Encontrei a Rosa num bar, numa noite de sábado. Daquelas em que podemos entrar noite dentro sem a preocupação do dia seguinte.
Rosa Púrpura. Rosa de nome, púrpura de estado de alma, dou-me a quem quero, como quero. De verdade dou-me apenas nos beijos que dou noutras bocas, como ela diz, em jeito de auto-retrato.
Atrevidamente apetitosa aos olhares sórdidos dos homens, espartilhava volumes em escassa indumentária, no abandono solitário do balcão. Insinuava, entre goles de vodka e cigarros acabados, olhares de quem está ali para se mortificar à volúpia dos sentidos e dos amores efémeros da noite. Despudorada.
Não era bonita, mas tinha a postura fácil de quem quer agradar e não recusa ser agradada. A maquilhagem escondia traços desfavoráveis e conferia-lhe brilhos apetitosos. E ela sabia disso e queria que fosse assim.
Olhou-me fixamente como quem nada teme. Não sorriu, não compôs o cabelo, não trejeitou maneios. Fixou intencionalmente os seus nos meus olhos, levou o copo de vodka aos lábios, pousou-o delicadamente, levantou-se e dirigiu-se à porta, sempre com os seus olhos enterrados nos meus, evidenciando a premência do convite. Saiu serena e perfumada, despertando olhares diagonais. Fiquei petrificada.
Ela não sabia que eu sabia. Ela desconhecia que eu a conhecia. Ignorava que eu detinha, discreta, o fascínio dos seus segredos e fantasias. Ou talvez não. Com a Rosa nunca se sabe!