De ombros descaídos, cabelo escorrido e despenteado, com o nó da gravata a um polegar do colarinho e passo cansado e lento, o lingrinhas chegou-se ao cubículo onde se dirigira silenciosamente e perguntou num suspiro desanimado:
– Sabes, a sensual Susana?
O gordo ocupante do cubículo deu um surpreendido e ridículo saltinho de menina, o que logo o indispôs contra o colega, descolou os olhos do monitor do computador e fixou-se no lingrinhas que se aproximara sorrateiramente e falara sem avisar, assustando-o.
“Podia ter-me morto, se quisesse, que eu nem dava por nada”, pensou o gordo que tinha a mania da perseguição, enquanto o outro esperava por uma resposta à sua pergunta. “Havia de mudar a disposição do gabinete,” ponderou sério, olhando em volta, “assim, fico muito exposto...”
– Estás a ouvir? – bufou o lingrinhas, frequentador de chats e abusador do Messenger, aborrecido com o desinteresse do gordo, que olhava em volta com ar de engenheiro. – O que é que se passa? – insistiu.
– É o meu gabinete... – começou o gordo, com ar solene e superior.
– O teu gabinete?! – admirou-se o lingrinhas, olhando para o abafado espaço que o gordo ocupava entre três divisórias mal amanhadas. – Qual gabinete?
O gordo semicerrou os olhos, alinhou os lábios e as sobrancelhas e rosnou:
– Isto é o meu gabinete, meu caro. Há algum problema?
O lingrinhas que se correspondia on-line com a sensual Susana e, já agora, com a insaciável Úrsula, viu os lábios do gordo tornarem-se uma fina e malvada linha cómica mas não reparou no assustador movimento das sobrancelhas, pelo que se desencostou lenta e despreocupadamente da divisória interrompida que permitia o acesso ao gabinete e soltou uma fina gargalhada de gozo.
– Nenhum problema, pá – declarou rindo. – Por mim, se quiseres chamar ao teu cubículo uma sala de conferências individual, estás à vontade.
O gordo pousou as mãos pequenas e papudas nos braços da cadeira, ergueu-se ligeiramente e soltou um sonoro peido:
– Vai cagar.
O esticadinho que teclava com a sensual Susana, com a insaciável Úrsula, com a arrebatada Tigresa e com a despachada Madame X, franziu o nariz e esperou em silêncio que o aroma o atingisse, ainda que, por questões de prevenção olfactiva, desse um passo atrás.
– Sabias que a Maria e a Carla já se tinham ido embora? – perguntou, pronto a admirar o gordo pelo seu desprezo às convenções sociais.
O gordo fez cara de quem não se ralava nada com isso, mas sabia que estavam sozinhos naquele canto da sala e bolçou um antipático:
– Já? Não sabia – mentiu.
O outro acenou que sim, em extâse. O gordo era o seu ídolo.
– Não sabias? – deixou escapar o crédulo magricela. O gordo enganava-o sempre. Satisfeito com a coragem do outro, o lingrinhas inspirou pelo nariz cuidadosamente e, seguro da inexistência de qualquer fragrância intestinal, retomou o seu posto encostado à divisória do gabinete do gordo.
“Também podia dizer que sofro de alergia aos ácaros e pedir para tirarem a alcatifa”, reflectia o gordo, preocupado com a sua segurança. “Sempre os ouvia chegar”.
– Vens sempre de sapatos? – perguntou o gordo inopinadamente.
Surpreendido, o não tão gordo interveniente olhou para os pés, para confirmar que estava calçado.
– Querias que viesse de quê?
– Nem à sexta? – quis confirmar o gordo de forma a esgotar todas as possibilidades. À sexta-feira não vinham de gravata, por isso era possível que o presumível assassino pudesse aparecer sem sapatos ruidosamente seguros.
– Venho sempre de sapatos – disse o outro, sem perceber nada.
O gordo tossiu: quanto mais cedo começasse a apresentar sintomas de alergia melhor. Sacou de uma gaveta um lenço que parecia um bocado de desperdício e, sob o olhar hipnotizado do colega, assoou-se ruidosa e furiosamente, não conseguindo evitar, em consequência da exagerada força evacuatória nasal, largar um aromático conjunto de bufas.
Aquele que vinha falar na sensual Susana assistia com gosto ao absurdo espectáculo que o gordo montara com uma espécie de lenço e um nariz, mas não esperava ser envolvido, como foi, pela invisível, silenciosa e traiçoeira arma intestinal do gordo, que, sorrindo como um menino bom, enrodilhava o monte de desperdício a que chamava lenço e o devolvia ao fundo da gaveta onde, certamente, viviam e prosperavam várias colónias de fungos, bactérias e outras formas de vida.
– Foda-se – queixou-se sem educação a vítima do atentado olfactivo, o que, sejamos justos, é compreensível em face do repugnante ar poluído que o envolvia sem hipóteses de fuga ou remissão.
– O que tem a sensual Susana? – indagou o gordo com voz doce e interessada, como se entre a primeira frase do colega e a sua pergunta não tivesse passado mais do que um instante. “O tempo é relativo”, justificou.
Ainda atordoado pelo inesperado ataque ao seu nariz, o outro pareceu concordar com o gordo e respondeu como se nada se tivesse passado entre a sua aparição no cubículo e o interesse do gordo na sensual Susana.
– Acho que a gaja é incontinente... – segredou.
O gordo ainda que habituado a tudo esperar do lingrinhas foi surpreendido e não se conteve:
– Incontinente?! – A sua fé do género humano acabava de bater no fundo e por muito pouco não se levantou e não saiu a correr. – Incontinente, a sensual Susana?! Não pode ser...
– Incontinente, pá... – o lingrinhas crescia com o impacto da sua bombástica e liquida notícia na fisionomia do gordo. – Incontinente – repetiu de boca cheia.
O gordo fincou os dedos nos braços da cadeira, olhou bem para a cara de parvo do colega e, num instante de lucidez, perguntou:
– Mas como é que tu sabes isso?
O esqueleto andante sorriu, como se soubesse tudo e até a resposta àquela pergunta em particular. Tornou a desencostar-se, agora porque achava que ficava melhor desapoiado quando transmitisse o resto da informação, pôs as mãos nos bolsos, formalmente descontraído, e colocando a voz, avançou:
– A gaja disse-me...
– Quando?
– Há bocado no Messenger...
– O quê?! Que é incontinente?
– Não, não disse assim... – o lingrinhas fez uma pausa e recomeçou: – “Vou ficar toda molhada!”...
– Molhado – corrigiu o gordo.
– Não sou eu.
– Não?
– Não, pá, ela é que disse...
– O quê?
– Que “vou ficar toda molhada!”
– Ela disse isso?
– Foi... – O lingrinhas tirou as mãos nos bolsos e esfregou-as uma na outra. – Toda molhada, vê lá...
– Mas estavam falar de quê? – inquiriu a anafada personagem.
– Olha... – o lingrinhas esfregou as mãos ossudas e estalou os dedos – Sexo, do que é que havia de ser?
O gordo semicerrou os olhos como gostava de fazer, achava que lhe dava um ar sapiente.
– E essa gravata? – perguntou o gordo ainda processar a inesperada informação da incontinência da sensual Susana.
O lingrinhas conferiu a gravata.
– O que é que tem?
– Puseste assim pela virilha, de propósito?
O lingrinhas agarrou na gravata e esticou-a para ver onde chegava: batia a meio da braguilha.
– Ou é para limpar o pingo? – atacou o gordo.
– Vai-te lixar! – rosnou o diminuído lingrinhas.
O gordo lembrou-se da alcatifa e recuperou a tosse.
O lingrinhas continuou encostado à divisória à espera sabe-se lá de quê.
– Incontinente – acabou o gordo por repetir –, tens a certeza?
– Estou-te a dizer. Incontinente.
– Meu Deus, ao que isto chegou – o gordo forçava os lábios a descaírem numa careta miguelsousatavaresiana de quem está mal com o mundo porque o mundo não faz o que ele diz. – Qualquer dia ainda me vens dizer que a insaciável Úrsula é um marmanjo qualquer, que a incandescente Laura rói as unhas dos pés, que a arrebatada Tigresa tem pêlos nos sovacos ou que a despachada Madame X sofre de halitose...
– Halitose?
– Sofre da exalação de odores repugnantes e incómodos provenientes da cavidade oral.
– Mau hálito!
– Ou isso – reconheceu o gordo com maus modos. – Mas vocês estavam a falar exactamente de quê?
– Quem?
– Tu e a sensual Susana, foda-se.
– Sexo – o lingrinhas formatou um sorriso marialva que ostentava com orgulho. – Podemos escrever o que quisermos que, na verdade, estamos sempre a falar de sexo...
– Sim, no teu caso é capaz – o gordo acenou depreciativamente com a cabeça. – Mas estavam falar exactamente de quê?
– Sei lá – o lingrinhas aborrecia-se com a insistência do gordo –, ela tinha-me dito que ia dar banho aos filhos...
– Ah! – exclamou o gordo. – Não seria por isso?
– O quê?
– Que ela ia ficar molhada?
– Não – o lingrinhas encolheu os ombros: o gordo não tinha salvação, era definitivamente um não crente, uma alma perdida, um desamparado das novas relações sociais. – As coisas que se escrevem nos chats e no messenger nunca são o que parecem – elucidou – têm sempre duplos sentidos, triplos sentidos e, no fim, estamos sempre a falar de sexo. – E repetiu com enfâse: – As coisas nunca são o que parecem.
– Mesmo que pareçam que estás a falar de sexo – rasteirou o gordo, cínico.
– O quê?
– Mesmo que estejam a falar de sexo – o gordo virara-se para o monitor, dando a entender que queria acabar a conversa –, como tudo tem mais do que um sentido, acabam por não estar a falar de sexo.
O emudecido lingrinhas tentava perceber o que o gordo dissera. O gordo aproveitou e continuou:
– Possivelmente, estão sempre a falar de vocês – o gordo gostou da frase e do raciocínio. – Elas estão a falar delas, da vida delas, dos seus desejos, dos seus gostos, dos seus desgostos, mas acham que precisam de falar de sexo para tu as ouvires, para te interessares...
– Teriam-me em muito má conta – comentou o lingrinhas.
O gordo riu-se:
– Para elas és um básico, incapaz de mais do que duas frases sem qualquer conotação sexual... – E não estão longe da verdade – o lingrinhas acompanhou-o a rir. – Três frases, no máximo.
– Pois.
– Então, achas que ela ia mesmo dar banho aos filhos?
O gordo confirmou com uma cabeçada na atmosfera.
– Ora, bolas – o lingrinhas suspirou e cruzou os braços, descorçoado. – Qual é o interesse de irmos para ali falar da vida?
O gordo não se dignou a responder-lhe ou, sequer, a olhar para ele, limitou-se a encolher os ombros e a tossir.
O lingrinhas separou-se da pouco mais magra divisória, passou a mão pela franja e afastou-se a resmungar:
– Gordo de merda. – Deu um pontapé num refego da alcatifa, passou o dedo entre o colarinho e o pescoço e entrou no seu próprio cubículo. – Mas se ia dar banho aos putos, o que seria que ela queria dizer com hectolitros e hectolitros de chuva dourada? Que raio de espectáculo é esse que ela me queria mostrar?
20 outubro 2007
O MoSex fez cinco anos...
... e eu que ainda não o visitei...
O Museum of Sex, em New York, é um modelo para o que eu gostaria de fazer em Portugal, com base na minha colecção de arte erótica.
Nestes cinco anos, fizeram várias exposições (têm actualmente 15.000 objectos na sua colecção permanente), debates, espectáculos, sessões de leitura, publicações... sempre defendendo como missão "um discurso aberto no que diz respeito a sexo e sexualidade".
Aqui podem apreciar fodografias da festa do quinto aniversário, bem como piças (sim, sim, eu disse peças) da colecção.
O Museum of Sex, em New York, é um modelo para o que eu gostaria de fazer em Portugal, com base na minha colecção de arte erótica.
Nestes cinco anos, fizeram várias exposições (têm actualmente 15.000 objectos na sua colecção permanente), debates, espectáculos, sessões de leitura, publicações... sempre defendendo como missão "um discurso aberto no que diz respeito a sexo e sexualidade".
Aqui podem apreciar fodografias da festa do quinto aniversário, bem como piças (sim, sim, eu disse peças) da colecção.
19 outubro 2007
Bom fim de semana
Foto: Dmitriy Martinson
de outros outubros
Não é todos os dias que me deito com um corsário. Não será hoje, também. Não é ele. Os vultos são todos iguais, os homens também, mais ainda se forem do mar. Já o mar não é de pedra e os marinheiros são apenas carne. Carne que se sacia em cada porto, sem exigência objectiva de putas, princesas ou sereias.
Este marinheiro atira o cigarro para o rio com um estudado gesto de dedos, gira apenas o tronco na minha direcção e lança-me um olhar de sedução. Sinto-lhe o cheiro, agora que estou tão perto. Cheira a suor e a canja de galinha, como os homens nos meus piores pesadelos de adolescente. O casaco cheira a óleo, melhor, a bafio de navio precário.
Peço-lhe um cigarro. Estende-mo aceso, acende-o olhando-me sobre ele, sorrindo ainda. Sorrio-lhe e ele não percebe que só não me desagrada porque me é indiferente.
As noites frias de Outubro deprimem-me mais do que quaisquer outras.
Desaperto a minha blusa, nunca deixando de o fitar. Guio-lhe a mão ao meu peito, a sua mão está fria, é grossa. Com a outra mão desaperto-lhe as calças. Não o deixo beijar-me, puta que sou.
Força-me a baixar-me e lambo-lhe levemente o sexo, primeiro, depois mais depressa, finalmente com violência. Mordo-o. Afasta-me e bate-me com força na cara. Solto uma gargalhada e levanto a saia, mostrando-lhe a brancura e a nudez escondida. Bate-me na cara, novamente, ainda não lhe ouvi a voz, só a ouvirei quando me chamar puta, repetidas vezes, enquanto me fode, depois de me voltar de costas para si e de me encostar ao ferro gelado que nos protege do rio. Fode-me por trás, com urgência, agarrado aos meus flancos com tal violência que me rasga a pele das ancas. O sangue obriga as suas mãos a escorregarem na minha carne e passa a segurar-me nas mamas, puxando-me para si, obrigando-me à sua cadência de animal bruto, bestial. Vem-se enquanto me bate nas nádegas, enquanto urra, quase de dor. Afasta-se e eu deixo cair a saia, que me chega até aos pés.
Sentamo-nos no chão frio e húmido. Acende mais dois cigarros, torna a estender-me um. Diz-me que o magoei e volta a chamar-me puta, agora com um sorriso. Pergunto-lhe se quer mais. Levanto a saia, novamente, sento-me sobre ele, enquanto fumo. Ele atira o seu cigarro para longe com o mesmo gesto artístico, estudado, apalpa-me as mamas, chupa-as, morde-as, puxa-as, violenta-as o mais que pode. Estende a língua, tenta beijar-me, esquece-se que sou uma puta, que não o beijarei. Continua a dedicar-se às minhas mamas que entram inteirinhas na sua boca de abutre, enquanto se masturba, com a mesma violência, com a mesma urgência. Puxa-me os cabelos, ordena-me que grite de dor, depois que gema, depois que lhe peça mais. A tudo obedeço, sou uma puta, estou ali para isso. Obrigo-o a penetrar-me e cavalgo-o com quanta força tenho, quero magoá-lo com os meus ossos, de todas as formas, já que a mim ninguém volta a magoar.
Levanto-me rapidamente, depois de o fazer vir-se novamente, saio de cima dele, enquanto me escorre pelas pernas o esperma quente, espesso, impessoal de mais um homem, de mais um vadio homem do mar, de quem me servi para saber se estou viva, de quem me afasto, deixando-o sentado no chão manchado e molhado, sem o chegar a saber. A saia cai de novo sobre os meus pés. Sacudo o cabelo e sigo o meu caminho.
Estar viva é, afinal, o quê? As sensações físicas? Os orgasmos? Os encontros fortuitos? Esta dor lancinante no meu peito? Não querer morrer? Querê-lo? Segui o caminho junto ao rio, subindo sempre até ao café do miradouro. Sentei-me, com sede, esquecida do frio da noite de Outubro que é esta.
Temos que continuar...
... a apertar o Cinto. Sinto Muito!
Alexander Gulin
Alexander Gulin
Zé Tó e Conceição
Zé Tó é um homem de todas as mulheres e de mulher nenhuma.
Um dia, depois de um orgasmo, olhou bem fundo nos olhos da Conceição e emocionado perguntou:
- Queres dar o nó?
Ela, com os olhos molhados e sorriso parvo, acenou feliz que sim.
Então Zé Tó tirou o preservativo usado e passou-o para a mão da Conceição...
(enviado por Bruno)
18 outubro 2007
Ilusão de óptica
«Caralho impossível»
John & John
por d!o, o nosso amigo holandês
(e um dia destes vamos ter novidades dele nas t-shirts da funda São...)
Larry - por made in eu
Sexo era um problema para Larry. Não por não tê-lo, mas por tê-lo.
Era-lhe quase insuportável tê-lo com a sua mulher. Sem ela, impensável.
Os gemidos, como se a magoassem, e os gritos, como se a matassem, eram uma tortura para Larry.
Os odores pareciam-lhe nauseabundos e o gosto dava-lhe vómitos.
As posições em que a mulher se punha, ou queria pôr, eram indecorosas e Larry mostrava sinais de um quase ataque de pânico durante o coito.
Porque não desistia de tal atrocidade?
Porque Larry amava, e o amor era mais forte que o ódio. Larry não tinha força, nem vontade, para desistir do fabuloso arroz de manteiga que a sua mulher cozinhava. Era um vício, uma dependência tão forte que, para não perder o cereal, perdia-se a si.
Não escondia o problema. A mulher deixava-o utilizar tudo o que precisasse para diminuir o asco; tampões no nariz, nos ouvidos, e uma venda nos olhos.
O desespero em não conseguir desistir do arroz de manteiga levou-o a prometer a Deus que, se algum dia o conseguisse, agradeceria da forma que julgava mais justa, e tornaria o sexo no seu Dia de Acção de Graças, i.e. na quarta quinta-feira de cada Novembro.
made in eu
publicado originalmente no blog Piadinhas e Torradinhas
Era-lhe quase insuportável tê-lo com a sua mulher. Sem ela, impensável.
Os gemidos, como se a magoassem, e os gritos, como se a matassem, eram uma tortura para Larry.
Os odores pareciam-lhe nauseabundos e o gosto dava-lhe vómitos.
As posições em que a mulher se punha, ou queria pôr, eram indecorosas e Larry mostrava sinais de um quase ataque de pânico durante o coito.
Porque não desistia de tal atrocidade?
Porque Larry amava, e o amor era mais forte que o ódio. Larry não tinha força, nem vontade, para desistir do fabuloso arroz de manteiga que a sua mulher cozinhava. Era um vício, uma dependência tão forte que, para não perder o cereal, perdia-se a si.
Não escondia o problema. A mulher deixava-o utilizar tudo o que precisasse para diminuir o asco; tampões no nariz, nos ouvidos, e uma venda nos olhos.
O desespero em não conseguir desistir do arroz de manteiga levou-o a prometer a Deus que, se algum dia o conseguisse, agradeceria da forma que julgava mais justa, e tornaria o sexo no seu Dia de Acção de Graças, i.e. na quarta quinta-feira de cada Novembro.
made in eu
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