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01 janeiro 2012
Frases do Ricardo Esteves - constatação de mestre
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«Amigos para sempre» - por Rui Felício
O Eduardo morava no Bairro e o Carlos Santos em Celas, mas foram ambos sempre da turma D nos sucessivos anos do Liceu D. João III. Criaram uma amizade para toda a vida.
Feito o 7º ano, o Eduardo arranjou emprego num Banco e começou a trabalhar, enquanto o Carlos seguia os estudos na Faculdade de Direito. Mas continuavam a encontrar-se com frequência. Praticamente todos os dias, desde que o Eduardo começou a namorar com a Telma que era vizinha e amiga do Carlos na Cruz de Celas. Já casados, o Eduardo e a Telma foram viver para a Av. Dias da Silva, muito perto da casa do Carlos que, já advogado, e ainda solteiro, alugara um rés-do-chão na Alameda D. Afonso Henriques, exercendo a sua actividade numa pequena divisão transformada em escritório e que continuava a ser visita assídua do casal, numa demonstração de amizade indestrutível e eterna.
Um dia, nos Arcos do Jardim, a caminho de casa, o Eduardo viu uma carteira no passeio ao lado do muro da Penitenciária. Entalou a carteira entre os pés, olhou para um lado, olhou para o outro, certificou-se que ninguém o estava a observar, agachou-se e pegou-lhe metendo-a rapidamente no bolso das calças.
Estugou o passo, nervoso, e, já perto da Alameda, não resistiu a puxar da carteira e abri-la.
Incrível! Um maço de notas de cinco e de dez contos, perfaziam a avultada quantia de 250 contos! Pela sua cabeça as ideias sucediam-se em turbilhão. Devia ficar com o dinheiro? Era suficiente para comprar outro carro. O seu velho Morris já andava a precisar de reforma. Mas, e se o dinheiro tinha sido roubado? E se as notas estavam marcadas? Se fosse descoberto, ainda ia perder o emprego de bancário...
Não! Era melhor devolver a carteira. Mas a quem? Vasculhou a papelada que ela continha à procura de um cartão de visita, de uma referência qualquer que identificasse o dono. No meio de bastos papeluchos, alguns ensebados, bilhetes de trolley, facturas de almoços, pequenos papeis dobrados com anotações pessoais, que o Eduardo se recusou a abrir por ser um homem sério, lá descobriu na contra-capa um memorando com o nome, o grupo sanguíneo, o contacto telefónico, a profissão.
Era espantoso! Agora estava seguro que não se apropriaria do dinheiro nem da carteira. O dono era o seu grande amigo Carlos Santos e faria questão de lha devolver. Ficou de consciência tranquila. Seria melhor assim.
Quando chegou a sua casa, estava lá o Carlos na cozinha a conversar com a Telma.
- Não perdeste nada, pá?
- Não, acho que não, disse o Carlos.
- Tens a tua carteira contigo?
O Carlos procurou nos bolsos. Cada vez mais nervoso constatava que, realmente, não a tinha. Devia tê-la perdido com uma pequena fortuna lá dentro! E com papeis muito importantes!
- Quem é amigo, quem é? Toma lá a tua carteira. Achei-a nos Arcos do Jardim.
O Carlos agradeceu-lhe, abraçou-o, acalmou a sua aflição, e retirou lá de dentro, sorrateiramente, um dos papeis dobrados que o Eduardo não quisera abrir por imperativo de consciência. Logo que o amigo virou costas, para ir ao quarto trocar de roupa, entregou o bilhetinho à Telma, com um sorriso cúmplice. Ela, corada, foi lê-lo para a casa de banho.
Depois rasgou-o, deitou-o na sanita e puxou o autoclismo.
Era mais uma das declarações de amor que o Carlos Santos gostava de lhe fazer...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
(foto: Hugo Antunes - Olhares)
31 dezembro 2011
ABSINTOS [Dois Pénis Empinados]
(...) um pénis epavoa ranhuras de um ânus colecionado em incensos purulentos. Um par de sombras em círculos engomados no silêncio dos pintelhos nus onde cios estelares entram e auscultam a vagina dum chão delirante. Os moinhos cordilheiros em falésias transformam as confidências excêntricas e antecipados da insaciável mutabilidade de um cativeiro epidérmico onde tridimensionalmente ambos os desvãos balançam em transições destemidas...
as mãos em gomos fundeiam a cabeça e os anseios abocanham nas palavras o litoral fertilizado das mós giratórias do desembarcadouro.
invertidos, os pólos espiam o mais indule dos lancinantes pensares. Os lábios imponentes do Pénis em brasa na demarcação embalada. Ilimitada. Incandescente. Rastejante. Magnetizado. Aborígene como todos os Pénis são, quando iluminados na cordoagem fatídica de um pénis forquilhador num rio aceso nas alfaias exaltadas da erótica Vagina. Aos pares os dois misturam insubordinações vigilantes no cavalgar amplexo que emancipa os sexos negros batedores que libertam as circunferências das madrugadas silenciosas no sémen líquido em gemas libidinosas que escorrem sobre a gravidade de um lençol pêndulo.
orgíaca eterna de um tesão fresco nas espirais das púbis negras onde ascendem rizomas reservadas ao corrimento interno das ereções migratórias de um Pénis inexpremivelmente encastoado sobre ogivas pontilhistas e incessantes...
Absinto, seguidamente o tempo viúvo do espaço fluvial das nómadas e multiplicadores rugidos extintos no sémen fascicular das nádegas colas em álamos perseguidas e abotoadas...
Absintos, gigantescos nas florestas pubianas num do outro nu outro manuscrito lastro onde eclodem mordeduras e miragens...! (...)
Luisa Demétrio Raposo
as mãos em gomos fundeiam a cabeça e os anseios abocanham nas palavras o litoral fertilizado das mós giratórias do desembarcadouro.
invertidos, os pólos espiam o mais indule dos lancinantes pensares. Os lábios imponentes do Pénis em brasa na demarcação embalada. Ilimitada. Incandescente. Rastejante. Magnetizado. Aborígene como todos os Pénis são, quando iluminados na cordoagem fatídica de um pénis forquilhador num rio aceso nas alfaias exaltadas da erótica Vagina. Aos pares os dois misturam insubordinações vigilantes no cavalgar amplexo que emancipa os sexos negros batedores que libertam as circunferências das madrugadas silenciosas no sémen líquido em gemas libidinosas que escorrem sobre a gravidade de um lençol pêndulo.
orgíaca eterna de um tesão fresco nas espirais das púbis negras onde ascendem rizomas reservadas ao corrimento interno das ereções migratórias de um Pénis inexpremivelmente encastoado sobre ogivas pontilhistas e incessantes...
Absinto, seguidamente o tempo viúvo do espaço fluvial das nómadas e multiplicadores rugidos extintos no sémen fascicular das nádegas colas em álamos perseguidas e abotoadas...
Absintos, gigantescos nas florestas pubianas num do outro nu outro manuscrito lastro onde eclodem mordeduras e miragens...! (...)
Luisa Demétrio Raposo
[Blog Vermelho Canalha]
«Ai, muito me tarda o meu cu na Guarda»
Já vos tinha aqui falado desta pequena estatueta «cu da Guarda», da autoria de Daniel Martins, artista da Guarda e que o David Caetano me ofereceu no 16º Encontra-a-Funda.
Aqui, deixo-vos uma visão dos quatro lados da peça, que está agora na minha colecção... virada para Espanha, como convém:
Aqui, deixo-vos uma visão dos quatro lados da peça, que está agora na minha colecção... virada para Espanha, como convém:
30 dezembro 2011
Tó
Márcia, farta dos silêncios dos últimos dias, sentou-se no sofá ao lado de António e interpelou-o mais uma vez, agora directamente sem rodeios nem meias palavras, fê-lo numa difícil conjugação de sentimentos com modos ásperos e ar aborrecido mas num tom compreensivo e disponível:
– Mas afinal o que se passa contigo, Tó?
António olhou-a de relance, engoliu em seco, encolheu os ombros e sussurrou apático: – Nada – voltando a fixar-se na televisão na esperança que a conversa não chegasse a arrancar.
– Nada?! – O semblante de Márcia endureceu mas, após o “nada” dito num tom mais consentâneo com as faíscas no olhar, a voz voltou a ser macia e agradável: – Tu não falas, não dizes nada. Andas a cair pelos cantos com cara de enterro. – A mulher ajeitou-se no sofá, virando-se mais para ele, e pousou a mão na sua perna esquerda, levando a que ele tornasse a olhá-la e que os olhares se cruzassem. Ela aproveitou: – O que se passa, António? É comigo?... É connosco?
Ele apreciou-lhe os olhos que chispavam dando ao castanho-amendoado ainda mais fogo e cor, reparou no ligeiro arquear das sobrancelhas que lhe dava um ar tristonho mas suplicante e nas pequenas rugas nas comissuras dos lábios que só surgiam quando ela estava tensa e séria. António parecia inocentemente embevecido quando se fixou nos lábios carnudos sem serem grossos e esqueceu as comissuras ou o arquear das sobrancelhas. Ela sentiu o olhar e sorriu. António, que adorava sentir-lhe os lábios e o que ela lhe fazia com eles, temeu que ela percebesse a volúpia no seu olhar e baixou os olhos que, “ó martírio!”, ficaram presos no decote dela. Adorava o que ela lhe fazia com as mamas. “Grisolete”, pensou António, sem saber como se escrevia ou sequer se o termo realmente existia e engoliu um sorriso por suspeitar que, se o mostrasse, o teria de explicar.
– Não, Márcia, não é nada contigo – disse António a meia voz, olhando para a janela da sala. – Nem connosco.
Márcia gostou do tom contido da resposta e do olhar esgazeado que ele lançou para a rua, apertou-lhe a perna com os dedos como se lhe quisesse transmitir força e depois acariciou-lhe o joelho.
António esperava que a mão lhe subisse pela perna. Adorava o que ela lhe fazia com as mãos. Esqueceu o decote, as mamas e a grisolete que, concluíra com mágoa, estava fora de questão e, até, os lábios, mas, sentindo a mão no joelho, pensou em tirar imediatamente as calças, que era o que lhe apetecia; só não o fez por julgar que era prematuro e, provavelmente, contraproducente. “Tenho de ter paciência,” pensou. “O joelho é um mero apeadeiro”, e riu para si.
– Mas, então, o que se passa? – insistiu Márcia, sem afastar a mão do joelho, sentindo que ele não ia continuar a falar.
– No outro dia percebi uma coisa – disse António, sério e compenetrado, ainda que não conseguisse deixar de pensar porque é que ela não lhe largava o joelho e não lhe subia pela perna acima. – Uma coisa em que nunca tinha pensado antes e de que só me apercebi há dias – continuou ele lentamente, fixando-se na mão dela que tentava puxar telepaticamente mais para cima, sem sucesso. Frustrado, esqueceu-se do que estava a dizer e calou-se.
Márcia suportou o silêncio enquanto conseguiu; percebeu que o estava a fazer muito para além do habitual mas quis respeitar-lhe o ritmo. Não o queria apressar ou pressionar. Esperava uma confissão dorida ou a exposição de qualquer coisa séria que o atormentava e, sabia-o por experiência própria, era necessário que a pessoa que se expõe possa fazê-lo nas suas condições, nos seus termos, seguindo os seus próprios ritmos e sentimentos.
Continuaram calados: ele a olhar para a mão, ela a olhar para ele.
– E? – Lançou Márcia num murmúrio respeitoso, na dúvida entre o temor de que o momento tivesse passado e o medo de estar a ser precipitada.
Alheio às dúvidas de Márcia, António dividido entre a decepção dos seus malogrados esforços telepáticos e a enumeração fantasiosa das virtualidades que um poder desses podia ter para melhorar a sua vida sexual que o “E?” subitamente interrompeu, respondeu sem pensar, num tom ressentido e com expressão naturalmente aparvalhada: – E, o quê?
Márcia tomou o tom e o ar de António como a resposta à sua precipitação: ele precisava de mais tempo. “Os homens são assim”, pensou. “Precisam sempre de mais tempo.”
– E… – Márcia falava com ar compungido como se pedisse desculpa. “Coitados!” – O que é que percebeste no outro dia?
– Ah! – António esquecera-se mas relembrou-se e anunciou tristemente: – No outro dia é que percebi que já ninguém me pergunta o que quero ser quando for grande.
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