07 janeiro 2011

A posta que vês melhor


Olha em frente tudo aquilo que será, abre a tua mente ao que o destino te trará e desmantela essa muralha que te isola de tudo aquilo que és quando jogas à defesa porque não tens a certeza de que vale a pena arriscar.
Olha em frente para poderes enfrentar de forma diferente o mundo que sentes hostil, perdido por cem, perdido por mil, e molda a consciência por forma a encontrares a resistência dos fortes pois é desses o que prevalecerá ao longo das voltas que a vida dá enquanto passeia diante dos nossos olhos a felicidade que por vezes rejeitamos por simples desleixo ou estupidez.
Olha em frente outra vez e prepara o caminho que falta, repara na tua alma que salta irrequieta e que te deixa tão inquieta a prudência que abraças como companheira numa solidão que não mereces conhecer porque sabes existir em ti tudo aquilo que fará, abre a tua mente ao que o destino te trará, as delícias de quem souber apreciar.
Liberta agora o teu olhar da desnecessária desconcentração que te provoca a visão periférica.
Olha em frente, abre a tua mente e envia esse amor como um sinal, como a luz de um farol.
Como uma mensagem telepática.

Em_Canto

Marioneta acorda, tens de acordar
mais um dia a dormir é mais um dia sem sonhar
marioneta acorda, nunca mais adormecer
se o dia for no escuro como pode a noite amanhecer?
Brinquedo de plástico sem vestido, sem perfume
mas os teus pés não estão nus, anda
que preso por um fio está aquele nome
que ainda não te deram, boneca; acorda!
Marioneta desperta, tens de despertar
no meio do sono para o sonho te olhar
marioneta desperta, nunca mais esquecer
se a Luz toca no escuro, espera agora o anoitecer.

Que bela surpresa no convento de Belmonte!

Eu já tinha as melhores referências da pousada do antigo convento da serra da Senhora da Esperança, em Belmonte. E da maravilha que é o restaurante gourmet da pousada, cujo chef é Valdir Lubave.


Só vos digo que comecei com um «Capuccino de cogumelos com espuma de ervas aromáticas do jardim do Convento»...


... mas a surpresa foi ver que os quartos, em vez da habitual numeração, têm os nomes de frades, como se fossem as suas antigas celas do convento. Cada frade tem a sua «especialidade». E à frente de cada quarto está uma imagem do frade respectivo. Fiquei na cela do frei Luís, o arquitecto. Mas na recepção da pousada há canecas e cinzeiros com cada um dos frades. E achei uma delícia, em especial, o frei Damião, o colhedor de fruta. O cinzeiro teve que vir para a minha colecção:


O Quê?!...



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06 janeiro 2011

O João aprova #4


E como não? Como não aprovar isto? Não promove o contacto visual, que seguramente faz falta numa relação e que, provavelmente, é muito mais procurado pela mulher (sentimental) do que pelo homem (putativo dominador), no entanto é uma daquelas posições que nunca falha. Uma das minhas favoritas. Recomendo vivamente. Estou em crer que, para um homem, o que tem de primário, equivale-lhe em prazer. As mulheres que se pronunciem, p.f..

Versão malandreca criada em 1967 por Paul Krassner, desenhista da Disney


(crica na imagem para ampliar)


Visto em Sweetlicious (obrigada, Raphael B.)

Naturalmente quentes

Ibiza Fucking Island siempre



De la serie IBIZA FUCKING ISLAND
(bytatum.blogspot.com)
Lápiz sobre papel 2006
Formato DIN A4

05 janeiro 2011

O botão

– Sabe do que eu gostava, Alice?
– Sabe?!
– Sabes do que eu gostava?
– Sim, assim está melhor. Do quê?
– Se calhar, vai… vais levar a mal.
– Diga, homem. Se não disser…
– É que eu gostava muito.
– O que virá daí…
– Se calhar ficas aborrecida.
– É provável…
– Que fiques aborrecida?
– Sim, é muito provável, sr. Cruz, é que o senhor ainda não me disse nada e eu já estou a ficar aborrecida.
– Ah!… Queres dizer que, seja como for, já não me escapo?
– Mas o senhor quer escapar?
– Não, não quero.
– Então o quer, sr. Cruz?… Olhe que o seu tempo está a acabar.
– Ao tempo que o meu tempo está a acabar.
– Eu não estava a falar desse tempo, sr. Cruz.
– Eu calculei… Está quase na hora, não é?
– É. E estou quase a acabar e o senhor ainda não me disse o que quer.
– Não levas a mal?
– Hum… mas o que é que irá sair daí? Devo ficar preocupada?
– Não, preocupada não, não há razões para isso.
– Menos mal… Pode-se virar para dobrarmos as pernas.
– Para dobrarmos não, para eu dobrar.
– Só se for hoje, seu preguiçoso!
– Mas as pernas são minhas.
– São, quanto a isso não há dúvidas, mas como sou eu que as dobro.
– Isso é verdade… Podes-me pôr a almofada debaixo da cabeça?
O homem virou-se de barriga para cima, a mulher pôs-lhe a almofada debaixo da cabeça e, sorrindo, dirigiu-se aos pés da cama, onde lhe agarrou os pés.
– Vamos lá! Vou-lhe só levantar e segurar os pés e o sr. Cruz vai tentar dobrar as pernas.
– Ah…
– Força!
– Mais?
– Baixe a cabeça… Encoste a cabeça à almofada.
– Eu…
– Boa! Está a ver…
– Agora não.
– Outra vez. Estique. Vamos lá. Agora não? Agora não o quê?
– Não estou a ver.
– Boa! Dobre. Dobre. Está quase, está quase… Não estou a perceber nada, sr. Cruz. Não está a ver o quê?
– Nada. Não estou a ver nada.
A mulher segurou-lhe os tornozelos e empurrou-lhe suavemente as pernas, dobrando-as. Levantou a cabeça e olhou para a cabeça do homem pousada na almofada. O homem tinha os olhos fixos no tecto e uma estranha expressão de resignada tristeza. Em silêncio, ela flectiu-lhe as pernas mais algumas vezes.
– Já está – disse, terminando o exercício e esticando-lhe as pernas, enquanto se endireitava. Olhou para os pés do homem e, quando levantava a cabeça, espantou-se com a clara visão dos seus volumosos seios apertados no soutien rendado branco entre o tecido da bata que tinha um botão aberto a mais e, repentinamente, compreendeu o sentido da conversa do homem e a expressão amargurada com que ele contemplava o tecto.
Nesse momento, o homem levantou a cabeça e os olhos de ambos cruzaram-se, antes dos deles descaírem, por um instante apenas, para o acidentalmente generoso decote da fisioterapeuta.
– E, afinal… – a mulher decidiu dar a entender que não tinha percebido o olhar guloso do velho artrítico e, enquanto ajeitava a bata e fechava o botão, tornou ao desejo inconfessado do homem: – O sr. Cruz não me disse o que queria.
Injuriando em silêncio os dedos ágeis da mulher que fechavam o relapso botão da bata e lhe trancavam a felicidade por trás de um pedaço de tecido, o velho sr. Cruz murmurou:
– Fica para a semana, Alice. Fica para a semana.

Poucos cogumelos, trálálálá?

Dúvidas houvesse de que o Mundo está prestes a acabar e a esta hora já os Cavaleiros do Apocalipse fecharam os cadeados protectores da castidade das suas respectivas e têm as malas feitas, ESTA notícia prova a intenção divina de acertar contas com esta terra pecadora.
Depois dos escândalos que brotaram como cogumelos (sim, freiras e cogumelos são uma combinação inevitável) no seio da Igreja Católica envolvendo os seus clérigos com pila, eis que a coisa (não a pila mas a perfídia) alastra aos símbolos de virtude que restavam (tirando os anjinhos ornamentais, mas esses são de madeira ou de pedra e seria batota arrastá-los para esta negra estatística).

Para quem não tiver pachorra para seguir o linque e ler a notícia, em causa está a acusação formal de abusos sexuais por parte das freiras responsáveis por um orfanato. Aberto já está o inquérito para apurar a sórdida verdade de mais estes factos que se vão acumulando em torno do pagode que se tem vivido em inúmeras instituições directamente ligadas à (cada vez menos) Santa Madre Igreja.
Chocante (montes de) é o relato angustiado de um cinquentão a quem terão enquanto criança as malvadas executado algumas mamadas mesmo durante o sono (the horror, the horror!), ao ponto de lhe provocarem problemas psicológicos (se calhar tinham pouca prática ou assim...).
Uma pessoa nem consegue imaginar o drama vivido na pele de quem acordava a meio de tais sessões de tortura, valha-lhes Ele...

Versos nus

Sei dos meus versos lentos, sonolentos,
que já não precisam de palavras;
escuta-me, agora, onde tu sopras
eles desenham os momentos,
chaves em portas que tu abras.
Sei dos meus versos lentos, minutos
breves em que tu me encontras
escuta-me, agora, quando tu entras
eles não querem ser escritos
dizem que as palavras são magras.
Sei dos meus versos lentos, tontos,
nus, eram demasiado pequenas, as letras;
tu entras, e os versos lentos, imperfeitos.

Indulgência

Uma frase. Por vezes nem uma frase é, apenas uma palavra mal escolhida, ou sequer escolhida.
Mas uma expressão... uma daquelas que discursam monólogos de dor e destilam contundentemente dragões e monstros infernais que nos puxam às catacumbas do Universo, privando-nos da Luz que nos guia os dias e as noites... essas são as expressões que alimentam. Alimentam dor às almas que ainda têm espaço para conter, até que um dia vertam toda a mistura de fel encerrada.

Releva-se. Não adianta. Perdoa-se em expoente de virtude, expressões que nada caracterizam o Eu e apenas existem em plano de perspectiva dramática de insucessos consecutivos. Afinal não dói. Apenas fere por instantes. Absorve-se um pouco mais. Não custa. Guarda-se. Transforma-se para que possa usufruir em proveito de crescimento e concretização.
E essas expressões continuarão guardadas com restantes expressões de outras vidas, em cofre de betão, quase imutável para permitir olhares de felicidade e continuar a ouvir doces melodias, ver campos verdejantes e céus com estrelas e ocasos lunares...
Continuarão guardadas até que um dia o cofre não seja suficiente, ou algum tipo de segredo sirva na sinuosa e recôndita abertura, que libertará os demónios negros e barulhentos que assolam a noite e o sono, em entre-acto da radiante e serena Luz do dia.