27 setembro 2011

Grécia: eu má, os homens maus...

Há, afinal, vários intervenientes nesta história mágica do por-do-sol. O céu exposto a nu rende-se à noite, ela que o viole nas mais diversas direcções. O Sol, furioso com a traição do azul, lança fogo ao horizonte. O escuro é tão liquido na noite que nos chega aos olhos e dilui as chamas num alaranjado que se apaga. Todo este mar se lança na água dos rios, mergulham todos de mão dada. Tudo isto acontece submerso mas a água ri-se e garante-nos que é apenas reflexo, que nada ali acontece de verdadeiramente importante, nenhum espelho é real. Como se a água não soubesse que, quanto menos água temos, mais secamos. Como se a água não soubesse que nos vive ou nos deixa morrer. Há quem viva com muito pouca água, há humanos que são quase todos sólidos, como as pessoas que estão a filmar o por do sol porque lhes ensinaram a lista de coisas que nos devem fascinar ao ponto de serem filmadas. Mas não filmam os homens maus que vivem na casa do elevador do telhado. Os homens que vivem na casa do elevador são feios e sujos e fugiram da terra deles, fugiram do medo e da fome e da miséria e trazem tudo e mais o horror pendurados nas pestanas, por isso devem ser maus. Também moram muitos naquele espaço tão pequeno, por isso devem ser maus. Também fugiram da miséria das suas próprias ruas para passearem a miséria nestas ruas doutros, por isso devem ser maus. A cor diferente da pele deles é feia e suja e tem outro cheiro que lhes sulca a expressão do rosto, metem muito medo, por isso devem ser maus. Não consigo filmar a história mágica escrita nos olhos sem palavras destes homens maus, o pó que lhes molha a pele e as mãos também nada diz, devem ter ficado mudos vivos, uma espécie de mordaça da alma, talvez só lhes falem as pernas e por isso é que não trabalham e vagueiam todo o dia, rua acima, rua abaixo, enquanto os braços pendurados falam com a miséria e enganam a existência. Não sei, mas deve estar tudo nos telejornais. Nenhum deles me conta nada por isso vou continuar a falar com o céu e com a água, a esta hora consegue-se ver o fundo de tudo. Eu também devo ser má porque não concedo aos homens maus existência fora do meu olhar fixo, pelo menos o direito a não serem olhados fixamente, olho-os como se fossem animais numa jaula, como se eu tivesse pago um bilhete que me dá o direito de os olhar assim.

Ricardo Esteves - Terapia de Casa-de-Banho

Foi assim

O mar pintou de azul
o teu corpo moreno e nu;
o silêncio bastou
na tua entrega,
vertente inesperada;
lembrei-me de te olhar
e, no vão da varanda
o quarto estava na sombra.
Masturbavas-te.

Poesia de Paula Raposo

Com todo o orgulho, aqui está o primeiro video de apresentação da minha colecção

Estou toda molhadinha...
Muito obrigada, Miss Joana Well, Luís Gaspar, Joana Moura e Bill Evans!
E já está na forja mais um video com outro poema da Miss Joana Well. De seguida, haverá mais dois videos, com um texto e um poema do Jorge Castro (OrCa).


«Caminhantes no vale da sedução» - a funda São from São Rosas on Vimeo.

26 setembro 2011

Fruta 12 - Kiwi nu

Photobucket

Poesia de Casimiro de Brito na voz d'ouro de Luís Gaspar

O nosso amigo Luís Gaspar, do estúdio Raposa, volta a mimar-nos com Poesia Erótica, desta vez (a terceira) do também nosso amigo Casimiro de Brito:


nº 51 da Poesia Erótica do Estúdio Raposa

Denorex 80 (a banda mais sacana da cidade) - «Ereção»

Lembram-se da música «Oração» (tão repetitiva, coitadinha) da «Banda mais bonita da cidade», grupo brasileiro?
O grupo DENOREX 80 recriou-a como sátira erótica.



"Meu amor, essa é a última ereção
P'ra salvar a relação
Ereção não é tão simples quanto pensa
Haja sangue p'ra bombar essa cabeça
Ah, meu Deus, que dor
Cabem «duas bola inteira»
Cabe até uma torradeira [furadeira / betoneira / escavadeira / geladeira / etc.]
Só dói depois"

Testemunha de sexo violento



A notícia no JN: Castelo Branco em caso de orgias sexuais violentas

HenriCartoon

on saura tout - Évelyne Louvre-Blondeau



le blog d'Évelyne Louvre-Blondeau

25 setembro 2011

Tradução do meu olhar

Está intacto, o vocabulário do meu peito.
Nenhuma palavra me abandonou,
nem a palavra que eu matei,
nem a palavra que estrangulei,
nem a palavra que deixei, órfã, no refúgio do coração.
Se, por vezes, o meu olhar te parece estranho
é porque o olhar são as mãos dos olhos
e, atrás deles, escondem-se essas palavras,
então, eu estarei a tocar o nosso mundo
com esses dedos, dedos que fervem
porque o silêncio ferveu tudo o que eu não disse
até à ebulição, e transbordou-me para o teu colo.