31 dezembro 2017

«conversa 2191» - bagaço amarelo

Ela - Detesto quando um homem me diz que eu sou muito bonita.
Eu - Porquê?
Ela - Porque isso é conversa para boi dormir...
Eu - Ah!
Ela - Tu nunca me disseste que eu sou bonita, por exemplo.
Eu - Se calhar não...
Ela - Mas porquê?
Eu - Esse está longe de ser o maior elogio que te posso fazer.
Ela - Hum... hum...
Eu - O que foi?
Ela - Nem sei se considere isso bom ou mau.
Eu - Ainda bem que não gostas que os homens te digam que és bonita, então. Senão consideravas mau de certeza.
Ela - Pois... mas achas-me bonita ou não?
Eu - Agora não posso dizer.
Ela - Porquê?
Eu - Estou condicionado pelas circunstâncias desta conversa.
Ela - Na boa... também não me interessa.
Eu - Ainda bem.
Ela - Mas amanhã já podes dizer, não já?


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Cozinha de autor







A abrir o cardápio uma esmagada dos ovos estrelados e de melancia com suaves notas de saliva a brotarem dos lábios que conferem satisfação plena. Espevitou-me o paladar e avancei pelos ovos mexidos misturados com boa farinheira. Os ovos de compleição muito aceitável resistiam aos meus debicos mas a farinheira deixava-se deglutir completamente numa camilha translúcida tornando o prato original e viciante. O presunto de grande qualidade apoiava a degustação com presença.


Já nos pratos o linguado apresentava-se fresco e grande como convém e a carne era convincente sem lascar ao primeiro embate. O rolo atado tinha a consistência necessária para imprimir o ritmo de uma refeição luxuosa. O duo de tubérculos quase à borda do prato também ajudava à decoração do prato garantindo salivação permanente.


Recomendo a gastronomia deste chef que já repeti bastas vezes pela segurança que dá de requinte e satisfação do palato mais exigente. A carta de vinhos resume-se a um branco e um translúcido inicial mas no conjunto é uma solução perfeitamente equilibrada.

Momentos raríssimos


Consigo ter momentos de elevada genialidade. Desde que não tenha um par de mamas à frente a distrair-me.

Patife
@FF_Patife no Twitter

30 dezembro 2017

«Noite» - Susana Duarte

Noite
(ouvindo Jacqueline du Pré interpretando Offenbach)

(eu, e tu, somos a noite das intempéries
e dos druidas, construções
de um acaso tecido
pelas constelações dos dedos, e pelas impressões digitais
nas veredas do que somos).

a noite sublinha as dissonâncias
dos corpos, e as ausências dos olhares e
das mãos.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Excerto de "Noite", do livro Pangeia, de Susana Duarte
Supostamente a lançar brevemente pela Alphabetum Editora
Foto pessoal, tirada no Museu Nacional de Machado de Castro

Por favor atende-me!


«Pombo correio» - por Rui Felício

«A menina do chapéuzinho vermelho e
o lobo relativamente mau»
Livro de José Vilhena, 1975
Colecção de arte erótica «a funda São»
O Murta até nem era frequentador habitual do Café do Silva, mas ultimamente não falhava um dia.
Andava loucamente apaixonado e, naquele tempo, excepção feita aos bailes de garagem dos fins de semana a que ele e a linda rapariga acorriam pressurosos, os contactos nos restantes dias eram extremamente dificeis.
As raparigas eram mantidas numa férrea redoma.
Mesmo quando, excepcionalmente, tinham permissão para irem aos tais bailes, era habitual serem acompanhadas pelas mães que fiscalizavam o seu comportamento com olhos de lince.
Raras eram as familias que tinham telefone em casa e, mesmo naquelas onde o havia, seria impensável um telefonema de namorados se, como era o caso, o namoro formal ainda nem sequer tivesse sido autorizado pelos pais da moça.

Mas a necessidade aguça o engenho...

O pai da moça, cujo nome aqui omito por respeito à sua memória, usava chapéu como a maioria dos homens de então, e fazia parte das suas rotinas diárias, pendurá-lo num cabide atrás da porta da sua casa.
Colocava-o na cabeça sempre que saía de casa e voltava a pendurá-lo no cabide que existia no Café do Silva logo que ali chegava para tomar uma bica e jogar às damas.
Alisava o cabelo empastado de brilhantina com as palmas das mãos, secava-as às calças e sentava-se a uma mesa , convidando algum dos presentes para uma partida de damas, ou encetando alguma conversa acalorada sobre os últimos jogos de futebol do União ou da Académica.
O Murta aproveitava então a sua distracção e subrepticiamente retirava do forro do chapéu pendurado no cabide, um bilhetinho dobrado da sua amada.
Depois de o ler, escrevinhava nas costas do mesmo bilhete, uma dúzia de palavras carregadas de amor, voltava a dobrá-lo e recolocava-o no forro do chapéu.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Maurício Falleiros


29 dezembro 2017

Luís Gaspar lê «Outra» de António Botto

Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: – a luz do dia!
– Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
– Se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água – música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
– Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!

António Botto
António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português. A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia "Canções" que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«Prazer oculto» - Mário Lima


Não sabia o que o impelia todas as noites para aquele lugar. Sabia, é que não podia deixar de lá ir. Lá ao fundo, as luzes da Marginal alumiavam a baía onde os reflexos eram sulcos deixados naquele mar de Luanda.

Deslocava-se a pé, como sempre o fazia. O silêncio ali era de oiro, não fosse espantar quem lá estava.

Ao lado, o cinema Miramar transbordava de gente, assistindo a mais uma sessão, num dos mais lindos cinemas ao ar livre da cidade.

Mas ali, no jardim onde ele estava, tudo era escuro. Devagar, aproximou-se do local onde ouvia uns gemidos lânguidos de rapariga. Atrás de uma moita, viu o casal. Não notaram a sua presença, fruto de muitos anos de experiência em observar os casais que ali se deslocavam pela calada da noite.

Ela, de saia subida, era impelida contra o chão pelos movimentos pélvicos dele. Os seios erectos eram mordidos com impaciência, pois quanto mais era a sensação de serem descobertos mais a adrenalina se fazia sentir. Estavam a ser observados e não o sabiam.

Ele observava aquela fúria sexual e sentia-se feliz. Desapertou a braguilha e deu-se a manipular o seu sexo, sentindo o prazer da carne que via como sendo seu.

Aos gritinhos abafados deles, juntava os seus, até que, por fim, um jorro de sémen foi depositado na terra daquele jardim.

Aguardou um pouco que o corpo voltasse ao normal. Devagar, foi recuando até se ver fora do local. Como um passeante vulgar, dirigiu-se para casa. Depois de despido, abriu a roupa da cama devagar para não acordar a mulher que a seu lado dormia. Ela, sentiu-o deitar-se, como todos as noites o sentia. Não se mexeu, a sua carne pedia também prazer mas sabia que dele já nada podia esperar. E, com o corpo tremente, adormecia como há tantos anos o fazia.

… No jardim do Miramar, as formigas levavam aquele sémen tanto delas conhecido.

Mário Lima
Blog O sonhador

#consultóriosentimental - Ruim







Se o melhor que tiverem para oferecer a alguém for um decote ou um saldo de conta, então pensem que há sempre alguém com melhor decote ou com um saldo de conta maior.

Ruim
no facebook

28 dezembro 2017

«Rola» - Porta dos Fundos

Antologia da poesia erótica brasileira

Colectânea organizada por Eliane Robert Moraes.
Edição da Tinta da China para Portugal.
Junta-se à edição original do Brasil, na minha colecção.


A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

«Keith Pop – Impotência» - Adão Iturrusgarai


26 dezembro 2017

«de olhos fechados» - Susana Duarte

percorro-te caminhos situados nas nervuras das veias
e subo montanhas onde os poros se revelam aves soltas

as montanhas são heras trepadeiras que voam rumo
a lugares que não sei. deusas conspiram para que as asas

quebrem

e a queda sobre as ervas madrugadoras seja a realidade
imposta às sonoridades dos meus olhos. os olhos

não te vêem e,

na queda das águas da manhã, não seguram a tristeza.
amar-te é a queda das folhas sobre gotas orvalhadas
de uma montanha longínqua. e as sobras das neves.
percorro-te. sonho-te. sinto-te onde não te vejo. estranho

as auroras

pálidas do desejo de ser água. percorro-te. sonho-te.
sinto-te onde não te vejo. as danças pagãs pararam

nas portas das montanhas cobertas de gotas orvalhadas

pela tua longa ausência. sei-te onde não estás. percorro-te
marés e encontro-te nas portas da noite. de olhos fechados.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Pisca-Piça


Chama-lhes abraços, chama...

"A duração média de um abraço é de 3 segundos. Mas quando um abraço dura 20 segundos, há um efeito terapêutico sobre o corpo e a mente. Abrace."
Patrícia

Por isso os meus abraços de pelo menos dois minutos curam qualquer maleita. Está explicado.

Sharkinho
@sharkinho no Twitter

Mulher nua a baloiçar

Mata-borrão em madeira trabalhada e pintada em estilo Art Nouveau, com sistema rotativo para substituir a folha de papel mata-borrão. A pega é uma mulher de cócoras.
Uma peça única deliciosa, com um trabalho minucioso, na minha colecção.








A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
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23 dezembro 2017

Apanhado, o Pai Na tal...

«s/t» - Susana Duarte

porto-pranto-praga:
eis a dúvida,
a dor,
o poema.

talvez o Amor,
talvez, apenas,
fonema.

verbo inacabado,
ou verbo por parir:
flores azuis,
água,
devir.
ser onde
(ou o que ) não sou:

água do poema,
asa que findou.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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"Vou-me deixar tentar pelos frutos de mar..."

Menu de copo de água de casamento, de 1988, ilustrado com uma gravura de Raymond Peynet, com publicidade ao Champagne Perrier.
Mais uma demonstração, na minha colecção, da faceta erótica de Raymond Peynet, autor dos célebres «namorados de Peynet», dos anos 60.




A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
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Cantora egípcia é condenada a dois anos de prisão por este videoclip

Um tribunal do Cairo condenou a cantora egípcia Shima Ahmed por "incitação à devassidão, libertinagem e alusões sexuais explícitas" no seu videoclip «Andi Zorof». O director, Mohamed Gamal, recebeu a mesma condenação. Ambos ainda terão que pagar uma multa de 10.000 libras egípcias. Ambos podem recorrer da sentença.
"Apreciem o vídeo e digam-me o que tem de criminoso", tinha eu preparado... mas, entretanto, foi removido. Deixo-vos este «resumo» de qualidade duvidosa, mas que já dá para ter uma ideia do que deu direito a uma pena de 2 anos de prisão. Isto, se entretanto não removerem também isto.

22 dezembro 2017

Luís Gaspar lê «Soneto VII» de Florbela Espanca

São mortos os que nunca acreditaram
Que esta vida é somente uma passagem,
Um atalho sombrio, uma paisagem
Onde os nossos sentidos se poisaram.

São mortos os que nunca alevantaram
De entre escombros a Torre de Menagem
Dos seus sonhos de orgulho e de coragem,
E os que não riram e os que não choraram.

Que Deus faça de mim, quando eu morrer,
Quando eu partir para o País da Luz,
A sombra calma de um entardecer,

Tombando, entre doces pregas de mortalha,
Sobre o teu corpo heróico, posto em cruz,
Na solidão dum campo de batalha!

Florbela Espanca
Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930), batizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, é uma conhecida e popular poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotismo, feminilidade e panteísmo.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«No escurinho do cinema» - Mário Lima


Entro no cinema ainda as luzes estavam acesas. Procuro o meu lugar e os meus olhos pousaram em ti. Tua pele morena contrastava com a palidez do resto das raparigas que contigo estavam. Teu olhar fixou-se no meu quando caminhava pela fila que me colocou a teu lado.

No palco, a cortina grossa que tapava o ecrã, foi-se abrindo enquanto o sonoro anunciava o início do filme.

Os mais atrasados precipitavam-se em direcção a seus lugares. Olhei-te de soslaio. Os teus olhos olhavam a tela, as primeiras imagens eram projectadas na cortina que continuava a abrir lentamente. A luz ia diminuindo de intensidade, ficando as luzes de emergência acesas ainda que mortiças. A escuridão era quase completa. O filme começou, as pessoas iam-se calando depois de muitos “shiuuuu” da assistência.

Senti a tua perna a encostar-se à minha. Pensava que, porventura, tivesse sido um pequeno descuido teu. Mas insistias, comecei a sentir-me desconfortável sem saber o que fazer.

A tua mão deslocou-se através do apoio, deixaste-a cair sobre a tua saia e devagar foste-a colocando sobre a minha. Eu suava, as emoções foram-se apoderando de mim. O desconforto subia à medida que me puxavas a mão e a colocavas na tua perna.

A minha mão subiu, a tua saia, curtíssima, não impedia coisa nenhuma. Os meus dedos entraram na tua cuequinha e sentiram a humidade do teu sexo. Enquanto o filme decorria, senti o teu arfar, lentamente fui acariciando o teu pontinho sensível. Tive receio que as tuas colegas se apercebessem do que se estava a passar, mas tu sossegaste-me com os olhos brilhando no escurinho do cinema.

Depois senti em ti o relaxar, tinhas conseguido o orgasmo. Devagar fui retirando a mão. Ajeitaste a saia, a tua mão deslizou pelas minhas calças e…

As luzes acenderam-se, levantei-me e saí. Não me lembro, até hoje, que filme estava a decorrer no ecrã!

Mário Lima
Blog O sonhador

#ondeéqueelesandam? - Ruim






A minha avó Lucinda sempre me avisou para ter cuidado nas danceterias porque havia pessoas a meter coisas nas bebidas.

Deve ter sido fresca, a velha.

Ruim
no facebook

21 dezembro 2017

«Voyeur» - Porta dos Fundos

Mais activo

A entrada numa actividade física organizada melhora a circulação sanguínea e aumenta o apetite. O homem é estimulado não só pela melhoria do seu próprio corpo, mas também pela melhoria na forma dos corpos alheios. E mesmo em actividades mais ou menos organizadas notam-se melhorias. Talvez pelo incentivo de, objectivamente, perseguir objectivos, as actividades melhoram substancialmente. Para as restantes poderá haver um incentivo extraordinário de fuga e de manutenção da boa forma. E na hora de regressar a casa, alguém terá que pagar com o corpo...

«Homens e livros» - Adão Iturrusgarai


Humidade

Livro de Reinaldo Moraes, a juntar-se a «Pornopopeia» e «O cheirinho do amor - crónicas safadas», do mesmo autor, na minha colecção.


A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
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19 dezembro 2017

«vou sentar-me sobre as costas dos teus olhos» - Susana Duarte

vou sentar-me sobre as costas dos teus olhos,
e ver-me através deles, sedentos das névoas
das minhas madrugadas.

vou sentar-me sobre
os teus braços e, através deles,
rever encostas
onde os seios te abraçaram,
e foram eternas
as inermes mãos sobre o dorso.

vou sentar-me
sobre as dobras da tua voz,
onde o silêncio
me chama e a língua me conquista.
sobre ela,
desfazer as névoas que, junto ao rio,
pairaram, no instante do atrevimento.

a língua de fogo
dos teus dedos, sobre a língua de fogo da água
que sobre ti se deita, exclamando
todas as noites
de todas as idades,
desfiguradas pelo silêncio
que, sob a chuva, se abateu, pronto
que estava o sorriso dos lábios,
pronta a boca
para, sobre ti,
pairar e, ali,
depositar o dia.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«Projeto busca reunir em livro trabalhos artísticos em forma de manifesto contra o moralismo»

Mensagem recebida do Brasil, da Julia A. Braga, sobre um projecto do meu amigo Vinni Corrêa:

"Não ficamos tanto tempo longe da ditadura e já estamos ameaçados por uma nova enxurrada de conservadorismo e censura. Exposições artísticas que traziam abordagens de liberdade de expressão sexual sofreram ataques por movimentos religiosos e parlamentares da moral e bons costumes. Nas redes sociais, xingamentos e ameaças de mortes a artistas que expuseram obras eróticas. No congresso, projetos de leis tentam avançar contra a criatividade artística, o poder de questionamento e o livre acesso ao conhecimento.
É nesse cenário que muitos artistas veem se mobilizando para conter o tsunami conservador que ameaça invadir o território do livre pensamento que é o da arte. Assim o pornopoeta e pesquisador Vinni Corrêa teve a iniciativa de reunir alguns artistas na montagem de uma antologia do obsceno, reunindo em um livro obras consideradas obscenas, vulgares, pornográficas ou que atentam a moral e os bons costumes de nossa sociedade. O trabalho é um manifesto artístico-político contrapondo o movimento reacionário.
Alguns nomes já manifestaram seu apoio e participação como Laerte, Nani, Veronica Stigger, Glauco Mattoso, Avelar Amorim, Tchélo Figueiredo, entre outros.Em entrevista, Vinni fala sobre a importância do projeto para o atual cenário cultural e político do país.

Julia A. Braga – Por que você teve a ideia de criar esse manifesto em um livro?
Vinni Corrêa – Alguns motivos me fizeram crer que um trabalho impresso (mas também virtual) seria uma ótima estratégia. Primeiro porque não são apenas as exposições que estão sofrendo com a censura. Toda e qualquer obra artística erótica e em qualquer meio de comunicação tem recebido algum tipo de ataque. E com o livro, não apenas consigo reunir todas essas expressões ao mesmo tempo (poesia, crônica, cartum, fotografia, artes plásticas etc.) como gera um registro duradouro e de fácil acesso e compartilhamento entre as pessoas.

JAB – E como está sendo a adesão? Muitos artistas estão se unindo nesse movimento?
VC – Por um lado está bem entusiástico. Bastante gente se demonstrando interessada em participar e contribuir. Por outro, há determinados artistas receosos. Por exemplo, algumas artistas mulheres do movimento LGBT ou ainda não responderam ou negaram a participação. O mesmo ocorre com alguns do movimento negro. A maior aceitação até o momento tem sido de homens brancos. Ou seja, ainda há um longo trabalho a ser feito para que o projeto alcance verdadeiramente seu objetivo que é o de ser plural.

JAB – Você acredita que haja algum motivo para essa aceitação majoritária de homens brancos até o momento?
VC – Penso que, assim como nas demais manifestações culturais, no erotismo o homem branco ainda domina o discurso. Muitas mulheres estão aumentando sua participação no debate sobre sexo, sexualidade, gênero e pornografia, mas ainda é pouco e há receio. O mesmo ainda ocorre, creio eu, no movimento LGBT e no movimento negro. Talvez alguns tenham medo de expor sua imagem num tema como esse. Já sofrem preconceito e discriminação diariamente. Expor-se num ato claramente de enfretamento às vezes pode trazer certo receio para alguns. Mas se não for a arte o instrumento maior de combate, qual será? Apesar disso, ainda há artistas que não responderam e espero ter o aceite deles.

JAB – Qual o critério tem usado para selecionar os trabalhos?
VC – Há mais de um critério que venho usando até o momento. Um deles é meramente pessoal. Convidei, inicialmente, artistas que conheço e que gosto do trabalho e que acrescentam para essa causa. Além disso, tanto esses como outros artistas, pela forma, conteúdo e relevância de sua arte para o manifesto. Por fim, posso dizer que há ainda o da pluralidade. Quero catalogar uma diversidade de estilo e voz, uma oportunidade para as mais variadas tendências de se expressarem e o que elas têm a trazer de questionamento para a nossa realidade.

JAB – Após concluir essa fase de reunir os trabalhos, qual o próximo passo?
VC – Aí vem a parte mais difícil. Reunirei os trabalhos em um documento no formato de livro e encaminharei para as editoras, acreditando que alguma terá interesse em contribuir com esse manifesto. Não apenas conseguirá visibilidade como também contribuirá para um ato pela liberdade criativa da arte, algo de que precisamos para melhorar a educação e o pensamento crítico do brasileiro em tempos de grave situação política que estamos a vivenciar.


Vinni Corrêa é pornopoeta e idealizador e organizador da Fresta Literária - sarrau de poesia erótica. Já publicou três livros de poesia (Coma de 4, Literatura de Bordel e Lunch Box) e lançará seu próximo trabalho, intitulado "Sexo a Três", em 2018. Atua como pesquisador não acadêmico do tema erotismo, publicando diversos textos na internet sobre o assunto. É pós-graduando em Psicanálise e Ciências Humanas, pós-graduado em Marketing e graduado em Jornalismo e em Gestão de Eventos. Conheça mais sobre Vinni Corrêa em www.vinnicorrea.com."

Julia A. Braga - assessoria jornalística

E esta foi a minha resposta:

"Olá, Julia e Vinni

Têm toda a minha solidariedade e apoio para esta causa.
Em Portugal não há - pelo menos para já - as ameaças e bloqueios à livre expressão que vos fazem no Brasil... mas nada é certo e garantido. Além disso, a nível internacional, o erotismo é colocado em guetos: a Google não apresenta resultados de pesquisa de blogues de adultos... o Facebook bloqueia contas de quem publica fotos de sexo, de nudez, de mamilos (!), etc.
Para já, vou divulgar este vosso texto manifesto no meu blog - «a funda São», que o Vinni bem conhece.
Tudo o que fizerem por esta causa, agradeço que me mantenham a par, para eu também divulgar e partilhar em Portugal.

A vossa, só vossa, eroticamente vossa"
São Rosas