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18 abril 2013
11 abril 2013
28 março 2013
O amor é o amor - e depois?!
Will McBride, Will e Barbara, Munique, 1963
O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!
Alexandre O´Neill, Poesias Completas 1951/1981
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21 março 2013
Volúpia
No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
— Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
Florbela Espanca (1894-1930)
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
— Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
Florbela Espanca (1894-1930)
Laure Albin Guillot, 1930s
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14 março 2013
Decameron: O véu da abadessa
(...) Sabei pois que havia na Lombardia um mosteiro cuja santa piedade assegurara a sua reputação. Isabetta, uma das religiosas que lá se encontravam então, era uma jovem de sangue nobre e de grande beleza. Um dos seus parentes foi um dia visitá-la à grade do parlatório. Acompanhava-o um rapaz de boa aparência, por quem Isabetta se apaixonou. A grande beleza da freira e o desejo que brilhava nos seus olhos inspiraram o mesmo ardor ao rapaz, e ambos sofreram durante algum tempo em silêncio essa paixão. Por fim, o jovem descobriu maneira de ver a freira secretamente e isso foi-lhes tão agradável que acharam maneira de repetir tais encontros.
A intriga continuava assim. Uma religiosa, porém, surpreendeu uma noite o apaixonado no momento em que este se despedia da amante e participou a sua descoberta a outras freiras. A primeira ideia que lhes ocorreu foi comunicarem o que se passava à superiora, Usimbalda, que era, na opinião de todos quantos a conheciam, uma boa e santa criatura. Pensando melhor, acharam, porém, que seria preferível fazer com que a abadessa a surpreendesse com o amante e assim ela não pudesse negar o facto. Calaram-se pois e combinaram umas com as outras vigiarem-na alternadamente, a fim de a apanharem em flagrante delito. Isabetta, sem desconfiar de coisa alguma, mandou certa noite chamar o amante, facto de que as freiras que a vigiavam logo se deram conta. Quando o momento lhes pareceu propício, dividiram-se em dois grupos. Umas ficaram a vigiar a porta da cela, enquanto as outras correram ao quarto da abadessa e bateram à porta. Quando a superiora respondeu, as freiras insistiram:
- Depressa, madre, depressa. Descobrimos um homem na cela de Isabetta.
Giacinto Gaudenzi |
Ora, nessa noite, a abadessa estava precisamente acompanhada por um padre que muitas vezes dava entrada no seu quarto metido dentro de uma arca. Ouvindo todo aquele barulho e receando que as freiras, com o entusiasmo, empurrassem a porta, saltou da cama e vestiu-se o melhor que pôde mesmo às escuras. Julgando, porém, que pegava no véu que as religiosas usam na fronte e a que chamam psaltério, pegou nas ceroulas do padre. A sua precipitação era tal que, sem dar por isso, as ajeitou na cabeça em vez do psaltério e saiu, batendo com a porta e perguntando: - Onde está essa maldita de Deus? E seguiu as freiras que tanto ardiam em desejos de apanharem Isabetta em falta, que nem repararam que a abadessa trazia aquele estranho véu. Usimbalda chegou à porta da cela de Isabetta e, com a ajuda das irmãs, arrombou a porta. Lá dentro, as freiras encontraram os dois amantes deitados e abraçados. Estupefactos e sem saberem que atitude tomar, a freira e o jovem não se mexiam. Isabetta foi então agarrada pelas outras e conduzida ao capítulo. O rapaz, tendo ficado só, vestiu-se, e pôs-se à espera dos acontecimentos, decidido a vingar-se de todas as que lhe passassem por perto, se alguma fizesse mal a Isabetta, e depois de levar a amante para longe dali.
A abadessa tomou o seu lugar no capítulo, em presença de todas as freiras que não olhavam senão para a culpada, e começou por dizer a Isabetta as piores injúrias que jamais foram ditas a uma mulher, acusando-a de desacreditar a santidade, a honra e o bom nome do mosteiro, se tal escândalo viesse a transpirar lá fora. Às ameaças seguiram-se as injúrias. envergonhada e cheia de medo, a jovem parecia consciente da sua culpa e o seu silêncio começava a inspirar piedade às companheiras. A superiora continuava a falar, quando Isabetta levantou por fim os olhos e viu o véu da abadessa e os cordões que caíam de um e de outro lado. Percebeu logo do que se tratava e disse-lhe tranquilamente: - Madre Superiora, Deus vos tenha na sua Santa Guarda! Atai o vosso toucado e depois então dizei o que quereis.A abadessa, que não a entendia, disse: - Que toucado, miserável? Tens o topete de gracejar num momento destes? Achas que o teu crime dá vontade de rir? - Madre - disse Isabetta uma vez mais - peço-vos que ateis o vosso toucado. Depois dizei então o que quereis. Várias freiras olharam então para a abadessa, e a boa senhora, que também levara as mãos à cabeça, compreendeu logo o motivo por que Isabetta falava assim. Reconhecendo o seu erro e vendo que as presentes o haviam também reconhecido, compreendeu que não podia mais ocultá-lo. Mudou então de tom e acabou por dizer que ninguém podia defender-se dos aguilhões da carne. Concluiu dizendo que cada qual devia ocultar o melhor possível o seu prazer, como até aí se tinha feito. A abadessa mandou pois soltar Isabetta e voltou para o leito, onde o padre estava à sua espera. Isabetta fez o mesmo com o amante, que ali voltou muitas vezes, apesar dos ciúmes que isso provocava. As freiras que não tinham apaixonados esforçaram-se logo por arranjar, o melhor que puderam, as suas intrigas secretas.
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07 março 2013
O balouço de Fragonard
Les hasards heureux de l'escarpolette, 1767, de Jean-Honoré Fragonard
Como balouça pelos ares no espaço
entre arvoredo que tremula e saias
que lânguidas esvoaçam indiscretas!
Que pernas se entrevêem, e que mais
não se vê o que indiscreto se reclina
no gozo de escondido se mostrar!
Que olhar e que sapato pelos ares,
na luz difusa como névoa ardente
do palpitar de entranhas na folhagem!
Como um jardim se emprenha de volúpia,
torcendo-se nos ramos e nos gestos,
nos dedos que se afilam, e nas sombras!
Que roupas se demoram e constrangem
o sexo e os seios que avolumam presos,
e adivinhados na malícia tensa!
Que estátuas e que muros se balouçam
nessa vertigem de que as cordas são
tão córnea a graça de um feliz marido!
Como balouça, como adeja, como
é galanteio o gesto com que, obsceno,
o amante se deleita olhando apenas!
Como ele a despe e como ela resiste
no olhar que pousa enviesado e arguto
sabendo quantas rendas a rasgar!
Como do mundo nada importa mais!
Jorge de Sena, Metamorfoses, Lisboa, Moraes Editores, 1963
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28 fevereiro 2013
21 fevereiro 2013
14 fevereiro 2013
As lamentações de um pêlo dum cu de mulher
Dans le bonheur on a vécu
De mourir triste et solitaire
Sur les ruines d'un vieux cul.
Jadis dans une forêt vierge,
Je fus planté, sur le versant
Qu'un pur filet d'urine asperge,
Et parfois un filet de sang.
Alors dans ce taillis sauvage,
Les poils poussaient par mes sillons,
Et sous leur virginal ombrage,
Paissaient de jolis morpions.
Destin fatal ! un doigt nubile
Un soir par là vint s'égarer,
Et de sa phalange mobile
Frotter, râcler et labourer.
Bientôt au doigt le vit sucède,
Et, dans ses appétits ardents,
Appelant la langue à son aide;
Il nous déchire à belles dents.
J'ai vu s'en aller nos dépouilles
Sur le fleuve des passions,
Qui prend sa source dans les couilles,
Et va se perdre dans les cons.
Hélas ! l'épine est sous la rose,
Et la pine sous le plaisir
Bientôt au bord des exostôses,
Des chancres vinrent à fleurir.
Les coqs de leur crête inhumaine
Se parent dans tous les chemins :
Dans le département de l'Aine
Gambadent les jeunes poulains.
Mais, quand le passé fut propice,
Pourquoi songer à l'avenir ?
Et qu'importe la chaudepisse
Quand il reste le souvenir ?
N'ai-je pas vu tous les prépuces,
Avoir chez nous un libre accès,
Alors même qu'ils étaient russes,
Surtout quand ils étaient français.
J'ai couvert de mon ombre amie
La grenette de l'écolier,
Le membre de l'Académie,
Et le vit du carabinier.
J'ai vu le vieillard phosphorique,
Dans un effort trop passager,
Charger avec son dard étique,
Sans parvenir à décharger.
J'ai vu - mais la motte déserte
N'a plus de flux ni de reflux,
Et la matrice trop ouverte,
Attend vainement le phallus.
J'ai perdu, depuis une année,
Mes compagnons déjà trop vieux,
Et mes beaux poils du périnée
Sont engloutis dans divers lieux.
Aux lèvres des jeunes pucelles,
Croissez en paix, poils ingénus.
Adieu, mes cousins des aisselles,
Adieu, mes frères de l'anus !
J'espérais à l'heure dernière,
Me noyer dans l'eau des bidets,
Mais j'habite sur un derrière
Qu'hélas on ne lave jamais.
- Il eut parlé longtemps encore,
Lorsqu'un vent vif précipité,
Broyant, mais non pas inodore,
Le lança dans l'éternité.
Ainsi tout retourne dans la tombe,
Tout ce qui vit, tout ce qui fut,
Ainsi tout change ainsi tout tombe,
Illusions... et poils du cul.
Júlio Verne
Pierre Louys, Le cul de la femme |
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07 fevereiro 2013
31 janeiro 2013
Fala
Heinz Brandenburg |
falar do falo
é uma fácil falácia
do príapo é mais própria
a prosápia
quanto ao caralho
não é pau de carvalho
mas engrossa a piça
o chouriço enchoiriça
e a piça incha e estica
mas o tesão
não se compra nem se vende
a cona destes versos
é que o fode!
in Sim… Sim! Poemas Eróticos, de E.M. de Melo e Castro, Vega Editora, 2000
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24 janeiro 2013
Torna a Surriento
« As brasas do seu prazer apagaram-se, quando, sufocado o riso, viu a mulher abandonar a indiferença de estátua com que tinha recebido no dia anterior as carícias do engenheiro e tomar iniciativa. Abraçava-o, obrigava-o a deitar-se ao lado dela, por cima dela, debaixo dela, enredava as pernas nas pernas dele, procurava-lhe a boca, mergulhava-lhe a língua e - «ai, ai», rebelou-se Dom Rigoberto - acocorava-se com amorosa disposição, pescava entre os seus afilados dedos o sobressaltado membro e, depois de passar-lhe a mão pelo lombo e pela cabeça, levava-o aos lábios e beijava-o antes de o fazer na boca. Nessa altura, a plenos pulmões, ressaltando na fofa cama, o engenheiro começou a cantar - a rugir, a uivar - Torna a Surriento.
- Começou a cantar Torna a Surriento? - pôs-se violentamente de pé Dom Rigoberto. - Nesse instante?
- Isso mesmo - Dona Lucrecia voltou a soltar uma gargalhada, a conter-se e a pedir desculpa. - Deixas-me pasmada, Pluto. Cantas porque gostas ou porque não gostas?
- Canto para gostar - explicou ele, trémulo e carmesim, entre fífias e arpejos.
- Queres que pare?
- Quero que continues, Lucre - implorou Modesto, eufórico. - Ri-te, não faz mal. Para que a minha felicidade seja completa, canto. Tapa os ouvidos se te distrai ou te dá vontade de rir. Mas, pela tua rica saúde, não pares.
- E continuou a cantar? - exclamou, ébrio, louco de satisfação, Dom Rigoberto.
- Sem parar um segundo - afirmou Dona Lucrecia, entre soluços. - Enquanto o beijava, me sentava em cima dele e ele em cima de mim, enquanto fazíamos amor ortodoxo e heteredoxo. Cantava, tinha de cantar. Porque, se não cantava, fiasco.
- Sempre o Torna a Surriento? - deleitou-se no doce prazer da vingança Dom Rigoberto.
- Qualquer canção da minha juvenude - cantarolou o engenheiro, saltando, com toda a força dos seus pulmões, da Itália para o México. - Voy a cantarles un corrido muy mentadooo...
- Um pot pourri de piroseiras dos anos 50 - precisou Dona Lucrecia. - O Sole mio, Caminito,Juan Charrasqueado, Allá en el rancho grande, e até Madrid, de Agustín Lara. Ai, que vontade de rir!
- E sem essas vulgaridades musicais, fiasco? - pedia confirmação Dom Rigoberto, hóspede do sétimo céu. - É o melhor da noite, meu amor.
- O melhor ainda tu não ouviste, o melhor foi o final, o auge da fantochada - enxugava as lágrimas Dona Lucrecia. - Os vizinhos começaram a bater nas paredes, telefonaram para a recepção, que baixássemos a televisão, o gira-discos, ninguém conseguia dormir no hotel.»
"Os cadernos de Dom Rigoberto ", de Mario Vargas Llosa, Trad. J. Teixeira de Aguilar
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17 janeiro 2013
03 janeiro 2013
To Fuck With Love
Dois poemas retirados de The Love Book, de Lenore Kandel.
TO FUCK WITH LOVE PHASE III
to fuck with love
to love with all the heat and wild of fuck
the fever of your mouth devouring all my secrets and my alibis
leaving me pure burned into oblivion
the sweetness UNENDURABLE
mouth barely touching mouth
nipple to nipple we touched
and were transfixed
by a flow of energy
beyond anything I have ever known
we TOUCHED!
and two days later
my hand embracing your semen-dripping cock
AGAIN!
the energy
indescribable
almost unendurable
the barrier of noumenon-phenomenon
transcended
the circle momentarily complete
the balance of forces
perfect
lying together, our bodies slipping into love
that never have slipped out
I kiss your shoulder and it reeks of lust
the lust of erotic angels fucking the stars
and shouting their insatiable joy over heaven
the lust of comets colliding in celestial hysteria
the lust of hermaphroditic deities doing
inconceivable things to each other and
SCREAMING DELIGHT over the entire universe
and beyond
and we lie together, our bodies wet and burning, and
we WEEP we WEEP we WEEP the incredible tears
that saints and holy men shed in the presence
of their own incandescent gods
I have whispered love into every orifice of your body
As you have done
to me
my whole body is turning into a cuntmouth
my toes my hands my belly my breast my shoulder my eyes
you fuck me continually with your tongue you look
with your words with your presence
we are transmuting
we are as soft and warm and trembling
as a new gold butterfly
the energy
indescribable
almost unendurable
at night sometimes I see our bodies glow
Claude Fauville, Os Amantes |
GOD/LOVE POEM
there are no ways of love but / beautiful /
I love you all of them
I love you / your cock in my hands
stirs like a bird
in my fingers
as you swell and grow hard in my hand
forcing my fingers open
with your rigid strength
you are beautiful / you are beautiful
you are a hundred times beautiful
I stroke you with my loving hands
pink-nailed long fingers
I caress you
I adore you
my finger-tips… my palms…
your cock rises and throbs in my hands
a revelation / as Aphrodite knew it
there was a time when gods were purer
/ I can recall nights among the honeysuckle
our juices sweeter than honey
/ we were the temple and the god entire/
I am naked against you
and I put my mouth on you slowly
I have longing to kiss you
and my tongue makes worship on you
you are beautiful
your body moves to me
flesh to flesh
skin sliding over golden skin
as mine to yours
my mouth my tongue my hands
my belly and my legs
against your mouth your love
sliding…sliding…
our bodies move and join
unbearably
your face above me
is the face of all the gods
and beautiful demons
your eyes…
love touches love
the temple and the god
27 dezembro 2012
Lenore Kandel
Poeta visionária e activista da contra-cultura, Lenore Kandel (1932-2009) é associada à "Beat Generation". Jack Kerouac imortalizou-a no seu romance Big Sur (1962) na personagem Romana Swartz. Publicou dois livros de poesia: Word Alchemy (1967) e The Love Book (1966). Kandel denominou os seus versos de erótica sagrada. Quando questionada se era religiosa, respondeu "Yes, and everyone who makes love is religious."
O seu poema "To Fuck with Love", provocou grande polémica e foi censurado. Constitui a sua afirmação mais dramática acerca da ligação entre o amor, o êxtase e a iluminação do espírito.
…the tongue between my legs spreading my thighs to screams
and I burst I burst I burst
…my god the worship that it is to fuck!
(...)I am the god-animal, the mindless cuntdeity, the he-god animal
is over me, through me we are become one total angel
united in fire united in semen and sweat united in lovescream
sacred are our acts and our actions
sacred are our parts and our persons
(...)
to fuck with love
to love with all the heat and wild of fuck
…leaving me pure burned into oblivion
…SCREAMING DELIGHT over the entire universe
and beyond
…the energy
indescribable
almost unbearable
(excertos de "To Fuck With Love")
“Love-Lust Poem,” (World Alchemy) celebra a expressão extática do amor.
I want to fuck you
I want to fuck you all the parts and places
I want you all of me
…I am not sure where I leave off, where you begin
is there a difference, here in the soft permeable membranes
…and the taste of your mouth is of me
and the taste of my mouth is of you
and moaning mouth to mouth
…I want you to explode that hot spurt of pleasure inside me
and I want to lie there with you
smelling the good smell of fuck that’s all over us
and you kiss me with that aching sweetness
and there is no end to love
blog A Pérola
20 dezembro 2012
Decameron - Os Enganos da Noite
(...) Ainda há pouco tempo, havia no campo arrabáldico do Mugnone um homenzinho em cuja casa os viajantes encontravam de comer e de beber por algum dinheiro. Era um homem pobre e a sua casa pequena. Apesar disso, sendo a necessidade grande, arranjava-se para nela acomodar não direi qualquer pessoa, mas, pelo menos, um cliente conhecido. Tinha uma bonita mulher e dois filhos: uma rapariga de quinze ou dezasseis anos, já boa para casar e muito atraente, e outro muito pequenino, de menos de um ano, ainda de mama.
A rapariga tinha chamado sobre si a atenção de um gracioso e simpático fidalgo da cidade, que, no entusiasmo do seu desejo, ia com frequência ao Mugnone. Orgulhosa por inspirar uma paixão assim a um tal homem, a jovem esforçava-se por o reter na sua rede com olhares langorosos. A verdade, porém, é que ela própria se deixou prender. Em suma, um mútuo consentimento teria já várias vezes coroado esse amor se Pinuccio - era esse o nome do rapaz - não receasse para ambos a reprovação geral. No entanto, o amor era cada dia maior, e ele desejou vê-la de novo. Mas como conseguir hospedar-se em casa do pai? Pinuccio conhecia a disposição da casa e, uma vez lá dentro, gozaria, apesar da proximidade dos outros, a presença tão desejada da jovem. Logo que arquitectou o seu plano, quis experimentá-lo imediatamente.
Para esse efeito fez-se acompanhar de um tal Adriano, seu amigo fiel e confidente dos seus amores. Um belo dia, já tarde, os jovens montaram em dois cavalos de tiro, carregaram-nos com duas malas, talvez cheias de palha, e saíram de Florença, seguindo o caminho dos estudantes. Já era noite quando as montadas chegaram ao Mugnone. Então, deram de rédeas aos cavalos, como se viessem da Romagna, dirigiram-se para as casas e bateram à porta do homenzinho. Muito amável com a clientela, este apressou-se a abrir. - Como vês, tens de nos dar dormida esta noite - disse-lhe Pinuccio. Pensávamos chegar a tempo a Florença, mas calculámos mal as horas e só conseguimos chegar até tua casa.
- Bem sabes, Pinuccio - disse-lhe o homem -, que mau alojamento eu tenho para pessoas da vossa qualidade. Mas a verdade é que estão aqui e não têm tempo de ir para outro sítio. Alojo-os pois de boa vontade e como for possível.
Os dois rapazes apearam-se, entraram no albergue, começaram por cuidar dos cavalos e depois cearam com o hospedeiro, das provisões de que se haviam cuidadosamente munido. O dono da casa só dispunha de um quarto exíguo e de três camas pequenas, que arrumara o melhor que pudera. Mas como estavam encostadas a uma das paredes e a terceira fora colocada ao longo da parede oposta, não havia muito espaço para andar à vontade.
O homem fez a cama menos má para os dois companheiros e estes deitaram-se. Pouco depois, julgando-os adormecidos, deu uma das camas restantes à filha e deitou-se na outra com a mulher. Esta colocou, junto ao lugar onde ia dormir, o berço da criança.
Passado um momento, Pinuccio, que tinha observado tudo, levantou-se, pé ante pé, foi direito à cama onde a sua bela repousava e deitou-se a seu lado. Apesar do receio que sentia, esta fez-lhe um bom acolhimento e ambos ficaram a saborear o prazer que era o seu maior desejo.
Enquanto Pinuccio estava nos braços da sua amada, uma gata fez cair, por acaso, um objecto qualquer. A mãe ouviu o ruído e receando qualquer outra coisa, levantou-se e, às escuras, dirigiu-se à casa de onde lhe parecia ter vindo o som. Inocentemente, Adriano, que uma necessidade natural obrigara precisamente a levantar-se, saiu, tropeçou no berço que a dona da casa ali colocara e, como não podia passar sem o afastar, pegou-lhe, mudou-o de lugar e colocou-o junto à sua cama. Satisfeita a sua necessidade, voltou, e meteu-se na cama sem pensar mais no berço.
Após algumas investigações a mulher achou que o objecto caído não tinha grande importância. Não se preocupou com acender a luz para ver melhor, ralhou à gata, voltou ao quarto e dirigiu-se, tacteando, para a cama onde o marido dormia. Mas nada de berço. "Pobre de mim, que bonita coisa eu ia fazer! Deus do céu, ia direita à cama dos hóspedes!" Avançou alguns passos, encontrou o berço e, encontrando a cama que estava junta dele, deitou-se ao lado de Adriano que tomou pelo marido. Adriano, que ainda não voltara a ter sono, foi sensível à sua chegada. Sem dizer palavra, e com grande prazer da dona da casa, soube por mais de uma vez, provar-lhe o seu ardor.
Assim iam as coisas, quando Pinuccio receou que o sono o surpreendesse ao lado da amante. Como já tinha tido o prazer que tão avidamente desejava, soltou-se dos braços da jovem para voltar à sua cama. Chegou lá, mas, encontrando o berço, julgou tratar-se da cama do dono da casa. Avançou pois alguns passos e deitou-se ao lado do homem que acordou nesse momento. Pinuccio, que se julgava ao lado de Adriano, disse-lhe:
- Juro-te que nunca tive nos braços nada tão bom como a Niccolosa. Por Deus! Deu-me o maior prazer que um homem jamais teve de uma mulher. E sabes, desde que te deixei, estive mais de seis vezes no paraíso!
Ao ouvir tais palavras, tão pouco a seu gosto, o dono do albergue pensou: "Que diabo veio aqui fazer este imbecil?" Depois, a emoção fê-lo perder toda a prudência.
- Pinuccio - disse - o que me fizeste não tem classificação. E nem quero saber por que razão assim me ridicularizaste. Mas, com seiscentos diabos, hás-de pagar-mas!
Pinuccio não era um modelo de paciência. Ao reparar no engano, em vez de procurar remediar as coisas com elegância, respondeu:
- Que queres tu fazer-me pagar? Que poderias tu fazer-me?
Entretanto, a senhora, que se julgava ao lado do marido, disse a Adriano:
- Deus do céu! Ouve os viajantes, estão ambos a discutir. Adriano pôs-se a rir:
- Deixa lá. Diabos os levem. Beberam demais ontem à noite.
A mulher, que esperava ouvir os clamores do marido, reconheceu a voz de Adriano. Compreendeu imediatamente o que lhe acontecera e com quem estava. Prudentemente e sem dizer palavra, levantou-se logo, pegou no berço da criança, e, apesar da profunda escuridão que reinava no quarto, teve o sangue frio suficiente de o levar para junto da cama da filha, onde se deitou. Então, como se o barulho que o marido fazia tivesse acabado de a acordar, interpelou-o e perguntou-lhe qual a razão da sua disputa com Pinuccio. Respondeu o homem:
- Não ouves o que ele pretende ter feito com a Niccolosa?
- Mente, juro-te - disse a mulher. - Ele não esteve deitado com a Niccolosa. Eu é que me deitei aqui e não tenho podido pregar olho. E tu és parvo, acreditando no que esse diz. Beberam tanto antes de se deitar que sonham a noite inteira com coisas dessas. Andam por todo o lado, perdem o controlo de si próprios e julgam ter realizado proezas. É pena que não tenham quebrado o pescoço. Mas o que está aí a fazer o Pinuccio? Porque não está na cama dele?
Adriano compreendeu que a mulher tinha a sabedoria de dissimular a sua vergonha e a da filha.
- Pinuccio - disse-lhe ele então - tenho-te dito centenas de vezes que não corras de cá para lá. Esse maldito costume de te levantares enquanto sonhas, depois de contar como se fossem verdadeiras todas as patranhas com que sonhaste, ainda acaba um dia por te sair caro. Volta para aqui. E que Deus não te dê uma boa noite!
Ao ouvir o que a mulher e Adriano diziam, o dono do albergue começou a acreditar que Pinuccio era na verdade sonâmbulo. Pegou-lhe então pelos ombros, sacudiu-o e gritou-lhe:
- Acorda, Pinuccio, volta para a tua cama. Mas Pinuccio, que compreendera o jogo de Adriano e da mãe de Niccolasa, pôs-se a fazer de sonâmbulo e a dizer parvoíces, que faziam o homem rir à gargalhada. Por fim, fingiu acordar e dirigiu-se a Adriano:
- Já é dia, para me estares a acordar?
Representando sempre, Pinuccio abriu os olhos pesados de sono, mas acabou por sair da cama e ir deitar-se junto de Adriano.
Quando amanheceu, o homem levantou-se e começou a rir de Pinuccio, troçando dele e dos seus sonhos. Brincadeira para aqui, brincadeira para ali, os dois jovens arranjaram-se assim como às suas montadas. Carregaram as bagagens, beberam com o dono do albergue, e a cavalo!
Voltaram a Florença tão divertidos com as peripécias da aventura como alegres com o seu desfecho. Daí a algum tempo, Pinuccio descobriu melhor maneira de se encontrar com Niccolosa. Esta última jurara à mãe, por todos os seus deuses, que Pinuccio tinha sonhado. E a boa senhora, ao recordar as suas justas com Adriano, acabava por pensar que fora ela a única pessoa a estar acordada.
"Decameron" (Oitava Jornada - Quarta Novela)"- tradução de Urbano Tavares Rodrigues
"Decameron" (Oitava Jornada - Quarta Novela)"- tradução de Urbano Tavares Rodrigues
13 dezembro 2012
Aubrey Beardsley
Lysistrata
Aubrey Vincent Beardsley (1872 - 1898) foi um importante ilustrador inglês. O seu estilo, influenciado pelos pré-rafaelitas e pela estampa japonesa, enfatizava o grotesco, o decadente e o erótico.
Apesar da sua carreira ter terminado precocemente aos 26 anos, devido à tuberculose, Beardsley foi uma figura eminente no movimento esteta, juntamente com Oscar Wilde e James A. McNeill Whistler.
Famoso pelas suas ilustrações perversas e grotescamente eróticas, Beardsley buscou inspiração na shunga japonesa. As suas ilustrações eróticas mais famosas basearam-se em temas mitológicos, nomeadamente, as ilustrações para uma edição privada de Lysistrata, de Aristófanes.
Lysistrata
Beardsley também escreveu um conto erótico - Under the Hill. Contudo não chegou a concluí-lo.
Apesar de identificado com o círculo homossexual que incluia Oscar Wilde e outros estetas ingleses, algumas dúvidas persistem relativamente à sua sexualidade, sendo encarado até por muitos como assexual, devido à sua doença crónica e à total devoção ao seu trabalho.
A toilette de Lampito
As especulações sobre a sua sexualidade incluem também rumores sobre uma relação incestuosa com a sua irmã Mabel, que poderá ter engravidado do seu irmão e ter, posteriormente, abortado.
Beardsley converteu-se ao Catolicismo em 1897 e pediu ao seu editor, Leonard Smithers, que destruísse todas as cópias de Lysistrata e todos os seus desenhos obscenos.Smithers ignorou os desejos de Beardsley e continou a vender reproduções das suas obras e até falsificações.
06 dezembro 2012
Decameron: O Frade e a Regra
Um frade viu uma jovem lindíssima, filha, talvez , de algum dos lavradores da região . A jovem apanhava algumas ervas nos campos. Assim que o frade a viu, sentiu-se acometido pelo interesse carnal . Por esta razão, acercou-se mais da jovem e travou conversa com ela. E tanto saltou de uma palavra a outra, que terminou por firmar um acordo com ela . Por esse acordo firmado, levou-a à sua cela , sem que ninguém o percebesse. Instigado por um desejo excessivo, brincou com ela , e de um modo menos cauteloso do que seria conveniente .
Sucedeu que o abade do mosteiro, deixando a sua cama , onde dormira, e passando, sem fazer ruído , em frente à cela do tal frade, escutou o barulho que ele e a moça faziam. Para identificar mais precisamente as vozes o abade aproximou-se da porta da cela. Notou sem nenhuma dúvida, que havia uma mulher lá dentro. Sentiu-se tentado a ordenar que se abrisse a porta. Entretanto, pouco depois, julgou que seria mais conveniente agir de outro modo, em semelhante caso. Retornou ao seu quarto e aguardou que o frade deixasse a cela.
Apesar de ocupado com a jovem, e ainda que gozasse de enorme prazer, o frade não deixou de desconfiar de algo; a certa altura , tivera a impressão de ouvir um arrastar de pés , pela ala dos quartos de dormir. Por essa razão, olhou através do pequeno orifício e viu que o abade ali estava à escuta. Entendeu, perfeitamente, que o abade devia saber que a jovem estava na sua companhia. Reconhecendo que, por essa razão, seria punido com grave castigo, mostrou-se profundamente aborrecido . Contudo, sem deixar que a moça percebesse a sua contrariedade, buscou na sua mente algo que o auxiliasse a escapulir daquela enrascada. Finalmente, ocorreu-lhe uma artimanha, que calhava bem a esse fim. Então, fingindo já ter ficado o suficiente em companhia da jovem, disse-lhe:
– Quero achar uma maneira de sairdes daqui de dentro sem que vos vejam; assim sendo, ficai aqui mesmo, calmamente, até que eu regresse.
Deixou a cela e trancou a porta com a chave. Encaminhou-se diretamente para a cela do abade, dando-lhe a chave, conforme a tradição, quando se ausentava do mosteiro. Disse, então, com expressão tranquila e amiga:
– Senhor abade, não pude, esta manhã, ordenar que trouxessem ao mosteiro toda a lenha que pude arranjar; por esta razão, com sua permissão, desejo ir ao bosque, para mandar que a tragam.
O abade, desejando informar-se por completo em relação à falta praticada pelo frade, ficou satisfeito com o seu modo de agir. Recebeu a chave e deu ao frade permissão para ir ao bosque. Ficou convencido, como se percebe, de que o frade nada sabia do facto de ele, abade , ter ficado à escuta da porta de sua própria cela .
Bastou o frade retirar-se, o abade procurou resolver o que seria mais certo fazer, primeiramente: abrir-lhe a cela, na presença de todos os frades do mosteiro, para que ninguém pudesse apresentar razões de queixa contra ele, no momento em que pela sua autoridade castigasse o frade pecador, ou escutar, primeiro, da jovem mesma, a sós, como se passara o caso. Cogitando, entretanto, que a jovem pudesse ser esposa ou filha de algum homem que ele não gostaria de fazer passar por essa vergonha, decidiu que o melhor seria tratar, primeiramente, de saber quem era aquela moça para depois resolver o que faria.
Silenciosamente, dirigiu-se para a cela do frade; abriu a porta; entrou e fechou-a por dentro, naturalmente. Vendo entrar o abade, a moça ficou desconcertada. Cheia de vergonha e de medo, pôs-se a chorar. O senhor abade olhou-a por muito tempo ; vendo-a tão bela e sensual , sentiu inesperadamente , ainda que um tanto idoso , os apelos da carne . Eram apelos não menos ardentes do que aqueles que sentiram o jovem frade. E a si mesmo começou a dizer:
– Enfim, que razão há para que eu deixe de desfrutar um prazer, quando posso desfrutá-lo, se, por outro lado , os aborrecimentos e os tédios estão sempre preparados para que eu os prove, queira ou não? Aí está uma bela moça, sem que nenhuma pessoa, no mundo, saiba disso. Se posso fazer com que me proporcione os prazeres pelos quais anseio, não existe nenhuma razão para que eu não a induza. Quem é que virá, a saber, disto? Ninguém nunca o saberá! Pecado oculto é pecado meio perdoado. Um acaso destes quiçá jamais venha a se verificar de novo. Julgo ser conduta acertada colher o bem que Deus Nosso Senhor nos envia.
Assim reflectindo, e tendo modificado inteiramente o propósito pelo qual fora até ali, acercou-se mais da moça . Com voz melíflua, pôs-se a confortá-la e a pedir, com instância , que não chorasse. Palavra puxa palavra, até que ele chegou ao ponto de poder evidenciar à moça o seu desejo . A jovem, que não era de ferro nem de diamante, atendeu, muito cómoda e amavelmente aos prazeres do abade. O padre abraçou-a, beijou-a muitas vezes, seguidamente, atirou-se com ela para a cama do frade. Seja por enorme consideração, ou ao venerável peso de sua própria dignidade, ou pela idade tenra da jovem – seja, então por recear causar-lhe mal, pelo seu excessivo peso –, o abade não se pôs sobre o peito da moça. Antes, colocou-a sobre o seu próprio peito. E, durante muito tempo, entreteve-se com ela.
Giacinto Gaudenzi
O frade, que havia fingido ir ao bosque, mas que, na verdade, escondera-se na ala dos dormitórios, viu quando o abade entrou ena sua cela. Assim, completamente tranquilo, compreendeu que seu plano dera resultado, ao perceber que o abade trancara a porta por dentro. Deixando o seu esconderijo, silenciosamente, foi até o orifício da fechadura, através do qual viu e ouviu o que o abade fez e disse.
Quando pareceu ao abade que já se demorara o bastante em companhia da jovem, deixou-a trancada na cela, e retornou ao seu quarto. Passado algum tempo, ouvindo que o frade chegava, e pensando que ele regressasse do bosque, decidiu censurá-lo e mandar que o prendessem no cárcere; assim procedendo, pretendia ficar sozinho na posse da presa conquistada. Ordenou, portanto, que o frade viesse à sua presença. Com o rosto severo e com graves palavras, censurou-o, mandando que fosse conduzido ao cárcere. O frade, sem nenhuma hesitação, retrucou:
– Senhor abade, não estou, ainda, há tempo bastante na Ordem de São Bento para conhecer todas as singularidades de sua disciplina. O senhor não me mostrara ainda que os frades precisam fazer-se mortificar pelas mulheres, assim como devem fazê-lo com jejuns e vigílias; agora, contudo, que o senhor acaba de mo demonstrar, prometo-lhe, se me conceder o perdão por esta vez, que nunca mais pecarei desta forma; ao contrário, procederei sempre como vi o senhor fazer.
O abade, como homem astuto que era, reconheceu logo que o frade não só conseguira saber a seu respeito muito além do que o suposto, mas ainda ver o quanto ele fizera. Por esta razão, sentiu remorsos pela sua própria culpa; e ficou vexado de aplicar ao frade o castigo que ele, tanto quanto o seu subordinado, merecera. Deu-lhe o perdão, mas impôs-lhe silêncio sobre tudo o que vira. Depois, levaram ambos a moça para fora do mosteiro; e, mais tarde, como é fácil de presumir, inúmeras vezes a fizeram retornar ali.
29 novembro 2012
Elevador
Jean François Gaté |
[...] Às vezes pasmo, Melanie, com a exactidão com que estes momentos me vêm à memória. Estou a ver o elevador, é como se tivesse sido ontem. O portão de grades trabalhadas em cobre, o guarda-vento de vidros foscos com umas flores lavradas que pareciam jarros do oriente. E os espelhos aos lados? E o banquinho de veludo na parede do fundo, tão virginal, tão romântico? Oh, era uma cestinha de arcanjos, aquele elevador, todo em ouros e brancos esmaltados. Mas o inesquecível era a máscara do diabo que havia no tecto a olhar cá para baixo! Assustava e enternecia. Tinha uns corninhos de fauno, saídos do conjunto da figura que era em relevo dourado e com uma mascarilha vermelha. Tantas minúcias, eu bem digo…Não te parece estranho?
E todavia todo se passou fora do tempo e do espaço! Tudo, ma chèrie, Tudo! Ainda mal tínhamos fechado a porta já o Gaston-Philippe se colava a mim a percorrer-me desvairadamente com as mãos. Contornava-me, cingia-me com um braço e procurava-me as coxas e as nádegas por baixo da roupa. Eu própria levantei o vestido, colando-me mais a ele, e imagina a surpresa que o tomou quando sentiu nos dedos a verdade do meu ventre!
Sim, minha Melanie, eu estava nua por baixo do vestido! Não me perguntes porquê, mas no bar, por um impulso inexplicável, tinha ido ao toilette com esse propósito. Um presságio? Só sei que estava feliz com o meu instinto, felicíssima. O assombro e o deslumbramento do Gaston-Philippe por aquela surpresa não tiveram limites e eu sentia isso através da sua mão que era grata e ardente. E que hábil, que mão! Que imaginativa e que extensa, Melanie! Penetrava com tais segredos que me levava para lá da ascensão do próprio elevador e logo me esgotava e me fazia afundar à medida que voltávamos a descer.
Impossível calcular as vezes que percorremos para baixo e para cima aqueles cinco andares. Uma verdadeira escalada do paraíso! Subíamos e mergulhávamos, e tornávamos a subir…a nossa viagem parecia não ter fim, pois o Gaston-Philippe era daqueles amantes afortunados nos quais l’amour fou é servido por um talento prático ajustado às circunstâncias e, assim, manobrava o manípulo do elevador no momento exacto em que ele se ia a deter.
Mas entoncededor ainda foi que dei por ele de joelhos, abraçado às minhas pernas e abrindo-me toda ao mesmo tempo, nem sei, com o rosto mergulhado nas minhas coxas! Então senti-me trespassada por algo muito vivo e voraz, por uma espessura revolvente e arguta que me descobria por dentro e me dilatava, sugando-me. E eram mais coisas, minha querida, os dentes percorrendo os pelos e os músculos , o calor do rosto contra o meu ventre, as mãos explorando-me as nádegas, tanta coisa!
Eu, de pé, uma perna em cima do ombro dele, via-me ao espelho e não me reconhecia. Esquecida, esquecida, liberta pelo espaço…»
excerto de A Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires
blog A Pérola
22 novembro 2012
A Pérola
The Pearl, A Magazine of Facetiae and Voluptuous Reading foi um periódico pornográfico mensal, publicado em Londres, por William Lazenby, desde Julho de 1879 a Dezembro de 1880. Foram também publicados dois suplementos extra: Swivia: or the Briefless Barrister (1879) e Christmas Annual (1881).
Durante a sua existência, o periódico incluiu seis novelas serializadas: Sub-Umbra, Miss Coote's Confession, Lady Pokingham, La Rose D'Amour, My Grandmother's Tale e Flunkeyania, além de inúmeras paródias, anedotas e poesias obscenas.
Por detrás da fachada de respeitabilidade e repressão sexual, a sociedade vitoriana revelava-se na sua busca desenfreada do prazer e da experimentação sexual. The Pearl fornecia erotismo para todos os gostos.
Em nome da decência e da moral, as autoridades impuseram o fim da sua publicação.
O poema seguinte foi retirado do 1º número, Julho de 1879.
A PROLOGUE
Spoke by Miss Bella de Lancy, on her retiring from the stage to open
a Fashionable Bawdy House
(Written by S. Johnson, LL.D.)
When cunt first triumphed (as the learned suppose)
O'er failing pricks, Immortal Dildo rose,
From fucks unnumbered, still erect he drew,
Exhausted cunts, and then demanded new;
Dame Nature saw him spurn her bounded reign,
And panting pricks toiled after him in vain;
The laxest folds, the deepest depths he filled;
The juicest drained; the thoughest hymens drilled.
The fair lay gasping with distended limbs,
And unremitting cockstands stormed their quims.
Then Frigging came, instructed from the school,
And scornde the aid of India-rubber tool.
With restless finger, fired the dormant blood,
Till Clitoris rose, sly, peeping thro' her hood.
Gently was worked this titillating art,
It broke no hymen, and scarce stretched the part;
Yet lured its votaries to a sudden doom,
And stamped Consumption's flush on Beauty's bloom..
Sweet Gamahuche found softer ways to fame,
It asked not Dildo's art, nor Frigging's flame.
Tongue, not prick, now probes the central hole,
And mouth, not cunt, becomes prick's destined goal.
It always found a sympathetic friend;
And pleased limp pricks, and those who could not spend,
No tedious wait, for laboured stand, delays
The hot and pouting cunt, which tongue allays.
The taste was luscious, tho' the smell was strong;
The fuck was easy, and would last so long;
Til wearied tongues found gamahuching cloy,
And pricks, and cunts, grew callous to the joy.
Then dulled by frigging, by mock pricks enlarged,
Her noble duties Cunt but ill discharged.
Her nymphae drooped, her devil's bite grew weak,
And twice two pricks might flounder in her creek;
Till all the edge was taken off the bliss,
And Cunt's sole occupation was to piss.
Forced from her former joys, with scoft and brunt,
She saw great Arsehole lay the ghost Cunt
Exulting buggers hailed the joyful day,
And piles and homerrids confirmed his sway.
But who lust's future fancies can explore,
And mark the whimsies that remain in store?
Perhaps it shall be deemed a lover's treat,
To suck the flowering quims of mares in heat;
Perhaps, where beauty held unequalled sway,
A Cochin fowl shall rival Mabel Grey;
Nobles be rained by the Hyaena's smile,
And Seals get short engagements from th'Argyle.
Hard is her lot, that here by Fortune placed,
Must watch the wild vicissitudes of taste;
Catch every whim, learn every bawdy trick,
And chase the new born bubbles of the prick;
Ah, let not Censure term our fate, our choice,
The Bawd but echoes back the public voice;
The Brothers laws, the Brothel's patrons give,
And those that live to please, must please to live;
Then purge these growing follies from your hearts,
And turn to female arms, and female arts;
'Tis yours ths night, to bid the reign begin,
Of all the good old-fashioned ways to sin;
Clean, wholesome girls, with lip, tongue, cunt, and hand,
Shall raise, keep up, put in, take down a stand;
Your bottoms shall by lily hands be bled,
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