05 janeiro 2010

Livro de Eros (fragmentos)

por Casimiro de Brito


1
A morte não existe.
Tudo é sexo e canto.

14
O sexo é um festim; amar, uma cerimónia.

48
— Tenho um colchão novo e anseio prová-lo dançando contigo nesse chão. Abri uma garrafa de um Porto de 1988 e vou bebê-lo em dois copos pensando que o bebes comigo. Tenho frio. E bem sabes que só me aqueço quando te aqueço e só ardo quando te amo.

- Quando me meto na cama busco o ninho, onde estás? e não posso aconchegar-me se não em ti. Não te encontrar é encontrar apenas o corpo do frio. Beberei contigo esse Porto. Eis os copos, vou beber pelos dois. Depois falaremos cantaremos dançaremos foderemos quando os eflúvios se transformarem em presença real.

316
Talvez consigas não te perder quando vês os lábios secretos de uma mulher: um labirinto, e tanta profusão! Mas uma vez lá dentro o mistério é ainda maior, mas cola-se ao teu, e então tudo é possível, até a morte. A morte verdadeira de quem acaba de renascer, uma e outra vez.

329
Escuto no corpo, no sexo das mulheres que amo, a música maternal. O começo do meu nome, do meu próprio corpo. Que são vários ou este apenas, muito e múltiplo. Talvez não busque nas mulheres que amo o mito da mulher original — o meu silêncio antes de nascer, o meu rosto anterior ao meu nascimento — talvez busque a fonte feminina, a dos mitos, que em mim também prolifera.


fotografias de Sylvie Blum

Cento e sessenta continhos, Ruth?


Ando a profetizar o fim da Playboy portuguesa desde há vários meses, embora tenha tido esperança aqui e ali. Considerando que a revista não tem, sequer, um ano completo, isto significa que edição após edição é mais acentuada a vertigem da Playboy do que a de quem observe a Torre de Pisa. Não sou insensível, sofro de forma solidária com a alcateia, sinto em mim o pulsar do desespero masculino, assim como senti o arrepio imenso da capa de Dezembro quando todos esperávamos uma gaja (pela amostra anterior já nem a esperavamos mesmo boa, só gaja já era bom) e nos entrou pela retina dentro o Ricardo Araújo Pereira. Não desfazendo. Mas para quem os tem no lugar, não é o que se pretende.

Quando se pensava que era impossível tombar mais, e ainda a colocar gelo para aliviar a dôr, eis que a Playboy tropeça e nos apresenta Ruth Marlene e sua irmã. Isto devia ser bom, porque depois do Ricardo em Dezembro estavamos finalmente de volta às mulheres, e porque até são duas, e não se pode dizer que sejam más figuras à primeira vista, mas há coisas que me ficam a fazer uma certa comichão e temo começar o ano com uma conjuntivite. Por um lado surpreende-me que o cachet seja de oitocentos euros. Se ignorarmos as flutuações no valor do dinheiro e nos apetecer fazer, assim de rajada, uma tradução curta e grossa para escudos, a rapariga apresentou-se ao mundo como a ele veio – excepto tatuagens que vieram depois, e não sei se para melhor – por cento e sessenta continhos. Mesmo sabendo que a inflacção tem andado pela rua da amargura, parece-me que cento e sessenta continhos é pouquinho. Dá oitenta continhos por mamoca.

Deviamos estar, de algum modo, satisfeitos. Que eu me lembre, e tenha visto, esta edição é a primeira, ou das primeiras, em que a figura de capa apresenta, com alguma visibilidade, a sua vulva. Ora, se por um lado isso era algo que o Ricardo Araújo Pereira não podia, de todo, fazer, por outro, era algo que nós machos andavamos a reclamar desde há longos meses: a ausência de vulvas nas mulheres portuguesas. Mas Ruth Marlene, novamente, apresenta-se com a sua vulva tal como veio ao mundo – e aqui, literalmente, não no tamanho é certo, mas seguramente no preparo piloso -, e não só ela como também a irmã.

Mas o que me preocupa é que se por um lado eu não sei exactamente se aquela é a Ruth Marlene, porque não a conheço muito bem e porque não está nada parecida com nada que eu me lembre dela, por outro temo que as raparigas estejam em sofrimento dentro de algum plástico transparente muito justo. É que é isso que elas me parecem: plásticas. Se a carga de photoshop é assim tão pesada, algo vai mal, e isso remete-me de novo para os cento e sessenta continhos. Janeiro é mês de saldos. Pode ser isso. Mas que isto faz cair fortemente a cotação da vulva e da mamoca, faz!



Cavalos frescos


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oglaf.com

Para combater o frio no equipamento!

04 janeiro 2010

Estúdio Raposa - Programa 44


Poesia erótica de Maria Escritos

Luís Gaspar resolveu criar um audioblog em que conta, de viva voz, algumas das mais conhecidas histórias. Dos Contos Tradicionais (reunidos por Teófilo Braga) ao Romance da Raposa (de Aquilino Ribeiro), passando por Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade ou a narrativa da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. Neste blog há ainda espaço para novos autores, incluindo aqueles que ainda não chegaram às estrelas.
No Estúdio Raposa, Luís Gaspar arranca as palavras do papel e verbaliza-as, soprando-lhes vida nova, fazendo-as flutuar em sonoras centelhas de luz. Recitar realiza, quebrando o silêncio, aquilo que o silêncio pretende e não consegue.
Ouse ouvir a voz de Luís Gaspar com poesia de Maria Escritos neste programa 44 da rubrica "Poesia Erótica".

Maria Escritos
Blog Escritos e poesia

Filhos de um deus maior

Em quinze dias, a plataforma de cidadãos preocupados com a moral e os bons costumes conseguiu reunir 75 mil assinaturas para forçar a discussão parlamentar de um referendo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Provavelmente, e não tardará a confirmar-se, muitos dos que darão a cara por esta iniciativa (tudo cidadãos espontaneamente organizados, a igreja católica não tem nada a ver...) deram-na antes contra o segundo referendo do aborto por causa dos custos que tal representava para o país.
Nada tenho contra a liberdade de actuação destes cidadãos que são incapazes de mexerem uma palha quanto ao estado da Justiça ou de muitos outros males do país mas se mobilizam em grande força contra a liberdade de escolha de outros cidadãos. Ou seja, acho muito bem que usufruam do direito que a liberdade lhes concede de poderem tentar limitar a liberdade dos outros. É paradoxal, mas é assim que a coisa funciona.
Contudo, eu possuo outro direito, o da liberdade de expressão, que me permite afirmá-los retrógrados, falsos puritanos ou mesmo cretinos para manifestar o meu desagrado quanto ao que de mau representam para o modelo de sociedade que gostaria de ver implantado no meu país.
Muitos dos que se mobilizam desta forma contra tudo quanto seja liberdade individual de decisão que fuja ao seu padrão convencional são acérrimos defensores da moribunda instituição do casamento, embora não hesitem em se insurgir contra o mesmo quando está em causa o papão da homossexualidade e qualquer reconhecimento formal da sua existência.
E não se mobilizam contra outra coisa que não impedirem outros de fazerem escolhas que reprovam. Não está em causa qualquer mal que lhes seja imposto, não serão obrigados a casar com pessoas do mesmo sexo. Não querem é que outros o possam fazer porque isso colide com a sua moral pacóvia que tanta felicidade produz, pelo menos nas fachadas por detrás das quais vão ocultando os seus desvarios e outros desvios (que querem manter) secretos. Tão secretos como o amor homossexual, essa aberração como a sentem do ponto de vista social embora com ela convivam inevitavelmente (às escondidas) no seio da sua congregação beata.
Eu não sou gay, mas podia. Não apoio nem deixo de apoiar tal opção, simplesmente não são contas do meu rosário. Mas se fosse, sentir-me-ia insultado pela energia com que esta ala conservadora do costume se empenha em marginalizar todos quantos não sigam a mesma cartilha.
Na prática, eleições levadas a cabo há pouco tempo legitimaram a maioria de esquerda que no parlamento viabilizou a medida que o Governo democraticamente eleito propôs no seu programa para esta legislatura e o povo ainda assim escolheu.
Mas para a brigada do reumático social, a democracia vale o que vale e por isso erguem-se das suas tocas bafientas sempre que está em causa o assumir de realidades que de alguma forma colidam com a sua perspectiva do que os outros devem ser ou fazer.
Foi assim com o aborto, é assim com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, será assim na questão da legalização absoluta das drogas leves que o Bloco de Esquerda e algumas juventudes partidárias muito práfrentex deixaram escondidas na gaveta para não se exporem à reacção costumeira destas seitas puritanas.
Sim, sou radical no discurso. Tanto quanto esta gente que engloba, por exemplo, o presidente socialista(?) da Câmara de Loures que não ajudei a eleger e agora percebo porquê, acaba por ser quando chamada a explicar as razões da sua oposição à legislação em causa.
Não há fumfum nem gaitinhas: em causa está o direito à diferença, algo que os conservadores de pacotilha, os moralistas da treta, jamais saberão tolerar mesmo quando essa opção, dos outros, não lhes é imposta.

Postalinho de Torres Novas

A propósito da Desfolhada do Shark, recebi um postalinho no Clube de membros e membranas do blog a funda São:

"Há uma estátua de uma folha ratola na minha terra"
Nuno Silva


Torres Novas - Estátua no Jardim

Avental comprado em Itália

Tenho tantas t-shirts, toalhas, aventais, panos bordados,... na minha colecção que até poderia abrir uma sexão (sim, sim, é o novo acordo ortográfico) de têxteis lar.
Comprei este aventalinho em Roma... e já mora na minha colecção.

03 janeiro 2010

Blind date



Marcámos encontro.

Sabíamos pouco um do outro:
o sexo, o nome e a idade.
Tínhamos trocado algumas fotos
(cada um de nós pensando
que as fotos podiam ser
de outra pessoa qualquer!)
e avançámos para o conhecimento
pessoal, cara a cara, corpo a corpo.
Dizer que ficámos de boca aberta
- de espanto positivo -
seria mentir.
- Adeus, boa tarde, foi um prazer.

E cada um foi à sua vida;
felizmente.

Foto e poesia de Paula Raposo

Tempo de anoitecer (Epilogue) @MissJoanaWell


Não quero madrugar na tua noite, quero que anoiteças no meu dia.
Não me interessa se o teu Planeta tem vários Sóis. Eu sou Lua. Não existo nas mesmas horas que as tuas Estrelas. Existo na tua hora.
Talvez ainda não saiba como é. Mas talvez saiba como devia ser. E isso basta-me.
Este é o meu anoitecer. Atende ao compasso ou amanhece daqui para fora.

O tempo não é a medida do meu peito. Aqui dentro não mora o que passa.
Quando morrer amanhã, serei, hoje, eternamente tua.
As nossa palavras só têm segundos de distância. Como nós, enquanto as tivermos.
Tu, talvez não. Hoje vai estar colado ao resto dos meus dias. Mesmo que te coles ao meu "nunca mais". Serás sempre hoje.

Não, não é uma bola, o que te dei. É um Mundo. O meu.

Lucélia Santos - Bonitinha Mas Ordinária 2

Cena do filme «Bonitinha mas ordinária», onde Lucélia Santos se diverte com 5 negros à frente do marido, que fica no carro a ver tudo.



Lucélia Santos - Bonitinha Mas Ordinária 2
by EunusRex

Sexo vaginoral


crica para visitares a página John & John de d!o

02 janeiro 2010

Erotismo num crepúsculo de Janeiro

Para uma tarde de Janeiro estava até bastante quente, com os seus dezoito graus Celsius. Quando se tem pouco cabelo, até uma brisa mais ligeira se nota, agitando os poucos cabelinhos curtos que resistem. Consigo dizer que havia uma brisa ligeira nessa tarde. O sol, já muito baixo no horizonte, projectava sombras longas das pessoas que caminhavam no passadiço entre o hotel e a costa rochosa. O mar batia nos grandes blocos de granito e por vezes salpicava, havia o cheiro no ar, do sal, do sargaço, e de perfume.

Chegaste e sentaste-te em silêncio com as tuas botas pretas de camurça, meias pretas opacas e saia, também preta, acima do joelho. Sabias que ia reparar nisso. Ao longo dos anos fui aperfeiçoando a capacidade de ver sem olhar, e de olhar de lado sem cansaço. Como permanecia em silêncio, perguntaste, «não dizes nada?».

Não. Não tinha dito nada. Tinha apenas ficado a pensar no momento. No que aquilo era. A sentir a cadeira sob mim, o copo na minha mão, o sol que ainda me iluminava a cara, e a tua figura ao lado, enquanto permaneciamos naquela varanda de quarto de hotel. Há muitos, muitos anos atrás qualquer pornografia chegava. Quando se é adolescente o que se quer é sexo, muito sexo, sempre sexo. Não precisa de preparação, precisa de instruções mas não queremos saber, pode vir a qualquer hora, em qualquer lugar. Há muitos anos atrás, uma porcaria nórdica qualquer, ou um da Cicciolina, serviria perfeitamente. E qualquer mulher, sem grandes arranjos, serviria. Quando finalmente viro a cara e te observo acabo por te dizer que «mas agora é tudo tão diferente. Acho que umas loiras nórdicas já não me deixariam feliz, ainda que fossem duas, ou três».

Não creio que fizesse qualquer tipo de sentido para ti. Não entenderias. Não esperaria que entendesses. Estavas recostada na cadeira mas endireitaste-te e chegaste-te um pouco à frente. Estavas à minha direita, e tinhas a tua perna direita um pouco mais à frente que a esquerda, que dobraste um pouco mais quando te reposicionaste na cadeira. A saia subiu um pouco, ficou solidária com o têxtil que te servia de assento e deixou-me ver o contrastre da pele branca das tuas coxas, com o preto das meias que as dividiam em dois, que insistiam em manter-se no lugar por teimosa silicone. Disfarcei.

- Mas tu nem gostas de loiras! E que ias tu fazer com duas, quanto menos três? – e rias, bem disposta.

Faria com duas ou com o três o mesmo que com uma. Existia na minha cabeça imaginação suficiente para me entreter. Mas o importante já nem era isso. O importante é que eu já não queria duas ou três, já não queria sexo em pacote, do tipo instantâneo. Queria erotismo. Não imaginava que me entendesses.

- Nem sempre o que importa é foder. Repara… seria para mim, agora e já, muito mais excitante poder tocar-te sem fronteiras, dar-te prazer, e nunca te foder. Assim, pelo menos, a sedução seria mais longa. Talvez até nunca terminasse.

- Eu sei. Não quero que me fodas. Mas podes tocar-me. Se quiseres. Eu entendo.

Correndo os fechos tiraste primeiro uma bota, depois a outra. E mesmo aí usaste todos os truques, nunca pousando totalmente os pés no chão, a não ser para caminhar, e mesmo assim, mal apoiando o calcanhar no chão. Mesmo sentada, enquanto tiravas a segunda bota, mantiveste o teu pé esquerdo esticado, dando tensão muscular à perna, moldando-a tão bem. Tão bem. Sabias claramente o que estavas a fazer. Mas estava já fresco, começava a instalar-se a noite, uma noite de Janeiro, com o céu limpo. Entraste no quarto. Do lado de fora, ainda sentado na varanda, podia ver-te lá dentro deixando cair a saia no chão. As botas estavam cá fora, as meias pretas estavam lá dentro, nas tuas pernas, a saia estava no chão. A camisola felpuda estava agora a sair, revelando um soutien simples, preto também, de abrir à frente, como eu gosto. E não havia mais nada. Não havia mais nada!

Levantei-me, finalmente, enquanto te deitavas na cama larga, quase de lado, dando forma às pernas. Entrei maravilhado pelo contraste das tuas coxas brancas com o tecido escuro. Subitamente, senti-me arrancado do universo dos filmes nórdicos para um outro, como se estivesse a ver um filme qualquer de Andrew Blake. Naquele espaço havia cheiro a erotismo, e quase nenhum a sexo. No entanto…

- Podes tocar-me, se quiseres. E prolongando as sílabas, onde… quiseres.

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