30 janeiro 2008
29 janeiro 2008
Ainda a propósito de prostituição...
"Um mercenário que vende o seu corpo para a guerra, sem lhe interessar muito contra quem nem a favor de quê, não será uma grande puta? Um político que ganha eleições por promessas que nunca cumpre porque o «pragmatismo» não o deixa... o que é? Vá, digam todos: uma grande puta! Não é?...
Isto da prostituição tem muito que se lhe diga. No fundo (ou mesmo mais acima...) tudo se prende com a arte de vender o corpo a favor de qualquer coisa...
Colocar crianças de sete anos, altamente mascarradas, a saracotearem-se pateticamente em passarelles sob o olhar embevecido e bovino dos cretinóides dos pais, o que será? Putedo, pornografia abjecta e promoção de pedofilia de alto lá com ele!
Tal como aqueles figurantes, pagos para aparecerem como alunos de escola modelo...
No fundo, no fundo, no verdadeiro fundo, as putas parecem-me menos putas do que muito putedo que por aí campeia...
Há tantas multiplas abordagens sobre esta questão... Faz toda a diferença saber ao que vai quem vende, tal como porque lá vai quem compra.
interessa ter atenção
se se vende porque acende
o fugaz de uma paixão
ou porque apenas pretende
trazer para casa o pão
e quem a compra afinal
compra o quê e com que fim?
por ser só um animal
que chafurda porque sim
ou porque o bem dele é um mal
de flor sem ter jardim?
(mau, mau... anda a dar-me para os moralismos e isto não é nada bom sinal!... Se calhar é por causa das catorze prestações aos reformados... É bem verdade, nem tudo o que nos fode é erótico)"
OrCa
Como diz o povo, quem ode e não é odido está ao Nelo a fazer um pedido:
Já todos çabemos isso
É çó pena o çafado
levar tempos desaparecido
Oh Orca este broshe
Onde fazes tanta auzênsia
Explandeçe com o toque
do pueta: Voça Eçelênsia
É o verço de rima perfeita
O çentido irudito
Todo o meu pacote çe ajeita
Ai Orca que fico aflito
Nam fujas mais pueta
nem te fassas isqueçido
Vem ao broshe, tá ca o Nelo
Um leitor teu derretido.
Çó te deicho mais um coizo
Para ficares a pençar
Este broshe é çó um poizo
A minha caza éi melhor lugar
Lá taremos à vontade
Çeim olhares, complicasões
Farás puema até metade,
E eu depois metade até aos culhões..."
Nelo
Joker pin-up
28 janeiro 2008
Revista «Moda Foca»
"A Moda Foca é um novo projecto humorístico no formato revista e com mais umas coisas na Net. Como revista será semestral, a preto e branco, incluirá trabalhos de vários autores da BD e do cartoon (e talvez mais qualquer coisa) e será colocada à venda em locais cuidadosamente seleccionados.
Aquilo ali em cima é só o esboço da capa do número 1, mas desde já aceitamos comentários.
Obrigado.
Álvaro"
Sigo os trabalhos do Álvaro há muito tempo. E é uma honra para mim ele, o Pedro Alves e o Rodrigo de Matos terem aceite que eu publicasse aqui alguns dos seus trabalhos. Quando quiserem, Álvaro, Pedro Alves e Rodrigo, este blog também é vosso.
A Santíssima Trindade
Devagarinho, quase sem fazer ruído, abriu as persianas da janela do quarto. A luz intensa do dia já bem desperto encheu o espaço e na cama um olhar estremunhado olhou sem ainda ver enquanto, por entre bocejos, a pergunta dominical soou:
- Que horas são?...-
Uma sensação de rotina amargou-a apenas no instante de engolir. Sorriu para ele e respondeu-lhe com um “bom dia amor”. Depois voltou a sorrir-lhe e disse:
- Levanta-te um pouco, ajeita-te, senta-te na cama que tenho uma surpresa.- Rodou o corpo e pegou no tabuleiro do pequeno almoço que tinha ficado fora do alcance visual do marido. Um enorme sorriso ligou-os enquanto ele já bem desperto aceitou o tabuleiro que pousou sobre o cobertor que lhe cobria as pernas. Olhou com satisfação como ele sorveu o chá quase a escaldar e apaladou os sentidos com a torrada quente barrada com manteiga. Apesar dos anos, da rotina e dos desencantos da vida, amava aquele homem, sentia-se bem com ele, da sua forma doce de ser, da sua dedicação e companhia.
Saiu dizendo-lhe ainda que iria demorar-se . Depois da missa teria de tratar duns assuntos e viria já tarde. Que ficasse deitado a descansar, disse à laia de despedida.
Chegou e ajoelhou-se encetando uma oração que interrompeu quase de imediato com o surgimento do padre. Mirou-a e instintivamente dirigiu-se ao confessionário. Sempre que ela estava na igreja ele já sabia ao que vinha.
Em voz baixa, ajoelhada sobre a almofada disse de si . Não de forma directa, mas em metáforas e rodeios que só ela entendia. Ela sabia que uma mulher deve ter no mínimo três homens na vida. Um a quem amasse, outro com quem gostasse de foder e finalmente, ou talvez principalmente, o que lhe pagasse as contas. Mas entre isso que era o seu lema de vida e a sensação de pecado entranhada na pele, como maldição perpetuada pela educação, só poderia haver o ajuste de contas entre ela e Deus.
Esperou que o padre a sentenciasse e absolvesse, ministro do altíssimo, mas homem. Olhou para ele. Que relação passaria a ter com ela se lhe dissesse tudo em palavras directas? Que olhares lhe deitaria e que outras frases sairiam da sua boca de prelado? Fosse como fosse, jamais foderia com ele, jamais toleraria sequer a aproximação de toque de mãos nas mãos, tão típicas das abordagens dos eclesiásticos. As mãos, essa espécie de sonda com que os corpos se descobrem mutuamente precedidos da nudez do olhar; o princípio da entrega...
Saiu pegando no telemóvel. Um modelo topo de gama oferecido pelo patrão, assim como a mala e a joía que adornava o decote. Rapidamente voltou-se fazendo o sinal da cruz.
- Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo... - A Santíssima Trindade, o mistério e dogma incompreensível de como sendo três era um só... Tal como os desígnios profundos que a moviam em relação aos homens que lhe preenchiam a vida. Haveria algures mulheres com a sorte de terem um homem com as três valências, mas isso seriam as bafejadas pela sorte dos que acertam num primeiro prémio que nunca sai a ninguém e vai acumulando jackpots sucessivos.
Suspirou, e marcou o número.
- Sim, querido... sim, vou estar contigo...
Sorriu mordendo o lábio inferior.
Gostava mesmo de foder com ele...
Charlie
27 janeiro 2008
Ceva
Agora o uisquito do final do jantar acumula-se-lhe em dobritas no fundo da barriga para rematar as cervejas pós-laborais e pressiona as pernas de encontro ao sofá como argamassa de tal forma que a bicicleta sem rodas está arrumada na cave e com bolas de praia e canas de pesca por cima para ninguém ter a veleidade de a deslocar.
A minha avó costumava comprar um bácoro e engordá-lo quase um ano inteiro para a matança de Natal e vendo que ele enfileira nessa tradição hesito entre lhe meter uma maçã na boca ou aceitá-lo como animal de estimação.