05 fevereiro 2010

sem amar

reconheço no teu corpo
o homem que um dia amei
reconheço na tua pele
prazeres que um dia senti
revejo nos teus olhos
loucuras que um dia vivi

ainda gosto do teu corpo
da tua pele macia
do prazer que contigo sinto
das loucuras que nos guiam

e mais uma vez
me perco em ti
sem hesitar
sem amar

Corpos e Almas

Noite @MissJoanaWell


Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite vinga-se e invade-me - como um dia tu me invadiste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é cruel e toca-me, constantemente - com a mesma profundidade com que, um dia, tu me tocaste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é ciumenta e penetra-me, densamente - com a mesma paixão com que, um dia, tu me penetraste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é vazia e enche-me, completamente - com a mesma sofreguidão com que, um dia, tu me encheste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é amante e toma-me, desenfreadamente - com a mesma fome com que, um dia, tu me tomaste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é cortante e ama-me, imperativamente - com a mesma firmeza com que, um dia, tu me amaste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é liquida e afoga-me, silenciosamente - com a mesma mudez com que, um dia, tu me afogaste a noite..

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é viva e acorda-me, definitivamente - com a mesma força com que, um dia, tu me acordaste a noite.

Monumento à entrada da fábrica da CIMPOR em Souselas (Coimbra)

Digam lá que não é um enquadramento erótico...

Papagaio romântico


Alexandre Affonso - nadaver.com

04 fevereiro 2010

Sal @MissJoanaWell


Ah, aquela criatura perfeita,
perfeitamente nua,
de haste perfeitamente erguida,
apontada a mim....

Ah, que pena eu ser de pedra,
que pena ser tão de pedra
que qualquer dia as pedras
se transformam em mim...

Arte

Era uma puta delicada e triste, que seduzia com a sua delicada tristeza e com a sua triste delicadeza.
A encantadora puta, delicada e triste, conquistava com os seus gestos tímidos, com o sorriso que nunca se formava totalmente e com o seu ciciar sussurrado de gata delicada e triste apanhada nas malhas de um mundo maior do que ela e que a obrigava a ser puta, ainda que se mantivesse delicada e continuasse triste.
Depois, ainda que a princípio mostrasse um sorriso contrafeito, um sorriso falso, tão delicado e triste como ela, a puta abocanhava com inesperado fragor e entusiasmo, surpreendendo-os, e enquanto chupava e lambia sussurrava elogios inéditos e louvores excêntricos enquanto as mãos de pele suave se afadigavam vertiginosamente numa aceleração arrebatadora.
– Ah! – exclamavam os clientes, precocemente aliviados mas satisfeitos como se tivessem fodido. – Aaaah…
– Oh… – deixava escapar delicadamente a triste puta, visivelmente sentida e desconsolada por não ter sido fodida por tão brioso macho e por fim, preocupada por lhes manter a auto-estima e para lhes renovar a vaidade, aditava sorridente e entusiasmada, como se fosse coisa nunca vista: – Oh, meu querido… Mas que jacto! Que bombada!
E eles sorriam como adolescentes, cheios de brio e mania, orgulhosos do sorriso encantado da puta triste e delicada.

Liaison dangereuse - Sexiness for everyone

Anúncio de 2009 da casa alemã Liason Dangereuse para a Glow, em que uma mulher (Miriam Wimmer) gasta 40 segundos a arranjar a sua lingerie e a sua maquilhagem... antes de pôr a burqa.



Agora que finalmente o príncipe veio, o futuro da Cinderela estava assegurado.

03 fevereiro 2010

Sem sinal de ti

Espera que te diga aquilo a que me obriga a condição masculina, a iniciativa tem que ser minha (são tradições...) ou serei desacreditado e ficarei posto de lado na tua deliberação.
Espera que peça a tua mão para um beijo nas suas costas, o desejo que apostas existir no meu olhar que insiste em fugir para partes tuas que anseio ver tão nuas como a alma que (afinal não) expões.
Guarda para mim o que tens de mais precioso, para lá do corpo generoso, essa vontade de amar que te esforças por demonstrar pelos meios ao teu alcance e eu pareço só olhar de relance mas devoro com a ansiedade de quem aguarda cada sinal.
Torna-me indispensável, fundamental, nos teus dias e aproveita as alegrias que te dou e que compensam tudo aquilo que sou de menos positivo.
Espera que me torne mais activo neste caminho que precisamos percorrer, este tempo necessário para aprender o outro em toda a sua dimensão. Abre um pouco o coração e aligeira esses filtros que impedem de passar tudo aquilo que quero dar mas hesito por não confiar em mim enquanto capaz de ser assim como me precisas. Ou em ti, na tua capacidade de conviver com a verdade que me define, para lá do que se afirme nos esboços grosseiros que te permito espreitar.
Espera por mim num lugar onde nos saibas sossegados, para sentires os teus medos dissipados como vapor da transpiração, uma espécie de (sinais de) fumo dos corpos em ebulição que podemos soprar a dois. Deixa que fique para depois o acerto das agulhas, a devida arrumação desta informação que entulhas para mais tarde reciclares nessa estação de tratamento, esse teu filtro com que avalias os amores em cada tempo que te predispões a viver uma paixão.
Aceita o amor, essa emoção superior que te arrebata, não receies aquilo que escapa à tua atenção e que possa trair a intenção de defenderes com unhas e dentes os teus bastiões mais importantes contra traições e outras ameaças já experimentadas em tempos que são águas passadas e que se lavam com um beijo presente de um amor que seja amante no futuro também.
Espera que te trate sempre tão bem que me queiras, por inerência, com toda a certeza possível, afastado jamais do tempo que te reste viver.
Mas não presumas que espere eternamente sentado pela maior clareza, pela imprescindível coerência dos teus sinais que continuo sem perceber.

Estores et al.



Há alguns dias atrás tive de passar, por razões profissionais, por um local onde actualmente já raramente passo. Nem de propósito, porque tenho aqui em casa uma janela fixa que preciso mudar por uma móvel, e umas quantas fitas de estores para trocar porque estas, não sei bem porquê, estão a desfazer-se. Acontece que tenho muito boas referências da empresa de estores cujo contacto procurei fotografar. Tenho de ligar-lhes amanhã, para obter um orçamento. Estranhamente estava lá também a Irina Sheik. Paciência.

Madura

Tinha língua de leite
trajada de vermelho,
temperada de branco,
redemoinhos no cabelo;
eram restos do leito
e do turbilhão da noite
que via num espelho
pintado de solavanco
com dedadas do duelo,
um abstracto perfeito,
a pincel suado, já inerte.

Tinha olhos de leite,
e um deleite já velho,
maduro de tão franco
que o tempo manteve belo
mergulhado em leite quente;
ainda tinha pele de leite.

Fruta à sobremesa



HenriCartoon