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19 maio 2024

Prostituição: carta aberta - a realidade na sombra

Publicação de 21/5/2010 da Miss Joana Well, eliminada pelo Blogger em 28/3/2023 sem qualquer justificação mas que, por ser importante divulgar e não ter nenhum conteúdo ilegal em Portugal, volto a publicar.

Não, eu não quero falar.

Prefiro escrever poesia, metáforas, contos. Mas aqui não há luz; existem corredores na sombra e outros ainda no escuro. E na sombra e no escuro crescem os fungos. Falar é lançar luz. Falar é acender a lâmpada que permite que os olhos alheios percorram estes corredores.

Esta é a realidade, não como a pensam, não como a julgam, não como a imaginam, não como tem sido mostrada: é a realidade tal como ela é. Falar é tentar manter os corredores limpos e dignos. A realidade. A realidade é que recebo mensagens de mulheres (e homens) e não sei o que responder. Aliás, mal entendo o que me escrevem: "Quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ser acompanhante de alto luxo"... "Sou muito bonita por isso quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ter uma vida fantástica, fácil, quero ganhar muito dinheiro, quero jantar, viajar e conhecer pessoas interessantes e/ou famosas, quero ser acompanhante de luxo".

E depois a cartada final: "Explica-me como faço"...

E eu tenho vontade de responder que não faço a mais pequena ideia, que nem sei o que significa a palavra "acompanhante" aplicada a este contexto, nisto que é a prestação de serviços sexuais; tenho vontade de lhes dizer que sou prostituta e só conheço prostitutas como eu, prestadoras de serviços sexuais; que a palavra acompanhante, neste contexto, é apenas uma forma de suavizar, uma forma de defender a nossa sensibilidade e a de quem nos procura, uma forma de proteger olhos mais susceptíveis, uma forma em forma de placebo, uma ilusão com que tentamos defender o estômago. Eu sou prostituta; defende-me o estômago a aceitação da palavra. O que conheço é prostituição: algumas cobram mais pelos seus serviços e outras cobram menos, valores esse que podem ser cobrados por relação sexual, por tipo de relação sexual, por tempo: quinze minutos, meia hora, uma hora, duas ou três horas, um dia, uma noite, uma semana. Só muito excepcionalmente a procura não solicita a prestação sexual, a forma de solicitar e a forma de lá chegar pode ser mais explícita ou implícita, mais directa ou mais indirecta, mais ou menos romântica – mas o objectivo é chegar ao sexo, independentemente do tipo de "preliminares" escolhidos: conversa, jantar, empatia, telefonema e marcação daí a meia hora, etc. Os serviços mais procurados são os cobrados por número ou tipo de relação sexual ou os serviços cobrados por tempo até à marca da hora (quinze minutos, meia hora, uma hora). Serviços mais "longos" são raros e quanto mais "especiais" mais raros são. A qualidade do serviço sexual é avaliada por alguns com base – essencialmente ou apenas – na estrutura geométrica da coisa: posições, malabarismos, tipos de sexo, o rosto, o corpo da parceira, e assim por diante. Outros avaliam-no – essencialmente ou apenas – com base na química, na empatia, na simpatia, na sensação de exclusividade, ou o que for. As características do serviço procurado, em cada caso, dependem mais do próprio cliente do que do tipo de serviço escolhido: um cliente pode contratar um serviço pago por relação sexual ou, por exemplo, por meia hora, e, ainda assim, ser um cliente que dá mais importância à química e à empatia do que à "estrutura geométrica" do sexo e da mulher escolhida. As prostitutas que normalmente chamamos de "acompanhantes de luxo" são – quase sempre – as que maioritariamente prestam serviços por meia hora ou uma relação (entre os 50 e os 80 euros) e uma hora (entre os 80 e os 100 euros). Destes valores para cima existe mercado mas é mais escasso e escasseia mais quanto mais o valor sobe. Aliás, basta espreitar um dos sites mais conhecidos, onde as acompanhantes se anunciam, para verificar que, dentro dos valores que referi (até aos 100 euros), se pode contratar serviços de belíssimas mulheres dispostas a agradar; a concorrência é feroz, o número de mulheres nesta actividade é uma elevadíssima incógnita. Tudo se pode encontrar dentro destes valores, por isso, as mulheres que cobram ainda mais, especialmente se ainda desconhecidas ou principiantes, vão ter menos (às vezes, nenhuma) procura. Só um golpe de sorte pode fazer com que uma mulher, ao iniciar-se nesta actividade, comece a cobrar valores superiores a estes e tenha sucesso, especialmente se estiver a contar com serviços maravilhosos que incluem jantares, passeios, noites, etc., para não falar dos riscos constantemente ignorados em aceitar um desses serviços que implica acompanhar um estranho. É também necessário ter um local onde receber os clientes: serviços de deslocação a hotel são mais raros e deslocações a domicilio implicam enormes riscos.

Ou seja, ser prostituta (excluindo a rua) implica despesas elevadíssimas: apartamento ou quarto, anúncios em sites ou jornais e investimentos na própria imagem. Alugar um apartamento e receber sozinha também é um risco, evidentemente; passamos o dia a quebrar a regra de segurança numero um - não abrir a porta a desconhecidos. Encontrar uma colega ou mais com quem dividir o apartamento também se pode revelar tarefa complicada: as personalidades podem chocar-se ou a pessoa escolhida pode revelar-se pouco responsável com horários, higiene, divisão de despesas, etc.; tudo se torna complicado num mundo em que se reserva a identidade, ninguém sabe quem é quem e tudo pode acontecer mais facilmente.

Face a estas dificuldades e desconhecimento do meio, muitas mulheres optam por trabalhar por conta de outrem, porque a casa suporta todas as despesas e pode proporcionar mais segurança; em troca, cada mulher dá à casa uma percentagem por cada cliente que atende, geralmente cinquenta por cento. Considero esta opção legítima enquanto opção, enquanto escolha e preferência e decisão da própria mulher; todos os profissionais têm o direito de decidir se querem trabalhar por conta própria ou de outrem.

Alertas: o lenocínio é ilegal. Tradução: ele existe na sombra, não há ninguém que fiscalize as condições em que ele existe, não há ninguém que proteja as trabalhadoras da entidade profissional. As condições a que as mulheres nesta actividade estão sujeitas quando trabalham em casas dependem, neste momento, única e exclusivamente do carácter do proprietário ou proprietária da casa em que "aterram" e isto pode, sim, tornar as coisas muito complicadas. O lenocínio não vai deixar de existir por ser ilegal, isto só lhe vai dar carta branca para existir nos moldes que a gerência dessas casas quiser.

A prostituição não vai deixar de existir por ser escondida, "alegal", discriminada enquanto profissão; vai apenas continuar a existir numa escuridão que esconde criaturas e acontecimentos negros, bem negros. A "alegalidade" é perigosa, a "alegalidade" deixa-nos desprotegidas perante riscos diversos, a "alegalidade" é apenas um "lavar de mãos" imoral e vergonhoso. Não sou acompanhante, sou prostituta; não conheço acompanhantes, apenas prostitutas; desconheço vidas fantásticas, glamourosas, luxuosas - mas conheço riscos, dificuldades, uns dias melhores que outros e alguma compensação financeira. Claro que não conheço a realidade toda, mas garanto que já por aqui ando há tempo que chegue e sobre para conhecer a maior parte. A quem decidiu escolher este caminho desejo boa sorte – é que vai mesmo precisar dela!

Miss Joana Well

21/5/2010


07 dezembro 2023

«Teoria King Kong» - Virginie Despentes

"Escrevo da terra das feias, para as feias, as velhas, as machonas, as frígidas, as malfodidas, as infodíveis, as histéricas, as taradas, todas as excluídas do grande mercado das gajas boas. E começo por aqui para que as coisas sejam claras: não peço desculpa de nada, não me venho lamentar.
(…)
Acho óptimo que haja mulheres que gostam de seduzir, outras arranjar marido, mulheres que cheiram a sexo e outras a bolo do lanche das crianças que saem da escola. É óptimo que haja umas muito meigas, outras esfuziantes na sua feminilidade, que haja mulheres jovens, muito belas, outras vaidosas e flamejantes. A sério que fico contente por todas aquelas a quem as coisas tal como são convêm. Isto sem a mais pequena ironia. Acontece, porém, que não me íntegro nesse grupo.
É claro que não escreveria o que escrevo se fosse bela, tão bela que fizesse mudar a atitude de todos os homens com quem me cruzo.
(…)
Não tenho a mínima vergonha de não ser uma gaja superboa. Em contrapartida, fico verde de raiva que, enquanto rapariga que interessa pouco aos homens, me estejam sempre a dar a entender que nem sequer devia existir.
Ora, nós sempre existimos. Embora não haja sombra de nós nos romances dos homens, cuja imaginação é apenas povoada por mulheres com quem gostariam de ir para a cama. Sempre existimos, nunca falámos. Mesmo hoje, em que as mulheres publicam imensos romances, raramente encontramos personagens femininas com físicos ingratos ou medíocres, incapazes de amar os homens e de se fazerem amar por eles. Pelo contrário, as heroínas contemporâneas amam os homens, encontram-se facilmente, deitam-se com eles em dois capítulos, gozam em quatro linhas e gostam todas de sexo.
Estou-me nas tintas para dar tesão a homens que não são o meu sonho."
Virginie Despentes, 2006

Escritora, romancista e cineasta francesa. É conhecida pelo seu trabalho sobre género, sexualidade e pessoas que vivem à margem da sociedade. [fonte: Wikipedia]


16 setembro 2023

Pornografia não é o problema!

Li esta publicação no Twitter... digo, 𝕏 e não resisto a partilhá-la e traduzi-la:


"That the UK government seeks huge fines against tech companies where children/teens view adult content is misguided. Why do those on the right seek to deny people of whatever age from viewing what they want to see? Sure, some content can be dangerous (e.g. self-harm content) but where teens seek out porn it’s because they are curious & seek information on what they are not being taught. Porn itself isn’t the problem, it’s society’s failure to educate & talk about adult subjects, whether porn or drugs. #StopAttackingPorn" 
@Porn_actually

a funda traduSão:

"O facto de o governo do Reino Unido pretender aplicar multas pesadas contra empresas de tecnologia por permitirem a crianças/adolescentes assistir a conteúdo adulto é um equívoco. Por que razão as pessoas de direita procuram impedir que pessoas de qualquer idade vejam o que desejam? Claro, alguns conteúdos podem ser perigosos (por exemplo, conteúdo de automutilação), mas quando os adolescentes procuram pornografia é porque estão curiosos e procuram informações sobre o que não se lhes está a ensinar. A pornografia em si não é o problema. O problema é o fracasso da sociedade em educar e falar sobre assuntos adultos, sejam pornografia ou drogas.

26 maio 2023

«Hei, câmara! Muda o ângulo!»

Anúncio da campanha «Change The Angle», da Lux, contra a objetificação das mulheres no desporto.

"A LUX acredita que a objetificação das mulheres pode diminuir as suas conquistas e também minar a sua confiança. «Change The Angle» visa criar consciência sobre a questão premente dos ângulos de câmara sexistas na cobertura pelos media de eventos desportivos femininos e pressionar as emissoras a mudar o olhar da câmara com base em diretivas legais.
Juntos, vamos apoiar as mulheres contra o sexismo quotidiano e promover a beleza como fonte de força em vez de objetificação."

#ChangeTheAngle #LUX #MyBeautyMyStrength

Ads of the Wotld - Embora a crescente popularidade global de desportos femininos profissionais e amadores seja algo a ser comemorado, grande parte da cobertura dos media sobre mulheres atletas em competição ainda erra o alvo, literalmente - focando com muita frequência na anatomia feminina em vez de conquistas desportivas, por meio de ângulos invasivos e excessivos close-ups que podem potencialmente desvalorizar o empoderamento que o desporto traz para os participantes.
Como uma marca de beleza que visa apoiar as mulheres contra o sexismo quotidiano, a marca de beleza LUX da Unilever quer aumentar a consciencialização sobre o problema e iniciar uma conversa com as emissoras e o público para incentivá-los a «Mudar o ângulo». Trabalhando em estreita colaboração com Wunderman Thompson Singapore, a LUX juntou-se à Volleyball SA (África do Sul) e à emissora desportiva SABC numa nova e ousada iniciativa na qual piratearam um torneio ao vivo destacando ângulos de câmara potencialmente sexistas - e, ao fazê-lo, lançando o olhar masculino para si próprio. A iniciativa também é apoiada por uma série de atletas de alto nível, comentaristas e dirigentes desportivos.
Organizado pela Associação Sul-Africana de Voleibol, o jogo de vólei ao vivo Durban Open aconteceu nos dias 15 e 16 de abril em Durban, onde participaram oito equipes diferentes das principais atletas femininas de vólei de praia da África do Sul. Isso foi transmitido ao vivo pela SABC atingindo uma audiência estimada de 19,7 milhões na África do Sul. Como parte da iniciativa «Change The Angle», as jogadoras usavam códigos QR nos seus corpos - as mesmas áreas nas quais as emissoras desportivas tendem a concentrar-se.
Quando digitalizado, o código direciona o espetador para um filme feito pela LUX, onde as principais desportistas apelam às emissoras e câmaras para «Mudar o ângulo» de como as atletas são retratadas - focando noa seus pontos fortes e apontando as lentes para suas proezas desportivas, em vez dos seus atributos físicos. O vídeo destaca estatísticas chocantes sobre cobertura desportiva sexista, incluindo “2.500 fotos objetificando mulheres relatadas nas Olimpíadas de 2021” e inclui declarações poderosas de atletas do sexo feminino. Termina com seis dicas de melhores práticas para os media sobre a forma como as atletas femininas devem ser retratadas.

 

29 março 2023

«Diálogos improváveis» - Charlie

- Santo padre, pequei... 
- Fala, meu filho. Abre a alma, Deus é misericordioso.
- Sou um facho e um racista.
- Isso é muito feio, todos são filhos de Deus. 
- Minto e insulto de quem não gosto.
- Meu filho, isso é ainda mais feio. Jesus disse: dá a outra face se alguém te esbofetear. 
- Mas é mais forte do que eu. Santo Padre, lembro-lhe que fui escolhido por Deus.
- Bem... os Evangelhos dizem que Deus escreve direito por linhas tortas... mas tens mais pecados? 
- Santo Padre, acho que não tenho mais pecados, e na linha de conduta que Deus me indicou no caminho da pureza, vou apresentar uma proposta de lei para castigar os pedófilos. Quero contribuir para erradicar o pecado do mundo... 
- Meu filho, repito-te os santos ensinamentos: o perdão, compreensão, tolerância para com a fraqueza humana e a certeza de que no arrependimento está o caminho da salvação... Olha, toma lá um chocolatinho e ali na Sacristia tenho mais. Anda lá que Deus perdoa-te todos os pecados.



12 março 2023

«Crimes sexuais na Igreja Católica, uma tragédia anunciada e consolidada há séculos» - Paulo Mendes Pinto

Ao contrário da postura de negação à qual a Igreja Católica Portuguesa se remeteu, o quadro de abusos sexuais é endémico e vem de uma normalidade comportamental cimentada ao longo dos tempos.

Vejam no Público a minha análise que busca a as raízes antigas e consolidadas do fenómeno atual. Para quem não conseguir ler, segue o texto:

O nosso olhar tende sempre a focar-se no momento presente. É nele que temos as nossas mais diretas e imediatas questões. Contudo, quase tudo o que fazemos se relaciona com o passado, com as tradições, as heranças, a cultura. Não é que devamos relativizar, no sentido de desvalorizar, os atos com base nas justificações do passado, mas devemos tentar compreender como, por vezes, os atos do presente são legitimados e tornados, dentro das instituições, normais através de atitudes que se arrastam ao longo de séculos.
O espanto que hoje vemos nas palavras de muitos políticos e clérigos é apenas o resultado, ou de uma franca e clara ignorância, ou a máscara que importa colocar para não ver recair sobre si o mau olhar da opinião pública. Ainda ecoam na nossa memória as declarações de desvalorização de Manuel Linda, por exemplo, em 2019 (declarações à TSF a 20 de abril).
Contrariamente à postura de negação em que a Igreja Católica Portuguesa esteve, como se em Portugal nada se tivesse passado, ao contrário do que sucedera em tantos outros países, o quadro é verdadeiramente endémico e vem de uma normalidade comportamental cimentada ao longo de séculos.
Os indícios de práticas reiteradas, ao longo de séculos e séculos, com total conivência das hierarquias, são conhecidos e têm sido alvo de investigação. Não se pode dizer que não se sabia e, muito menos, partir do princípio de que esse passado em nada desaguou no presente. Chegou ao momento atual através da manutenção do essencial do que eram as práticas há quase 500 anos, pelo menos, desde o Concílio de Trento (1545-1563), quando se torna, de facto, obrigatório o celibato.
Algum trabalho de investigação tem sido levado a cabo sobre a sexualidade na Época Moderna. Poucos são os trabalhos que, dentro desse quadro cronológico, se debruçaram sobre os sacerdotes católicos, mas há alguns estudos que nos abrem portas para uma leitura na Longa Duração que nos explica parte do fenómeno que hoje nos confronta. Um dos aspectos mais inquietantes é a “solicitação”.
Isabel Drumond Braga e Paulo Drumond Braga, realizaram vários estudos, desde finais dos anos 90, sobre os chamados crimes de “solicitação”[1]. Aos trabalhos destes dois historiadores, juntam-se as pesquisas de Jaime Ricardo Gouveia[2] e, mais recentemente o de Bruno Abreu Costa[3]. Em todos estes trabalhos encontramos a prática desse tipo de crime, a sua violência e o seu encobrimento e desvalorização, marcas que perduraram até hoje.
A “solicitação” é a tentativa de obter “favores” sexuais no momento da confissão. O ato poderia não ter lugar nesse lugar e momento, mas o contexto, quer de isolamento, quer de fragilidade espiritual, era o propício para conseguir um compromisso que se concretizaria depois. Podemos ter hoje acesso a parte minúscula destes crimes através das escassas denúncias que evoluíram para processo na Inquisição.
Sigamos o estudo de Bruno Abreu Costa, na descrição de uma situação exemplar na metodologia usada, a do Padre Bento de Lira, pároco de S. João Batista da Fajã da Ovelha, Calheta, Madeira, de 1620 (manteve-se a ortografia da época, tal como o investigador a transcreveu do manuscrito): “Pedro da Silva Sampaio, o inquisidor encarregue do processo, questionou Bento de Lira, «a que pessoa do sexo feminino avera sete anos estando de giolhos [joelhos] para se confessar sacramentalmente, com elle a seus pes, solicitou disendo lhe se quiria ter com elle amisade dando lhe a entender que hera para actos deshonestos de fornicaçam […] depois de a solicitar ella se confessou e elle absolveo sacramentalmente»”.
Não que não fosse anterior, mas creio que os crimes de natureza sexual tenham aumentado com o Concílio de Trento e com a generalização do celibato e da castidade. Nesse quadro cronológico, a falta de legislação aplicável e o significativo número de casos, levou a que a Inquisição portuguesa procurasse obter de Roma o direito de processar e condenar os Padres “solicitadores”. A autorização surge em 1599, jurisdição aumentada em 1608. Em 1612, mostrando a existência de uma outra prática, foi alargado o âmbito deste delito à “solicitação” junto de homens.
No que respeita à idade das vítimas, a dominante é claramente a do assédio junto de mulheres jovens frágeis, viúvas ou mães solteiras, mas também jovens adolescentes numa percentagem muito significativa. Não o são em exclusivo, mas essa normalidade leva a que o Padre Lira tenha apontado em sua defesa que as suas vítimas tinham mais de 12 anos.
O quadro de desenvolvimento dos próprios processos também nos diz muito sobre o presente. Como Bruno Costa nos diz, “as testemunhas acusatórias eram sempre interrogadas sobre a «fama» dos réus. Por fama entenda-se a imagem pública do clérigo, a sua reputação e, em algumas situações, o boato que corria na paróquia sobre a sua vida pública e privada.” O central era a “fama”, não as vítimas. Aliás, a palavra vítima ou qualquer sinónimo não são usadas nestes processos.
Mas mais, era norma nestes processos inquisitoriais a obrigatoriedade do sigilo, desde os interrogatórios até à própria sentença: “leitura da sentença e o termo de abjuração foram feitos à porta fechada”, diz-nos o investigador. Acrescenta: “alia-se a este facto, a obrigatoriedade de manter sigilo da própria pena, que poderia transmitir a imagem de que o seu pároco tinha sido ilibado de todas as denúncias, permitindo resguardar a sua honra e reputação”.
Por fim, as penas eram de grande brandura, para além de nada haver de compensatório para com as vítimas. Normalmente era a abjuração leve, com um juramento de não tornar a cometer o mesmo crime, mostrando arrependimento pelo acontecido. De resto, as penitências eram de ordem espiritual (confessar-se, comungar, jejuar durante certo tempo). Por vezes, era também dito que deveriam “evitar, quando possível, confessar mulheres, principalmente solteiras”. 
«A confissão da prostituta Maria Vai com Deus»
Milena Miguel (atelier S. Miguel)
Barro vermelho e tecido
Caldas da Rainha, 2016
Coleção de arte erótica «a funda São»
Jaime Ricardo Gouveia traz-nos o caso do Padre Pedro de Aguiar, que confessou, em 1691, ter solicitado duas mulheres, se bem, que por tentação do demónio: “[…] tentado do diabo considerando no pecado de sodomia, com efeito penetrou pello vazo traaeiro com o seu membro viril a dita Maria da Silva […]”. Neste caso, o solicitante apenas foi admoestado para não voltar a cometer o mesmo.
Poucos eram os casos que implicavam penas mais duras. Para o Padre Bento de Lira, “decidiu-se […] que o réu deveria repudiar, levemente, os atos passados na presença de diversos inquisidores […]. Além desta pena, o antigo pároco seria privado da cura de almas, não podendo administrar os sacramentos; ficaria suspenso das suas ordens durante seis meses, impossibilitado de dar missa; e estaria interdito de ir à paróquia da Fajã da Ovelha, «para que não renovecom sua presença nos animos dos fieis a memoria do scandalo e mao exemplo, que lhes dava». Com penas definidas no Regimento de 1640, a Inquisição estipulava para estes crimes este tipo de penas, exatamente o que encontramos neste caso. Não consta que, nem durante o processo, nem como pena, algum dos Padres que localizei na bibliografia tenha sido preso. Mesmo a deslocalização para outro bispado não acontecia sempre, e o degredo, também previsto no Regimento, era apenas um referencial teórico.
Num ambiente de grande proteção, os arquivos da Inquisição guardam 229 processos referentes a “solicitação”. Já os Cadernos dos Solicitantes, o registo dos acusados deste crime, entre 1611 e 1700, registam 920 clérigos acusados, dos quais apenas 8,9% evoluíram para processos na Inquisição, pelo levantamento de Jaime Ricardo Gouveia. Mantendo a dominante que se encontra ainda hoje, a maioria das vítimas que encontramos na Inquisição apenas denunciaram os abusos vários anos depois, por vezes, mais de uma dezena de anos após os factos. O medo de represálias, o medo do olhar social e da reprovação, o medo da “perda da honra”, o medo de terem sido elas o motor do “pecado”, criava um clima em que a vítima se silenciava.
Apenas com preocupação na “fama”, os Padres abusadores eram claramente protegidos. As vítimas, muitas delas, crianças ou adolescentes, eram nos interrogatórios alvo de fortes pressões para aferir se teriam algum motivo contra o Padre que denunciavam e se a sua declaração era mesmo verdadeira. A autoridade do sacerdote era sempre um valor contra quem os acusasse – veja-se o magnífico estudo “Costelas de Adão: a desacreditação dos depoimentos femininos na Inquisição portuguesa”, de Jaime Ricardo Gouveia.
Século após século, possivelmente acentuadas com o fechamento moral pós Trento, as práticas mantiveram-se, quer as de assédio e abuso sexual, quer as de encobrimento. Virado que está o século XX, numa sociedade que olha para as vítimas com base num pensamento humanista e nos Direitos Humanos, importa compreender que não estamos perante um fenómeno apenas da atualidade. Não, estamos num pântano de costumes que, de forma muito complexa, define uma moral e, tantas vezes, pratica outra, salvaguardada essa incongruência por detrás da cortina protetora do peso institucional e do prestígio e superioridade religiosa de quem praticava o crime. Jaime Ricardo Gouveia dá-nos o caso de uma mulher alentejana que afirmava: “[…] vindo buscar a Deos à confissão, achara o Diabo […]”.
Os “Crimes dos Padres Amaros”, brincando com o título do clássico de Eça de Queiroz, eram algo muito conhecido por toda a sociedade, especialmente pelo clero. Seja na mais normal fuga à castidade, que é imposta e que luta contra a natureza da atração sexual, dimensão constitutiva da nossa espécie e de cada indivíduo, seja no assédio e na violação, especialmente de menores, há que compreender que o fenómeno hoje em debate, não é de hoje, nem se resolve com paliativos. A Igreja Católica, se quer estar no mundo e a ele (co)responder, tem de abrir, sem medos, o debate sobre a sexualidade dos seus clérigos, um anacronismo sem qualquer suporte teológico, nem enraizado numa longa tradição que venha dos tempos primeiros do cristianismo.

 
[1] “Um Solicitante na Inquisição de Coimbra no século XVII: o Padre António Dias”, Vértice, n.º 66, Lisboa, 1995, pp. 97-100, e “Confessar e Solicitar no Brasil Colonial”, Inquisição Portuguesa. Tempo, Razão e Circunstância, Lisboa, São Paulo, Prefácio, 2007, pp. 331-342.

[2] “A repressão do delito de solicitação pelo Santo Ofício na diocese do Porto (1551-1700)”, in Vítor Oliverira Jorge e José M. Costa Macedo (orgs.), Crenças, Religiões e Poder, Porto, Afrontamento, 2008, pp. 219-233; O Sagrado e o Profano em choque no confessionário. O delito de solicitação no Tribunal da Inquisição, Coimbra, 2011; “A solicitação clerical em Loulé (séc. XVI a XVIII)”, in Atas do IV Encontro de História de Loulé, Loulé, Câmara Municipal de Loulé, 2021, pp. 159-176; “A jurisdição privativa da Inquisição portuguesa sobre o delito de solicitação: De facto ou de iure?”, INVESTIGACIONES HISTÓRICAS. ÉPOCA MODERNA Y CONTEMPORÁNEA, 42 (2022): 507-548.

[3] “Pecados do Corpo, Delitos da Alma: o Crime de Solicitação na Madeira (Século XVII)” Anuário CEHA, 7, 2015, pp. 129-152.

04 março 2023

«De Santo Agostinho à perda da santidade de Valter Hugo Mãe» - Paulo Mendes Pinto

Regresso a um meu artigo de 2021 (no Público de 16 de dezembro), muito atual:

Recorrentemente, quando dou algum curso para um novo público, afloram algumas questões que tantos de nós desejavam ver respondidas. Quantas vezes eu já fiz o quadro histórico da evolução do celibato dos Padres, mostrando ser, de forma generalizada e obrigatória, uma realidade relativamente recente que só se tornou norma no catolicismo no Concílio de Trento (1545-63).

C. S. Lewis dizia que a castidade é a menos popular das virtudes cristãs, relembrando-me da luta interior, contra si mesmo, que Santo Agostinho, no seu longo processo de conversão, tão bem caracterizou na oração que em juventude dizia: “Senhor, dá-me castidade e continência, mas não já” (Confissões, Livro VIII, C. VII,17).
Agostinho, talvez o maior e o mais marcante teólogo do chamado mundo ocidental, deu o fecho a uma visão pecaminosa do Ser Humano, um pecado inultrapassável cometido através de Eva que, dessa forma, maculava as mulheres até ao fim dos tempos. Milhares de milhões de crentes cresceram com o fantasma da sexualidade como pecado que impossibilitava a salvação, votando as mulheres para um lugar de repulsa a que se deveria fugir. 
Mas essa castidade cantada por Agostinho, mais que implicar um pensamento em que o santo não se inibiu a ir recriando o seu desejo de castidade como desejo de ser humano, de amar e ter prazer, afirmando querê-la, “mas não já”, leva-nos à própria negação do que é o humano. Possivelmente, há poucas pessoas com tão grande responsabilidade pela desgraça, pela tristeza, pelo desencanto, pela frustração, como Santo Agostinho. Como potenciador profissional, os psicólogos muito devem a Agostinho.
“Sémen Sine Die - lembrar as 4815
vítimas de abusos sexuais”
Nuno Saraiva
Negar o ato mais natural de uma espécie é criar um distúrbio imenso, castrando parte do que seria esperado para completar o ser. A grande questão dos abusos sexuais na Igreja Católica não reside nos crimes (esses são horrendos e não deverá haver a mínima complacência); É muito mais profundo o dano: ele reside na incapacidade de quem assumiu essa castidade e a vive, muitos, amargurados com ela, de rever, quer a visão face à mulher que a inibe do sacerdócio, quer a defesa da castidade dos sacerdotes.
Ao estar tão longe do que é o Ser Humano, reprimindo-o até à loucura ou à necessidade desequilibrada de o levar a abusar dos mais desprotegidos, a Igreja Católica procura manter o seu status quo através da colaboração ativa, ou mesmo tomando a iniciativa, de investigar, punir os culpados e indemnizar as vítimas. Mas a grande questão não é essa: quando é que a hierarquia vai abraçar as causas das patologias psicológicas que são criadas por uma formação que reprime a sexualidade e cataloga a mulher como fonte do pecado?
Quantos padres com vocações de excelência não abandonaram as suas funções religiosas de forma amargurada, sentida, por não terem podido construir uma família? Quantas relações foram mantidas secretas, com mulheres e filhos a nunca terem podido receber o carinho e o afeto que mereciam? Quantas crianças e jovens perderam a sua confiança na Igreja, nos padres e até em Deus porque se sentiram traídos por aqueles que os deviam proteger?
Recupero o trecho final da descrição de uma situação de abuso relatada no recente livro Contra Mim, uma narrativa autobiográfica de Valter Hugo Mãe:
«Quando me deitei e fiz as minhas preces, senti que eu mesmo virara um louva-a-deus. Também eu poderia fazer uma prece sem sentir nada. Talvez pior, acompanhava a prece de uma súbita raiva por Deus, por me haver humilhado e colocado em perigo num ambiente onde se esperaria encontrar pessoas mais bondosas, as que teriam por ofício conduzir os santos ao seu esplendor. O louva-a-deus reza sem compromisso. Foi como me senti. Que meu compromisso se havia suspendido.»

22 fevereiro 2023

Postalinho de uma boa causa - a chegada

 "Bom dia! 

Com a vossa ajuda*, as caixas com artigos de higiene menstrual e material escolar já chegaram à Guiné Bissau."
Vânia Beliz

*recolha de fundos no  Sãorau do 21º Encontra-a-Funda





15 fevereiro 2023

Postalinho de uma boa causa

"Bom dia! 
Com a vossa ajuda* vou conseguir despachar uma caixa de material médico ginecológico para os centros de saúde da Guiné-Bissau. São aproximadamente 200 espéculos reutilizáveis. Conto conseguir enviar esta caixa e o resto em material escolar.  
Tenho estado a gastar o vosso dinheiro com muito cuidado, privilegiando o envio de coisas mais prioritárias. 
São 3 caixas para Cabo Verde."
Vânia Beliz

*recolha de fundos no  Sãorau do 21º Encontra-a-Funda


 

10 fevereiro 2023

A garota não - «Que mulher é essa?»

Letra e Música: A garota não
Produção: Sérgio Miendes e Diogo Sousa

Voz: A garota não
Guitarra elétrica: Sérgio Miendes
Bateria: Diogo Sousa
Coros: Ana Du Carmo e Vanessa Mascarenhas

Vídeo: Maria Miguel Serra

Letra:
Que mulher é essa
que eu vejo na telenovela
as mulheres à minha volta
não se parecem nada com ela

é só mulher sexy
que desliza quando passa
a coxa não entra
e se entra é pra dar graça

que mulher é essa
que eu vejo na publicidade
será que as feias
vivem todas na minha cidade

só mulher bonita, 
todas altas e esguias
e só entra a gorda
para perder calorias

a preta não entra
a baixa não entra, não
a velha não entra
a torta não entra, não
quanto talento gasto em vão

que mulher é essa
que desfila lá na passarela
nunca há-de entrar na moda
o pé descalço da Gabriela

só mulher com estilo
com glamour e muito brilho
toda a roupa assenta
só à gente é um sarilho

que mulher é essa
que aparece tanto na revista
três folhas só de fotos
e um cantinho de entrevista

e o que é que importa..?
quem quer saber do que fala?
muito mais importa
que vestido leva à gala…

a preta não entra
a baixa não entra, não
a velha não entra
a torta não entra, não
quanto talento gasto em vão

13 outubro 2022

«Escrever as palavras a foder» - Luísa Demétrio Raposo

"Gosto muito de escrever as palavras a foder porque além de políticas elas atordoam na descoberta afinal e deixam destelhada a miséria de quase todos os dentes e da caralhada.
Hoje em dia está muito em voga entre os verbos, encontra-se um por outro e até parecem estremecer quando se abre o livro porque assim deve ser e porque convém à boa digestão das livreiras. Das profundezas inumeráveis um pipi não se pretende rebelde, é mais pelo prestável, já uma cona ou um caralho falam muito e muito alto fodem muito e não usam guarda lamas e comem tudo e o sem fundo e com os dedos e nos dedos criam tudo o que arrancam ao que fazem um ao outro dentro um do outro ao fundo.
Um pipi dá beijinho. Um pipi escreve apenas a palavra com quatro letras, foda sim, meu dono.
Em boa verdade, um texto meu não é nem nunca será lugar para nenhum.  Estou só e só o meu nome está cheio de fogo e de queimas que a carne devora, da força incontrolável e a esfola, como é a monta de qualquer um dos meus textos.
Um pipi é um petisco ou um puto se à mulher delicia e até à boca se for múltiplo entre o que apeteça."

ldr

Luísa Demétrio Raposo

29 setembro 2022

Mulamba - P.U.T.A.



P.U.T.A

Ontem desci no ponto ao meio dia
Contramão me parecia
Na cabeça a mesma reza
Deus que não seja hoje o meu dia
Faço a prece e o passo aperta
Meu corpo é minha pressa
Ouviu-se um grito agudo engolido no centro da cidade
E na periferia? Quantas? Quem?
O sangue derramado e o corpo no chão
Guria…

Por ser só mais uma guria 
Quando a noite virar dia
Nem vai dar manchete (nem vai dar manchete)
Amanhã a covardia vai ser só mais uma que mede, mete, e insulta
Vai filho da puta

Painho quis de janta eu
Tirou meus trapos, e ali mesmo me comeu
De novo a pátria puta me traiu
Eu sirvo de cadela no cio

E eu corro
Pra onde eu não sei
Socorro
Sou eu dessa vez

Hoje me peguei fugindo 
E era breu, o sol tinindo
Lá vai a marionete
nada que hoje dê manchete 
(e ainda se escuta) 

A roupa era curta 
Ela merecia
O batom vermelho
Porte de vadia
Provoca o decote
Fere fundo o corte
Morte lenta ao ventre forte

Eu às vezes mudo o meu caminho 
quando vejo que um homem vem em minha direção
Não sei se vem de rosa ou espinho
Se é um tapa ou é carinho
O bendito ou agressão

E se mudasse esse ponto de vista
E o falo fosse a vítima 
O que o povo ia falar?
Trocando, assim, o foco da história
Tirando do homem a glória
De mandar nesse lugar

Socorro tô num mato sem cachorro
Ou eu mato ou eu morro
E ninguém vai me julgar

E foda-se se me rasgar a roupa
Te arranco o pau com a boca
E ainda dou pra tu chupar

Pra ver como é severo o teu veneno
Eu faço do mundo pequeno
E Deus permita me vingar
E Deus permita me vingar
E Deus permita me vingar

E eu corro
Pra onde eu não sei
Socorro
Sou eu dessa vez

(Citação Chico Buarque)
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
(Pra onde eu não sei)
Agonizou no meio do passeio público
(Sou eu dessa vez)
Morreu na contramão como se fosse máquina
(Pra onde eu não sei)
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
(Sou eu dessa vez)
Amou daquela vez como se fosse a última.

#niunamenos
#somostodasputas

11 julho 2022

«Rindo contra o cancro» - Jacqueline Lima

Vocês sabem como eu aparvalho sempre com as minhas dores, não sabem? Então não levem a mal o que vou escrever a seguir. Rir é o melhor remédio!
Então é assim. Mudei de medicação há cerca de um mês e melhorei das dores 30% o que é espectacular para mim. O problema é que começou a afectar-me o intestino e a pachareca. Esta semana foi especialmente doloroso porque passei a defecar pedras, o verdadeiro arrear o calhau, e recebi a visita de novo da Cândida na minha pachareca. 
Fui à ginecologista. Amorosa, mas o exame foi especialmente doloroso. Então, receitou-me um líquido pacharecal e uns comprimidos. Sou só eu que acha que os laboratórios divertem-se com os nomes dos produtos? 
Vejam lá :
Rosalgin: passa de malcheirosa para perfume a rosas na pachareca
Fluconasol Krka: ora reparem flu-c*ona-sol krika? 🙄
Lomexin, nitrato de fentil-c*ona- sol 🤪
Quando cheguei à farmácia e a farmacêutica apresenta-me a caixa do Rosalgin, assustei-me. 
- O que é isto???
-Ah isso é o líquido que coloca e esguicha para dentro.
Eu: 😳🤯
Em casa, voltei a olhar para a caixa, incrédula. 😳🙄
Depois, como estava mal, tive de tomar laxantes para dar conta dos calhaus no meu intestino, fiquei com cólicas e hemorróidas. Embrulha com mais uma pomadinha. Esta chama-se Procto-glyvenol, mas também podia ser faktu para enfiar no c*
Entretanto, fiquei por casa porque andar era extremamente doloroso e sentei-me em cima de um saquinho de gelo. Pelo menos, enquanto congelei o rabo, não me doía. Finalmente, melhorei um pouco.
Agora só me falta ganhar coragem para esguichar o Rosalgin, que como viram na foto, mede 16 cm, tamanho que compete directamente com muita masculinidade!! 😂🤣 A verdade é que vai ficar bem lavado, se calhar, já nem vou mais precisar de usar cotonetes para os ouvidos, se o esguicho for como um geiser.
E é isto, continuo a rir-me com os meus males, porque, se chorar, enfio-me na cama e nunca mais de lá saio.
Sejam felizes, hoje, porque é a única coisa que nos pertence!
Ai lobe iu, meus lobes. 😍

P.S. Nenhuma mulher deveria ter vergonha de ter candidíase ou outros problemas vaginais. Se tiverem ardor, comichão ou algum corrimento, falem com o vosso farmacêutico ou médico porque é muito mais comum do que pensam!



26 fevereiro 2022

As redes sociais não querem que vejas arte com nudez

A Flandres – o destino perfeito para apreciar a arte dos mestres flamengos em toda a sua glória – denuncia a censura artística nas plataformas de redes sociais de maneira lúdica. Na Casa Rubens, os 'espectadores de nudez' com conta no Facebook foram impedidos de ver nudez por um grupo de “agentes policiais da rede social”.

24 fevereiro 2022

Arte erótica censurada... também no Brasil

"Olá, São Rosas!

Como bem sabe, além de pornopoeta, sou artista visual que faz colagem erótica e curador da Obscenografica, revista sobre arte erótica LGBTQIA+. Sou carioca vivendo em São Paulo, uma cidade que respira arte, mas com uma cultura muito conservadora sobre erotismo, como em todo o Brasil. Estou tentando expor meu trabalho, mas é muito difícil quando um artista fala de erotismo explícito. Os espaços públicos não aceitam esses tipos de obra se você não for um artista renomado ou se tiver algum conhecimento para colocá-lo lá. Restam os espaços privados físicos e virtuais, mas são muito caros, seja para uma exposição individual ou mesmo em uma coletiva. Recebi alguns convites para participar de alguns eventos e concursos nos Estados Unidos e na Europa, mas com as dificuldades da pandemia tendo perdido meu emprego, fiquei sem condições para comprar novos materiais para as minhas obras, muito menos para pagar a inscrição em festivais ou exposições ou viajar para o exterior. Tem sido difícil mostrar meu trabalho até nas redes sociais. Fui banido de mídias como Wordpress, Tumblr, Behance e Vero, e censurado no Facebook, Instagram, Youtube e Twitter. Felizmente consegui vender algumas obras nas ruas, mas há poucos compradores de arte no Brasil, principalmente aqueles que admiram a arte erótica. Então a forma que encontrei de mostrar meu trabalho é chamar a sua atenção daqueles que apoiam arte e mostrar um pouco do que venho fazendo. Não peço mais do que alguns minutos para olhar meu portfólio.


Quero apresentar a você minha última série que venho trabalhando chamada Uncyborg Sutra, uma mistura de colagem erótica e arte de rua. Para mim, o corpo é um objeto incompleto. Não é à toa que o ser humano desenvolve ferramentas, técnicas e dispositivos para melhorá-lo. E como fazemos com as palavras, recortando e misturando seus significados, usando a colagem posso fazer o mesmo com o corpo. Com o uso de próteses, utilizando a técnica de recorte e colagem de figuras de revistas e jornais, uno artifícios industriais ao corpo, criando novas possibilidades eróticas, como transformar o corpo de uma mulher ao torná-la transexual, como um "saca-rola", com o uso da tecnologia, aperfeiçoando o aparelho genital masculino acoplado a ela.

Acredito que toda a criação é uma prótese, um dispositivo na tentativa de completar este mundo que vemos manco, ainda que este mundo já esteja cheio de si porque para ele nada lhe falta. E é o mesmo para o corpo. E o que obtemos quando misturamos corpo e ferramentas como uma coisa só? A objetificação faz parte do erotismo e meu trabalho mostra algumas perspectivas sobre essa ideia sem perder a humanidade do outro.

Coloco aqui algumas formas de você acessar informações sobre essa série escolhendo a forma que achar mais segura para acessar um link.

1) Meu portfólio completo no ISSUU;

2) Meu site no Wix;

3) Uma publicação na Nakid Magazine sobre meu trabalho

4) Meu instagram com mais de 6k de seguidores: @poetavinnicorrea ou minha conta de backup e não censurada: @vinniobscene;

5) Ou pode procurar por "Uncyborg Sutra" no Google.

Isto significa muito para mim. Sou muito grato a você por dedicar seu tempo apreciando meu trabalho. Aproveite!


"Vinni, eu vi seu trabalho e gostei. Mas o que posso fazer por você?"

Obrigado! Você pode fazer muito por mim apenas compartilhando meu trabalho com seus amigos e outros contatos que são apaixonados por arte erótica. Caso tenha interesse, pode me pedir o arquivo PDF em alta qualidade do portfólio ou ainda posso enviar imagens separadamente para seu e-mail ou via We Transfer.

"Ah, eu adorei o seu trabalho, é muito bom e quero fazer mais por você. Como posso entrar em contato?"

Eu não posso agradecer o suficiente por isso. Não tenho obras originais à venda em galerias nem aqui no Brasil nem em outros países. Todas ficam comigo, em meu apartamento e quando as levo para a rua. Se quiser saber mais sobre o meu trabalho e se tiver dúvidas, deixo aqui os meus contactos. Ou apenas responda esta mensagem e podemos conversar mais sobre isso.

Phone: 55 21 995928037

E-mail: vinnicorrea.art@gmail.com

São Paulo / SP - Brazil

"E se eu quiser ajudar doando alguma quantia?"

Só estou aceitando doações se for para apoiar meu projeto Obscenografica, uma revista online que reúne artistas LGBTQIA+ de todo o mundo em um movimento contra a censura da arte. Dessa forma, você contribui não só para o meu trabalho, mas para que a revista continue existindo e promova a arte erótica de outros artistas.

Obscenografica: https://www.obscenografica.art

Apoio no Patreon: https://www.patreon.com/obscenografica

É apenas $1 por mês para ajudar a cobrir os custos de hospedagem e layout.

Um grande abraço do outro lado do Atlântico,

Vinni Corrêa"

25 dezembro 2021

Quando Harry encontrou o Pai Natal

"Em 2022, a Noruega comemora 50 anos de podermos escolher quem amamos". 
Vídeo da Posten, correios noruegueses.