Via Dick Art
16 setembro 2012
Osmar (IX)
Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)
15 setembro 2012
«piano» - bagaço amarelo
Convidou-me a entrar. Aceitei na condição de ter dois copos e uma garrafa de vinho, como que a dizer-lhe que esperava sentar-me com ela a conversar antes de irmos para a cama. Se é que vamos para cama, pergunto-me em silêncio. Ela estende-me um copo generosamente servido com um vinho que diz ser do Douro. Reparo nos dedos dela, que de tão finos me espantam por conseguirem segurar um copo tão grande e cheio. O piano deve ser dela. A pianista deve ser ela. Talvez a casa seja dela também.
Dou o primeiro gole e sento-me num sofá de um só lugar que me parece demasiado limpo para a roupa que trago vestida desde manhã. Ela puxa uma cadeira de madeira e senta-se perto de mim, talvez para evitar que as paredes ouçam a nossa conversa. Sou eu quem está mais desconfortável, apesar de tudo. Começo a sentir-me um monstro na casa duma bela qualquer. É a primeira vez que me apetece beijá-la.
Nada lhe falha nos gestos, como se os tivesse ensaiado uma vida inteira. Já eu, a pousar o copo na mesa de vidro da sala tenho que fazer três tentativas para não entornar vinho. O som do vidro com vidro parece-me uma bomba a atingir o solo. Fico nitidamente em desvantagem. Estou inseguro, intimidado. Ela não.
As mesas do restaurante estavam todas ocupadas. Ela chegou sozinha e perguntou-me se podia sentar-se. Foi o empregado que moderou o nosso encontro, assim que nos viu juntos. Pelos vistos somos os dois clientes habituais do mesmo sítio, apesar de eu nunca a ter visto na minha vida. Não sabia que eram amigos, disse ele. Eu também não, respondi. Ela sorriu. A conversa entre nós continuou a partir daí, do simples facto de estarmos juntos por uma casualidade. Jantámos, bebemos, saímos dali.
Pego no copo de novo. As marcas redondas que foi deixando na mesa de vidro fazem o símbolo dos Jogos Olímpicos. Costumo fazer isso várias vezes, pousar o copo de forma a fazer um desenho qualquer. Talvez, afinal, eu não esteja assim tão nervoso.É a primeira vez que me recosto para trás. Sinto o veludo do sofá a segredar-me coragem enquanto ganho ângulo suficiente para lhe ver o corpo quase todo. É bonita. Não sei bem de quem é esta casa, mas uma conversa com um bom copo de vinho é a melhor forma de o descobrir. Tocas Piano? E ela sorri.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Amor na carroça
Taça em bronze dos anos 20 do séc. XX, com 12,5 x 11 x 2 cm.
Em relevo, estão um soldado a abraçar uma senhora com chapéu de chuva, em cima de uma carroça puxada por um burro, observados por um cão e um gato. Em segundo plano , vê-se um homem em pé (a fazer o quê?) e outro sentado.
Esta carroça já chegou à minha colecção.
Em relevo, estão um soldado a abraçar uma senhora com chapéu de chuva, em cima de uma carroça puxada por um burro, observados por um cão e um gato. Em segundo plano , vê-se um homem em pé (a fazer o quê?) e outro sentado.
Esta carroça já chegou à minha colecção.
14 setembro 2012
«Isto não é um bico qualquer» - João
"Corremos todos. Uns na direcção certa, outros errantes, mas todos corremos. De manhã para a estrada a caminho do trabalho. Durante o dia, para cumprir um prazo qualquer, ao final da tarde de regresso a casa e o pouco tempo que sobra divide-se entre a vida doméstica, as pessoas que partilham a vida connosco, não raras vezes com mais trabalho que veio atrás de nós – o que é amplamente facilitado pela multiplicidade de gadgets a que hoje temos acesso -, e mesmo a mais fervorosa pessoa, seja homem ou mulher, provavelmente chega à cama e tem vontade de dormir. Não quer enrolar-se em sedução, não quer esmagar-se na humidade do sexo, quer dormir. Esta poderá ser uma das razões que leva ao desencontro entre as pessoas, a correria que mesmo quando não as afasta fisicamente, afasta-lhes as vontades. Sabendo nós que o sexo é um ingrediente importante para a vida conjunta, e que os homens – não só, mas eu que sou homem, falo do que melhor conheço – gostam muito de sexo, é fácil deduzir que quando falta o sexo, a insatisfação instala-se, e os casais divergem. E o que mais se vê, hoje, é a divergência.
Digo às mulheres que conheço, muitas, muitas vezes, que a maneira mais simples de manter um homem feliz é fazer-lhe um bico. Sinto que não me levam a sério. Mais que isso, sinto que não entendem porque o digo, e porque razão um bico – eufemismo para fellatio, bem entendido – pode ser tão poderoso. Bom, desde logo, porque os homens gostam de bicos. Ainda estou para conhecer algum homem que diga que não aprecia. Admito que a excepção exista, mas julgo, ainda assim, razoavelmente seguro generalizar e dizer que todos os homens gostam de fellatios.
Um fellatio, por muito banalizado que pareça ser nestes tempos de relativização e liberdades, não o é tanto assim. Julgo que continua a encerrar um certo sentimento de transgressão. Por um lado, porque desafia a sacrossanta regra do frango assado – i.e., o coito na posição do missionário -, por outro, talvez, porque as mulheres se esquecem de o fazer com o tempo que passa (e será justo dizer-se, eventualmente, que os homens também se esquecem do cunnilingus) o que devolve o fellatio ao domínio das doces memórias que se querem recuperar. Notem, ainda, que o homem, motivado como é, muito mais que a mulher, pela imagem, pelo estímulo visual, cresceu e tornou-se adulto, muito provavelmente, inspirado pelas cenas da pornografia convencional em que as mulheres se atiram, quase literalmente, aos pénis, lambendo-os e fazendo-os desaparecer nas suas profundas goelas como se não houvesse amanhã, como se aquele pénis fosse delicioso, e como se aquilo fosse o ápice do seu prazer sexual. Atenção homens, fomos enganados! Não me parece que seja assim. Tenho, para mim, que as mulheres – bom, muitas mulheres, há excepções -, genericamente, não gostam assim tanto de abocanhar pénis. Se achamos que a nossa vida vai ser uma pornografia em todo o seu esplendor, com as mulheres a tentar sorrir e declamar poesia de boca cheia, estamos redondamente enganados. As coisas não são assim.
Há mais razões que podemos apontar para o facto de os homens apreciarem os fellatios. Embora seja uma coisa que fragiliza, porque nos coloca à mercê de dentes e maxilares capazes de exercer várias toneladas de força, o que nos causaria dificuldades em caso de desentendimento com a feladora, não deixa, também, de ser uma situação de exercício de poder. Diria que o homem se sente poderoso quando uma mulher o abocanha. Sente-se desejado, e talvez leia algumas das mais típicas posições para o fellatio como demonstrativas da sua ascendência sobre a mulher, que se ajoelha perante ele de forma submissa. Nada mais errado, tanto quanto o sexo forte é efectivamente o feminino, como os mais informados homens certamente reconhecerão.
Regressamos assim à ideia original: a maneira mais simples de manter um homem feliz (leia-se, com isto, também, a maneira mais simples de manter um homem feliz e fiel) é fazer-lhe um fellatio regular. Porque o defendo? Simples. O coito dá mais trabalho. As pessoas estão cansadas, e precisam dispôr-se a, durante alguns minutos (mais ou menos conforme a vontade e o local) despir-se em graus variáveis, deitar-se ou recostar-se ou coisa que o valha, entregar-se a exercícios frenéticos, suar, eventualmente fingir um orgasmo (ao que parece as mulheres são boas nisso) e depois limpar-se, vestir-se, e fazer tudo o resto que há para fazer. Lamento a frieza da descrição, mas as nossas vidas não têm glamour na maioria dos dias. Oiço tanta mulher dizer-me que não tem pachorra para viver esta sequência de eventos, e que só querem é dormir, que perante isto um bico é mais simples. É descer as calças ao candidato, lamber-lhe o marsápio como se não houvesse amanhã – e nem precisam despir-se, vejam bem – e o resultado é garantido. Em poucos minutos têm um homem feliz e pronto para tudo o que quiserem, sem que tenham sequer suado muito. E, se usarem os vossos dotes interpretativos, podem fazer com que o fellatio pareça realmente desejado, feito com determinação, com enlevo. O enlevo é fundamental, porque na pornografia que nos acompanhou no crescimento, o enlevo estava lá, ainda que falso. E que não seja tímido. Um fellatio que tranquiliza um homem e lhe dá uma boa noite de sono, é um fellatio arrojado."
João
Geografia das Curvas
Digo às mulheres que conheço, muitas, muitas vezes, que a maneira mais simples de manter um homem feliz é fazer-lhe um bico. Sinto que não me levam a sério. Mais que isso, sinto que não entendem porque o digo, e porque razão um bico – eufemismo para fellatio, bem entendido – pode ser tão poderoso. Bom, desde logo, porque os homens gostam de bicos. Ainda estou para conhecer algum homem que diga que não aprecia. Admito que a excepção exista, mas julgo, ainda assim, razoavelmente seguro generalizar e dizer que todos os homens gostam de fellatios.
Um fellatio, por muito banalizado que pareça ser nestes tempos de relativização e liberdades, não o é tanto assim. Julgo que continua a encerrar um certo sentimento de transgressão. Por um lado, porque desafia a sacrossanta regra do frango assado – i.e., o coito na posição do missionário -, por outro, talvez, porque as mulheres se esquecem de o fazer com o tempo que passa (e será justo dizer-se, eventualmente, que os homens também se esquecem do cunnilingus) o que devolve o fellatio ao domínio das doces memórias que se querem recuperar. Notem, ainda, que o homem, motivado como é, muito mais que a mulher, pela imagem, pelo estímulo visual, cresceu e tornou-se adulto, muito provavelmente, inspirado pelas cenas da pornografia convencional em que as mulheres se atiram, quase literalmente, aos pénis, lambendo-os e fazendo-os desaparecer nas suas profundas goelas como se não houvesse amanhã, como se aquele pénis fosse delicioso, e como se aquilo fosse o ápice do seu prazer sexual. Atenção homens, fomos enganados! Não me parece que seja assim. Tenho, para mim, que as mulheres – bom, muitas mulheres, há excepções -, genericamente, não gostam assim tanto de abocanhar pénis. Se achamos que a nossa vida vai ser uma pornografia em todo o seu esplendor, com as mulheres a tentar sorrir e declamar poesia de boca cheia, estamos redondamente enganados. As coisas não são assim.
Há mais razões que podemos apontar para o facto de os homens apreciarem os fellatios. Embora seja uma coisa que fragiliza, porque nos coloca à mercê de dentes e maxilares capazes de exercer várias toneladas de força, o que nos causaria dificuldades em caso de desentendimento com a feladora, não deixa, também, de ser uma situação de exercício de poder. Diria que o homem se sente poderoso quando uma mulher o abocanha. Sente-se desejado, e talvez leia algumas das mais típicas posições para o fellatio como demonstrativas da sua ascendência sobre a mulher, que se ajoelha perante ele de forma submissa. Nada mais errado, tanto quanto o sexo forte é efectivamente o feminino, como os mais informados homens certamente reconhecerão.
Regressamos assim à ideia original: a maneira mais simples de manter um homem feliz (leia-se, com isto, também, a maneira mais simples de manter um homem feliz e fiel) é fazer-lhe um fellatio regular. Porque o defendo? Simples. O coito dá mais trabalho. As pessoas estão cansadas, e precisam dispôr-se a, durante alguns minutos (mais ou menos conforme a vontade e o local) despir-se em graus variáveis, deitar-se ou recostar-se ou coisa que o valha, entregar-se a exercícios frenéticos, suar, eventualmente fingir um orgasmo (ao que parece as mulheres são boas nisso) e depois limpar-se, vestir-se, e fazer tudo o resto que há para fazer. Lamento a frieza da descrição, mas as nossas vidas não têm glamour na maioria dos dias. Oiço tanta mulher dizer-me que não tem pachorra para viver esta sequência de eventos, e que só querem é dormir, que perante isto um bico é mais simples. É descer as calças ao candidato, lamber-lhe o marsápio como se não houvesse amanhã – e nem precisam despir-se, vejam bem – e o resultado é garantido. Em poucos minutos têm um homem feliz e pronto para tudo o que quiserem, sem que tenham sequer suado muito. E, se usarem os vossos dotes interpretativos, podem fazer com que o fellatio pareça realmente desejado, feito com determinação, com enlevo. O enlevo é fundamental, porque na pornografia que nos acompanhou no crescimento, o enlevo estava lá, ainda que falso. E que não seja tímido. Um fellatio que tranquiliza um homem e lhe dá uma boa noite de sono, é um fellatio arrojado."
João
Geografia das Curvas
Postalinho de Guimarães - gárgula da igreja de Nossa Senhora da Oliveira
Os meus amigos já me tinham dito: quando fosse a Guimarães, teria que reparar numa das gárgulas da igreja de Nossa Senhora da Oliveira, virada para a Praça da Oliveira, bem no centro histórico da cidade.
Eu lá fui espreitar e... e... o que é aquilo?
É! É! É um autobroche (ou autofelatio, para quem quiser armar-se aos cágados com Latim)!
Entretanto, descobri várias referências a este... fenómeno de Guimarães:
Guimarães Hip! - «As Gárgulas: um pequeno “detalhe”»
Estudo «Contributos para o estudo das gárgulas medievais em Portugal: desvios e transgressões discursivas?» de Catarina Fernandes Barreira, UCP
Neste estudo, a autora refere esta gárgula na página 190:
"Na torre da igreja de Nossa Sr.ª da Oliveira, Guimarães (séc. XVI), podemos observar uma gárgula, posicionada à esquina, inserida no primeiro registo, que representa uma figura masculina a protagonizar uma cena de felatio a si própria, numa estranha posição, de rabo virado para o exterior. E a sua representação é bem explícita, pois é bastante visível para o observador o falo erecto, que o artífice enfatizou exagerando a sua escala. Reportamo-nos mais uma vez ao estudo realizado por Maria Manuela Braga, já aqui citado e a um tema relacionado: o de “tocar gaita” ou “tocar gaita-de-foles”, com conotações sexuais relacionadas com a masturbação, comuns em alguns cadeirais. Em relação ao tema da nossa gárgula, a historiadora já havia detectado uma cena de felatio entre dois putti no portal da Sé de Lamego. Em última instância, estes temas reportam também ao pecado da luxúria, mas no masculino, a um aspecto mais escabroso e grotesco da sexualidade masculina. Mattoso afirma que “podemos conhecer alguma coisa acerca do que os portugueses da Idade Média diziam da sexualidade, mas pouco ou nada ficamos a saber acerca do que eles realmente faziam”. Ao que nós acrescentamos que, embora possamos conhecer algumas representações plásticas da sexualidade, também não podemos tomar ilações conclusivas, pois parece-nos que este tipo de representação nas gárgulas não são facetas do quotidiano pelo seu carácter excêntrico e mesmo extravagante."
Eu lá fui espreitar e... e... o que é aquilo?
É! É! É um autobroche (ou autofelatio, para quem quiser armar-se aos cágados com Latim)!
Entretanto, descobri várias referências a este... fenómeno de Guimarães:
Guimarães Hip! - «As Gárgulas: um pequeno “detalhe”»
Estudo «Contributos para o estudo das gárgulas medievais em Portugal: desvios e transgressões discursivas?» de Catarina Fernandes Barreira, UCP
Neste estudo, a autora refere esta gárgula na página 190:
"Na torre da igreja de Nossa Sr.ª da Oliveira, Guimarães (séc. XVI), podemos observar uma gárgula, posicionada à esquina, inserida no primeiro registo, que representa uma figura masculina a protagonizar uma cena de felatio a si própria, numa estranha posição, de rabo virado para o exterior. E a sua representação é bem explícita, pois é bastante visível para o observador o falo erecto, que o artífice enfatizou exagerando a sua escala. Reportamo-nos mais uma vez ao estudo realizado por Maria Manuela Braga, já aqui citado e a um tema relacionado: o de “tocar gaita” ou “tocar gaita-de-foles”, com conotações sexuais relacionadas com a masturbação, comuns em alguns cadeirais. Em relação ao tema da nossa gárgula, a historiadora já havia detectado uma cena de felatio entre dois putti no portal da Sé de Lamego. Em última instância, estes temas reportam também ao pecado da luxúria, mas no masculino, a um aspecto mais escabroso e grotesco da sexualidade masculina. Mattoso afirma que “podemos conhecer alguma coisa acerca do que os portugueses da Idade Média diziam da sexualidade, mas pouco ou nada ficamos a saber acerca do que eles realmente faziam”. Ao que nós acrescentamos que, embora possamos conhecer algumas representações plásticas da sexualidade, também não podemos tomar ilações conclusivas, pois parece-nos que este tipo de representação nas gárgulas não são facetas do quotidiano pelo seu carácter excêntrico e mesmo extravagante."
13 setembro 2012
Eu vi uma pentelheira
Eu vi uma pentelheira
No corpo daquela dona
Que quase caí pra trás
Era pentelho de ruma
Que não acabava mais
Era uma mata profunda
Que começava no imbigo
E terminava na bunda.
Pra descobrir o priquito
Por detrás daquela mata
Fiz um esforço tão grande
O coração quase me mata
Os pentelhos da mulher
Era uma mata de cipó
Tudo muito emaranhado
Cheio de trança e de nó.
Me fiz de bom caçador
Na frente do cipoal
E rompi aquela mata
Com a força do meu pau.
Chico Doido de Caicó (1922-1991)
´
blog A Pérola
No corpo daquela dona
Que quase caí pra trás
Era pentelho de ruma
Que não acabava mais
Era uma mata profunda
Que começava no imbigo
E terminava na bunda.
Pra descobrir o priquito
Por detrás daquela mata
Fiz um esforço tão grande
O coração quase me mata
Os pentelhos da mulher
Era uma mata de cipó
Tudo muito emaranhado
Cheio de trança e de nó.
Me fiz de bom caçador
Na frente do cipoal
E rompi aquela mata
Com a força do meu pau.
Chico Doido de Caicó (1922-1991)
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