16 novembro 2008
15 novembro 2008
«A minha primeira vez» - por Florinha
"Olá!
Este assunto trouxe-me à memória a minha primeira vez. Tinha 17 anos e passava férias numa aldeia transmontana, em casa de uma coleguinha do colégio interno onde fui educada.
Pertenço a uma família onde era tradição as meninas estudarem em colégios internos. Lá conheci uma menina da minha idade cuja família possuía uma mansão em Trás-os-Montes. Um ano, por altura das férias grandes, a família da minha amiga convidou-me para passar um mês na casa deles. Os meus pais concordaram e então lá fui. A propriedade dos pais da minha amiga era enorme, com imensos empregados, alguns idosos, outros menos e dois jovens da minha idade, que eram irmãos. A Rabiça e o Tóino.
A Rabiça estava encarregue de ajudar as mulheres da quinta nos trabalhos doméstico e o Tó de ir levar e trazer as vacas do pasto.
Um pouco afastada do casarão da minha amiga, passava uma ribeira de água transparente, bordejada por arvoredo frondoso. Uma tarde em que fazia bastante calor, a minha amiga convidou-me para ir dar um passeio junto à ribeira.
Fomos por um caminho em terra, ladeado por castanheiros e nogueiras, que nos ofereciam a sua fresca sombra. Chegadas à beira da ribeira, sentámo-nos na relva verdinha que atapetava o chão. À nossa volta só se ouvia o ligeiro movimento da folhagem, embalada pela leve brisa, o quase inaudível correr manso das águas e o chilrear da passarada. Passados alguns segundos, deitámo-nos ao lado uma da outra, olhando as núvens que vagarosamente iam passando sobre as nossas cabeças e a conversa entre as duas direccionou-se para assuntos passados no colégio que foram sucedendo no decorrer do ano.
Falámos dos professores, dos que tinhamos gostado mais e menos, das colegas, das com quem tínhamos mais afinidades e menos, até que a minha amiga ficou repentinamente silenciosa. Estranhei a sua atitude e perguntei-lhe se tinha dito alguma coisa de que não tivesse gostado.
Sacudiu a cabeça e garantiu-me que não, para não ser tolinha. Mas como continuasse silenciosa, voltei a perguntar se alguma coisa a incomodava.
Então, voltando o rosto para mim, exibindo um sorriso, onde detectei uma lágrima, respondeu-me:
- Nada, nada, simplesmente saudades.
- O quê? Saudades do colégio? - e, acompanhando a frase com uma gargalhada, acrescentei:
- Por nada deste mundo iria ter saudades daquela prisão!
- Não compreendes - retorquiu a minha amiga - não é do colégio que sinto saudade.
- Ah não? De que é então?
Manteve-se em silêncio durante mais uns segundos e depois acrescentou:
- É de alguém, parvinha!
- De alguém?!
Dei de imediato um pulo e sentei-me:
- De quem? De quem? Tens um namorado? Conta-me, conta-me.
A minha amiga manteve-se impávida olhando o céu e como que ignorando a minha presença.
- Vá lá, então, tens de contar - apressei-a.
Finalmente olhou na minha direcção e perguntou:
- Se eu te contar, juras que não contas a mais ninguém?
- Parva! Achas-me capaz de trair a confidência de uma amiga?
- Juras? - Repetiu ela.
- Se achas que é preciso, sim, juro. Agora vá, conta-me tudo. Tens um namorado?
- Sim! Quer dizer, não!
- Bom, não percebo, afinal, tens um namorado, sim ou não?
- Tenho, mas não é um namorado.
- Não? Então?
- É uma namorada!
A revelação que a minha amiga acabava de me fazer deixou-me de olhos arregalados e de boca aberta. Era capaz de jurar que no meu cérebro não acontecia um único pensamento.
- Ficaste surpreendida? - Perguntou-me ela.
Gaguejei:
- Sim, claro, é evidente que sim.
- Evidente porquê? Também és das pessoas que discriminam duas pessoas do mesmo sexo que se apaixonam uma pela outra?
- Se discrimino? Sei lá. Fazes-me cada pergunta. Mas tu não és uma pessoa qualquer, és minha amiga há quase dez anos, nunca pude pensar que tu...
- Mas afinal o que é que eu tenho assim de tão extraordinário que me impeça de sentir paixão por alguém do mesmo sexo? Repara, Florzinha, não sei se já pensaste algum dia nisso, mas o amor, a paixão, não é algo que tenha a ver com diferenças entre os sexos.
- Quê? Que raio de baralhada estás para aí a dizer?
- Baralhada é o que vai dentro da tua cabeça, relativamente ao que pensas de ti e daqueles com quem partilhas a vida. E, sabes que mais? Estava convencida que eras minha amiga. Afinal, vejo que também tu és dominada pelos preconceitos retrógrados da sociedade em geral.
Dizendo isto, a minha amiga levantou-se e afastou-se, sem me voltar a olhar.
Ainda paralizada pela surpresa deixei-me ficar sentada na relva, enquanto a minha amiga se afastava por entre os arbustos.
Os pensamentos absurdos começaram a fervilhar dentro do meu espírito, tentando mentalmente compreender a atitude da minha amiga e, em simultâneo, tentar concluir quem seria a colega por quem se teria apaixonado.
Não me recordo de quanto tempo permaneci estática, sentada à beira daquela ribeira de águas cristalinas, os pensamentos em alvoroço e a curiosidade a espicaçar-me. Quando voltei à realidade, levantei-me e decidi encontrar a minha amiga, seguindo na mesma direcção que ela havia tomado.
Fui andando pelo mesmo carreiro que ela seguiu quando se afastou. Passados poucos minutos, comecei a distinguir o som não muito distante do tilintar de sininhos. Um pouco mais adiante, abria-se um verde prado cercado por arbustos silvestres e alguns choupos e olmeiros. Espalhadas pelo prado, apascentando bucolicamente, um rebanho de pachorrentas vacas leiteiras, ia pastando as verdes ervas. Com a minha chegada, a curiosidade fez com que alguns dos animais levantassem a cabeça e, olhando para mim, soltassem alguns mugidos, como que de boas-vindas.
Confesso que o quadro tão simples, calmo e natural afastou por completo as imagens suspeitadas da minha amiga nos braços de outra rapariga, que até há instantes ocupavam por completo o meu pensamento.
Parei extasiada olhando os animais, rindo até do ar intrigado com que as vacas me olhavam. Depois, ao prescrutar o espaço para lá do prado, pareceu-me reconhecer ao longe a figura da minha amiga, andando em sentido contrário ao ponto onde me encontrava. Estava longe demais para me ouvir se a chamasse. Voltei a pensar na conversa que tínhamos tido e agora, um pouco mais de cabeça fria, decidi que devia ter uma conversa com ela. Não para lhe criticar as decisões e escolhas, mas sim para lhe manifestar a minha solideriedade e também para lhe oferecer o apoio que começava agora a perceber ela estaria a necessitar.
Decidi então atravessar o prado, de forma a poder alcançar a minha amiga mais rapidamente.
Contudo, quando o comecei a fazer, notei que as vaquinhas se começaram a movimentar na minha direcção. Lentamente, mas sempre no meu sentido.
Confesso, assustei-me bastante e quase que paralisei, sem saber para onde me dirigir.
Nesse momento, um assobio estridente e ordenativo rasgou os ares. Surpreendida, olhei na direcção de onde me pareceu que o assobio tinha partido e então o meu olhar encontrou a figura esguia do Tóino, encostado ao tronco de um frondoso castanheiro, de cajado na mão, no seu posto de guardador das vacas.
Uma imensa sensação de alívio invadiu-me os sentidos, quando reconheci o Tóino, reforçada pelo facto de aquele assobio ter feito as vaquinhas mudarem automáticamente de atitude.
Sem querer dar a impressão de que já começava a ficar em pânico, dirigi-me ao Tóino, como que para o cumprimentar.
- Olá, Tóino, estás bom?
O Tóino corou com a minha presença e meio atabalhoadamente respondeu retirando a boina da cabeça:
- Estou xim, menina, obrigado.
Ri-me, ainda denotando os restos do nervoso que sentira e respondi-lhe:
- Ora Tóino, não me trates por menina, trata-me por Flor, ou Florinha, como preferires.
Tóino não respondeu, mas pareceu que ruborizara um pouco mais.
- Diz-me uma coisa, Tóino. A minha amiga passou por aqui há pouco?
Tóino abanou ligeiramente a cabeça de forma afirmativa.
- E falou contigo?
- Não, menina, atravessou pelo meio das vacas e seguiu sempre.
- Ó Tóino, já te pedi para não me tratares por menina. Não podes fazer o favor de me tratar pelo nome?
Tóino mexeu-se, demonstrando algum desconforto e limitou-se a abanar de novo a cabeça de forma afirmativa.
Aproximei-me mais dele e colocando-lhe uma mão sobre o ombro disse-lhe:
- Não precisas de me tratar com essa deferência, Tóino. Afinal, somos da mesma idade e não há nada que nos impeça de sermos amigos.
A companhia envergonhada, mas simples e simpática do Tóino, levou-me a decidir adiar o encontro e a conversa com a minha amiga. Pensei... afinal, vou-lhe dar mais algum tempo para que possamos tanto ela como eu assentar um pouco melhor as ideias. Talvez logo, quando nos encontrarmos ambas sozinhas no quarto, ou então amanhã, encontre uma oportunidade favorável para conversarmos.
Voltei a concentrar a minha atenção na pessoa do Tóino e quis saber pormenores acerca de como eram passados os seus dias ali na quinta.
Penso que o assunto de conversa lhe agradou, pois senti que se começou a sentir um pouco mais à vontade a conversar. Passado um bocado, sentei-me ao lado do tronco do castanheiro e convidei-o a sentar-se ao meu lado. Toino desfiava o nome de cada uma das vacas que guardava. Sabia o nome de todas sem excepção, o que constituiu grande admiração para mim.
- Como é que consegues saber o nome de tantas vacas sem trocar um único? Ou estás a inventar nomes como se fossem realmente esses?
Tóino soltou uma risada e retorquiu:
- A menina Flor não conhece também de cor o nome das ruas de Lisboa?
- Bom, isso é outra coisa.
- Outra coisa como?
- Então repara, Tóino. Para mim estas vacas são todas iguais, por isso estranho que não as confundas entre si.
Tóino soltou uma gargalhada ainda maior:
- Desculpe, menina Flor., Para mim, as ruas de Lisboa é que são todas iguais, uma confusão, mas as minhas vacas não. A Malhada é completamente diferente da Estrelinha e da Teimosa e da ...
- Pára, pára, acho que já entendi perfeitamente o teu ponto de vista. Realmente tens razão, apesar de não conseguir distinguir uma das outras.
Rimos ambos com satisfação e, sem querer, encostámos os ombros e a cabeça um ao outro.
Este gesto íntimo durou breves segundos, os suficientes para que uma sensação de conforto e bem estar me invadisse por completo.
Contudo, Tóino imediatamente se afastou e, muito vermelho, fez imediatamente menção de se levantar enquanto pedia desculpas.
- Que é isso agora, Tóino? Não sejas pateta. - Disse-lhe estendendo-lhe a mão e convidando-o a sentar-se de novo ao meu lado.
Tóino hesitou, manteve-se de pé sem se mover, olhando-me surpreendido.
Vá lá, Tóino, senta-te aqui e continuemos a nossa conversa que me estava a agradar bastante.
Voltou a sentar-se, ajeitou a boina e evitou olhar-me de novo, fingindo que prestava atenção ao movimento das vacas no pasto.
- Ainda não me disseste de que forma passas os teus dias aqui na quinta. Tens amigos?
- Só na aldeia. Quando lá vou aos domingos é que os vejo e conversamos. Na altura das festas vamos às outras aldeias.
Respirei fundo e pensei no contraste entre a vida de um rapaz do campo e da cidade.
De súbito, saíu-me uma pergunta intuitiva, em que não tinha pensado sequer e que não me deu tempo de suster:
- Tens namorada, Tóino?
Florinha"
Este assunto trouxe-me à memória a minha primeira vez. Tinha 17 anos e passava férias numa aldeia transmontana, em casa de uma coleguinha do colégio interno onde fui educada.
Pertenço a uma família onde era tradição as meninas estudarem em colégios internos. Lá conheci uma menina da minha idade cuja família possuía uma mansão em Trás-os-Montes. Um ano, por altura das férias grandes, a família da minha amiga convidou-me para passar um mês na casa deles. Os meus pais concordaram e então lá fui. A propriedade dos pais da minha amiga era enorme, com imensos empregados, alguns idosos, outros menos e dois jovens da minha idade, que eram irmãos. A Rabiça e o Tóino.
A Rabiça estava encarregue de ajudar as mulheres da quinta nos trabalhos doméstico e o Tó de ir levar e trazer as vacas do pasto.
Um pouco afastada do casarão da minha amiga, passava uma ribeira de água transparente, bordejada por arvoredo frondoso. Uma tarde em que fazia bastante calor, a minha amiga convidou-me para ir dar um passeio junto à ribeira.
Fomos por um caminho em terra, ladeado por castanheiros e nogueiras, que nos ofereciam a sua fresca sombra. Chegadas à beira da ribeira, sentámo-nos na relva verdinha que atapetava o chão. À nossa volta só se ouvia o ligeiro movimento da folhagem, embalada pela leve brisa, o quase inaudível correr manso das águas e o chilrear da passarada. Passados alguns segundos, deitámo-nos ao lado uma da outra, olhando as núvens que vagarosamente iam passando sobre as nossas cabeças e a conversa entre as duas direccionou-se para assuntos passados no colégio que foram sucedendo no decorrer do ano.
Falámos dos professores, dos que tinhamos gostado mais e menos, das colegas, das com quem tínhamos mais afinidades e menos, até que a minha amiga ficou repentinamente silenciosa. Estranhei a sua atitude e perguntei-lhe se tinha dito alguma coisa de que não tivesse gostado.
Sacudiu a cabeça e garantiu-me que não, para não ser tolinha. Mas como continuasse silenciosa, voltei a perguntar se alguma coisa a incomodava.
Então, voltando o rosto para mim, exibindo um sorriso, onde detectei uma lágrima, respondeu-me:
- Nada, nada, simplesmente saudades.
- O quê? Saudades do colégio? - e, acompanhando a frase com uma gargalhada, acrescentei:
- Por nada deste mundo iria ter saudades daquela prisão!
- Não compreendes - retorquiu a minha amiga - não é do colégio que sinto saudade.
- Ah não? De que é então?
Manteve-se em silêncio durante mais uns segundos e depois acrescentou:
- É de alguém, parvinha!
- De alguém?!
Dei de imediato um pulo e sentei-me:
- De quem? De quem? Tens um namorado? Conta-me, conta-me.
A minha amiga manteve-se impávida olhando o céu e como que ignorando a minha presença.
- Vá lá, então, tens de contar - apressei-a.
Finalmente olhou na minha direcção e perguntou:
- Se eu te contar, juras que não contas a mais ninguém?
- Parva! Achas-me capaz de trair a confidência de uma amiga?
- Juras? - Repetiu ela.
- Se achas que é preciso, sim, juro. Agora vá, conta-me tudo. Tens um namorado?
- Sim! Quer dizer, não!
- Bom, não percebo, afinal, tens um namorado, sim ou não?
- Tenho, mas não é um namorado.
- Não? Então?
- É uma namorada!
A revelação que a minha amiga acabava de me fazer deixou-me de olhos arregalados e de boca aberta. Era capaz de jurar que no meu cérebro não acontecia um único pensamento.
- Ficaste surpreendida? - Perguntou-me ela.
Gaguejei:
- Sim, claro, é evidente que sim.
- Evidente porquê? Também és das pessoas que discriminam duas pessoas do mesmo sexo que se apaixonam uma pela outra?
- Se discrimino? Sei lá. Fazes-me cada pergunta. Mas tu não és uma pessoa qualquer, és minha amiga há quase dez anos, nunca pude pensar que tu...
- Mas afinal o que é que eu tenho assim de tão extraordinário que me impeça de sentir paixão por alguém do mesmo sexo? Repara, Florzinha, não sei se já pensaste algum dia nisso, mas o amor, a paixão, não é algo que tenha a ver com diferenças entre os sexos.
- Quê? Que raio de baralhada estás para aí a dizer?
- Baralhada é o que vai dentro da tua cabeça, relativamente ao que pensas de ti e daqueles com quem partilhas a vida. E, sabes que mais? Estava convencida que eras minha amiga. Afinal, vejo que também tu és dominada pelos preconceitos retrógrados da sociedade em geral.
Dizendo isto, a minha amiga levantou-se e afastou-se, sem me voltar a olhar.
Ainda paralizada pela surpresa deixei-me ficar sentada na relva, enquanto a minha amiga se afastava por entre os arbustos.
Os pensamentos absurdos começaram a fervilhar dentro do meu espírito, tentando mentalmente compreender a atitude da minha amiga e, em simultâneo, tentar concluir quem seria a colega por quem se teria apaixonado.
Não me recordo de quanto tempo permaneci estática, sentada à beira daquela ribeira de águas cristalinas, os pensamentos em alvoroço e a curiosidade a espicaçar-me. Quando voltei à realidade, levantei-me e decidi encontrar a minha amiga, seguindo na mesma direcção que ela havia tomado.
Fui andando pelo mesmo carreiro que ela seguiu quando se afastou. Passados poucos minutos, comecei a distinguir o som não muito distante do tilintar de sininhos. Um pouco mais adiante, abria-se um verde prado cercado por arbustos silvestres e alguns choupos e olmeiros. Espalhadas pelo prado, apascentando bucolicamente, um rebanho de pachorrentas vacas leiteiras, ia pastando as verdes ervas. Com a minha chegada, a curiosidade fez com que alguns dos animais levantassem a cabeça e, olhando para mim, soltassem alguns mugidos, como que de boas-vindas.
Confesso que o quadro tão simples, calmo e natural afastou por completo as imagens suspeitadas da minha amiga nos braços de outra rapariga, que até há instantes ocupavam por completo o meu pensamento.
Parei extasiada olhando os animais, rindo até do ar intrigado com que as vacas me olhavam. Depois, ao prescrutar o espaço para lá do prado, pareceu-me reconhecer ao longe a figura da minha amiga, andando em sentido contrário ao ponto onde me encontrava. Estava longe demais para me ouvir se a chamasse. Voltei a pensar na conversa que tínhamos tido e agora, um pouco mais de cabeça fria, decidi que devia ter uma conversa com ela. Não para lhe criticar as decisões e escolhas, mas sim para lhe manifestar a minha solideriedade e também para lhe oferecer o apoio que começava agora a perceber ela estaria a necessitar.
Decidi então atravessar o prado, de forma a poder alcançar a minha amiga mais rapidamente.
Contudo, quando o comecei a fazer, notei que as vaquinhas se começaram a movimentar na minha direcção. Lentamente, mas sempre no meu sentido.
Confesso, assustei-me bastante e quase que paralisei, sem saber para onde me dirigir.
Nesse momento, um assobio estridente e ordenativo rasgou os ares. Surpreendida, olhei na direcção de onde me pareceu que o assobio tinha partido e então o meu olhar encontrou a figura esguia do Tóino, encostado ao tronco de um frondoso castanheiro, de cajado na mão, no seu posto de guardador das vacas.
Uma imensa sensação de alívio invadiu-me os sentidos, quando reconheci o Tóino, reforçada pelo facto de aquele assobio ter feito as vaquinhas mudarem automáticamente de atitude.
Sem querer dar a impressão de que já começava a ficar em pânico, dirigi-me ao Tóino, como que para o cumprimentar.
- Olá, Tóino, estás bom?
O Tóino corou com a minha presença e meio atabalhoadamente respondeu retirando a boina da cabeça:
- Estou xim, menina, obrigado.
Ri-me, ainda denotando os restos do nervoso que sentira e respondi-lhe:
- Ora Tóino, não me trates por menina, trata-me por Flor, ou Florinha, como preferires.
Tóino não respondeu, mas pareceu que ruborizara um pouco mais.
- Diz-me uma coisa, Tóino. A minha amiga passou por aqui há pouco?
Tóino abanou ligeiramente a cabeça de forma afirmativa.
- E falou contigo?
- Não, menina, atravessou pelo meio das vacas e seguiu sempre.
- Ó Tóino, já te pedi para não me tratares por menina. Não podes fazer o favor de me tratar pelo nome?
Tóino mexeu-se, demonstrando algum desconforto e limitou-se a abanar de novo a cabeça de forma afirmativa.
Aproximei-me mais dele e colocando-lhe uma mão sobre o ombro disse-lhe:
- Não precisas de me tratar com essa deferência, Tóino. Afinal, somos da mesma idade e não há nada que nos impeça de sermos amigos.
A companhia envergonhada, mas simples e simpática do Tóino, levou-me a decidir adiar o encontro e a conversa com a minha amiga. Pensei... afinal, vou-lhe dar mais algum tempo para que possamos tanto ela como eu assentar um pouco melhor as ideias. Talvez logo, quando nos encontrarmos ambas sozinhas no quarto, ou então amanhã, encontre uma oportunidade favorável para conversarmos.
Voltei a concentrar a minha atenção na pessoa do Tóino e quis saber pormenores acerca de como eram passados os seus dias ali na quinta.
Penso que o assunto de conversa lhe agradou, pois senti que se começou a sentir um pouco mais à vontade a conversar. Passado um bocado, sentei-me ao lado do tronco do castanheiro e convidei-o a sentar-se ao meu lado. Toino desfiava o nome de cada uma das vacas que guardava. Sabia o nome de todas sem excepção, o que constituiu grande admiração para mim.
- Como é que consegues saber o nome de tantas vacas sem trocar um único? Ou estás a inventar nomes como se fossem realmente esses?
Tóino soltou uma risada e retorquiu:
- A menina Flor não conhece também de cor o nome das ruas de Lisboa?
- Bom, isso é outra coisa.
- Outra coisa como?
- Então repara, Tóino. Para mim estas vacas são todas iguais, por isso estranho que não as confundas entre si.
Tóino soltou uma gargalhada ainda maior:
- Desculpe, menina Flor., Para mim, as ruas de Lisboa é que são todas iguais, uma confusão, mas as minhas vacas não. A Malhada é completamente diferente da Estrelinha e da Teimosa e da ...
- Pára, pára, acho que já entendi perfeitamente o teu ponto de vista. Realmente tens razão, apesar de não conseguir distinguir uma das outras.
Rimos ambos com satisfação e, sem querer, encostámos os ombros e a cabeça um ao outro.
Este gesto íntimo durou breves segundos, os suficientes para que uma sensação de conforto e bem estar me invadisse por completo.
Contudo, Tóino imediatamente se afastou e, muito vermelho, fez imediatamente menção de se levantar enquanto pedia desculpas.
- Que é isso agora, Tóino? Não sejas pateta. - Disse-lhe estendendo-lhe a mão e convidando-o a sentar-se de novo ao meu lado.
Tóino hesitou, manteve-se de pé sem se mover, olhando-me surpreendido.
Vá lá, Tóino, senta-te aqui e continuemos a nossa conversa que me estava a agradar bastante.
Voltou a sentar-se, ajeitou a boina e evitou olhar-me de novo, fingindo que prestava atenção ao movimento das vacas no pasto.
- Ainda não me disseste de que forma passas os teus dias aqui na quinta. Tens amigos?
- Só na aldeia. Quando lá vou aos domingos é que os vejo e conversamos. Na altura das festas vamos às outras aldeias.
Respirei fundo e pensei no contraste entre a vida de um rapaz do campo e da cidade.
De súbito, saíu-me uma pergunta intuitiva, em que não tinha pensado sequer e que não me deu tempo de suster:
- Tens namorada, Tóino?
Florinha"
Indiscrições
14 novembro 2008
A barbie...
Quando esta manhã estava a sair da Missa, parei para acender um cigarro e quando tinha a beata na mão ouvi uma outra confidenciar com uma velha que para ali estava: as mulheres de hoje são todas umas pêgas.
É o tipo de frase que me irrita: acho intolerável que se confunda a maioria com a totalidade. Por outro lado, não devemos culpar as gajas, que elas são umas vítimas, sem culpa de serem quase todas umas cabras.
Desde a mais terna idade que são envenenadas com modelos de conduta errados e devassos, pensados por mentes diabólicas, numa tríade de quatro partes, envolvendo feministas lésbicas (passo a redundância), comunistas, publicitários e capitalistas, numa conspiração engendrada pelos países árabes contra o mundo ocidental. Tomemos como exemplo a Barbie, esse símbolo plasmado da futilidade feminina (se o pleonasmo me é permitido), que nos é vendido sobre a ternurenta capa de uma boneca mimosa e inofensiva, um divertimento inócuo para as mais tenras petizes, escondendo em si vis e repugnantes perigos para a formação pessoal das nossas pequenas meninas, porquanto têm como diva uma boneca cujo único objectivo na vida é comprar acessórios e levar com o Ken, tem um corpo de subnutrida, veste-se com roupinhas de rameira e, para cúmulo, vende-se a qualquer um que pague 50 Euros! Serei o único a não compreender o que perpassa na cabeça de um pai que oferece à sua filha menor uma boneca destas? Onde está a policia, sempre tão lesta na arte de esfregar a caneta no bloco das multas, que não prende estes tarados obscenos, que oferecem este presente às suas filhas, esta boneca diabólica, com toda a certeza na expectativa de mais tarde viverem da abundância do proxenetismo familiar? Serei o único a perceber que um pai que oferece esta boneca à filha, comete o crime de proxenetismo na forma tentada e futura?
Honestamente: quem cresce rodeado deste simbolo da podridão e do pecado é condenável por chegar à idade adulta e andar a investigar que mistérios se escondem nas intimidades dos Kens?
É o tipo de frase que me irrita: acho intolerável que se confunda a maioria com a totalidade. Por outro lado, não devemos culpar as gajas, que elas são umas vítimas, sem culpa de serem quase todas umas cabras.
Desde a mais terna idade que são envenenadas com modelos de conduta errados e devassos, pensados por mentes diabólicas, numa tríade de quatro partes, envolvendo feministas lésbicas (passo a redundância), comunistas, publicitários e capitalistas, numa conspiração engendrada pelos países árabes contra o mundo ocidental. Tomemos como exemplo a Barbie, esse símbolo plasmado da futilidade feminina (se o pleonasmo me é permitido), que nos é vendido sobre a ternurenta capa de uma boneca mimosa e inofensiva, um divertimento inócuo para as mais tenras petizes, escondendo em si vis e repugnantes perigos para a formação pessoal das nossas pequenas meninas, porquanto têm como diva uma boneca cujo único objectivo na vida é comprar acessórios e levar com o Ken, tem um corpo de subnutrida, veste-se com roupinhas de rameira e, para cúmulo, vende-se a qualquer um que pague 50 Euros! Serei o único a não compreender o que perpassa na cabeça de um pai que oferece à sua filha menor uma boneca destas? Onde está a policia, sempre tão lesta na arte de esfregar a caneta no bloco das multas, que não prende estes tarados obscenos, que oferecem este presente às suas filhas, esta boneca diabólica, com toda a certeza na expectativa de mais tarde viverem da abundância do proxenetismo familiar? Serei o único a perceber que um pai que oferece esta boneca à filha, comete o crime de proxenetismo na forma tentada e futura?
Honestamente: quem cresce rodeado deste simbolo da podridão e do pecado é condenável por chegar à idade adulta e andar a investigar que mistérios se escondem nas intimidades dos Kens?
Festa rija no hospital
(para visualizares é preciso que faças parte do grupo de mensagens da funda São,
já que este e outros ficheiros estão disponíveis para membros e membranas
na página de ficheiros do grupo)
13 novembro 2008
Que Eros vos guarde, Erosfarma!
Para o 10º Encontra-a-Funda, a Erosfarma oferece umas algemas em pêlo púrpura, um vibrador preto "com toque de veludo", um bloqueador de pulsos e uma caixinha com uns boxers "adoro todas as partes do teu corpo, especialmente..." e uma venda "ama-me...".
Estas ofertas serão entregues no Sãorau a quem provar merecê-las.
Já há 21 inscrições confirmadas. E tu?
Mamma Mia
Ontem fui ver o Mamma Mia e não gostei. Acho que a publicidade enganosa devia ser proibida. Mamma Mia, pensei eu, deve ser uma grande produção porno/erótica que narra a história de uma jovem grega e boazuda chamada Mia que gosta muito de praticar o sexo oral. Afinal era uma cambada de velhotes a dançar e a cantar músicas da banda mais drag queen do planeta.
12 novembro 2008
Felina
As pedras de gelo tiniam no copo e ele estava como eu mais gostava. Sentado. É que era alto, tão alto que para me beijar descrevia com a coluna um enorme arco flexível maior que o da Ponte da Arrábida que me catapultava logo para quando em miúda me esticava toda para dar umas folhas à girafa no Jardim Zoológico.
Com um qualquer felino coloquei-me em posição de ataque, os olhos fixos nele, as pernas tensas com as mãos alapadas nos joelhos a ajudar o balanço das ancas e coxas em frenesim ora para um lado ora para o outro até ele sorrir como quem nem aí tinha o sentido e gingar a frase típica do és giraaaaaa arrastando a última letra como se a sua língua estivesse em pleno sexo oral.
Em dois pulos, alcei-me para o seu colo e ajeitei-me mais para a frente porque estas cadeiras de rodinhas que desgraçadamente se usam frente ao computador dão muita instabilidade e que raio, se tinha tido o cuidado prévio de envergar saia sem cuecas não ia desperdiçar agora a sensação pélvica do crescimento do objecto de desejo mesmo que sob a diáfana capa dos calções de casa.
Informei-o então que como supunha que os seus óculos não eram inquebráveis como os das criancinhas os ia retirar para acelerar nele confortavelmente, tanto mais que lambidelas cara abaixo e orelha acima e bafos quentes de respirações ofegantes lhe poriam as lentes num nojo.
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