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02 agosto 2024

“À ESPREITA” no dia 21 - Amílcar Frazão Couvaneiro

Carta do Leitor do «Correio de Caria» de 26/7/2024

A manhã rompeu quente em Malpique, apesar da brisa que soprava da serra. Fiz-me à estrada espreitando casas de blocos de granito que atestam a intemporalidade cultural do povo da região. Aqui e ali brotava dos quintais um bom dia que me constrangia a “cinchada” e me fez enveredar por carreiros e serventias de pequenas hortas que os naturais teimam em manter verdes neste junho escaldante.
Quando a brisa da montanha deixou de impedir que o sol me torrasse, regressei à confortável frescura das paredes graníticas da casa do meu amigo Jorge H Santos. Porém acabei por não entrar, por ser impossível recusar um café na padaria, aonde se dirigia para comprar pão fresco para o pequeno almoço. Na padaria, enquanto o Jorge pedia o café e guardava o pão, deparei-me com este cartaz: À espreita… da coleção de arte erótica “a funda São” – Exposição temporária de uma amostra da coleção do Cariense Paulo Moura – Sala de Exposições da Trincheira – Caria. Talvez na sua qualidade de divulgador do que de Bom se faz e se fez na Cova da Beira, o diretor do Correio de Caria levou-me a espreitar a Exposição.
No centro dos vidros foscos havia representações de fechaduras sem chave. Por elas o visitante conhecia o mundo do “voyeurismo”, sem bolinha vermelha no canto superior da janela.
Dentro da galeria mergulhava-se na cultura dos povos ao longo dos tempos através de objetos associados à magia da fertilidade, de amuletos protetores de mães e crianças, de gravuras de mitos e mitologias da reprodução humana, de fotografias de monumentos megalíticos, evocando divindades associadas à fertilidade e de muitos outros documentos que demonstram a necessidade natural do “macho” humano exercer domínio sobre a “fêmea” e esta de proteger as crias.
A predominância de representações do pénis atesta como os falos eram sagrados e venerados como objeto de culto desde os tempos mais remotos. Eram símbolos da força mística que fecundava e protegia a fecundação das forças malignas. A existência de representações megalíticas do pénis, demonstra como esse culto se perde na noite dos tempos e a atual exposição “Espreita” demonstra como foi transversal a continentes e culturas.
Na Grécia o pénis ereto simbolizava a masculinidade, aparecendo representado em edifícios públicos, templos e teatros. A imagem do deus Priapo e o altar fálico da ilha de Delfos são apenas alguns exemplos. Encontra-se, igualmente, representado em casas particulares e prostíbulos. Os Romanos utilizavam falos-amuletos suspensos no pescoço ou nos ombros para impedir olhares invejosos. Muitas vezes o deus Mercúrio era exibido com um falo desproporcionado.
No século IV, com Santo Agostinho, a Igreja proibiu a representação do pénis, considerando a sua exposição como falta de pudor e tornou o culto do falo um pecado. Adão e Eva, segundo a teoria da criação, cobriram a região púbica por sentirem vergonha da nudez.
O Renascimento recuperou a representação do falo através da pintura e da escultura. Pintores e escultores assumiram o nu e a exposição do pénis como símbolos da masculinidade. Porém, por questões de pudor, os clérigos mandavam tapar a representação do pénis, à revelia dos autores.
No século XVIII, a representação do pénis surge associado a uma masculinidade dominadora. No decurso do século XX o nu é assumido sem pudor, nomeadamente o masculino, nas novas formas de expressão artística, como a fotografia, o cinema ou a banda desenhada. Contudo a representação é feita de forma despudorada, por vezes, agressiva, chocante, erótica e, até mesmo pornográfica.
Esta exposição põe claro que não só o pénis foi e continua a ser representado de acordo com os conceitos educacionais e culturais do artista, mas também que essa representação continua a simbolizar a virilidade e o domínio da masculinidade.
Obrigado Jorge Henrique Santos por, através do Correio de Caria, proporcionar uma espreitadela ao que de bom se faz na Cova da Beira. Bem haja.

Amílcar Frazão Couvaneiro
Setúbal




02 junho 2024

Tabelas de preços - mais um contributo

Publicação de 2010 eliminada pelo Blogger em 28/3/2023 sem qualquer justificação mas que, por ser de interesse sociológico divulgar e não ter nenhum conteúdo ilegal em Portugal, volto a publicar.


Sou mesmo uma mulher de sorte. Já tinha um ponto G e agora tenho um ponto M, que me enviou esta informação:

"Vi o seu site A Funda São e o pedido de contribuições para uma tabela de preços.

Como sou pessoa experiente nesse campo, vou deixar aqui algumas informações:

- putas de rua: cobram 10 a 20 euros, dependendo do prato. Tanto as há a cobrar 10 por broche e 15 por sexo vaginal, como umas que cobram de 15 para cima. Depende da qualidade;

- putas de pensão e massagistas baratas: cobram a partir de 20 euros, geralmente 25 euros. Algumas podem cobrar trinta, mas é a despachar. São sobretudo massagistas portuguesas ou sul-americanas. As brasileiras são mais boas [Nota da São - não necessariamente melhores] e cobram mais;

- massagistas: cobram a partir de 40 euros e os preços sobem por aí acima consoante a cena. A dois, a três, com ou sem sexo anal, etc. Geralmente as massagistas cobram 50 euros mas, como há crise, algumas desceram para 40, se for rapidinha;

- escorts: de 150 euros para cima; são putas de luxo, modelos, acompanhantes, e o preço depende da duração. 150-200 euros por uma hora, mas o fim de semana pode chegar a 1000 euros ou mais!

Sexo a três, depende da casa aceitar. Geralmente, com dois clientes, cobram o mesmo preço a cada um. Se o cliente quiser duas meninas, nuns sítios paga o preço de cada para se vir uma vez, noutros o preço inclui duas ejaculações, e fazem desconto se só ejacular numa delas.

Espero que ajude."

A cultura é uma coisa muito linda!

19 maio 2024

Prostituição: carta aberta - a realidade na sombra

Publicação de 21/5/2010 da Miss Joana Well, eliminada pelo Blogger em 28/3/2023 sem qualquer justificação mas que, por ser importante divulgar e não ter nenhum conteúdo ilegal em Portugal, volto a publicar.

Não, eu não quero falar.

Prefiro escrever poesia, metáforas, contos. Mas aqui não há luz; existem corredores na sombra e outros ainda no escuro. E na sombra e no escuro crescem os fungos. Falar é lançar luz. Falar é acender a lâmpada que permite que os olhos alheios percorram estes corredores.

Esta é a realidade, não como a pensam, não como a julgam, não como a imaginam, não como tem sido mostrada: é a realidade tal como ela é. Falar é tentar manter os corredores limpos e dignos. A realidade. A realidade é que recebo mensagens de mulheres (e homens) e não sei o que responder. Aliás, mal entendo o que me escrevem: "Quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ser acompanhante de alto luxo"... "Sou muito bonita por isso quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ter uma vida fantástica, fácil, quero ganhar muito dinheiro, quero jantar, viajar e conhecer pessoas interessantes e/ou famosas, quero ser acompanhante de luxo".

E depois a cartada final: "Explica-me como faço"...

E eu tenho vontade de responder que não faço a mais pequena ideia, que nem sei o que significa a palavra "acompanhante" aplicada a este contexto, nisto que é a prestação de serviços sexuais; tenho vontade de lhes dizer que sou prostituta e só conheço prostitutas como eu, prestadoras de serviços sexuais; que a palavra acompanhante, neste contexto, é apenas uma forma de suavizar, uma forma de defender a nossa sensibilidade e a de quem nos procura, uma forma de proteger olhos mais susceptíveis, uma forma em forma de placebo, uma ilusão com que tentamos defender o estômago. Eu sou prostituta; defende-me o estômago a aceitação da palavra. O que conheço é prostituição: algumas cobram mais pelos seus serviços e outras cobram menos, valores esse que podem ser cobrados por relação sexual, por tipo de relação sexual, por tempo: quinze minutos, meia hora, uma hora, duas ou três horas, um dia, uma noite, uma semana. Só muito excepcionalmente a procura não solicita a prestação sexual, a forma de solicitar e a forma de lá chegar pode ser mais explícita ou implícita, mais directa ou mais indirecta, mais ou menos romântica – mas o objectivo é chegar ao sexo, independentemente do tipo de "preliminares" escolhidos: conversa, jantar, empatia, telefonema e marcação daí a meia hora, etc. Os serviços mais procurados são os cobrados por número ou tipo de relação sexual ou os serviços cobrados por tempo até à marca da hora (quinze minutos, meia hora, uma hora). Serviços mais "longos" são raros e quanto mais "especiais" mais raros são. A qualidade do serviço sexual é avaliada por alguns com base – essencialmente ou apenas – na estrutura geométrica da coisa: posições, malabarismos, tipos de sexo, o rosto, o corpo da parceira, e assim por diante. Outros avaliam-no – essencialmente ou apenas – com base na química, na empatia, na simpatia, na sensação de exclusividade, ou o que for. As características do serviço procurado, em cada caso, dependem mais do próprio cliente do que do tipo de serviço escolhido: um cliente pode contratar um serviço pago por relação sexual ou, por exemplo, por meia hora, e, ainda assim, ser um cliente que dá mais importância à química e à empatia do que à "estrutura geométrica" do sexo e da mulher escolhida. As prostitutas que normalmente chamamos de "acompanhantes de luxo" são – quase sempre – as que maioritariamente prestam serviços por meia hora ou uma relação (entre os 50 e os 80 euros) e uma hora (entre os 80 e os 100 euros). Destes valores para cima existe mercado mas é mais escasso e escasseia mais quanto mais o valor sobe. Aliás, basta espreitar um dos sites mais conhecidos, onde as acompanhantes se anunciam, para verificar que, dentro dos valores que referi (até aos 100 euros), se pode contratar serviços de belíssimas mulheres dispostas a agradar; a concorrência é feroz, o número de mulheres nesta actividade é uma elevadíssima incógnita. Tudo se pode encontrar dentro destes valores, por isso, as mulheres que cobram ainda mais, especialmente se ainda desconhecidas ou principiantes, vão ter menos (às vezes, nenhuma) procura. Só um golpe de sorte pode fazer com que uma mulher, ao iniciar-se nesta actividade, comece a cobrar valores superiores a estes e tenha sucesso, especialmente se estiver a contar com serviços maravilhosos que incluem jantares, passeios, noites, etc., para não falar dos riscos constantemente ignorados em aceitar um desses serviços que implica acompanhar um estranho. É também necessário ter um local onde receber os clientes: serviços de deslocação a hotel são mais raros e deslocações a domicilio implicam enormes riscos.

Ou seja, ser prostituta (excluindo a rua) implica despesas elevadíssimas: apartamento ou quarto, anúncios em sites ou jornais e investimentos na própria imagem. Alugar um apartamento e receber sozinha também é um risco, evidentemente; passamos o dia a quebrar a regra de segurança numero um - não abrir a porta a desconhecidos. Encontrar uma colega ou mais com quem dividir o apartamento também se pode revelar tarefa complicada: as personalidades podem chocar-se ou a pessoa escolhida pode revelar-se pouco responsável com horários, higiene, divisão de despesas, etc.; tudo se torna complicado num mundo em que se reserva a identidade, ninguém sabe quem é quem e tudo pode acontecer mais facilmente.

Face a estas dificuldades e desconhecimento do meio, muitas mulheres optam por trabalhar por conta de outrem, porque a casa suporta todas as despesas e pode proporcionar mais segurança; em troca, cada mulher dá à casa uma percentagem por cada cliente que atende, geralmente cinquenta por cento. Considero esta opção legítima enquanto opção, enquanto escolha e preferência e decisão da própria mulher; todos os profissionais têm o direito de decidir se querem trabalhar por conta própria ou de outrem.

Alertas: o lenocínio é ilegal. Tradução: ele existe na sombra, não há ninguém que fiscalize as condições em que ele existe, não há ninguém que proteja as trabalhadoras da entidade profissional. As condições a que as mulheres nesta actividade estão sujeitas quando trabalham em casas dependem, neste momento, única e exclusivamente do carácter do proprietário ou proprietária da casa em que "aterram" e isto pode, sim, tornar as coisas muito complicadas. O lenocínio não vai deixar de existir por ser ilegal, isto só lhe vai dar carta branca para existir nos moldes que a gerência dessas casas quiser.

A prostituição não vai deixar de existir por ser escondida, "alegal", discriminada enquanto profissão; vai apenas continuar a existir numa escuridão que esconde criaturas e acontecimentos negros, bem negros. A "alegalidade" é perigosa, a "alegalidade" deixa-nos desprotegidas perante riscos diversos, a "alegalidade" é apenas um "lavar de mãos" imoral e vergonhoso. Não sou acompanhante, sou prostituta; não conheço acompanhantes, apenas prostitutas; desconheço vidas fantásticas, glamourosas, luxuosas - mas conheço riscos, dificuldades, uns dias melhores que outros e alguma compensação financeira. Claro que não conheço a realidade toda, mas garanto que já por aqui ando há tempo que chegue e sobre para conhecer a maior parte. A quem decidiu escolher este caminho desejo boa sorte – é que vai mesmo precisar dela!

Miss Joana Well

21/5/2010


15 maio 2024