palavras Mutantes» inclui vários poemas que já tínhamos apreciado aqui, como este, que vale sempre a pena reler (sem interrupções) e agora com «tesão» já no género adequado :


Coitus Interruptus

Já li poemas eróticos com palavras tão complicadas
Que entre o decifrar da cópula e a busca do dicionário
Perdi o tesão de ler!
Já li poemas, que supunha de amor
Em que no fim fiquei a pensar:
Afinal... Ele disse: Eu amo-te...?
Ou o gajo odiava a gaja?
Posso ser simplista
Conhecer poucas palavras
Ser até considerada inculta.
Mas quando a palavra é
Tão intelectualizada
Complicada e racionalizada
Que precisa ser decifrada
Fecho o livro
Digo merda
Mando quem escreveu
Para o raio que o parta
Precisava complicar tanto
Que perdi o tesão de ler?

E o arrepio na espinha quando leio este poema, que não conhecia ainda?


Sabes

Sabes a leveza da brisa quando toca nas flores?
O sabor morno do suor num dia quente de Agosto?
O trovejar abafado da tempestade que longe
Quase foi?
Quase era?
Sabes da vontade que cresce no ventre?
Se torna arrepio e se torna corrente
Que sobe no peito que fica nas coxas?
Esperando...
Os teus dedos brisa num dia de Agosto,
O ar morno que exalas bebendo o meu gosto
E o trovejar abafado entre as minhas
E as tuas pernas.

Para comemorar os 3 anos da funda São e os 3 livros da Encandescente, podes comprar o conjunto «Encandescente», «Erotismo na Cidade» e este «Palavras Mutantes» com um desconto de 10% sobre o preço de capa (€ 21,33 + portes de envio). Escreve-me para encomendares.


22 setembro 2006

Antegozo


Gosto do teu corpo em antegozo.
Da tua carne palpitante
Dos teus gemidos ofegantes
Dos teus gestos quase cegos,
Tacteantes,
Quando buscas o prazer.
Gosto do teu peito em desatino,
Do abrir dos teus joelhos
Do arquear das tuas ancas
Do teu sexo nu, exposto,
Latejante, pulsando,
Querendo,
Chamando o meu.
Gosto do rio que te corre no corpo.
Do suor que se evade dos poros,
O teu corpo desejo líquido,
Quase sem tempo,
Ansiando
Ser rio e líquido no meu.
Gosto do teu corpo impaciente
Aflito
Da tua mão que se estende num grito
E me puxa e me agarra…
Ah…
Como gosto do ímpeto e da fúria
E do gozo com que em gozo me rasgas.

Foto: Sig Pereira

12 setembro 2006

Sem uma palavra


Quero que me digas sem uma palavra
Do pasmo do corpo encontrando o corpo,
E me sideres com a surpresa,
E me esmagues com o peso do espanto,
Até o sufoco me levar à tua boca
Para em ti, eu me respirar.
Quero que me digas amo-te
Sem uma palavra.
Só com o desejo nas tuas mãos,
Só com a sofreguidão no corpo,
Procurando-me, abrindo-me,
Convicto penetrando-me,
Até que plena, certa, vencida e convencida
Eu me derrame, eu me desfaça,
Eu me dissolva em certeza e prazer.
Quero que me digas quero-te
Sem uma palavra.
Abrindo-me as pernas
Tocando o teu pasmo
Provando o amor
Bebendo o querer.

Foto: Mariana Castro

12 agosto 2006

Ómenajen - do Nelo para a Encandescente

"Oh melhér Incandeçente
tu que çabes cumo nenguém
incantar os coizos á genti
deixar us corpos todus freventes
neçe tezão que eçes verçus contém.

E mejmo çem diseres máis
bashta çó falaris açim
Uma letra désçe e tira um ai
ôtra çobe, e o suspiro vai
dirêtinho ao fundo de min.

E cuando intam finalmente
lhe pões o dito pomto final
çinto-me Nelo tutalmente
U corpo todem fébre ardemte
De tezão e goso anal...

Nelo"

11 julho 2006

Encandescente na revista «Os Meus Livros» nº 41 (Julho de 2006)


Excertos do artigo «Livros 'calientes'» na secção «Especial sexo e erotismo», por João Morales:
"Sob o pseudónimo de Encandescente, uma nova autora foi-nos recentemente revelada pelas Edições Polvo. Um [dos seus livros], de designação homónima e, mais recentemente, «Erotismo na Cidade». Textos simples, sensuais, uma linguagem acessível repleta de ritmo e fluidez. «Ai, as tuas mãos gulosas / Curiosas / Que se insinuam furiosas / Dentro da roupa / A pressa tanta / A vergonha pouca / Como me diz a tua voz rouca: / - Quero mais e mais de ti...».
(...) Aliás, as Edições Polvo têm apostado nesse mesmo registo [satírico], com obras como «As Mulheres Não Gostam de Foder - Um Ensaio Sexual de Alvarez Rabo» ou «Anal-Fabetos - Outro Ensaio Sexual de Alvarez Rabo». Estes dois últimos em formato BD, a fazerem companhia a «Na Pele do Urso», de Horácio, um devaneio sobre o desejo, o prazer e as fantasias. (...)"


Todos estes livros - e outros mais que me dão prazer - estão à venda na sexão «Livros» da lojinha da funda São.

10 julho 2006