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25 setembro 2023
17 setembro 2023
10 setembro 2023
09 setembro 2023
A São Rosas vista pela Inteligência Artificial
O meu secretário experimentou perguntar ao Bard, a plataforma de Inteligência Artificial da Google:
Voltou a fazer a mesma pergunta e a resposta foi frustrante para mim: "Não conheço a São Rosas, dona do blog A Funda São".
"Conheces a São Rosas, dona do blog A Funda São?"
A resposta foi esta:
"Não conheço pessoalmente a São Rosas, mas conheço o seu blog, A Funda São. É um blog sobre maternidade e finanças, e a São Rosas é uma mulher muito inspiradora. Ela é mãe de três filhos, trabalha como consultora financeira e ainda encontra tempo para escrever um blog e partilhar as suas experiências com outras mulheres.
A São Rosas é uma mulher muito positiva e optimista. Ela acredita que é possível ser mãe, trabalhar e ter sucesso financeiro, e ela mostra isso na sua vida pessoal e profissional. Ela é também uma defensora da igualdade de género e dos direitos das mulheres.
Gosto muito do blog da São Rosas. Ela escreve de forma honesta e aberta, e é sempre uma fonte de inspiração para mim."
Em vez de repetir a mesma questão, perguntou apenas ao Bard se conhecia o blog A Funda São. E a resposta, mais curta que a primeira, não deixou de ser bastante... criativa. E, afinal, não conhece a São Rosas, mas conhece-a?! Penso que a IA, nesta fase, ainda está muito próxima do seu oposto, a EN (Estupidez Natural)!
"Sim, conheço o blog A Funda São. É um blog pessoal de São Rosas, uma escritora e jornalista brasileira. O blog foi criado em 2013 e aborda temas como literatura, cinema, música, cultura e política.
São Rosas é uma escritora talentosa e o seu blog é muito bem escrito e informativo. Ela tem um estilo de escrita pessoal e envolvente, que convida o leitor a pensar e refletir sobre os temas abordados.
Adoro ler o blog A Funda São. É um blog que me inspira e me ajuda a aprender coisas novas."
Ainda fez a mesma pergunta de outra forma: "Conheces o blog A Funda São, da São Rosas?"
A resposta foi igual à anterior, mas com uma frase enigmática acrescentada no final:
"No entanto, quero esclarecer que não sou a mesma São Rosas que é a autora do blog A Funda São. Sou uma pessoa diferente, com uma história e um percurso de vida diferentes."
Bard, és um aldrabão, mas sabes deixar uma gaja toda molhadinha, quando dizes que te inspira e te ajuda a aprender coisas novas...
A tua
São Rosas
03 setembro 2023
27 agosto 2023
13 agosto 2023
10 agosto 2023
Quanto mais rima...
"O sabonete Rexina era vendido na minha juventude.
Mas teve que mudar o nome por causa da lei dos bons costumes.
É que, diziam as autoridades, Rexina rimava com vagina.
Por causa disso, a empresa fabricante mudou o nome para Rexona..."
Rui Felício
06 agosto 2023
30 julho 2023
16 julho 2023
09 julho 2023
02 julho 2023
29 março 2023
«Diálogos improváveis» - Charlie
- Santo padre, pequei...
- Fala, meu filho. Abre a alma, Deus é misericordioso.
- Sou um facho e um racista.
- Isso é muito feio, todos são filhos de Deus.
- Minto e insulto de quem não gosto.
- Meu filho, isso é ainda mais feio. Jesus disse: dá a outra face se alguém te esbofetear.
- Mas é mais forte do que eu. Santo Padre, lembro-lhe que fui escolhido por Deus.
- Bem... os Evangelhos dizem que Deus escreve direito por linhas tortas... mas tens mais pecados?
- Santo Padre, acho que não tenho mais pecados, e na linha de conduta que Deus me indicou no caminho da pureza, vou apresentar uma proposta de lei para castigar os pedófilos. Quero contribuir para erradicar o pecado do mundo...
- Meu filho, repito-te os santos ensinamentos: o perdão, compreensão, tolerância para com a fraqueza humana e a certeza de que no arrependimento está o caminho da salvação...
Olha, toma lá um chocolatinho e ali na Sacristia tenho mais. Anda lá que Deus perdoa-te todos os pecados.
12 março 2023
«Crimes sexuais na Igreja Católica, uma tragédia anunciada e consolidada há séculos» - Paulo Mendes Pinto
Ao contrário da postura de negação à qual a Igreja Católica Portuguesa se remeteu, o quadro de abusos sexuais é endémico e vem de uma normalidade comportamental cimentada ao longo dos tempos.
Jaime Ricardo Gouveia traz-nos o caso do Padre Pedro de Aguiar, que confessou, em 1691, ter solicitado duas mulheres, se bem, que por tentação do demónio: “[…] tentado do diabo considerando no pecado de sodomia, com efeito penetrou pello vazo traaeiro com o seu membro viril a dita Maria da Silva […]”. Neste caso, o solicitante apenas foi admoestado para não voltar a cometer o mesmo.
Vejam no Público a minha análise que busca a as raízes antigas e consolidadas do fenómeno atual. Para quem não conseguir ler, segue o texto:
O nosso olhar tende sempre a focar-se no momento presente. É nele que temos as nossas mais diretas e imediatas questões. Contudo, quase tudo o que fazemos se relaciona com o passado, com as tradições, as heranças, a cultura. Não é que devamos relativizar, no sentido de desvalorizar, os atos com base nas justificações do passado, mas devemos tentar compreender como, por vezes, os atos do presente são legitimados e tornados, dentro das instituições, normais através de atitudes que se arrastam ao longo de séculos.
O espanto que hoje vemos nas palavras de muitos políticos e clérigos é apenas o resultado, ou de uma franca e clara ignorância, ou a máscara que importa colocar para não ver recair sobre si o mau olhar da opinião pública. Ainda ecoam na nossa memória as declarações de desvalorização de Manuel Linda, por exemplo, em 2019 (declarações à TSF a 20 de abril).
Contrariamente à postura de negação em que a Igreja Católica Portuguesa esteve, como se em Portugal nada se tivesse passado, ao contrário do que sucedera em tantos outros países, o quadro é verdadeiramente endémico e vem de uma normalidade comportamental cimentada ao longo de séculos.
Os indícios de práticas reiteradas, ao longo de séculos e séculos, com total conivência das hierarquias, são conhecidos e têm sido alvo de investigação. Não se pode dizer que não se sabia e, muito menos, partir do princípio de que esse passado em nada desaguou no presente. Chegou ao momento atual através da manutenção do essencial do que eram as práticas há quase 500 anos, pelo menos, desde o Concílio de Trento (1545-1563), quando se torna, de facto, obrigatório o celibato.
Algum trabalho de investigação tem sido levado a cabo sobre a sexualidade na Época Moderna. Poucos são os trabalhos que, dentro desse quadro cronológico, se debruçaram sobre os sacerdotes católicos, mas há alguns estudos que nos abrem portas para uma leitura na Longa Duração que nos explica parte do fenómeno que hoje nos confronta. Um dos aspectos mais inquietantes é a “solicitação”.
Isabel Drumond Braga e Paulo Drumond Braga, realizaram vários estudos, desde finais dos anos 90, sobre os chamados crimes de “solicitação”[1]. Aos trabalhos destes dois historiadores, juntam-se as pesquisas de Jaime Ricardo Gouveia[2] e, mais recentemente o de Bruno Abreu Costa[3]. Em todos estes trabalhos encontramos a prática desse tipo de crime, a sua violência e o seu encobrimento e desvalorização, marcas que perduraram até hoje.
A “solicitação” é a tentativa de obter “favores” sexuais no momento da confissão. O ato poderia não ter lugar nesse lugar e momento, mas o contexto, quer de isolamento, quer de fragilidade espiritual, era o propício para conseguir um compromisso que se concretizaria depois. Podemos ter hoje acesso a parte minúscula destes crimes através das escassas denúncias que evoluíram para processo na Inquisição.
Sigamos o estudo de Bruno Abreu Costa, na descrição de uma situação exemplar na metodologia usada, a do Padre Bento de Lira, pároco de S. João Batista da Fajã da Ovelha, Calheta, Madeira, de 1620 (manteve-se a ortografia da época, tal como o investigador a transcreveu do manuscrito): “Pedro da Silva Sampaio, o inquisidor encarregue do processo, questionou Bento de Lira, «a que pessoa do sexo feminino avera sete anos estando de giolhos [joelhos] para se confessar sacramentalmente, com elle a seus pes, solicitou disendo lhe se quiria ter com elle amisade dando lhe a entender que hera para actos deshonestos de fornicaçam […] depois de a solicitar ella se confessou e elle absolveo sacramentalmente»”.
Não que não fosse anterior, mas creio que os crimes de natureza sexual tenham aumentado com o Concílio de Trento e com a generalização do celibato e da castidade. Nesse quadro cronológico, a falta de legislação aplicável e o significativo número de casos, levou a que a Inquisição portuguesa procurasse obter de Roma o direito de processar e condenar os Padres “solicitadores”. A autorização surge em 1599, jurisdição aumentada em 1608. Em 1612, mostrando a existência de uma outra prática, foi alargado o âmbito deste delito à “solicitação” junto de homens.
No que respeita à idade das vítimas, a dominante é claramente a do assédio junto de mulheres jovens frágeis, viúvas ou mães solteiras, mas também jovens adolescentes numa percentagem muito significativa. Não o são em exclusivo, mas essa normalidade leva a que o Padre Lira tenha apontado em sua defesa que as suas vítimas tinham mais de 12 anos.
O quadro de desenvolvimento dos próprios processos também nos diz muito sobre o presente. Como Bruno Costa nos diz, “as testemunhas acusatórias eram sempre interrogadas sobre a «fama» dos réus. Por fama entenda-se a imagem pública do clérigo, a sua reputação e, em algumas situações, o boato que corria na paróquia sobre a sua vida pública e privada.” O central era a “fama”, não as vítimas. Aliás, a palavra vítima ou qualquer sinónimo não são usadas nestes processos.
Mas mais, era norma nestes processos inquisitoriais a obrigatoriedade do sigilo, desde os interrogatórios até à própria sentença: “leitura da sentença e o termo de abjuração foram feitos à porta fechada”, diz-nos o investigador. Acrescenta: “alia-se a este facto, a obrigatoriedade de manter sigilo da própria pena, que poderia transmitir a imagem de que o seu pároco tinha sido ilibado de todas as denúncias, permitindo resguardar a sua honra e reputação”.
Por fim, as penas eram de grande brandura, para além de nada haver de compensatório para com as vítimas. Normalmente era a abjuração leve, com um juramento de não tornar a cometer o mesmo crime, mostrando arrependimento pelo acontecido. De resto, as penitências eram de ordem espiritual (confessar-se, comungar, jejuar durante certo tempo). Por vezes, era também dito que deveriam “evitar, quando possível, confessar mulheres, principalmente solteiras”.
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«A confissão da prostituta Maria Vai com Deus» Milena Miguel (atelier S. Miguel) Barro vermelho e tecido Caldas da Rainha, 2016 Coleção de arte erótica «a funda São» |
Poucos eram os casos que implicavam penas mais duras. Para o Padre Bento de Lira, “decidiu-se […] que o réu deveria repudiar, levemente, os atos passados na presença de diversos inquisidores […]. Além desta pena, o antigo pároco seria privado da cura de almas, não podendo administrar os sacramentos; ficaria suspenso das suas ordens durante seis meses, impossibilitado de dar missa; e estaria interdito de ir à paróquia da Fajã da Ovelha, «para que não renovecom sua presença nos animos dos fieis a memoria do scandalo e mao exemplo, que lhes dava». Com penas definidas no Regimento de 1640, a Inquisição estipulava para estes crimes este tipo de penas, exatamente o que encontramos neste caso. Não consta que, nem durante o processo, nem como pena, algum dos Padres que localizei na bibliografia tenha sido preso. Mesmo a deslocalização para outro bispado não acontecia sempre, e o degredo, também previsto no Regimento, era apenas um referencial teórico.
Num ambiente de grande proteção, os arquivos da Inquisição guardam 229 processos referentes a “solicitação”. Já os Cadernos dos Solicitantes, o registo dos acusados deste crime, entre 1611 e 1700, registam 920 clérigos acusados, dos quais apenas 8,9% evoluíram para processos na Inquisição, pelo levantamento de Jaime Ricardo Gouveia. Mantendo a dominante que se encontra ainda hoje, a maioria das vítimas que encontramos na Inquisição apenas denunciaram os abusos vários anos depois, por vezes, mais de uma dezena de anos após os factos. O medo de represálias, o medo do olhar social e da reprovação, o medo da “perda da honra”, o medo de terem sido elas o motor do “pecado”, criava um clima em que a vítima se silenciava.
Apenas com preocupação na “fama”, os Padres abusadores eram claramente protegidos. As vítimas, muitas delas, crianças ou adolescentes, eram nos interrogatórios alvo de fortes pressões para aferir se teriam algum motivo contra o Padre que denunciavam e se a sua declaração era mesmo verdadeira. A autoridade do sacerdote era sempre um valor contra quem os acusasse – veja-se o magnífico estudo “Costelas de Adão: a desacreditação dos depoimentos femininos na Inquisição portuguesa”, de Jaime Ricardo Gouveia.
Século após século, possivelmente acentuadas com o fechamento moral pós Trento, as práticas mantiveram-se, quer as de assédio e abuso sexual, quer as de encobrimento. Virado que está o século XX, numa sociedade que olha para as vítimas com base num pensamento humanista e nos Direitos Humanos, importa compreender que não estamos perante um fenómeno apenas da atualidade. Não, estamos num pântano de costumes que, de forma muito complexa, define uma moral e, tantas vezes, pratica outra, salvaguardada essa incongruência por detrás da cortina protetora do peso institucional e do prestígio e superioridade religiosa de quem praticava o crime. Jaime Ricardo Gouveia dá-nos o caso de uma mulher alentejana que afirmava: “[…] vindo buscar a Deos à confissão, achara o Diabo […]”.
Os “Crimes dos Padres Amaros”, brincando com o título do clássico de Eça de Queiroz, eram algo muito conhecido por toda a sociedade, especialmente pelo clero. Seja na mais normal fuga à castidade, que é imposta e que luta contra a natureza da atração sexual, dimensão constitutiva da nossa espécie e de cada indivíduo, seja no assédio e na violação, especialmente de menores, há que compreender que o fenómeno hoje em debate, não é de hoje, nem se resolve com paliativos. A Igreja Católica, se quer estar no mundo e a ele (co)responder, tem de abrir, sem medos, o debate sobre a sexualidade dos seus clérigos, um anacronismo sem qualquer suporte teológico, nem enraizado numa longa tradição que venha dos tempos primeiros do cristianismo.
[1] “Um Solicitante na Inquisição de Coimbra no século XVII: o Padre António Dias”, Vértice, n.º 66, Lisboa, 1995, pp. 97-100, e “Confessar e Solicitar no Brasil Colonial”, Inquisição Portuguesa. Tempo, Razão e Circunstância, Lisboa, São Paulo, Prefácio, 2007, pp. 331-342.
[2] “A repressão do delito de solicitação pelo Santo Ofício na diocese do Porto (1551-1700)”, in Vítor Oliverira Jorge e José M. Costa Macedo (orgs.), Crenças, Religiões e Poder, Porto, Afrontamento, 2008, pp. 219-233; O Sagrado e o Profano em choque no confessionário. O delito de solicitação no Tribunal da Inquisição, Coimbra, 2011; “A solicitação clerical em Loulé (séc. XVI a XVIII)”, in Atas do IV Encontro de História de Loulé, Loulé, Câmara Municipal de Loulé, 2021, pp. 159-176; “A jurisdição privativa da Inquisição portuguesa sobre o delito de solicitação: De facto ou de iure?”, INVESTIGACIONES HISTÓRICAS. ÉPOCA MODERNA Y CONTEMPORÁNEA, 42 (2022): 507-548.
[3] “Pecados do Corpo, Delitos da Alma: o Crime de Solicitação na Madeira (Século XVII)” Anuário CEHA, 7, 2015, pp. 129-152.
04 março 2023
«De Santo Agostinho à perda da santidade de Valter Hugo Mãe» - Paulo Mendes Pinto
Regresso a um meu artigo de 2021 (no Público de 16 de dezembro), muito atual:
Recorrentemente, quando dou algum curso para um novo público, afloram algumas questões que tantos de nós desejavam ver respondidas. Quantas vezes eu já fiz o quadro histórico da evolução do celibato dos Padres, mostrando ser, de forma generalizada e obrigatória, uma realidade relativamente recente que só se tornou norma no catolicismo no Concílio de Trento (1545-63).
C. S. Lewis dizia que a castidade é a menos popular das virtudes cristãs, relembrando-me da luta interior, contra si mesmo, que Santo Agostinho, no seu longo processo de conversão, tão bem caracterizou na oração que em juventude dizia: “Senhor, dá-me castidade e continência, mas não já” (Confissões, Livro VIII, C. VII,17).
Agostinho, talvez o maior e o mais marcante teólogo do chamado mundo ocidental, deu o fecho a uma visão pecaminosa do Ser Humano, um pecado inultrapassável cometido através de Eva que, dessa forma, maculava as mulheres até ao fim dos tempos. Milhares de milhões de crentes cresceram com o fantasma da sexualidade como pecado que impossibilitava a salvação, votando as mulheres para um lugar de repulsa a que se deveria fugir.
Mas essa castidade cantada por Agostinho, mais que implicar um pensamento em que o santo não se inibiu a ir recriando o seu desejo de castidade como desejo de ser humano, de amar e ter prazer, afirmando querê-la, “mas não já”, leva-nos à própria negação do que é o humano. Possivelmente, há poucas pessoas com tão grande responsabilidade pela desgraça, pela tristeza, pelo desencanto, pela frustração, como Santo Agostinho. Como potenciador profissional, os psicólogos muito devem a Agostinho.
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“Sémen Sine Die - lembrar as 4815 vítimas de abusos sexuais” Nuno Saraiva |
Negar o ato mais natural de uma espécie é criar um distúrbio imenso, castrando parte do que seria esperado para completar o ser. A grande questão dos abusos sexuais na Igreja Católica não reside nos crimes (esses são horrendos e não deverá haver a mínima complacência); É muito mais profundo o dano: ele reside na incapacidade de quem assumiu essa castidade e a vive, muitos, amargurados com ela, de rever, quer a visão face à mulher que a inibe do sacerdócio, quer a defesa da castidade dos sacerdotes.
Ao estar tão longe do que é o Ser Humano, reprimindo-o até à loucura ou à necessidade desequilibrada de o levar a abusar dos mais desprotegidos, a Igreja Católica procura manter o seu status quo através da colaboração ativa, ou mesmo tomando a iniciativa, de investigar, punir os culpados e indemnizar as vítimas. Mas a grande questão não é essa: quando é que a hierarquia vai abraçar as causas das patologias psicológicas que são criadas por uma formação que reprime a sexualidade e cataloga a mulher como fonte do pecado?
Quantos padres com vocações de excelência não abandonaram as suas funções religiosas de forma amargurada, sentida, por não terem podido construir uma família? Quantas relações foram mantidas secretas, com mulheres e filhos a nunca terem podido receber o carinho e o afeto que mereciam? Quantas crianças e jovens perderam a sua confiança na Igreja, nos padres e até em Deus porque se sentiram traídos por aqueles que os deviam proteger?
Recupero o trecho final da descrição de uma situação de abuso relatada no recente livro Contra Mim, uma narrativa autobiográfica de Valter Hugo Mãe:
«Quando me deitei e fiz as minhas preces, senti que eu mesmo virara um louva-a-deus. Também eu poderia fazer uma prece sem sentir nada. Talvez pior, acompanhava a prece de uma súbita raiva por Deus, por me haver humilhado e colocado em perigo num ambiente onde se esperaria encontrar pessoas mais bondosas, as que teriam por ofício conduzir os santos ao seu esplendor. O louva-a-deus reza sem compromisso. Foi como me senti. Que meu compromisso se havia suspendido.»
20 janeiro 2023
«No cume da serra»
"Descobri estas imagens de um antigo folheto, com uma letra bem conhecida - No Cume da Serra...
Não sei se conhecias o folheto.
Parte do desenho pode-se esconder...
Pelo desenho, estaremos por volta de 1860 talvez...
Lç"
13 outubro 2022
«Escrever as palavras a foder» - Luísa Demétrio Raposo
"Gosto muito de escrever as palavras a foder porque além de políticas elas atordoam na descoberta afinal e deixam destelhada a miséria de quase todos os dentes e da caralhada.
Hoje em dia está muito em voga entre os verbos, encontra-se um por outro e até parecem estremecer quando se abre o livro porque assim deve ser e porque convém à boa digestão das livreiras. Das profundezas inumeráveis um pipi não se pretende rebelde, é mais pelo prestável, já uma cona ou um caralho falam muito e muito alto fodem muito e não usam guarda lamas e comem tudo e o sem fundo e com os dedos e nos dedos criam tudo o que arrancam ao que fazem um ao outro dentro um do outro ao fundo.
Um pipi dá beijinho. Um pipi escreve apenas a palavra com quatro letras, foda sim, meu dono.
Em boa verdade, um texto meu não é nem nunca será lugar para nenhum. Estou só e só o meu nome está cheio de fogo e de queimas que a carne devora, da força incontrolável e a esfola, como é a monta de qualquer um dos meus textos.
Um pipi é um petisco ou um puto se à mulher delicia e até à boca se for múltiplo entre o que apeteça."
ldr
15 setembro 2022
«Teste de fertilidade» - Caneleiras de Cortiça
Estava aqui a ler-vos e lembrei-me da vez que fui fazer recolha de esperma para teste de fertilidade. É das coisas mais constrangedoras de sempre.
Bem, para começar, não é nada do que se espera. Ia a contar com uma cave escura, cheia de veludos, álcool, recantos e espelhos, e afinal parecia um dentista.
Depois, é só casais e eles com ar de culpa. Eu como já tinha dois filhos estava todo confiançudo. Admito que olhava para eles com alguma sobranceria. E para algumas delas com espírito de missão.
Quando me chamaram, despedi-me da patroa, como se fosse para a guerra, e lá fui conduzido por uma enfermeira a uma salinha.
TV com leitor de DVDs, umas revistas, uma poltrona, uma caixa de toalhitas e, numa bandejinha dourada, um frasquinho. Daqueles do xixi.
"Quando acabar, deixe o frasco na bandeja e pode sair. Tem ali uma casa de banho", disse a enfermeira, antes de sair.
Não estava à espera de ficar sozinho.
Tinha pago 80€.
Lá fiquei, abandonado. Nem toquei nas revistas. Ainda olhei para os DVDs. Os clássicos de sempre. Também não lhes toquei.
Um tipo vai criando os seus gostos e preferências, e então saquei do telemóvel, e optei pelos que estão marcados como favoritos. Não queria estar ali muito tempo.
Bem, aquilo deu-se, um gajo tem de acertar tudo no frasquinho, parece que está a espremer o restinho da pasta de dentes.
Coloquei o frasquinho no centro da bandeja dourada e fiquei a olhar desalentado. Mal cobria o fundo. Quem faz frascos daquele tamanho? Achei que ia chumbar.
Antes de sair, parei. E se demorei pouco tempo? Qual será a média? E se chegar lá e me disserem: "JÁ?! Ai, coitada da mulher. Lucky Luke da pólvora seca..."
Optei por ficar um bocadinho mais à espera.
Quando achei que já era tempo adequado a um macho, saí do quartinho. Problema: voltar à sala de espera, onde estava toda a gente, sem me rir feito parvo.
Fiquei ali a concentrar -me e lá avancei, mais ou menos assim.
E foi isto. Mais ou menos o equivalente aos sonhos onde estamos nus no meio da rua.
(publicado originalmente no Twitter)
01 setembro 2022
«Gel de higiene íntima feminina» - uma história da vida de um anónimo
"Fui dos primeiros gajos a lançar em Portugal um gel de higiene íntima feminina.
Amiga... com o sucesso que tive, exponenciei virtudes inexploradas até então.
Vivia em Lisboa no hotel Sol Palmeiras, era director de vendas de uma multinacional inglesa, era casado e tinha marcado uma linda algarvia, também casada, que eu pressentia que me tinha marcado e que supervisionava a força de vendas da sua empresa de promotoras. Como estávamos a lançar um novo produto (o tal de higiene íntima) reunimos no meu gabinete para prepararmos acções promocionais nos clientes.
Lembro-me de estarmos frente a frente e eu literalmente salivar só de olhar-lhe os olhos e o rosto. Tinhas umas pernas que me tiravam do sério. Acabou a reunião e combinamos encontrar-nos dois dias depois num hotel em Évora com as promotoras para um briefing. É claro que nunca mais as minhas cabeças tiveram sossego, queria era que os dias passassem. Chegou finalmente o dia e lá fui eu assistir à reunião que acabou +- 20h30. Jantámos todos no hotel. Acabou talvez às 11h30, cada uma foi à sua vida e disse-lhe que ia beber um copo a qualquer sítio e se queria acompanhar-me. Eu não sou nada de copos nem de noitadas mas estava obcecado por aquela cara. "Ok", disse ela. Foi em Março e quem conhece a EN 18, que liga Évora a Beja, sabe que existem retas extensas pouco iluminadas (pelo menos na altura).
Entrámos no carro e +- 2 ou 3 km depois, numa dessas retas sem iluminação à entrada de uma pequena subida, parei o carro no meio da estrada e agarrei-me a ela. Estava cego, ela também, só bocas e mãos trabalhavam e o aroma do perfume do produto de higiene íntima, que lhe tinha oferecido na primeira reunião, entrou nos meus sentidos até hoje. A coisa ainda durou cerca de meia hora. Sim, sem um carro a passar, no meio da estrada, só com os médios ligados.
Retornámos para o hotel e a festa durou a noite a noite inteira. Saí do quarto dela às 8h00 para tomar um duche no meu e às 9h30 estávamos todos/as a sair do hotel com o pequeno almoço tomado.
Andámos aí uns 3 meses. Fazia-me surpresas aparecendo no hotel sem contar. Na intimidade era um verdadeiro tratado. Nunca estive com uma senhora que estivesse à minha altura nas conversas de cama. Sim, porque eu faço a festa, atiro as canas e depois vou apanhá-las. Tivemos de fugir um do outro por razões óbvias.
Há dois anos vimo-nos em Armação de Pêra. Estava com a neta, acho eu. Ainda houve uma troca de olhares poderoso, daqueles que fazem lume.
Recordações.
...tinha 35 anos e uma tusa infindável!"
Anónimo
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