13 dezembro 2010

A posta que nunca, ou mesmo depois


Palavras finais deixadas por dizer no caminho interrompido sem uma despedida sequer, agora sem sentido algum.
Quem de dois tira um com a certeza de que depois ainda sobra metade para completar um todo que restar viável entre as cinzas da desilusão.
A vida continua enquanto o coração não parar de bater, congelado, pela exposição ao frio que entra por todo o lado, pelas feridas abertas no interior (que a fachada está sempre um primor), apenas mais uma facada para encaixar com a dignidade possível, a aparência sofrível de um orgulho que se tenta preservar por detrás de uma história diferente para contar a quem afinal nem interessam os pormenores.
Palavras finais quando acabam os amores ou outro tipo de ligações daquelas que pressuponham emoções ainda que sejam fingidas, para que não fiquem defraudadas as ilusões criadas por quem arrisque apostar.
Quem de um tira dois com a ideia de que resolve com essa panaceia um problema que mal consegue identificar, mais fácil deixar cair tudo aquilo que não se compreenda, simplificar ao máximo uma vida que no mínimo é sobrevivida porque a realidade passa o tempo a fugir pelos atalhos da verdade que se quer encobrir e esse aspecto dificulta a secagem de um verniz que é quanto baste para se parecer feliz como um sorriso insistente, talvez, presumidamente, traduz.
Palavras finais no escuro, com falta de luz nos cantos onde jazem escondidos os tempos mal investidos ao longo de um caminho que termina de forma abrupta, arrumadas na prateleira das coisas esquecidas, a única maneira de as impedir de poderem um dia servir de peso na consciência, o preço da arrogância de quem se acredita capaz de moldar alguma espécie de paz que possa viabilizar uma nova tentativa frustrada à partida pela falta de vontade de mudar tudo aquilo que se possa revelar prejudicial no futuro que se impõe tal e qual o padrão pré-definido, com o final planeado por inerência na mais do que provável ausência de qualquer tipo de esforço ou de fé.
Palavras finais, deixadas por dizer até ao dia em que passou tempo demais para serem ditas com o efeito desejado, o preço a pagar ignorado porque a factura só chegará amanhã ou depois.
Quando apenas restar a palavra jamais.

Capítulo

Abri o livro, quis reler o último capítulo;
Já tinha acabado de o ler, mas... antes de passar ao próximo, quis recordar as mais marcantes passagens da degustação dessas linhas.
Longo, sinuoso e preponderante no desenrolar do restante enredo, capítulo rico de memórias horrivelmente belas.
Belas na vivência, mágoas da memória.
Ferem...
Fui ler algumas passagens antes de passar ao próximo; Quis memórias vivas para compreender o restante texto; preferia não as ter e começar o seguinte como se de um novo livro se tratasse... ou não.
Quis apenas guardar em gotas salgadas as memórias do último capítulo.

PenetraSões


Klaxons 'Twin Flames' from Trim Editing on Vimeo.

Há uns coraçõezinhos mai'lindos que outros


Crica para veres o coração em todo o seu esplendor

O mundo ao léu



HenriCartoon

12 dezembro 2010

"Palavras leva-as o ventre"

"Palavras leva-as o ventre", que o vento,
esse tonto inteiro, foi namorar a madrugada;
só ele me levará completa, abandonada,
como um ponteiro abandona um momento
ao tempo de um relógio de corda.

"Palavras leva-as o ventre"; eu escuto
e das tuas ouvi um poema, nada
mais simples,a frase assim nascida
do ventre é tão filha do teu peito
que é como eu, só pelo ventre levada.


(Poema para o João Moreira de Sá, pai da frase "Palavras leva-as o ventre". Daqui Umbilical nasceu o poema. Muito obrigada, João! )

«Sétimo Céu» - por Rui Felício


O 61º Festival de Cannes exibiu o filme Sétimo Céu, do alemão Andreas Dresen que me fez reflectir sobre o amor.
De que tanto falamos, sem porém nunca o conseguirmos entender completamente. Ninguém se pode gabar de nunca ter amado. As paixões da adolescência que brotaram de nós, sem explicação, explodindo como verdadeiros vulcões, cortando-nos a vontade de comer, de estudar, de pensar noutras coisas para além daquele intenso desejo que nos despertou os sentidos, que nos fez bater descompassadamente o coração.
Quantas dessas paixões nos levaram a fazer sinceras juras de eterno amor, de antes desejar a morte à perda do ente amado? Quem de nós nunca disse que aquele era o amor para toda a vida? Mas depois, quantas dessas juras não quebrámos quando o entusiasmo inicial arrefeceu? Com a mesma convicção e facilidade com que antes as fizéramos? Ainda jovens, mas mais maduros, estabelecemos uma relação conjugal e convencemo-nos igualmente que ela, essa sim, seria para o resto da vida. Os frutos dessa relação, os nossos filhos, eram a prova da estabilidade, a prova do verdadeiro e tranquilo amor. Julgámos então ter apreendido o verdadeiro significado desse complexo sentimento. O tempo ia correndo, a idade avançando, a beleza física que proporcionava a atracção ia desaparecendo. A vida vivida em comum durante décadas provava-nos, aparentemente, que o amor é muito mais que o fogacho irreprimível da paixão.
Não! Não havia dúvidas! Na nossa sobranceira e sábia maturidade, achámos que finalmente tínhamos percebido que o amor era a interacção de sensibilidades, de compromissos, de estabilidade, de sedimentação de rotinas de vida. É certo que uma ou outra vez sentimos a tentação, a atracção por outra pessoa, mas racional e pragmaticamente achávamos que isso não passava de mero e condenável desejo carnal, que rapidamente se desvaneceria no conforto e na intimidade do lar onde, aí sim, pairava o verdadeiro amor. E afastávamos a tentação, dizendo para nós próprios que essas coisas são próprias dos jovens. Não acontecem aos mais velhos e experientes, calejados pela vida. E com idade para terem juízo...
Este filme mostra que não é assim... Só a nossa presunção nos leva a pensar que o amor não está sempre latente, que a qualquer momento pode romper a crosta protectora que construímos à nossa volta em obediência às convenções que nos regem. Este filme mostra como uma mulher quase sexagenária, mãe de família, sem qualquer razão para questionar o seu casamento de mais de 30 anos, subitamente, sem que nada o fizesse prever, se apaixonou por um homem de mais de 70 anos. Vivendo com ele momentos de intensa felicidade, de verdadeira paixão, ambos fazendo amor como se fossem adolescentes, sem vergonha dos seus corpos já velhos. Antes descobrindo neles a beleza e o fulgor da juventude. O amor é realmente eterno.
E não é apanágio da juventude. Mas continuo sem o saber explicar. E sem compreender porque está tanto tempo adormecido e, num ápice, se pode revelar em toda a sua pujança.

Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações»

«Depois de Tudo»

Ficção de Rafael Saar - 2008 - 12 min

Com Ney Matogrosso e Nildo Parente

Ney Matogrosso e Nildo Parente. O que eles mais querem é estar juntos e um dia basta para esperarem pelo próximo.



Link directo para o filme aqui.

Há coisas que não lembram ao diabo

crica para visitares a página John & John de d!o

11 dezembro 2010

A Morte do Brilho

Um destes dias,
quando tentava lembrar-me de mim,
percebi;
Percebi que sepultei o meu brilho algures e,
esqueci.
Foi nesse dia que encontrei a morte em mim.
Procuro desesperadamente o lugar onde o escondi...
Malditos sentidos apagados!
Quero renascer, aquecer e brilhar.
O brilho e Eu morremos em mim;
e um dia, até em Ti irei apagar-me.

Eu gosto de passarinhas

Foto: Shark

Espuma

Que me marque
uma vaga branca de espuma
e o mar deixe o verde odor
da maresia.
Que me lembres
os passos na areia
e as conchas
me ensinem
o que não sei.
Desejo navegar
e perder-me em cada porto
que não encontro.

Poesia de Paula Raposo

É à vontade do freguês


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