21 outubro 2024
19 maio 2024
Prostituição: carta aberta - a realidade na sombra
Publicação de 21/5/2010 da Miss Joana Well, eliminada pelo Blogger em 28/3/2023 sem qualquer justificação mas que, por ser importante divulgar e não ter nenhum conteúdo ilegal em Portugal, volto a publicar.
Não, eu não quero falar.
Prefiro escrever poesia, metáforas, contos. Mas aqui não há luz; existem corredores na sombra e outros ainda no escuro. E na sombra e no escuro crescem os fungos. Falar é lançar luz. Falar é acender a lâmpada que permite que os olhos alheios percorram estes corredores.
Esta é a realidade, não como a pensam, não como a julgam, não como a imaginam, não como tem sido mostrada: é a realidade tal como ela é. Falar é tentar manter os corredores limpos e dignos. A realidade. A realidade é que recebo mensagens de mulheres (e homens) e não sei o que responder. Aliás, mal entendo o que me escrevem: "Quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ser acompanhante de alto luxo"... "Sou muito bonita por isso quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ter uma vida fantástica, fácil, quero ganhar muito dinheiro, quero jantar, viajar e conhecer pessoas interessantes e/ou famosas, quero ser acompanhante de luxo".
E depois a cartada final: "Explica-me como faço"...
E eu tenho vontade de responder que não faço a mais pequena ideia, que nem sei o que significa a palavra "acompanhante" aplicada a este contexto, nisto que é a prestação de serviços sexuais; tenho vontade de lhes dizer que sou prostituta e só conheço prostitutas como eu, prestadoras de serviços sexuais; que a palavra acompanhante, neste contexto, é apenas uma forma de suavizar, uma forma de defender a nossa sensibilidade e a de quem nos procura, uma forma de proteger olhos mais susceptíveis, uma forma em forma de placebo, uma ilusão com que tentamos defender o estômago. Eu sou prostituta; defende-me o estômago a aceitação da palavra. O que conheço é prostituição: algumas cobram mais pelos seus serviços e outras cobram menos, valores esse que podem ser cobrados por relação sexual, por tipo de relação sexual, por tempo: quinze minutos, meia hora, uma hora, duas ou três horas, um dia, uma noite, uma semana. Só muito excepcionalmente a procura não solicita a prestação sexual, a forma de solicitar e a forma de lá chegar pode ser mais explícita ou implícita, mais directa ou mais indirecta, mais ou menos romântica – mas o objectivo é chegar ao sexo, independentemente do tipo de "preliminares" escolhidos: conversa, jantar, empatia, telefonema e marcação daí a meia hora, etc. Os serviços mais procurados são os cobrados por número ou tipo de relação sexual ou os serviços cobrados por tempo até à marca da hora (quinze minutos, meia hora, uma hora). Serviços mais "longos" são raros e quanto mais "especiais" mais raros são. A qualidade do serviço sexual é avaliada por alguns com base – essencialmente ou apenas – na estrutura geométrica da coisa: posições, malabarismos, tipos de sexo, o rosto, o corpo da parceira, e assim por diante. Outros avaliam-no – essencialmente ou apenas – com base na química, na empatia, na simpatia, na sensação de exclusividade, ou o que for. As características do serviço procurado, em cada caso, dependem mais do próprio cliente do que do tipo de serviço escolhido: um cliente pode contratar um serviço pago por relação sexual ou, por exemplo, por meia hora, e, ainda assim, ser um cliente que dá mais importância à química e à empatia do que à "estrutura geométrica" do sexo e da mulher escolhida. As prostitutas que normalmente chamamos de "acompanhantes de luxo" são – quase sempre – as que maioritariamente prestam serviços por meia hora ou uma relação (entre os 50 e os 80 euros) e uma hora (entre os 80 e os 100 euros). Destes valores para cima existe mercado mas é mais escasso e escasseia mais quanto mais o valor sobe. Aliás, basta espreitar um dos sites mais conhecidos, onde as acompanhantes se anunciam, para verificar que, dentro dos valores que referi (até aos 100 euros), se pode contratar serviços de belíssimas mulheres dispostas a agradar; a concorrência é feroz, o número de mulheres nesta actividade é uma elevadíssima incógnita. Tudo se pode encontrar dentro destes valores, por isso, as mulheres que cobram ainda mais, especialmente se ainda desconhecidas ou principiantes, vão ter menos (às vezes, nenhuma) procura. Só um golpe de sorte pode fazer com que uma mulher, ao iniciar-se nesta actividade, comece a cobrar valores superiores a estes e tenha sucesso, especialmente se estiver a contar com serviços maravilhosos que incluem jantares, passeios, noites, etc., para não falar dos riscos constantemente ignorados em aceitar um desses serviços que implica acompanhar um estranho. É também necessário ter um local onde receber os clientes: serviços de deslocação a hotel são mais raros e deslocações a domicilio implicam enormes riscos.
Ou seja, ser prostituta (excluindo a rua) implica despesas elevadíssimas: apartamento ou quarto, anúncios em sites ou jornais e investimentos na própria imagem. Alugar um apartamento e receber sozinha também é um risco, evidentemente; passamos o dia a quebrar a regra de segurança numero um - não abrir a porta a desconhecidos. Encontrar uma colega ou mais com quem dividir o apartamento também se pode revelar tarefa complicada: as personalidades podem chocar-se ou a pessoa escolhida pode revelar-se pouco responsável com horários, higiene, divisão de despesas, etc.; tudo se torna complicado num mundo em que se reserva a identidade, ninguém sabe quem é quem e tudo pode acontecer mais facilmente.
Face a estas dificuldades e desconhecimento do meio, muitas mulheres optam por trabalhar por conta de outrem, porque a casa suporta todas as despesas e pode proporcionar mais segurança; em troca, cada mulher dá à casa uma percentagem por cada cliente que atende, geralmente cinquenta por cento. Considero esta opção legítima enquanto opção, enquanto escolha e preferência e decisão da própria mulher; todos os profissionais têm o direito de decidir se querem trabalhar por conta própria ou de outrem.
Alertas: o lenocínio é ilegal. Tradução: ele existe na sombra, não há ninguém que fiscalize as condições em que ele existe, não há ninguém que proteja as trabalhadoras da entidade profissional. As condições a que as mulheres nesta actividade estão sujeitas quando trabalham em casas dependem, neste momento, única e exclusivamente do carácter do proprietário ou proprietária da casa em que "aterram" e isto pode, sim, tornar as coisas muito complicadas. O lenocínio não vai deixar de existir por ser ilegal, isto só lhe vai dar carta branca para existir nos moldes que a gerência dessas casas quiser.
A prostituição não vai deixar de existir por ser escondida, "alegal", discriminada enquanto profissão; vai apenas continuar a existir numa escuridão que esconde criaturas e acontecimentos negros, bem negros. A "alegalidade" é perigosa, a "alegalidade" deixa-nos desprotegidas perante riscos diversos, a "alegalidade" é apenas um "lavar de mãos" imoral e vergonhoso. Não sou acompanhante, sou prostituta; não conheço acompanhantes, apenas prostitutas; desconheço vidas fantásticas, glamourosas, luxuosas - mas conheço riscos, dificuldades, uns dias melhores que outros e alguma compensação financeira. Claro que não conheço a realidade toda, mas garanto que já por aqui ando há tempo que chegue e sobre para conhecer a maior parte. A quem decidiu escolher este caminho desejo boa sorte – é que vai mesmo precisar dela!
Miss Joana Well
21/5/2010
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"Olá, São Rosas!
Como bem sabe, além de pornopoeta, sou artista visual que faz colagem erótica e curador da Obscenografica, revista sobre arte erótica LGBTQIA+. Sou carioca vivendo em São Paulo, uma cidade que respira arte, mas com uma cultura muito conservadora sobre erotismo, como em todo o Brasil. Estou tentando expor meu trabalho, mas é muito difícil quando um artista fala de erotismo explícito. Os espaços públicos não aceitam esses tipos de obra se você não for um artista renomado ou se tiver algum conhecimento para colocá-lo lá. Restam os espaços privados físicos e virtuais, mas são muito caros, seja para uma exposição individual ou mesmo em uma coletiva. Recebi alguns convites para participar de alguns eventos e concursos nos Estados Unidos e na Europa, mas com as dificuldades da pandemia tendo perdido meu emprego, fiquei sem condições para comprar novos materiais para as minhas obras, muito menos para pagar a inscrição em festivais ou exposições ou viajar para o exterior. Tem sido difícil mostrar meu trabalho até nas redes sociais. Fui banido de mídias como Wordpress, Tumblr, Behance e Vero, e censurado no Facebook, Instagram, Youtube e Twitter. Felizmente consegui vender algumas obras nas ruas, mas há poucos compradores de arte no Brasil, principalmente aqueles que admiram a arte erótica. Então a forma que encontrei de mostrar meu trabalho é chamar a sua atenção daqueles que apoiam arte e mostrar um pouco do que venho fazendo. Não peço mais do que alguns minutos para olhar meu portfólio.Quero apresentar a você minha última série que venho trabalhando chamada Uncyborg Sutra, uma mistura de colagem erótica e arte de rua. Para mim, o corpo é um objeto incompleto. Não é à toa que o ser humano desenvolve ferramentas, técnicas e dispositivos para melhorá-lo. E como fazemos com as palavras, recortando e misturando seus significados, usando a colagem posso fazer o mesmo com o corpo. Com o uso de próteses, utilizando a técnica de recorte e colagem de figuras de revistas e jornais, uno artifícios industriais ao corpo, criando novas possibilidades eróticas, como transformar o corpo de uma mulher ao torná-la transexual, como um "saca-rola", com o uso da tecnologia, aperfeiçoando o aparelho genital masculino acoplado a ela.Acredito que toda a criação é uma prótese, um dispositivo na tentativa de completar este mundo que vemos manco, ainda que este mundo já esteja cheio de si porque para ele nada lhe falta. E é o mesmo para o corpo. E o que obtemos quando misturamos corpo e ferramentas como uma coisa só? A objetificação faz parte do erotismo e meu trabalho mostra algumas perspectivas sobre essa ideia sem perder a humanidade do outro.
Coloco aqui algumas formas de você acessar informações sobre essa série escolhendo a forma que achar mais segura para acessar um link.
1) Meu portfólio completo no ISSUU;
2) Meu site no Wix;
3) Uma publicação na Nakid Magazine sobre meu trabalho;
4) Meu instagram com mais de 6k de seguidores: @poetavinnicorrea ou minha conta de backup e não censurada: @vinniobscene;
5) Ou pode procurar por "Uncyborg Sutra" no Google.
Isto significa muito para mim. Sou muito grato a você por dedicar seu tempo apreciando meu trabalho. Aproveite!
"Vinni, eu vi seu trabalho e gostei. Mas o que posso fazer por você?"
Obrigado! Você pode fazer muito por mim apenas compartilhando meu trabalho com seus amigos e outros contatos que são apaixonados por arte erótica. Caso tenha interesse, pode me pedir o arquivo PDF em alta qualidade do portfólio ou ainda posso enviar imagens separadamente para seu e-mail ou via We Transfer.
"Ah, eu adorei o seu trabalho, é muito bom e quero fazer mais por você. Como posso entrar em contato?"
Eu não posso agradecer o suficiente por isso. Não tenho obras originais à venda em galerias nem aqui no Brasil nem em outros países. Todas ficam comigo, em meu apartamento e quando as levo para a rua. Se quiser saber mais sobre o meu trabalho e se tiver dúvidas, deixo aqui os meus contactos. Ou apenas responda esta mensagem e podemos conversar mais sobre isso.
Phone: 55 21 995928037
E-mail: vinnicorrea.art@gmail.com
São Paulo / SP - Brazil
"E se eu quiser ajudar doando alguma quantia?"
Só estou aceitando doações se for para apoiar meu projeto Obscenografica, uma revista online que reúne artistas LGBTQIA+ de todo o mundo em um movimento contra a censura da arte. Dessa forma, você contribui não só para o meu trabalho, mas para que a revista continue existindo e promova a arte erótica de outros artistas.
Obscenografica: https://www.obscenografica.art
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Um grande abraço do outro lado do Atlântico,
Vinni Corrêa"