23 dezembro 2011

O Cometa

Vera entrou em casa, viu as chaves de Manuel dentro do cinzeiro em cima do móvel da entrada e gritou enquanto caminhava à procura dele:
– Um planeta. Um planeta!
Manuel, sentado em frente ao portátil pousado na mesa da cozinha, viu Vera entrar, lançar a mala para cima da mesa e, em silêncio, ouviu-a repetir num sussurro sentido:
– Um planeta!
O homem coçou a sobrancelha esquerda num tique nervoso e permaneceu sentado e calado à espera da explicação para os três planetas que Vera lançara desde que entrara em casa.
Vera abriu a mala e procurou, no meio do caos e da matéria negra que se concentrava aí dentro, o seu telemóvel.
Manuel passou as pontas dos dedos da mão direita pelo queixo, suspeitava saber do que estava ela à procura e de onde lhe provinha a fúria mas permaneceu calado e expectante, tendo confirmado as suas suspeitas quando ela lhe mostrou o telemóvel como se o objecto fosse, só por si, uma acusação incontestável. Manuel só não conseguia perceber de onde vinham os planetas.
– Sabes o que é isto? – Perguntou Vera agitando o telemóvel. Manuel anuiu com a cabeça. Vera continuou: – E para que serve? – Manuel repetiu o gesto. Vera acrescentou com desprezo: – Bem me parecia que era só por não me quereres ligar.
Manuel juntou as mãos em cima da mesa e entrelaçou os dedos.
– Nem uma mensagem, foda-se! – Recriminou Vera, largando o telemóvel em cima da mesa ao lado da mala. – Nem um miserável sms…
Manuel pensava numa desculpa que, na realidade, nem lhe apetecia dar. “Não me apetecia falar e sms é para meninas.” Manuel riu para dentro: “Ou para enviar a meninas.”
– Não dizes nada?! – Vera esperara por uma das desculpas esfarrapadas com que o companheiro a costumava brindar e que a enfureciam mas, ao mesmo tempo, a divertiam; a ausência de desculpa era uma novidade para a qual não estava preparada. Puxou uma cadeira e sentou-se, olhando-o fixamente como se, assim, lhe conseguisse arrancar uma resposta.
Manuel esperou, olhou para os dedos que movia sem separar as mãos, e esperou que ela voltasse a mexer no telemóvel. Nervosa, Vera desviou o olhar e tocou no telemóvel, fazendo-o girar. Deixou-o parar por si e agarrou-o. Sem levantar os olhos das mãos, Manuel sorriu. Fechou o sorriso e perguntou:
– E o planeta? O que era o planeta?
Vera uniu as mãos com o telemóvel lá dentro. Sérgio dava-lhe valor, mimava-a. Ligava-lhe para lhe dizer que se lembrara de si por coisas insignificantes e mandava-lhe mensagens dúbias com segundos e terceiros sentidos que a faziam corar e rir como uma adolescente. “E, no entanto, é este parvo que me tem. Que me come.” Sérgio era um satélite. Uma lua que girava em torno de si. “Um planeta. Eu sou um planeta…”
– E tu pensas que és o sol – concluiu Vera, sem mais explicações.
– Eu penso que sou o sol?
– Sim, pensas – concordou Vera – mas não és.
– E o planeta, és tu?
– Sou.
– E eu sou o sol – Manuel sorriu luminosamente; sentia-se assim.
– Não – atalhou Vera, com cortante secura –, não és.
O sorriso de Manuel extinguiu-se. Vera estudou-lhe o rosto, invulgarmente tenso, e sentiu uma estranha leveza, um bizarro e surpreendente bem-estar. O telemóvel vibrava-lhe nas mãos sinalizando a recepção de um sms.
– És um cometa – disse Vera a sorrir. – Um cometa brilhante, que nos alegra as noites e nos assombra os dias… – Vera sentia cócegas nas palmas das mãos e sorria – mas que se vai. – Manuel olhava-a em silêncio com ar estranho, algo alucinado. O telemóvel parou de vibrar. Vera concluiu, sem contemplações mas ainda tranquila: – Um cometa que brilha como o sol e que nos engana e que depois nos maravilha…
– Que nos alegra as noites e assombra os dias – repetiu Manuel que gostara da frase.
– Sim mas que se vai e no fim deixa apenas um rasto que se vê durante algum tempo mas depois se perde e se esquece…
– Até que volta.
– Tu não és dos que volta.

Fruta 52 - pôr do sol patrocinado pelo patrão

Photobucket

[Foto: Gregory Prescott, Isaac]

Truque para convencer os homens


Check out these boobs! from nienaut on Vimeo.

Argumento convincente

Convencer um homem a fazer alguma coisa não é tão difícil assim.




Na verdade é muito fácil, quando se tem peitos.

Capinaremos.com

20 dezembro 2011

Eva portuguesa - «Caçada!»

"São muitas as vezes em que me perguntam se não tenho receio de ser «caçada»; de alguém do meu mundo real descobrir esta minha outra vida...
Ora bem, à partida a minha resposta é sempre Não. Não, porque também ninguém me pergunta se tenho comida em casa ou dinheiro para pôr na mesa... ninguém se dispõe a ajudar quando preciso... ninguém me convida para eu ter sítio onde dormir com o meu filhote... ninguém me questiona se tenho dinheiro suficiente para sobreviver... e sobretudo para sustentar o meu menino.
Após a invariável pergunta de «já arranjaste trabalho?» e a resposta negativa de minha parte, a resposta é: «pois... está difícil!...»
A minha vontade é rir-me na cara destes falsos preocupados e gritar-lhes: Onde é que vocês pensam que eu tenho ido buscar dinheiro para me sustentar e a uma criança?! Idiotas!
E confesso que racionalmente é isso que penso. E até hoje também era isso que sentia... Até hoje, porque hoje fui «caçada» por aquele que é o meu melhor amigo há 20 anos... e fiquei... muuuuuito sem graça!...
Senti-me exposta, falsa, uma fraude!...
E atenção que estamos a falar de uma pessoa que me conhece muito bem,que não é uma falsa moralista e que eu sei que jamais me prejudicaria!...
Não nasceu em mim um sentimento de receio mas sim de vergonha!
Hoje foi a primeira vez que senti vergonha daquilo que faço...
Hoje senti culpa...
Mas depois... ele envia um sms à Eva em que diz: «Cada dia que passa admiro mais a mulher extraordinária que és!»...
E assim, de repente, percebi que, pelo menos neste caso, até foi bom ser «caçada»... relembrei o verdadeiro significado e valor da palavra amizade... e amei ainda mais este Homem que, sendo uma pessoa bem sucedida e pai de família, conhecendo-me desde pequena, compreendeu, sem eu lhe ter explicado o porquê da Eva, o valor e veracidade da mulher que está por detrás dela...
A esse enorme amigo dedico este artigo «caçada»."
Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado