22 janeiro 2012

Juncalhatoda - «Vai ligar o motor de rega»

Fruta 64 - Sushi citadino

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[Foto: Gregory Prescott, Peter]

Dois milhões e quinhentos mil afundanços...


... é obra, malta!

«A senhora fidalga» - por Rui Felício


Desconhecia-se-lhe a genealogia, mas o seu porte altivo, raiando às vezes a sobranceria, fazia com que os camponeses se desbarretassem e se curvassem à sua passagem, cumprimentando-a reverentemente e apelidando-a de Senhora Fidalga.
Depois de lhe terem morrido os pais em anos sucessivos, vivia sozinha no enorme casarão apalaçado, fronteiro ao Mondego, antes de se chegar à Portela, rodeado pela quinta cheia de pomares, bungavilias, madressilvas e um extenso vinhedo. Solteira, com quarenta anos feitos há pouco, nunca constou que se tivesse enleado nos amores de algum namorado ou amante.
Caminhou pelo corredor, atravessou o salão de jantar, aproximou-se da gaiola pendurada junto a uma janela, meteu a mão pela frincha da grade entreaberta e pegou no minúsculo canário que afagou docemente. Repetindo uma rotina diária, falou com ele, chamou-lhe meu bijou, enfiou-o entre os seios e foi até ao varandim, ainda lambido pelos derradeiros raios de sol do crepúsculo.
Chamou o capataz que, por baixo, alinhava as ferramentas agrícolas que o pessoal lhe vinha entregando no dealbar de mais um dia de labuta no campo.
- Faça Vossa Senhoria o favor de dizer, Senhora Fidalga - respondeu o Francisco olhando para cima.
A atitude submissa do Francisco contrastava com o seu corpo possante, entroncado, musculoso, de homem jovem de trinta e poucos anos, bem parecido, nascido e criado na quinta onde também já tinham servido os seus pais enquanto foram vivos.
- Vem cá acima e traz uma mão cheia de aveia para dares de comer ao canário.
Passado um bocado, o Francisco bateu à porta da sala pedindo licença para entrar, trazendo na mão fechada a comida para o pássaro. Dirigiu-se à gaiola e, admirado, viu que estava vazia.
A fidalga, de olhos mortiços como ele nunca antes tinha visto, meio deitada no longo sofá, deslizou devagar a alva mão pelo veludo vermelho e macio do cadeirão e, em voz cava, disse ao Francisco:
- Anda cá, homem! O bijou está aqui!
Atónito, o Francisco viu-a abrir o generoso decote, entrevendo lá dentro as penas amareladas do pássaro que se espanejava, irrequieto, entre as fartas carnes da Senhora Fidalga.
- Estás à espera de quê, homem? Vá, traz cá a comida depressa, que o meu bijou está esfomeado.

Desde então, os camponeses que trabalhavam na quinta comentavam entre eles, à boca pequena:
- O raio do canário anda gordo! Pudera! O Sr. Francisco dá-lhe de comer várias vezes ao dia…

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

E ainda há quem me pergunte por que motivo eu sou lésbica...

20 janeiro 2012

Fruta 63 - Charme sem meias

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[Foto: Gregory Prescott, Victor]

A serpente da mulher



Kali van der Merwe em colaboração com Valentina Leo

"Mulheres e serpentes foram associadas durante muito tempo. A sua intimidade é bem documentada em culturas antigas mas foi demonizada pelos mitos cristãos. A serpente, dada a sua forma e o facto de renovar a sua pele, é um símbolo primordial e poderoso de vida, renovação e energia sexual (...)
Aqui, uma mulher aprende a dançar de novo com uma serpente. Primeiro, ela debate-se, lutando para controlar e pacificar o poder de contorção deste réptil primitivo. Mais tarde, ela consegue encontrar a sinergia entre os movimentos do seu corpo e os da serpente. (...)"

Um sábado qualquer... - «Conspirações – parte 1» (por Carlos Ruas)

Eu sigo esta banda desenhada do brasileiro Carlos Ruas e recomendo.



Um sábado qualquer...

19 janeiro 2012

O Estúdio Raposa continua em erupção... também em prosa

O nosso amigo Luís Gaspar continua a publicar, a um ritmo "arreda que vai doido", leituras suas de textos (na grande maioria poemas) de vários autores, na página Poetas do Estúdio Raposa.
Recomendo que vão lá. Hoje deixo-vos aqui alguns textos em prosa, lidos pela «voz de ouro» do Luis Gaspar:


Paulo Afonso – “Carta de amor”
Joana Well – “Corpo”
Joana Well – “Armadilha”
Novas Cartas Portuguesas – “A Paz”(do livro “Novas Cartas Portuguesas” de autoria de Maria Isabel Barrento, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa)
José Saramago – “Maria Magdala” (do livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”)
O “Capuchinho Vermelho” de Charles Perrault
Paulo Afonso – “Quero-te”