04 janeiro 2011

dos livros dificeis de encontrar




- Sim?
Atendi o telefone. Mais uma vez, enganava-me a mim própria. Pensei que fosses ligar por causa daquele assunto pendente. Tinha ficado de te procurar um livro. Certo? Ou melhor, arranjámos uma qualquer desculpa para nos falarmos. Um livro servia. E até dava um certo ar intelectual à coisa. A esta «coisa» que nos une. E que não pode, nem podia existir. Mas existe.
- Quero ver-te. Saber de ti. Saborear-te.
Engoli em seco. Fingi que não tinha percebido. Ruído na linha.
- Não tenho o que precisas.
Estava a falar do livro. Não o tinha encontrado. Acho que escolheste um daqueles títulos impossíveis de se encontrar. Assim, dilatávamos no tempo esta desculpa para nos encontrarmos. Ou, pelo menos, para falarmos.
- Tens – disseste – tens tudo aquilo de que preciso. Não sabes é como, nem quanto. Mas tens.
- Posso continuar a procurar.
E pronto. Lá o disse de novo. Assumi ali que não tenho qualquer hipótese, mas que quero continuar. Persistir «nisto».
A verdade é algo que dói. E é quase sempre seguida do silêncio ensurdecedor. Ele também sabia que era verdade. Que não havia hipóteses. Nem daquelas a que se chamam nulas. Mas ele preferia agir como se nada fosse.
Que assim seja. Eu até gosto de visitar livrarias. Mesmo que saiba que o livro é impossível. De encontrar.
- Tenho saudades tuas. – disse, desligando o telefone de seguida.
Eu também.


texto de Joana Sousa
desenho de Gonçalo Martins | Book of Erotica
para acompanhar com um Jeff Buckley

Publicidade apetitosa

Anúncios ao Museum of Sex em Nova Iorque:

A versão para o menino…

167139_1493773232956_1492821771_31036704_5695391_n

E a versão para a menina…

164119_1493771152904_1492821771_31036702_4811483_n

Vinte

Tenho como certo
que o sexo rejuvenesce:
a pele alisa,
o cabelo toma brilho
e o vigor dos músculos
renova-se.
Sendo assim:
chegando aos 100
vou parecer ter 20.

Poesia de Paula Raposo

Natal é sempre que um palhaço quiser

Esta menina Natal é bem mazinha... e o palhaço «jack-in-a-box» gosta... pelo menos pelo que se vê do seu nariz.
Uma comprinha do Natal de 2010 para a minha colecção.


03 janeiro 2011

Eu gosto de pessoas


Foto: Shark

A pornografia da religião pode combater-se com o humor?


Não sei. Mas recomendo-vos a leitura do texto «Por que sou um ateu?» de Rick Gervais, trazido e traduzido pela nossa AnAndrade.

Há Dias...

Há dias em que sem percebermos porquê, como nem de onde, o céu desaba sobre os nossos dedos.
Há dias em que escrever algo sobre qualquer tema é uma tarefa espinhosa, mas se esticarmos os dedos, delineamos linhas de tristeza à velocidade do olhar.
Há dias em que a tristeza é a melhor amiga do pensamento.
Há dias em que por mais que o Sol brilhe, só a chuva nos entra nos ossos e nos faz escorrer na cara pingos que se confundem com lágrimas.
Há dias em que o astros não permitem que o maior dos esforços sejam mais do que simplesmente inglórios, na reposição da verdade.
Há dias que começamos a pensar e acabamos a reagir.
Há dias em que a alegria esperada transforma-se em cinzento, depois em negro, depois a espera, a ansiedade e a angústia, a falta de resposta, o medo e o descontrolo.
Há dias em que simplesmente o Sol e a Lua não se alinham, quando habitualmente o estão.
Há dias em que o melhor se transforma em duvidoso, e o momento passa a ser mais importante que o todo.
Há dias em que o próximo está repleto de dúvida, de desconfiança, de incerteza e de medo.
Há dias em que o coração fica tão apertado que aí percebemos que o importante se sobrepõe ao urgente.
Há dias em que um singelo momento assume a importância de outras tantas dezenas de direcção oposta.

Há dias em que as pernas tremem sem prazer, o coração acelera sem excitação, as pálpebras piscam sem alegria, os olhos fecham sem sono, a expressão facial cai, as costas dobram, os braços ficam pesados, os movimentos lentos, o cérebro pára, a visão das coisas perde cor, o pescoço dói, o peito aperta, o cigarro abunda e uma discreta lágrima sofrida cai num sobressalto de tristeza.

Há dias...

Postalinho da Quinta da Água da... quê?!

"Olá São!
Placa toponímica no concelho de Chamusca.
Boas entradas e saídas.
JCL

É rata: A olhar com atenção para a placa, vejo agora que há um espaço maior entre o “da” e a “rata”.
Cabrões, rasparam uma letra e fintaram-me em primeira instância. Voltei a olhar com olhos de ver para a fotografia dado o carácter bizarro, improvável, desta conjugação de termos. E foi então que reparei. Se calhar, assim deixa de ter interesse erótico-etnográfico. Não vem mais vinho para esta mesa, eu sei."

Recorrente


A velha questão entre os collants e a bebedeira de fim de ano.

Mais, aqui.

Prostituição - 2011

Apetece-me lançar âncoras em 2010, não deixar este ano partir. 2011 já espreita, consigo ver-lhe o corpo à porta, a cauda agitada, as cores pouco brilhantes. De uma forma muito simples, esta é a correlação e a página onde se vão escrever os próximos meses: menos dinheiro nos bolsos diminui o número de clientes, menos dinheiro nos bolsos e há mais mulheres que decidem prostituir-se. De uma forma ainda mais simples: menos bolo e mais gente para dividir as fatias. As consequências são evidentes, deixo uma ou duas, apenas: cada vez mais mulheres que, ainda que se prostituam, não conseguem viver sem dificuldades, cada vez mais mulheres vão ceder a cada vez mais exigências torpes de torpes clientes (coito sem protecção, fantasias agressivas, etc.), mais assaltos, mais clientes que fogem sem pagar, mais mulheres a praticar preços degradantes que as forçarão a atender um número sobre humano de clientes – se esse número existir (!) – para ganhar um valor absurdo... E isto não vai acontecer num qualquer mundo à parte, é cada vez mais o habitual a prostituta ser a vizinha do lado, a prima, a irmã, a namorada, a esposa. Podem responder-me que a minha visão é pessimista, espero achar o mesmo quando a realidade me visitar; se alguém tiver algum cenário mais optimista como provável, faça o favor de me dizer. Que Deus olhe por nós, ou a Sorte, como preferirem; eu tenho por certo que esta realidade – mais uma vez – não vai olhar.


02 janeiro 2011

«Beijo Francês»

Ficção de Paulo F. Camacho - 2009 - 10 min

Com Álamo Facó, Isabela Meirelles

O tecido da intimidade de um casal que se depara com o que não tem solução: a solidão, em estado bruto.



Link directo para o filme aqui.

Ocaso Lunar

Perdoa-me Lua, quando penso nele, penso em mim e os candeeiros acendem-se lá fora; um estranho grita ao passar aqui mas eu nem o vejo ou talvez o veja como um espelho porque um embriagado pode ser reflexo de mim. Perdoa-me Lua, quando penso em mim, penso nele e não tenho falado contigo, cessaram-me os diálogos, este interminável monólogo leva-me ao sono que me deixa sonhar; não me quero lembrar que uma vez me viraste as costas, quiseste-me só para ti quando eu precisei de voar e tudo voou de mim enquanto te obrigava a virar. Perdoa-me Lua por tanto me ir embora, sei que o mundo está lá fora mas entro quando penso porque nos penso aqui dentro, é assim que adormeço e, desta vez, é no sonho que vou acordar. Perdoa-me Lua, eu sei e juro que nunca te vou deixar; acredita Lua, tu podes acreditar porque este humano foi o que eu amei durante um ocaso Lunar.