Coração sem medo é árvore sem sede, não há o que o faça beber, não há o que o faça viver; seca e morre, sem luta.
Sem amor? Coração sem amor é árvore sem raízes.
18 julho 2011
17 julho 2011
«No quarto andar em frente» - por Rui Felício
Por essa altura, uma bela quarentona de cabelos pretos de azeviche, veio morar no quarto andar do prédio defronte da minha casa.
Os meus vinte e seis anos, ainda solteiros e viçosos, despertaram ao vê-la à janela, a um sábado de manhã, a sacudir o pó de um tapete, o busto firme e redondo a dançar dentro da blusa preta e justa.
À noite regressava a casa cedo e quedava-me invariavelmente na varanda da sala, fumava cigarros atrás de cigarros a olhar o vai vem do perfil elegante e de formas generosas da minha nova vizinha a cirandar na cozinha com a luz acesa.
Noite após noite, depois de ela apagar a luz, acabava por me estender na cama, com os olhos fixos no tecto sem o ver, a imaginar o que estaria ela a fazer naquele momento.
Construía as mais mirabolantes imagens, adivinhava-a no quarto, deitada de lado, o braço roliço dobrado sob o peito, o respirar cadenciado de um sono calmo, retemperador das lides diárias. E o desejo de estar com ela inundava-me a mente e o corpo...
Fazia planos para, no dia seguinte, ir bater-lhe à porta para lhe dizer que estava apaixonado por ela. Mas logo os abandonava, receoso da reacção que ela pudesse ter.
Não! Tinha que encontrar uma forma menos intempestiva, de proporcionar um encontro ocasional com ela, mas para isso tinha que descobrir quando é que saía de casa, para ir trabalhar ou para ir às compras.
Embora mais velha do que eu, era o género de mulher que me atraía. Cheia, robusta, sólida e, sobretudo, morena de cabelos negros.
Eu perdia-me por mulheres de cabelos pretos! Fazia parte dos meus genes!
No sábado seguinte de manhã, acordei cedo e lá fui, como de costume, para a varanda, na expectativa de a ver sair e tentar um encontro casual.
Passado um bocado, a janela do quarto andar abriu-se e por entre as portadas, vejo sair um tapete oscilando no vazio preso pelas mãos da minha vizinha que o sacudiam vigorosamente.
O corpo dela debruçou-se, pela primeira vez olhou para mim e sorriu-me. O meu coração disparou em incontroláveis e fortes batidas, acenei-lhe de leve com a mão com um leve sorriso, e só então reparei que os seus cabelos estavam louros. Talvez por causa do meu ar espantado, disse-me a rir que tinha pintado o cabelo!
Mandei os genes às malvas e reconfigurei os meus gostos! A partir daquela visão, passei a ser um perdido, um louco por mulheres louras...
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
A prostituta azul (XIII) - Prestações
Cada gesto assombrado pela memória demasiado lúcida do desejo, uma ilusão quase perfeita da fome era abandonada em cada toque que percorria o corpo dos amantes. Não são apenas os olhos que traem o quadro de espessa tela da ilusão, aliás, nos olhos também podem morar os fantasmas, a intensidade da memória também trespassa o olhar, quem lá pousa o seu também poderá confundir esse brilho com um desejo presente, pois, sim, sim, é nos ombros refeitos de um chumbo que curva a coluna; nos ombros, o peso ostenta o fantasma da solidão. Os amantes julgavam que o corpo da mulher traía o desejo que a voz dela não lhes queria dizer, abandonavam-se àquela derrocada do vazio sobre as suas cabeças, resvalavam para dentro do corpo da mulher, mais fundo do que alguma vez tinham ido com outra; dentro dela, existia muito mais espaço, ela fugia, saía de si para onde os fantasmas a levavam, deixava o espaço aberto, imenso, do corpo vazio - qualquer vazio é maior do que qualquer corpo -, sem que ninguém que a ocupasse conseguisse ver para além da muralha do calor. Ainda sobrava a verdade nos ombros pesados mas, no leito, pareciam vergados ao turbilhão nos lençóis. Era a prostituta mais barata do mercado, desejava estar disponível para quantos amantes a solicitassem, cada um era um comboio para o passado, cada euro pagava o bilhete de embarque para fora de si.
16 julho 2011
Única
Dos beijos que trocámos,
húmidos e apaixonados,
eu guardo o sentimento
do teu sorriso,
e sei de ti (entre as minhas pernas),
sugando a minha vida
e salpicando-me
de loucura.
No teu regresso,
comporei a música que
- ainda -
te falta.
A única música de nós:
a do prazer infinito.
Poesia de Paula Raposo
Patinho cor de rosa da Sephora
Ofereci este patinho, já há alguns anos, à Gotinha.
Num Encontra-a-Funda seguinte ela devolveu-mo: "fica melhor na tua colecção".
É uma jóia, a Gotinha.
Num Encontra-a-Funda seguinte ela devolveu-mo: "fica melhor na tua colecção".
É uma jóia, a Gotinha.
15 julho 2011
Aprendiz de Frankenstein
Os olhos da Elizabeth Taylor.
O nariz da Cleópatra (pronto, admito que não reparo muito em narizes...).
A boca da Angelina Jolie.
O peito da Salma Hayek.
O rabo da Jennifer Lopez.
As pernas da Tina Turner.
O apetite sexual do Shark (pronto, admito que pensei primeiro no Strauss-Khan...).
Oremos
Pai nosso que estais no céu,
Santificado seja o Ricardo Esteves,
Venha até nós o Ricardo todo nu,
Sejam inventadas novas posições,
Assim no quarto como no quintal,
As posições de cada dia e as que só fazemos à noite,
Perdoai os nossos palavrões,
Assim como nós perdoamos aqueles que acabam antes do tempo,
Não nos deixais cair no chão porque a tentação já lá vai,
E livrai-nos de que o preservativo se rompa,
Em nome do Ricardo, do pénis do Ricardo, e dos tintins do Ricardo,
Ah, man!
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