28 outubro 2012

Postalinho de Aveiro

"Olá, São
Mais um moliceiro para juntares aos outros."
Paulo M.


Paraíso das mamas


Quando era miúda as lojas mais populares incluíam no seu nome a palavra paraíso , como o paraíso do calçado ou o paraíso da moda apelando ao cliente mais afoito através do seu potencial de satisfação tal como as clínicas dermoestéticas de agora se estabelecem como paraíso das mamas, à escolha por catálogo e à medida.

E como quem não se sente não é filho de boa gente também eu não me cansava de lhe publicitar como seria um bom investimento para lhe encher as mãos. É que se ele nunca mostrara enfado pelas minhas 36 também é certo que nunca deixara de reparar nas mais avantajadas e de as elogiar. Mas o raio do gajo não se comovia argumentando com os tempos de crise e que as mamas estavam muito bem assim pois que as grandes são mais fetiche de garganta de gajo sem o qual até se passa bem e que era moda passageira. Lembrei-lhe que as clínicas especializadas provém de países desenvolvidos e que não podemos estar sempre na cepa torta. E acrescentei que a moda é de nível europeu ou até mundial e eu não era ninguém para a contrariar.

Ele levantou-me a camisola para prantar ambas as mãos nas minhas mamas, uma em cada uma, a sopesá-las como quem avalia laranjas, a mexê-las circularmente com as palmas, a fazer tesourinhas de dedos nos mamilos e acabar por me dizer que se eu não tinha poder de decisão sobre o meu paraíso de mamas fazia delas já ali uma república das bananas.


[Imagem: Playmate de Dezembro de 1990 e Playmate de 2003]

Pausa no trabalho da modelo e do pintor



Via Bernard Perroud

27 outubro 2012

Aspirador LG Kompressor Plus - truque publicitário

«pensamentos catatónicos (276)» - bagaço amarelo

feijoada de búzios

Ao vento, a toalha de papel mostra-se irrequieta como uma ave que bate as asas para levantar voo e não consegue. Naquele caso em particular, não consegue por causa dos dois pratos colocados frente a frente na mesa mais bem situada da esplanada, e também da panela de barro com duas doses fumegantes de feijoada de búzios. Ela levanta o testo e dá-lhe permissão, através dum simples abrir e fechar de olhos, para se servir primeiro, mas ele decide pegar antes no prato dela. É o primeiro motivo para a discussão que vem logo a seguir.

- Já devias saber que não gosto que me sirvam.

Ele sorri para dentro, como se assim pudesse engolir o nervoso miudinho. Continua a encher o prato e depois troca-o pelo dele, de forma a que ela fique de novo com o vazio. Quantas coisas sobre aquela mulher é que ele deve, de facto, saber? Acima de tudo, que coisas sobre ela é que é suposto saber? Pica os primeiros feijões com o garfo enquanto, como um rádio mal sintonizado ao fundo, ela continua o seu protesto.
Não tem a certeza, mas talvez ele a tenha servido primeiro de propósito, precisamente para que ela pudesse soltar essa latente raiva que lhe vinha desenhando a face e moldando os gestos desde manhã. Da esplanada avistam-se as longas filas de macieiras alinhadas num dos montes, que mais parecem uma obra desenhada a régua e esquadro, cortadas por um tapete de alcatrão que serpenteia a paisagem até desaparecer no horizonte. Noutro monte, mais à esquerda, algumas e raras amoreiras povoam os terrenos riscados pelo arado dum tractor. Tudo está exactamente como há dez anos, quando eles se conheceram naquele mesmo local durante uma festa de amigos comuns e, adivinhando a paixão à primeira vista, acabaram por sair sorrateiramente para ficarem sozinhos. Tudo, até o céu de claras aguarelas azuis e brancas. Menos ela.
A deterioração daqueles almoços anuais, cada vez menos felizes e feitos mais por obrigação do que outra coisa qualquer, têm sido o barómetro que mede a relação dos dois. Ele acha que a culpa é do tempo, esses dez anos em que ele passou a ter que saber muitas coisas mesquinhas sobre ela. Aproveita o silêncio cansado dela e escreve na própria toalha de papel algumas dessas coisas.

1) Não misturar as embalagens de leite magro com as de leito meio gordo.
2) Não abrir a cama à noite, antes de se deitarem, apenas de um dos lados.
3) Ligar a máquina de café todas as manhã assim que entrar na cozinha.
4) Amarfanhar as garrafas de plástico antes de as colocar na reciclagem.
5) Não deixar os sapatos em cima da balança da casa de banho.
6) Não a abraçar por trás quando ela está a descascar fruta.
7) Não a beijar na testa quando ela está a ver televisão.
8) Não misturar os copos de champanhe com os copos de uísque.
9) Não entrar no carro sem puxar para trás o banco onde ela se vai sentar.
10) Não a servir quando estão a jantar juntos.

Rasga aquele pequeno pedaço de papel e põe-lho quase à frente dos olhos, mesmo ao lado do prato. Algumas gotas do molho da feijoada pontilham-no como se o quisessem ferir. Ela olha para ele enquanto mastiga um búzio mais difícil de roer do que os restantes.

- Estes foram os motivos pelos quais discutimos as últimas dez vezes. - diz, enquanto se levanta para se aproximar dum dos muros da esplanada. Dali, parece que quase pode tocar o céu com a ponta dos dedos. Ri-se de novo para dentro.

Ela ainda mastiga o mesmo búzio. É isto que ela quer que ele saiba sobre ela?


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Mulher na cama com um cãozinho

Placa metálica redonda com 10,5 cm de diâmetro e 308gr.
A partir de agora, o Luluzinho faz a vontade à dona... na minha colecção.


Um sábado qualquer... - «Um dia… 2»



Um sábado qualquer...

26 outubro 2012

«Sangue é Champanhe» - de Don L.com Flora Matos

Festa quente cor de rosa...



Festa de lançamento da Academia de Vénus

"Vem festejar connosco o nascimento da Academia de Vénus na Hot Pink Party.
Sensualidade, erotismo e glamour marcam uma noite sem tabus. Burlesco, surpresas e muita vibração estão à tua espera numa noite muito divertida.
Lisboa nunca viu nada assim!
A entrada é livre mas, se queres fazer parte da guest list (sem consumo obrigatório), confirma p.f. a tua presença através do e-mail info@academiadevenus.pt
Parceiros: Control, Boudoir Fotografia, InSin, Speedcom, Yxaiio, Grand' Ideia.
A Academia de Vénus é o primeiro projeto 100% português de reuniões domiciliárias, produtos eróticos e workshops sobre sexualidade e sensualidade femininas.
A Academia de Vénus promove a descoberta da sensualidade, sexualidade e bem-estar da mulher portuguesa.
Dia 31 de outubro no Clube Ferroviário
Rua de Santa Apolónia nº 59
1100 Lisboa"

Política e Pornografia

     Esse texto poderia ser a parte 4 dos pleonasmos, na sequência dos anteriores, porém, há uma diferença na proposta de discutir política e pornografia.
     Não preciso me aprofundar muito ao esclarecer que, para a maioria das pessoas, política é sinônimo de corrupção, picaretagem, populismo etc, enquanto vai além do que muitos podem imagina, pois está presente a todo momento em nossas vidas, enquanto comemos (há quem não tenha o que comer), quando viajamos (os lugares por que passamos, qual meio de transporte utilizamos...), como dormimos (há quem não tenha onde dormir adequadamente), e até no sexo. Já a pornografia, é unânime o seu significado relacionado ao sexo explícito, ao que é tido como atentado ao pudor, contrário à moral e aos bons costumes. Mas, pergunto: o que é mais imoral que a fome, a ganância, a violência, a exploração? É neste sentido que pretendo aqui falar um pouco a respeito da arte erótica e seu papel político.
     Equivocadamente as pessoas entendem que a literatura erótica tem como função primordial excitar o leitor. Esse pode ser um elemento presente em uma obra, mas não obrigatório. Parece estranho, mas já é uma verdade ao entendermos que o que é excitante para uns pode não ser para outros. Imaginemos, por exemplo, os tradicionais filmes pornôs. Nele há uma explícita imagética do desejo masculino, onde o feminino é mero objeto e não tem voz, não é capaz de exprimir seus anseios e ver saciado o seu prazer. Há um machismo presente na maioria dos filmes pornográficos, e aqui creio caber muito bem o nome 'pornográfico". Mas voltando a questão da excitação como sendo ou não sendo o objeto principal da literatura erótica, avalio algumas obras que tiveram como foco assuntos políticos. Cito, primeiramente, "As Mamas de Tirésia" e "As Façanhas de um Jovem Don Juan", de Apollinaire. Mais evidente ainda na segunda obra, o autor expõe sua preocupação nacionalista, em uma época de guerras, em que muitos homens eram mortos, a necessidade do incentivo do pais na geração de filhos, pois um país mergulhado no terror da guerra, com mulheres sem maridos e uma crescente redução da população masculina,  precisava ter uma política em que houvesse um descontrole de natalidade. Contudo, uma leitura superficial, classificaria as obras como textos eróticos com a finalidade da excitação. Pietro Arentino, um clássico da literatura erótica, teve como objetivo principal em seu trabalho, a crítica política e social da sociedade de sua época. Marques de Sade, que teve o termo sadismo originado do seu nome, porém uma origem errônea, por falta de entendimento de sua obra, pois, como alguns críticos afirmam, o trabalho de Sade foi mais filosófico do que literário, trazendo um crítica moral aos hábitos luxuriosos da nobreza e do clero. E como não citar as mulheres atuando em um papel principal, não como personagem de histórias, mas como autoras de obras que incentivaram as mulheres ao seu papel ativo na sociedade. Uma mulher que escrevia simplesmente não era lida. Usavam então pseudônimos masculinos (até há pouco tempo mesmo homens tinham de usar pseudônimos para publicar obras eróticas). John Stuart Mill, escritor e filósofo liberal, escreveu o livro "A Sujeição das Mulheres", em que atacou o pensamento machista que afirmava que as mulheres eram naturalmente incapazes de realizar certas atividades. Mas, é na obra de uma mulher que o movimento feminista vai se inspirar: "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir. Na literatura, uma das mais famosas escritoras que espalhou ao mundo másculo e bélico a sexualidade feminina foi Anais Nin, deixando claro que mulher também queria fuder. Alguns aspectos são muito importantes em sua obra: tanto a linguagem utilizada, muitas vezes considerada de baixo calão pelos moralistas, como suas histórias que ainda hoje fazem as pessoas ficarem boquiabertas.
     No cinema, considero Tinto Brass o melhor cineasta na temática erótica. Foi capaz de fazer filmes com cenas de sexo absurdamente explícitas, às vezes mais fortes que em muitos filmes pornôs, mas deixando por trás de toda essa orgia o questionamento político. Mas a ignorância e hipocrisia da nossa sociedade ainda coloca a mulher como um objeto, ainda rejeita a sua sexualidade. Numa sociedade, como a brasileira, onde juízes, senadores, deputados, desembargadores etc., fazem suas orgias (sexuais e corruptas) dentro dos órgãos públicos, mulheres, como a advogada Denise Rocha (exonerada do seu cargo de assessora do senador Ciro Nogueira, que a demitiu após surgir na internet um vídeo em que ela fazia sexo) , são chamadas de putas.
     Abaixo, reescrevo uma parte da entrevista de Erika Lust para a Revista Marie Claire, cientista social e produtora de filme pornô cujo público alvo é a mulher, questionando a tradição de filmes produzidos para os homens:

Marie Claire – Você estudou ciência política na Universidade de Lund. Existe alguma relação entre o que você aprendeu na academia e seu trabalho atual?
Erika Lust - Total! É triste dizer, mas o sexo ainda é um assunto muito político: tanto quando falamos sobre as leis que regulam a produção e o consumo de pornografia, quanto na negociação dos assuntos públicos com a vida privada. Às vezes me sinto como um político quando eu estou representando uma pornografia alternativa, e espalhar uma mensagem feminina positiva da sexualidade, só porque eu estou mantendo uma imagem pública e tomando parte em um discurso social. Meu curso certamente me ensinou muito sobre a negociação, o pensamento crítico, e a relação entre governo e sociedade. Mas foi meu foco especial em feminismo que influenciou minha visão de mundo e, mais tarde, a direção que o meu cinema tomaria.

MC – E quanto às mulheres que gostam de sexo anal?
EL - Eu tenho evitado usar cenas de sexo anal, não só pelo fato de que mulheres não gostam (até porque, certamente, existem mulheres que apreciam) mas por ser algo obrigatório na indústria pornográfica convencional. Ao apelar para um público que quer algo diferente do que havia em pornografia até então, eu tento criar novas cenas e diferentes formas de sexualidade.


Obscenatório

Lua de fogo sem palavras


Perdi as palavras e as que restam tropeçam-me na língua
onde me crescem silvas e musgo...
Procuro-as no baú secreto das memórias,
mas desmaio nesta lividez
que me sustenta a alma...

Fujo do vento gelado que me desabotoa a blusa,
os mamilos endurecem no arrepio que me sobe pela espinha,
mas por dentro as chamas consomem-me de febre,
asfixiam-me neste suor frio e doentio...

Corro estrada fora como se voasse nesse sopro de Leste
que estremece as águas do rio e os campos de trigo,
toco as chaminés e as nuvens
e lá em cima a lua de fogo que me enlouquece!

Lua Cósmica
http://luacosmica.blogspot.pt

Confissão



Meninas WTF

25 outubro 2012

O que se passa na cama

(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)
É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pénis.

Ai, cama canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme onça suçuarana,
dorme cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima… O pénis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.

E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda húmidos de sémen,
estes segredos de cama.


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


Brigitte Bardot e Jean-Louis Trintignant em E Deus Criou a Mulher, de Roger Vadim, 1956


blog A Pérola