Abusa-me os sentidos.
Deixa-me rendida.
Procura-me, mas não me encontres logo. Descobre-me.
Bebe cada momento. Deixa que te entre cada nota pelo ouvido. Detém-te no sabor da boca, do corpo, do sonho. Prova a silhueta dos corpos, sente o gosto a cada linha, a cada declive, a cada forma. Controla-te.
Absorve cada partícula de um no outro. Permeia todas as emoções, deixa-te levar, entrega-te à imagem dos sorrisos, ao som do riso, ao risco.
Controla-te.
Procura em ti coisas novas, conhece-te, orgulha-te delas e mostra-mas, mas todas não. Guarda a surpresa de cada dia, esconde-a em sítios em que a esqueças, só para que seja mais inesperado descobri-la de novo.
Deixa-te seduzir. Admira cada segundo do tempo em que se trocam olhares, que se entrelaçam dedos, pernas e línguas.
Mede-me. Mas de várias maneiras, usa a imaginação que o desejo tantas vezes nos empresta. Cartografa-me o corpo em beijos, mapeia-me os gestos e os gostos e perde-te. Controla-te.
Cobre-me de palavras meigas, de defeitos, de virtudes, de personalidade, da tua. Cuida-me. Enche-me os ouvidos de baboseiras lamechas, de desafios e atrevimentos. Desafia-me. Atreve-te. Não te contentes, não te conformes, não desistas.
Mostra-me o infinito, as cores e os sabores das tuas fantasias. Deixa que se realizem em ti, em nós.
E então descontrola-te. Usa, abusa, lambuza. Dá-me prazer. Explode em ondas de calor e suor e êxtase.
Respira todos os estremecimentos do corpo violentado pela intensidade das emoções. Celebra a vida em ti.
Dá-me a tua mão. Deixa-me que te leve para onde eu bem entender, só para poder ser como quiser. Deixa-me guiar a tua palma pelas minhas fantasias. Como se a média luz nos cegasse e só fosse possível tactear. Mantém os olhos abertos para que me vejas explorar o teu corpo em carícias que só se adivinham.
Deixa-me sussurrar-te aos sentidos, despertar-te assim com um tom quente que não conheces.
Atenta os pormenores, demora-te neles, torna-os teus.
Adormece o corpo e prolonga o sonho. Aconchega-te nas memórias e nas ilusões. Permite-te a ser além do momento. Encontra a porta, conta as estrelas, contempla o brilho dum momento assim. Firma os pés no chão. Ainda é real?
Abusa-me os sentidos.