John Peri
21 abril 2007
Nicolau o matemático ou a declinação da curva de Gauss
Uma mulher não deve meter-se com homens que vivem de números. A não ser que sejam cifrões, mas isso é outra conversa.Imaginem que desta vez me apareceu um Nicolau na rifa. Curiosa como sou não resisti ao charme do conferencista e no fim fui pedir-lhe um autógrafo. É claro que me fiz entendida na matemática e falei-lhe na admiração que sinto pelo Evaristo Galois por causa das tentativas do jovem para resolver as equações do quinto grau. Palavra puxa palavra e o Nicolau disse que sim, que era possível e que a solução podia ser a teoria dos grupos para achar o xis da quinta.
É claro que quando ele me falou na quinta eu nem queria acreditar e pensei “já estás marcado, Nico, deves ser melhor que o Evaristo”. É que esse achava que só conseguia obter a solução para o xis a partir dos coeficientes. Ora grupos eficientes nessas partes… eu não queria, de todo!Mas não quero dispersar-me. Nessa noite levei o Nicolau para o requinte de uma cama curva fazendo justiça ao assunto da conferência. No mínimo o que poderia acontecer era o Nicolau achar aquele tal ponto fora da recta e a partir daí – esperança minha – entraríamos no mundo da geometria imaginária pois descobrindo esse ponto especial, como bem sabem as minhas leitoras (os leitores dizem que sabem, mas são pouco persistentes), é possível traçar muito mais do que uma paralela. Paralelas múltiplas a partir de um único ponto. Já imaginaram?Nisto eu apenas esperava que ele seguisse a intuição de Lobatchevsy, segundo o que retive do conteúdo da conversa do conferencista quando falava no auditório e eu o escutava excitadíssima na primeira fila.Bem... os homens que muito pensam são de uma espécie estranha, mais razão que emoção, mais figura que desempenho, mais promessa do que realização… e pronto!
Estando os dois deitados no espaço curvo... o que aconteceu então?
Tudo, mas tudo a curvar-se.
É claro que quando ele me falou na quinta eu nem queria acreditar e pensei “já estás marcado, Nico, deves ser melhor que o Evaristo”. É que esse achava que só conseguia obter a solução para o xis a partir dos coeficientes. Ora grupos eficientes nessas partes… eu não queria, de todo!Mas não quero dispersar-me. Nessa noite levei o Nicolau para o requinte de uma cama curva fazendo justiça ao assunto da conferência. No mínimo o que poderia acontecer era o Nicolau achar aquele tal ponto fora da recta e a partir daí – esperança minha – entraríamos no mundo da geometria imaginária pois descobrindo esse ponto especial, como bem sabem as minhas leitoras (os leitores dizem que sabem, mas são pouco persistentes), é possível traçar muito mais do que uma paralela. Paralelas múltiplas a partir de um único ponto. Já imaginaram?Nisto eu apenas esperava que ele seguisse a intuição de Lobatchevsy, segundo o que retive do conteúdo da conversa do conferencista quando falava no auditório e eu o escutava excitadíssima na primeira fila.Bem... os homens que muito pensam são de uma espécie estranha, mais razão que emoção, mais figura que desempenho, mais promessa do que realização… e pronto!
Estando os dois deitados no espaço curvo... o que aconteceu então?
Tudo, mas tudo a curvar-se.
E digo-vos: nem o Euclides, com os seus axiomas das paralelas simples teria tido um desempenho tão frouxo. Ainda evoquei Gauss que também era de inovações curvas, mas com mais sucesso por serem curvas que só descem depois de uma subida significativa. Porém o Nicolau terá entrado exactamente num espaço muito distante do meu.
A curva de Gauss que ele me mostrou tinha uma média relativamente baixa e um desvio padrão elevado; a variância digamos que não era significativa e o resultado foi mais uma deflação na minha estatística.
20 abril 2007
Apetites vs Desejos
Posto que vulgarmente se confundem estes dois vocábulos, com tudo em linguagem filosófica moderna são bem distintos. Os apetites são certos sentimentos corpóreos, não perpétuos, mas que ocorrem de tempo a tempo, acompanhados sempre de certo que mais ou menos desagradável segundo é maior ou menor sua força, que nos impelem a apetecer alguma coisa de que o corpo carece. (…)
Os desejos, que melhor se explicam pela palavra latina cupiditates, são certas inclinações, que não existem no corpo senão na alma, e cujo objecto são as coisas e não as pessoas; (…) – Diferencia-se o desejo do apetite em que, 1.º este reside no corpo e aquele na alma; 2.º em que este vem de tempo a tempo, e aquele é permanente; 3.º em que este sacia-se, e aquele não se farta, etc.
ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 72
Os desejos, que melhor se explicam pela palavra latina cupiditates, são certas inclinações, que não existem no corpo senão na alma, e cujo objecto são as coisas e não as pessoas; (…) – Diferencia-se o desejo do apetite em que, 1.º este reside no corpo e aquele na alma; 2.º em que este vem de tempo a tempo, e aquele é permanente; 3.º em que este sacia-se, e aquele não se farta, etc.
ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 72
CISTERNA da Gotinha
<--- Ontem encontrei a São Rosas na esplanada...
Rob Clarke: divertidas ilustrações eróticas.
Canecas quase tão boas como as das Caldas da Rainha.
Porque será que a maioria das mulheres adora pérolas?!
19 abril 2007
Fado corrido e falado III - por Encandescente
Os amantes do mar.
"Teresinha chorava o ouvido colado
À parede do quarto que era tão fina,
Sofria horrores com os ais e os gemidos,
Lamentava-se ao ritmo do amor rangido
Que faziam o cunhado, e a irmã, a Tina.
O amor entre os cunhados começou e explodiu
Na manhãzinha duma quinta-feira,
Teresinha julgando-se sozinha
Esperava na cozinha só de cuequinhas,
O café ficar pronto na cafeteira.
Toni que por ela se tinha embeiçado,
E lhe mirava os jeitos e os seios de lado
Quando julgava que ninguém o via,
Agarrou-a e beijou-a, apaixonado:
- Teresinha, de hoje não passa. Vais ser minha!
Teresinha que há muito o amava
E todos rejeitara por causa daquela paixão,
Tirou a minúscula peça que tinha vestida
Perdeu a virgindade, deu a queca sonhada,
Consumou o amor, cometeu a traição.
Teresinha e Toni fugiam sempre que podiam,
Encontravam-se no bote que este possuía
E escondidos na noite onde ninguém os via
Deitados nas redes com cheiro a peixe
Trocavam promessas, faziam amor.
Mas Tina da traição começou a desconfiar
Quando em Teresinha começou a detectar
O mesmo odor piscícola que tinha Toni,
E Toni há muito na cama não a procurava
Era com a irmã que o sacana se enrolava!
Foi numa noite de temporal que o drama se desenrolou,
Tina confrontou Toni e Toni, nada negou,
Tina chorou, pediu e rogou: Toni e os nossos filhos?
E empurrando Teresinha, tia, irmã e traidora
Aos gritos expulsou-a de casa, na mesma hora.
Pela porta voaram panelas, pratos e tachos
Teresinha fugiu escadas abaixo,
Toni, não resistiu, correu atrás dela,
Deixando as crianças pequenas chorando à janela
E a mulher rogando pragas e jurando morte e vingança.
Tina perseguiu-os de caçadeira na mão
E querendo ver mortes, desfecho e confusão
Toda a vizinhança correu atrás dela,
E eram tantos os mirones que parecia manifestação
Liderada por Tina, em fúria, de caçadeira na mão.
Esta jurava aos vizinhos indignados
Que nenhum dos amantes à morte escaparia,
A Teresinha torcer-lhe-ia lentamente o pescoço
E a Toni, além de o matar, os tomates caparia.
Entalados entre o mar e a multidão
Toni remou para o centro do temporal,
Tentando escapar a um destino pior,
Tentando salvar-se e ao seu amor,
De serem linchados na doca do Clube Naval.
Mas o mar estava bravo e as ondas gigantes
A cada remada submergiam os amantes
Que sentados, abraçados, esperavam a onda mortal,
Morreram jurando amor num beijo final,
Toni marido de Tina, e Teresinha irmã e rival.
No dia seguinte um pescador que puxava as redes
Olhou pasmado, intrigado, a estranha pescaria,
Sete tainhas cheirando a gasóleo e umas cinco percas,
O Toni de traje de gala feito de algas,
E a Teresinha, com um vestido de noiva, feito de alforrecas.
Ainda hoje se diz que em noite de lua cheia
Se vêem os dois amantes abraçados a passear
Vestidos de noivos os trajes feitos de mar,
Seguidos de um cortejo de golfinhos especial
Que os segue entoando a marcha nupcial."
Encandescente
Blog Erotismo na Cidade
Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).
O primeiro «fado corrido e falado» foi «a morte de João do Viso», que tive o prazer de ler para a maltinha no Sãorau do 6º Encontra-a-Funda. O segundo foi «Ivone campeã dos defuntos. A Serial killer das Fontainhas».
"Teresinha chorava o ouvido colado
À parede do quarto que era tão fina,
Sofria horrores com os ais e os gemidos,
Lamentava-se ao ritmo do amor rangido
Que faziam o cunhado, e a irmã, a Tina.
O amor entre os cunhados começou e explodiu
Na manhãzinha duma quinta-feira,
Teresinha julgando-se sozinha
Esperava na cozinha só de cuequinhas,
O café ficar pronto na cafeteira.
Toni que por ela se tinha embeiçado,
E lhe mirava os jeitos e os seios de lado
Quando julgava que ninguém o via,
Agarrou-a e beijou-a, apaixonado:
- Teresinha, de hoje não passa. Vais ser minha!
Teresinha que há muito o amava
E todos rejeitara por causa daquela paixão,
Tirou a minúscula peça que tinha vestida
Perdeu a virgindade, deu a queca sonhada,
Consumou o amor, cometeu a traição.
Teresinha e Toni fugiam sempre que podiam,
Encontravam-se no bote que este possuía
E escondidos na noite onde ninguém os via
Deitados nas redes com cheiro a peixe
Trocavam promessas, faziam amor.
Mas Tina da traição começou a desconfiar
Quando em Teresinha começou a detectar
O mesmo odor piscícola que tinha Toni,
E Toni há muito na cama não a procurava
Era com a irmã que o sacana se enrolava!
Foi numa noite de temporal que o drama se desenrolou,
Tina confrontou Toni e Toni, nada negou,
Tina chorou, pediu e rogou: Toni e os nossos filhos?
E empurrando Teresinha, tia, irmã e traidora
Aos gritos expulsou-a de casa, na mesma hora.
Pela porta voaram panelas, pratos e tachos
Teresinha fugiu escadas abaixo,
Toni, não resistiu, correu atrás dela,
Deixando as crianças pequenas chorando à janela
E a mulher rogando pragas e jurando morte e vingança.
Tina perseguiu-os de caçadeira na mão
E querendo ver mortes, desfecho e confusão
Toda a vizinhança correu atrás dela,
E eram tantos os mirones que parecia manifestação
Liderada por Tina, em fúria, de caçadeira na mão.
Esta jurava aos vizinhos indignados
Que nenhum dos amantes à morte escaparia,
A Teresinha torcer-lhe-ia lentamente o pescoço
E a Toni, além de o matar, os tomates caparia.
Entalados entre o mar e a multidão
Toni remou para o centro do temporal,
Tentando escapar a um destino pior,
Tentando salvar-se e ao seu amor,
De serem linchados na doca do Clube Naval.
Mas o mar estava bravo e as ondas gigantes
A cada remada submergiam os amantes
Que sentados, abraçados, esperavam a onda mortal,
Morreram jurando amor num beijo final,
Toni marido de Tina, e Teresinha irmã e rival.
No dia seguinte um pescador que puxava as redes
Olhou pasmado, intrigado, a estranha pescaria,
Sete tainhas cheirando a gasóleo e umas cinco percas,
O Toni de traje de gala feito de algas,
E a Teresinha, com um vestido de noiva, feito de alforrecas.
Ainda hoje se diz que em noite de lua cheia
Se vêem os dois amantes abraçados a passear
Vestidos de noivos os trajes feitos de mar,
Seguidos de um cortejo de golfinhos especial
Que os segue entoando a marcha nupcial."
Encandescente
Blog Erotismo na Cidade
Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).
O primeiro «fado corrido e falado» foi «a morte de João do Viso», que tive o prazer de ler para a maltinha no Sãorau do 6º Encontra-a-Funda. O segundo foi «Ivone campeã dos defuntos. A Serial killer das Fontainhas».
Uma senhora vaidosa pergunta a um senhor sincero:
- Que idade o senhor me dá?
- Bem... pelos cabelos, dou-lhe vinte anos, pelo olhar, dezanove, pela sua pele, dezoito, e pelo seu corpo, dezassete anos!
- Hmmm... como o senhor é lisonjeador!
- Nada disso, sou sincero. Agora espere que vou fazer a soma.
(enviado por José Longo pelo grupo de mensagens da funda São)
- Que idade o senhor me dá?
- Bem... pelos cabelos, dou-lhe vinte anos, pelo olhar, dezanove, pela sua pele, dezoito, e pelo seu corpo, dezassete anos!
- Hmmm... como o senhor é lisonjeador!
- Nada disso, sou sincero. Agora espere que vou fazer a soma.
(enviado por José Longo pelo grupo de mensagens da funda São)
18 abril 2007
Aula de castidade
Praticar sexo faz bem à pele e à moleirinha, por ser um anti-stress e anti-depressivo natural, e por mais mil e uma razões que qualquer médico vos explicará melhor que eu.
Então para quê a castidade, perguntareis vós?...
Imaginem que vivem em África, que já acabaram os preservativos que as ONG's por lá distribuem e que nem têm dinheiro que chegue para os comprar no mercado negro. Aliás, com a fome e em alguns casos, até com a guerra que por lá campeia, a sida é só a preocupação seguinte porque instintivamente procura-se sobreviver, conseguindo comida e escapando da morteirada. Quem é que numa situação dessas tem vontade de foder?...
É uma castidade imposta pela situação mas a falta dela é desejo de suicídio.
Mais perto de nós, recordo sempre aquele Dia das Mentiras em que o Mário Viegas morreu de verdade. O mundo em que podíamos ter sexo com quem e quando nos apetecesse desmoronou. A maravilhosa pílula que deu liberdade à mulher precisa agora de funcionar em conjunto com um preservativo ou umas análises credíveis. E isto retira toda a magia do momento, da concretização do desejo ali e já, para se tornar quase num acto médico ou burocrático.
Dir-me-ão que a alternativa passa então pela monogamia. Que é uma repressão sobre os instintos da espécie que somos, porque se assim não fosse, todos os povos, independentemente da sua cultura e organização social, seriam monogâmicos. E se todos os dias envelhecemos, também todos os dias algo em nós muda e por milhentas razões que me escuso de enumerar porque todos as conhecem, há um dia em que até o casal mais perfeito já não se reconhece e facilmente tem desejo de outro.
A castidade não mata. Ninguém morre por não ter sexo durante algum tempo ou então, todos os dias morreria gente nas nossas prisões. Ou em suas casas e em todos os escalões etários. É tal e qual como gostarmos de lagosta mas só a comermos lá de longe em longe porque o dinheiro não chega para mais.
Se somos livres e responsáveis para tomarmos as nossas opções, a questão é se preferimos poupar para saborear lagosta ou se aceitamos comer carapauzinhos todos os dias.
Então para quê a castidade, perguntareis vós?...
Imaginem que vivem em África, que já acabaram os preservativos que as ONG's por lá distribuem e que nem têm dinheiro que chegue para os comprar no mercado negro. Aliás, com a fome e em alguns casos, até com a guerra que por lá campeia, a sida é só a preocupação seguinte porque instintivamente procura-se sobreviver, conseguindo comida e escapando da morteirada. Quem é que numa situação dessas tem vontade de foder?...
É uma castidade imposta pela situação mas a falta dela é desejo de suicídio.
Mais perto de nós, recordo sempre aquele Dia das Mentiras em que o Mário Viegas morreu de verdade. O mundo em que podíamos ter sexo com quem e quando nos apetecesse desmoronou. A maravilhosa pílula que deu liberdade à mulher precisa agora de funcionar em conjunto com um preservativo ou umas análises credíveis. E isto retira toda a magia do momento, da concretização do desejo ali e já, para se tornar quase num acto médico ou burocrático.
Dir-me-ão que a alternativa passa então pela monogamia. Que é uma repressão sobre os instintos da espécie que somos, porque se assim não fosse, todos os povos, independentemente da sua cultura e organização social, seriam monogâmicos. E se todos os dias envelhecemos, também todos os dias algo em nós muda e por milhentas razões que me escuso de enumerar porque todos as conhecem, há um dia em que até o casal mais perfeito já não se reconhece e facilmente tem desejo de outro.
A castidade não mata. Ninguém morre por não ter sexo durante algum tempo ou então, todos os dias morreria gente nas nossas prisões. Ou em suas casas e em todos os escalões etários. É tal e qual como gostarmos de lagosta mas só a comermos lá de longe em longe porque o dinheiro não chega para mais.
Se somos livres e responsáveis para tomarmos as nossas opções, a questão é se preferimos poupar para saborear lagosta ou se aceitamos comer carapauzinhos todos os dias.
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