Não foi preciso muito para saber que ele era mais um dos que coleccionavam canetas. Daquelas com aparo que é possível encher com uma recarga ou mergulhando-as directamente no tinteiro para sorverem a tinta numa curta mas intensa absorção. Na primeira oportunidade deu-me uma de presente. Apesar de eu lhe ter confessado que não as usava por mor de nos primeiros tempos dos bancos da escola a isso ter sido obrigada.
Como creio que não padecia de surdez julgo que se tratou apenas daquela manifestação típica de oferecer aos outros aquilo que queremos dar a nós próprios e do quanto estava em si arreigado aquele vício das canetas que lhe nascera ao mesmo tempo que a nova voz mais grave e o irrequieto pénis se passou a erguer sem autorização do dono sujando lençóis à socapa das noites para não duvidarem da sua existência.
Como a minha amostragem do universo masculino de coleccionadores de canetas de tinta permanente é aleatória mas a dúvida me latejava na cabeça avancei a pergunta se era uma permanente insegurança quanto ao desempenho do seu órgão que o impelia ao armazenamento compulsivo para reposição de faltas.