28 abril 2010

Diálogos maduros...

Por Charlie

... o que é feito dessa jovem maravilhosa?...

Olhando vagamente para a linha-mar do horizonte emoldurado pela vegetação típica daquelas ilhas e que os abastados do mundo tinham transformado nos resorts para onde transportavam durante uns dias os tiques do modo de vida do qual pretendiam descansar, moveu as excrescências adiposas e voltou-se para a companheira.
Mesmo junto a eles tinham acabado de passar duas estampas de mulher. Lindas e jovens, de corpos a desafiar a mente em lances sucessivos de poesia, vinham ajeitando os bikinis ao mesmo tempo que sacudiam os incómodos grãos de areia. Um apetite, pensou deliciado mordendo o que restava da sandes.
Rodou lentamente a bebida de enfeites ridículos e incaracterísticos que os seus dedos gordos seguravam, sorveu lentamente pela palinha multicolor, e enquanto seguia as linhas sinuosas dos movimentos de ancas deixou escapar:
- Lembras-te como começámos?-
Ela mirou-o por detrás dos óculos de sol que lhe cobriam totalmente os olhos. Sem dizer palavra imitou o gesto e deu um golo também na sua bebida.
- Se me lembro...-
E fechou-se de novo no seu silêncio, olhando por trás do conforto anónimo das lentes escuras que lhe permitiam, cómoda e despudoradamente, olhar para onde muito bem lhe apetecesse.
- Éramos então tão jovens...Acho que tu nem tinhas ainda feito os dezoito.
- Já tinha dezoito. – Interrompeu ela.
- Pois. Mas terias talvez mesmo acabado de fazê-los...-
- Enganas-te, que uma semana depois de nos termos juntado fiz os dezanove.
- Bem, isso pouco ou nada interessa. - acrescentou ele à pressa e já visivelmente agastado – A verdade é que éramos tão jovens, tão pobres mas tão cheios de sonhos e crentes no futuro... Lembras-te da nossa primeira casa? Um terceiro andar na parte antiga, o chão a cheirar a tábuas velhas... E os alguidares, baldes e latas que púnhamos por toda a parte quando chovia?
- Sim, lembro-me. – respondeu novamente em tom vago enquanto voltava a atenção de forma explícita para um belo exemplar macho que a poucos metros passeava os seus bíceps junto à mansidão cálida das águas turquesas.
Uma pausa sobreveio levando os olhares a divagar pelos areais, pelas águas, pelos corpos expostos, pelos pensamentos.
- De alguma maneira tenho saudades desses tempos, da paixão que nos consumia, da entrega genuína em sessões infinitas de amor. - Recomeçou fazendo uma curta pausa.
- Agora... - continuou - temos uma mansão enorme, carros de alta cilindrada nas garagens, casa de praia e de campo... A vida sorriu-nos, viajamos várias vezes ao ano, fizemos fortuna, mas por vezes... Sabes? Por vezes sinto a nostalgia da juventude e simplicidade desses tempos...-
Ela escutara em silêncio. Ajeitando a alça do fato de banho, olhou para ele, fez a linha do olhar passar por cima das lentes escuras e parou fixamente nos olhos do seu companheiro.
- Escuta, se tens saudades desses tempos é fácil. Pegas numas destas jovens de dezanove anos que passaram aqui agora mesmo, e que armado em basbaque tu ainda não paraste de mirar, e os meus advogados põem-te num ápice de novo e cheio de sonhos num terceiro andar com goteiras a morar com ela...
Num compasso de espera antes da réplica ficou a mirá-la, às marcas que o tempo acrescentara na pele a anos de exageros trazidos pela abundância.
- Lá estás tu com o mau feitio do costume. Porra! Diz-me lá o que é feito da jovem maravilhosa que conheci nessa altura? Fico a pensar o que é feito dela quando me ponho a olhar para ti...
- Querido... Não sabes o que é feito dela, dessa jovem que conheceste? Não sabes? Pois olha-me para essa tua enorme barriga... Está toda aí. Comêste-la! –

Saudade

É entre o ventre e o peito
que nasce a tempestade;
dedos de paz, mãos de leito,
sabes, quando nua em ti me deito
adormece, tão nua, a saudade.
Sabes, azul com sabor a verdade,
é por isso que tudo aceito;
sabes, o tudo de sabor desfeito
nada ao sabor do corpo e a ansiedade
que faz ferver a pele da cidade,
depois, lenta, alaga-a pelo porto.

Do Celibato. Influencia do celibato sob o ponto de vista geral e sob particular.


I. O celibato é o estado das pessoas que, tendo atingido a edade nubil, não se submetteram ao jugo do casamento. Devem collocar-se n'esta categoria não só aquelles que, por efeito de disciplina religiosa, fizerem voto de guardar castidade, mas tambem os eunucos, os chamados ordinariamente celibatários, as prostitutas, os viuvos e as viuvas. Considerado sob um ponto de vista geral, o celibato é contrario à nossa natureza e aos nossos destinos. «Não é bom que o homem esteja só» disse o Eterno (Genesis II, 20); aplicado em grande escala, seria attentatorio da conservação da especie e em contradicção formal com o mais antigo dos preceitos que Deus deu a nossos primeiros paes: Crescite et multiplicarnini replete terram: crescei e multiplicai-vos e enchei a terra. (…)
No ponto de vista individual o celibato offerece usualmente mais inconvenientes do que vantagens. É nessario que o homem obedeça às leis da natureza, para que o equilíbrio das funcções, d'onde resulta a saude, se estabeleça. A continencia absoluta é uma desobediencia às leis de Deus e d'alguma sorte uma impiedade. Em geral, as pessoas casadas vivem mais tempo do que as celibatarias. (…) Não é sem rasão que se accusa o celibato de desenvolver o egoismo, de expôr às paixões baixas, brutaes e contra a natureza. «Nas mulheres, diz M. de Vaulx (1), a falta de satisfação das necessidades physicas e moraes do amor produz muitas vezes a perda da frescura, da gordura, da inergia muscular; uma espécie de chlorose lenta consome-as e póde estabelecer-se em these geral que se ha alguma doenças que se aggravem n'ellas sob a influencia dos deveres do casamento, ha tres vezes mais das que o celibato faz nascer ou desenvolver; no homem, o celibato põe não só obstáculo à satisfação de desejos muitas vezes imperiosos, mas arrasta-o às tabernas, às casas de jogo, aos logares suspeitos, e podemos convencer-nos, consultando as estatisticas criminaes, que faz nascer n'elle o pensamento do suicidio, do assassinio e do duello, e affasta-o das ideias religiosas e dos sentimentos de tolerancia.

(1) Guide pour te traiternent des rnaladies veneriennes à l´usage des gens du monde.

SERAINE, L. (19??) Da saude das pessoas casadas ou physiologia da geração do homem e hygiene philosophica do casamento : theoria nova da procreação varonil femenina, esterilidade, impotencia, imperfeições genitaes, meios de as combater, hygiene especial da mulher gravida e do recem nascido.
[S.l. : s.n.], ( Porto : -- Typ. Commercio e Industria) - p.162-164

Abençoado artista que pintou tão bem a minha cara chapada e o meu corpinho danone!

"Sãozinha,
Aqui vai para a sua colecção, mais um dos muitos graffitis da Ponte Europa. Ao vê-lo, lembrei-me logo da menina...
Rui Pato"

27 abril 2010

«Pedofilia?! Ná. Adorei!» - por Elfo

"Todas as férias de Verão, a empregada dos meus avós dava-me banho à noite. Desde os meus 6 anos até aos meus 12 anos. Ela, desde os 16 até aos 22 anos. No chuveiro lavava-me e, quando chegava à zona da pilita, que já na altura era uma pilona, dava-me beijinhos, metia-a na boca dela e simulava que estava a brincar comigo. Eu adorava essa brincadeira e nunca achei uma situação abusiva. Ela chegava a ficar com a blusa molhada do chuveiro ao ponto de se notar os bicos das mamas volumosas espetados e colados ao tecido. Agora, com mais vinte e tal anos em cima, quem me dera que continuassem a fazerem-me o mesmo.
É assim que nasce um fétiche.
Pedofilia? Ná. Adorei.
Elfo"

Aniversário

Há uns tantos anos
este dia (embora fosse noite), foi especial
para algumas pessoas (queridas).

Quando me apercebi,
este é um dia (noite!) muito especial
(também) para mim;
e - felizmente - ainda,
para algumas pessoas (queridas).

O mistério de se nascer,
faz deste meu dia
o momento solene
de vos acompanhar:
uma taça de champanhe,
um brinde a todos os sonhos
que não pude - ainda - cumprir.

Parabéns, Menina (Eu)!

Foto e poesia de Paula Raposo

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Nota da EdiSão - este intervalo no erotismo destina-se a felicitar a nossa Paulita, com esta música com que o blog do Katano parabeniza toda a malta (som ao máximo, pessoal):



Cruzados

Susteve-te na voz
e na palma da mão
uma última dança:
os pés sobre os pés nus.
Ah! Nós!
Cortámos do chão
os corpos numa trança
de nós na contraluz.
Ah! Escadas sós
de dedos descem-me o corrimão,
cruzam o corpo que se lança
no ventre alvo, nós em cruz.

Mudar de ideias...



O Certidóbito


1 página

oglaf.com

26 abril 2010

A prostituta azul (III)

A Lua estava deserta. Hesitou entre o elevador desengonçado e a enorme escadaria; o homem parecia demasiado grande e pesado para os dois. Não tinha medo dele porque observara a forma delicada como transportava um saquinho rosado de aspecto leve e suave a contrastar com uma "paquidermice" vermelhusca e ofegante no corpo suado... Rangeram até ao andar de cima. Prima, quero um quarto. Da garganta do imenso homem soltou-se novamente a voz fininha e melodiosa: "o maior que tiver, por favor". Entraram. "Espero que dances, espero que dances" - cantava ele enquanto a música tocava suave; o rádio saído do saquito em cima da cama, ao lado o maillot e as sapatilhas. "Vestes? Vestes? Espero que dances, espero que dances." Vestiu e dançou, delicada. O homem chorava: "não morreste, afinal nunca morreste". Agarrou-a; os pés descalços, grosseiros, debaixo dos dela, rodopiaram-nos - leves - pelo quarto. "É a última dança, é a última dança." Beijou-a; a dança estremecia nos soluços do homem-montanha. Baixou as calças e molhou as sapatilhas de bailarina. Deitou-a e despiu-a. Guardou tudo no saco e foi-se embora. Os papelinhos coloridos de feio ficaram deitados na cadeira, alheios ao cenário. Ainda o ouviu ranger as memórias na escadaria.

Finalmente tenho um na minha colecção!

A malta que já visita este blog desde o seu início (em 2003), decerto se recordará de um dos momentos altos que aqui tivemos, com a descoberta destes... objectos.
Lembram-se de como se chamam? E do nome com que os baptizámos?
Para a malta que não sabe o que é e para que serve, tentem adivinhar.
A partir de agora, tenho um enfiado... na minha colecção.

«Bloqueio para crianças» - publicidade da Beate Uhse




Publicidade genial roubada com luvas de pelica à Didas

Garotas que fazem tudo


Alexandre Affonso - nadaver.com

25 abril 2010

aqui é de Abril

Aqui nos fica Abril



aqui nos fica Abril
aqui se inquieta
aqui na margem sul
de outro viver
que é mais azul
diz um poeta
só por nos ser

nos ser
maior
fazer melhor e ter de ser
por ser do riso
e ser a meta
de outro viver

aqui
no singular plural
dos meus sentidos
que é mais Abril
por sermos nós
por nós
unidos


- poema e fotocomposição de Jorge Castro

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E nos comentários houve mais quem odesse ao 25 de Abril:
"fica de Abril o sonho da mudança.
fica de Abril o ar de liberdade.
fica em Abril pedaços de vida... e acreditar ainda é possível!
um beijo meu
uminuto"

"Fiz de Abril a minha manta
Onde os corpos se libertaram
Em pinhais e matos de esperança
E manhãs verdes que se encarnaram.

Fiz do mundo a minha palma
e das palmas nos peitos; o mundo
Dos olhares, lábios de fome
saciados em corpos de lume.

Fiz do tempo o passar lento
Travo na boca a cada segundo.
Ser-se livre não é um momento
é ter asas sempre em tudo

E crescemos em ilusão
de era para sempre ser
sermos donos do nosso pão
e senhores do nosso querer

Ai e onde é que está o sol
que Abril a todos deu?
Agora onde ele seria maior
só o grande é que o pode ver.

Ah, mas cresce mais a vontade
de voar alto e quente sempre
Não deixemos a liberdade
Fugir de Abril pr'a um frio Dezembro
Charlie"

O Santoninho traz-nos Ary:
"***** R E G E N E R A Ç Ã O *****
Já não vagueia em mim a escuridão
E transformou-se a dúvida em certeza.
Bastou um gesto só de minha mão,
Para secar as fontes de tristeza.
No filtro redentor da oração,
Deixei ficar o manto da incerteza;
E agora, tendo a Deus no coração
Sou maior que a própria natureza.
Estrada de luz, sem guia nem farol,
Apenas o clarão do rubro Sol
E as minhas asas que ninguém mais vê.
E no esplendor da minha mocidade,
Eu vou além da própria eternidade,
Sem limite, sem espaço, sem porquê.

José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética, Ed. Caminho"