22 setembro 2012
«conversa 1912» - bagaço amarelo
Ela - Porque é que lês o jornal de trás para a frente?
Eu - Não sei bem, mas de facto admito que o faço sempre.
Ela - É por seres estranho.
Eu - Sou estranho só porque leio o jornal a partir da última página?
Ela - Não. És estranho porque nem sequer encontras um motivo para o fazer.
Eu - Não tem que haver um motivo para tudo na vida.
Ela - Tem que haver uma explicação para tudo.
Eu - Então explica-me porque é que me estás a chatear desde que nos sentámos a tomar café, por favor, e nem me deixas ler o jornal.
Ela - Porque tenho prazer nisso, pronto. Vês?! Há sempre uma explicação para tudo.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Taça em bronze com 69 entre duas mulheres
Taça em bronze com 11,3cm de diâmetro e figuras em relevo, proveniente de França e com a menção "Cassecou" ("quebra-pescoços", o que tem alguma lógica) no verso.
A partir de agora, estas duas senhoras quebram os seus pescoços na minha colecção.
A partir de agora, estas duas senhoras quebram os seus pescoços na minha colecção.
21 setembro 2012
A mulher inteligente
"A mulher inteligente aquece – as outras nem aquecem nem arrefecem. A mulher inteligente é inteligente na pele, nos lábios, nas orelhas, no nariz, no rabo. A inteligência da mulher inteligente alastra-se, contrasta-se. A mulher inteligente lambe como se lesse Dostoiévski, fornica como se citasse Proust, abraça como se tivesse descoberta a cura para a morte. E é: a cura para a morte está em abraçar como se fosse a cura, em fornicar como se fosse Proust, em lamber como se fosse Dostoiévski. A mulher inteligente faz de tudo o que faz um acto inteligente. A mulher inteligente, apesar de ser inteligente comó catano, não deixa de ser selvagem comó catano. Nada é mais selvagem do que a inteligência da mulher inteligente. A inteligência da mulher inteligente é animalesca, anárquica, sedenta, esfomeada, predadora, insaciável. Sem deixar de ser racional, organizada, consolada, vítima, realizada. A mulher inteligente é os dois lados de todo o lado. A mulher inteligente é todo o lado de todos os lados. A inteligência da mulher inteligente não tem rei nem roque – e é por isso que ela é uma rainha, uma estrela, a senhora de todas as senhoras."
Pedro Chagas Freitas - «Eu sou Deus»
Pedro Chagas Freitas - «Eu sou Deus»
20 setembro 2012
O Sem Asas e O Alado
"a coisa sem asas
do homem..."
e. e. cummings
Edward Lucie-Smith, 1997
A maioria dos homens usa os caralhos
para duas coisas apenas fazer:
de pé estão para mijar
e deitados para foder.
O mundo está cheio de homens horizontais -
ou verticais -
e na verdade é tudo o mesmo mal.
Mas o teu caralho voa
por cima da terra,
fazendo sombras
nos corpos das mulheres,
fazendo sons loucos de ave
das suas bocas pequeninas,
fazendo música
e comida para o pensamento.
Não é uma coisa sem asas
de todo.
Podíamos chamar-lhe Pégaso -
se isso não nos fizesse pensar
em estações de serviço.
Ou podíamos chamar-lhe Ícaro -
se isso não nos fizesse pensar
em cair.
Mas, mesmo asim, desce e mergulha
através do céu como um planador,
à procura de um prado,
de um campo,
de um pântano batido pelo sol
de onde (disseste bem)
toda a vida começa.'
Erica Jong
blog A Pérola
«O Raboçado» - Patife
Patife
Blog «fode, fode, patife»
19 setembro 2012
«coisas que fascinam (146)» - bagaço amarelo
Hoje acordei perdido no tempo. Naqueles primeiros momentos não sabia em que dia estava, que horas eram, nem o que era suposto fazer depois de me levantar. Não sabia se estava de folga ou se tinha que ir trabalhar, se tinha combinado alguma coisa com alguém ou, pelo contrário, teria o dia todo só para mim. Olhei para as coisas do quarto mas não encontrei nelas nenhuma resposta até ver uma camisola pendurada no cabide da porta.
Foi a camisola que usei durante o dia de ontem, uma t-shirt vermelha com um desenho à frente, e permitiu-me refazer os últimos momentos antes de adormecer. Cheguei a casa muito cansado, fui à cozinha e abri o frigorífico sem saber muito bem porquê, feri-me a abrir uma lata de cerveja que bebi rapidamente e deixei tudo o que trazia nos bolsos em cima da banca. Depois lavei os dentes, despi-me e deitei-me. A camisola ficou ali, à espera de me contar esta manhã isso mesmo: que cheguei cansado a casa por causa dum dia de trabalho intenso.
Fiz as contas a partir dessa informação e deduzi que hoje era novamente dia de ir trabalhar. Aos poucos, toda a informação se agregou no meu cérebro como se fosse um puzzle enorme e monocolor. Sempre soube onde estava, mas agora sabia também quando e como.
Este amanhecer no vazio acontece-me às vezes, mas apenas nos dias em que durmo sem ninguém ao meu lado. É uma espécie de amnésia momentânea sobre tudo o que foi a minha vida nos últimos dias. Fico ali, deitado na cama como se estivesse a pairar sobre nuvens, como se não tivesse havido ontem nem fosse haver amanhã. Apenas uma imagem me vem à cabeça, e é a da Raquel perto de mim, talvez também deitada sobre nuvens. Não sei bem.
Também não sei muito bem quanto tempo é que costumo estar assim, até a consciência se apoderar lentamente de mim e obrigar os meus olhos a procurar um sinal da minha vida. Uma t-shirt, por exemplo. Talvez dez segundos, talvez dez minutos, talvez meia-hora. Sei que depois acabo sempre por me vestir à pressa e ir a correr para o comboio. É no comboio, com a cabeça encostada ao vidro trémulo, com a pequena ferida que fiz no dedo a começar a doer-me, que me dou conta de como é bom estar ausente do mundo por um bocado. Distancio-me do dia-a-dia, do ordinário, do quotidiano. Por um momento percebo bem o que é importante.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
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