Há dias em que sem percebermos porquê, como nem de onde, o céu desaba sobre os nossos dedos.
Há dias em que escrever algo sobre qualquer tema é uma tarefa espinhosa, mas se esticarmos os dedos, delineamos linhas de tristeza à velocidade do olhar.
Há dias em que a tristeza é a melhor amiga do pensamento.
Há dias em que por mais que o Sol brilhe, só a chuva nos entra nos ossos e nos faz escorrer na cara pingos que se confundem com lágrimas.
Há dias em que o astros não permitem que o maior dos esforços sejam mais do que simplesmente inglórios, na reposição da verdade.
Há dias que começamos a pensar e acabamos a reagir.
Há dias em que a alegria esperada transforma-se em cinzento, depois em negro, depois a espera, a ansiedade e a angústia, a falta de resposta, o medo e o descontrolo.
Há dias em que simplesmente o Sol e a Lua não se alinham, quando habitualmente o estão.
Há dias em que o melhor se transforma em duvidoso, e o momento passa a ser mais importante que o todo.
Há dias em que o próximo está repleto de dúvida, de desconfiança, de incerteza e de medo.
Há dias em que o coração fica tão apertado que aí percebemos que o importante se sobrepõe ao urgente.
Há dias em que um singelo momento assume a importância de outras tantas dezenas de direcção oposta.
Há dias em que as pernas tremem sem prazer, o coração acelera sem excitação, as pálpebras piscam sem alegria, os olhos fecham sem sono, a expressão facial cai, as costas dobram, os braços ficam pesados, os movimentos lentos, o cérebro pára, a visão das coisas perde cor, o pescoço dói, o peito aperta, o cigarro abunda e uma discreta lágrima sofrida cai num sobressalto de tristeza.
Há dias...
03 janeiro 2011
Postalinho da Quinta da Água da... quê?!
"Olá São!
Placa toponímica no concelho de Chamusca.
Boas entradas e saídas.
JCL
É rata: A olhar com atenção para a placa, vejo agora que há um espaço maior entre o “da” e a “rata”.
Cabrões, rasparam uma letra e fintaram-me em primeira instância. Voltei a olhar com olhos de ver para a fotografia dado o carácter bizarro, improvável, desta conjugação de termos. E foi então que reparei. Se calhar, assim deixa de ter interesse erótico-etnográfico. Não vem mais vinho para esta mesa, eu sei."
Placa toponímica no concelho de Chamusca.
Boas entradas e saídas.
JCL
É rata: A olhar com atenção para a placa, vejo agora que há um espaço maior entre o “da” e a “rata”.
Cabrões, rasparam uma letra e fintaram-me em primeira instância. Voltei a olhar com olhos de ver para a fotografia dado o carácter bizarro, improvável, desta conjugação de termos. E foi então que reparei. Se calhar, assim deixa de ter interesse erótico-etnográfico. Não vem mais vinho para esta mesa, eu sei."
Prostituição - 2011
Apetece-me lançar âncoras em 2010, não deixar este ano partir. 2011 já espreita, consigo ver-lhe o corpo à porta, a cauda agitada, as cores pouco brilhantes. De uma forma muito simples, esta é a correlação e a página onde se vão escrever os próximos meses: menos dinheiro nos bolsos diminui o número de clientes, menos dinheiro nos bolsos e há mais mulheres que decidem prostituir-se. De uma forma ainda mais simples: menos bolo e mais gente para dividir as fatias. As consequências são evidentes, deixo uma ou duas, apenas: cada vez mais mulheres que, ainda que se prostituam, não conseguem viver sem dificuldades, cada vez mais mulheres vão ceder a cada vez mais exigências torpes de torpes clientes (coito sem protecção, fantasias agressivas, etc.), mais assaltos, mais clientes que fogem sem pagar, mais mulheres a praticar preços degradantes que as forçarão a atender um número sobre humano de clientes – se esse número existir (!) – para ganhar um valor absurdo... E isto não vai acontecer num qualquer mundo à parte, é cada vez mais o habitual a prostituta ser a vizinha do lado, a prima, a irmã, a namorada, a esposa. Podem responder-me que a minha visão é pessimista, espero achar o mesmo quando a realidade me visitar; se alguém tiver algum cenário mais optimista como provável, faça o favor de me dizer. Que Deus olhe por nós, ou a Sorte, como preferirem; eu tenho por certo que esta realidade – mais uma vez – não vai olhar.
02 janeiro 2011
«Beijo Francês»
Ficção de Paulo F. Camacho - 2009 - 10 min
Com Álamo Facó, Isabela Meirelles
O tecido da intimidade de um casal que se depara com o que não tem solução: a solidão, em estado bruto.
Link directo para o filme aqui.
Com Álamo Facó, Isabela Meirelles
O tecido da intimidade de um casal que se depara com o que não tem solução: a solidão, em estado bruto.
Link directo para o filme aqui.
Ocaso Lunar
Perdoa-me Lua, quando penso nele, penso em mim e os candeeiros acendem-se lá fora; um estranho grita ao passar aqui mas eu nem o vejo ou talvez o veja como um espelho porque um embriagado pode ser reflexo de mim. Perdoa-me Lua, quando penso em mim, penso nele e não tenho falado contigo, cessaram-me os diálogos, este interminável monólogo leva-me ao sono que me deixa sonhar; não me quero lembrar que uma vez me viraste as costas, quiseste-me só para ti quando eu precisei de voar e tudo voou de mim enquanto te obrigava a virar. Perdoa-me Lua por tanto me ir embora, sei que o mundo está lá fora mas entro quando penso porque nos penso aqui dentro, é assim que adormeço e, desta vez, é no sonho que vou acordar. Perdoa-me Lua, eu sei e juro que nunca te vou deixar; acredita Lua, tu podes acreditar porque este humano foi o que eu amei durante um ocaso Lunar.
«O amor mudou» - por Rui Felício
Tempos houve em que eu estava sempre onde houvesse amor. Inseparável dele.
Sem ele, eu ficava solto, perdido, inútil...
Éramos como unha com carne. A unha precisa do apoio desta para existir, e esta carece da protecção daquela para não se ferir.
Assim era eu com o amor. E ele comigo...
Eu fazia parte integrante desse belo e nobre sentimento. Senti-lo, era sentir-me. Avaliarem-no, era avaliarem-me. O amor sem a minha companhia era incompleto, sem chama, algo insípido a que faltava o tempero doce da minha presença.
Mas os tempos mudaram!
Agora, o amor é olhado por mim da parte de fora. Sou um simples e longínquo observador, não o integro, não lhe pertenço, não o sinto a aquecer-me o âmago.
E quando, a espaços, procuro que nos tornemos de novo num só, indissociáveis, como era antigamente, o amor dos tempos de hoje afasta-me, repele-me, expulsa-me, ri-se das minhas pretensões antiquadas. Recorda-me que eu não evoluí no tempo, que tenho de me actualizar, que preciso de olhar o presente.
Diz-me que tenho de perceber que o amor de hoje não é igual ao de antigamente. Que hoje ele é menos convencional, mais moderno, menos complicado e, por isso mesmo, mais livre.
Argumentei-lhe que a inteligência, por exemplo, se me manteve fiel, mas o amor respondeu-me que não faltará muito para que essa presunçosa, vaidosa e esdrúxula peneirenta me abandone também.
Faço um esforço, conformo-me a custo, mas quando o apanho distraído, aproveito e envolvo-o na minha capa protectora. Nem que seja por breves instantes!
Porque, enquanto eu viver, nunca deixarei de ser o acento circunflexo que o antigo “amôr” repudiou...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
01 janeiro 2011
Queca
O beijo de despedida
ateou o fogo latente:
despimo-nos à pressa
e fomos para a cama ali ao lado.
Foi rápido demais.
Ficaste a dever-me uma:
não te esqueças!
Poesia de Paula Raposo
31 dezembro 2010
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