O calor era já difícil de suportar e ainda não passava das sete e meia da manhã. Escolheu uma blusa fresca, a primeira que vestia sem costas, nesse ano. A pele pedia sol, mostrava ainda uma espécie de ressaca do bronze do verão anterior, estava pobre. Mesmo assim, arriscou e saiu de casa com a sua blusa azul.
Aos piropos pelo caminho já não reagia, achava que os homens os lançavam para se sentirem vivos e não porque os merecesse especialmente. Mas depois, no escritório, os colegas, devia ser do calor, pensou ela, pareciam apalermados. A questão parecia ser o seu decote. Outra vez. Era-lhe difícil perceber porquê, já lhe tinham dito que era um decote sem nada de apelativo, vulgar, plano, sem mistérios a ocultar. Então porquê, perguntava-se.
Mas os colegas não lhe davam tréguas. Evidentemente já tinha usado a mesma blusa no ano anterior, e talvez até antes desse. Mas não se lembrava das reacções. Provavelmente porque até então não tinha questionado a forma do seu colo.
Sentiu-se desejada e esqueceu-se mesmo de se sentir ultrajada. Ser objecto de desejo por causa do seu decote era uma coisa nova. Sem que nada tivesse mudado, reparava agora que eles olhavam, que inventavam pretextos para se aproximarem. Houve um momento em que, frente ao espelho da casa de banho, compôs o decote de modo a tapar um pouco mais o subtil caminho que acabava algures dentro da blusa. Depois pensou “que se lixe” e sacudindo os cabelos voltou ao trabalho.
Durante todo o dia as feromonas fervilharam em torno da mulher e sentiu-se confiante. Pensou no que lhe diria o marido, quando a visse assim chegar a casa. Mostraria ciúmes? Far-lhe-ia um reparo? Agarrá-la-ia com ânsia? Mostraria apreço de que forma?
Aos piropos pelo caminho já não reagia, achava que os homens os lançavam para se sentirem vivos e não porque os merecesse especialmente. Mas depois, no escritório, os colegas, devia ser do calor, pensou ela, pareciam apalermados. A questão parecia ser o seu decote. Outra vez. Era-lhe difícil perceber porquê, já lhe tinham dito que era um decote sem nada de apelativo, vulgar, plano, sem mistérios a ocultar. Então porquê, perguntava-se.
Mas os colegas não lhe davam tréguas. Evidentemente já tinha usado a mesma blusa no ano anterior, e talvez até antes desse. Mas não se lembrava das reacções. Provavelmente porque até então não tinha questionado a forma do seu colo.
Sentiu-se desejada e esqueceu-se mesmo de se sentir ultrajada. Ser objecto de desejo por causa do seu decote era uma coisa nova. Sem que nada tivesse mudado, reparava agora que eles olhavam, que inventavam pretextos para se aproximarem. Houve um momento em que, frente ao espelho da casa de banho, compôs o decote de modo a tapar um pouco mais o subtil caminho que acabava algures dentro da blusa. Depois pensou “que se lixe” e sacudindo os cabelos voltou ao trabalho.
Durante todo o dia as feromonas fervilharam em torno da mulher e sentiu-se confiante. Pensou no que lhe diria o marido, quando a visse assim chegar a casa. Mostraria ciúmes? Far-lhe-ia um reparo? Agarrá-la-ia com ânsia? Mostraria apreço de que forma?
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Quando à noite olhou para ele, adormecido, a mulher estava triste. Nada. Uma vez mais confirmava que o desejo que acordava na rua, automático ou não, não morava em sua casa. Não morava ali com ela, com ele.
O seu último pensamento da noite foi decidir se tomava um ou dois dos seus comprimidos para dormir. Não valia a pena pensar em mais nada.