I. O celibato é o estado das pessoas que, tendo atingido a edade nubil, não se submetteram ao jugo do casamento. Devem collocar-se n'esta categoria não só aquelles que, por efeito de disciplina religiosa, fizerem voto de guardar castidade, mas tambem os eunucos, os chamados ordinariamente celibatários, as prostitutas, os viuvos e as viuvas. Considerado sob um ponto de vista geral, o celibato é contrario à nossa natureza e aos nossos destinos. «Não é bom que o homem esteja só» disse o Eterno (Genesis II, 20); aplicado em grande escala, seria attentatorio da conservação da especie e em contradicção formal com o mais antigo dos preceitos que Deus deu a nossos primeiros paes: Crescite et multiplicarnini replete terram: crescei e multiplicai-vos e enchei a terra. (…)
No ponto de vista individual o celibato offerece usualmente mais inconvenientes do que vantagens. É nessario que o homem obedeça às leis da natureza, para que o equilíbrio das funcções, d'onde resulta a saude, se estabeleça. A continencia absoluta é uma desobediencia às leis de Deus e d'alguma sorte uma impiedade. Em geral, as pessoas casadas vivem mais tempo do que as celibatarias. (…) Não é sem rasão que se accusa o celibato de desenvolver o egoismo, de expôr às paixões baixas, brutaes e contra a natureza. «Nas mulheres, diz M. de Vaulx (1), a falta de satisfação das necessidades physicas e moraes do amor produz muitas vezes a perda da frescura, da gordura, da inergia muscular; uma espécie de chlorose lenta consome-as e póde estabelecer-se em these geral que se ha alguma doenças que se aggravem n'ellas sob a influencia dos deveres do casamento, ha tres vezes mais das que o celibato faz nascer ou desenvolver; no homem, o celibato põe não só obstáculo à satisfação de desejos muitas vezes imperiosos, mas arrasta-o às tabernas, às casas de jogo, aos logares suspeitos, e podemos convencer-nos, consultando as estatisticas criminaes, que faz nascer n'elle o pensamento do suicidio, do assassinio e do duello, e affasta-o das ideias religiosas e dos sentimentos de tolerancia.
(1) Guide pour te traiternent des rnaladies veneriennes à l´usage des gens du monde.
SERAINE, L. (19??) Da saude das pessoas casadas ou physiologia da geração do homem e hygiene philosophica do casamento : theoria nova da procreação varonil femenina, esterilidade, impotencia, imperfeições genitaes, meios de as combater, hygiene especial da mulher gravida e do recem nascido.
[S.l. : s.n.], ( Porto : -- Typ. Commercio e Industria) - p.162-164