01 dezembro 2012
«pensamentos catatónicos (278)» - bagaço amarelo
Balão
Uma criança de cerca de quatro anos de idade pisou-me hoje, no metro do porto, enquanto saltava sozinha num jogo qualquer próprio da infância. Ao seu lado ia a sua família, tão numerosa quanto silenciosa. O pai pegou-lhe delicadamente num dos braços e mandou-a pedir-me desculpa. A mãe gritou com o pai logo a seguir. "Não faças isso à menina", disse.
A criança ficou perdida, talvez com algum receio de vir pedir desculpa a um monstro de um metro e oitenta e quatro com um capacete de ciclista na cabeça. Olhava para mim de lado, com a mão pequena quase toda dentro da própria boca. Pisquei-lhe um olho. Ela voltou a sorrir.
Saíram algumas estações antes de mim e fiquei a vê-los pela vidraça. Lá fora as crianças dispersaram dentro dum certo limite, como se orbitassem num caos à volta dos dois adultos, que deram um beijo e se abraçaram num gesto notoriamente reconciliador.
Os gritos são sempre surpreendentes numa relação, porque o são entre quem supostamente se Ama. São, assim, uma contradição em si mesmos. Quando aqueles dois pais começaram a namorar, suponho que há muitos anos atrás, ela não gritava com ele assim. De certeza. No princípio de qualquer relação, o próprio Amor trata de afogar esse tipo de impulsos. É com o tempo que eles vão emergindo de novo e passam a boiar entre beijos, doces trocas de olhares, abraços e sexo.
Os gritos por impulso são como pregos nesse grande balão de hidrogénio que é o Amor entre duas pessoas. Às vezes o balão acaba por cair. Outras vezes não. Por qualquer motivo olhei para aquele pai e para aquela mãe e, só em pensamento, desejei-lhes sorte. Que o balão não caia.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Uma criança de cerca de quatro anos de idade pisou-me hoje, no metro do porto, enquanto saltava sozinha num jogo qualquer próprio da infância. Ao seu lado ia a sua família, tão numerosa quanto silenciosa. O pai pegou-lhe delicadamente num dos braços e mandou-a pedir-me desculpa. A mãe gritou com o pai logo a seguir. "Não faças isso à menina", disse.
A criança ficou perdida, talvez com algum receio de vir pedir desculpa a um monstro de um metro e oitenta e quatro com um capacete de ciclista na cabeça. Olhava para mim de lado, com a mão pequena quase toda dentro da própria boca. Pisquei-lhe um olho. Ela voltou a sorrir.
Saíram algumas estações antes de mim e fiquei a vê-los pela vidraça. Lá fora as crianças dispersaram dentro dum certo limite, como se orbitassem num caos à volta dos dois adultos, que deram um beijo e se abraçaram num gesto notoriamente reconciliador.
Os gritos são sempre surpreendentes numa relação, porque o são entre quem supostamente se Ama. São, assim, uma contradição em si mesmos. Quando aqueles dois pais começaram a namorar, suponho que há muitos anos atrás, ela não gritava com ele assim. De certeza. No princípio de qualquer relação, o próprio Amor trata de afogar esse tipo de impulsos. É com o tempo que eles vão emergindo de novo e passam a boiar entre beijos, doces trocas de olhares, abraços e sexo.
Os gritos por impulso são como pregos nesse grande balão de hidrogénio que é o Amor entre duas pessoas. Às vezes o balão acaba por cair. Outras vezes não. Por qualquer motivo olhei para aquele pai e para aquela mãe e, só em pensamento, desejei-lhes sorte. Que o balão não caia.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
30 novembro 2012
Quem não quer morrer num caixão desses?
A empresa polonesa Lindner vem com uma proposta ousada para vender seus caixões: um calendário sexy. A foto acima é de um dos meses do calendário. É bem possível que muita gente morra antes da hora.
Obscenatório
http://obscenatorio.wordpress.com/
Incendiários
Tudo o que resta são cinzas
que serpenteiam nas encostas das montanhas,
outrora verdejantes e abrigo de lobos e raposas...
Copas e ramos que escondiam ninhos de cucos e perdizes
são apenas fotografias do que o fogo já consumiu,
memórias esmagadas pelo horizonte queimado
e a cortina de fumo que nos enclausura
numa terra sem estrelas e lua.
Aqui as fontes secaram,
mas as lágrimas vão escorrendo lentamente lá em cima,
pelas encostas cada vez menos geladas da Gronelândia,
empurrando o mar que vai engolindo o cimento do litoral,
tomando de assalto o espaço roubado à Vida Natural!
Parecemos suicidas,
porque insistimos em destruir a nossa casa...
Ou seremos loucos masoquistas
que se regozijam com o sofrimento da incerteza?
Lua Cósmica
http://luacosmica.blogspot.pt/
29 novembro 2012
Elevador
Jean François Gaté |
[...] Às vezes pasmo, Melanie, com a exactidão com que estes momentos me vêm à memória. Estou a ver o elevador, é como se tivesse sido ontem. O portão de grades trabalhadas em cobre, o guarda-vento de vidros foscos com umas flores lavradas que pareciam jarros do oriente. E os espelhos aos lados? E o banquinho de veludo na parede do fundo, tão virginal, tão romântico? Oh, era uma cestinha de arcanjos, aquele elevador, todo em ouros e brancos esmaltados. Mas o inesquecível era a máscara do diabo que havia no tecto a olhar cá para baixo! Assustava e enternecia. Tinha uns corninhos de fauno, saídos do conjunto da figura que era em relevo dourado e com uma mascarilha vermelha. Tantas minúcias, eu bem digo…Não te parece estranho?
E todavia todo se passou fora do tempo e do espaço! Tudo, ma chèrie, Tudo! Ainda mal tínhamos fechado a porta já o Gaston-Philippe se colava a mim a percorrer-me desvairadamente com as mãos. Contornava-me, cingia-me com um braço e procurava-me as coxas e as nádegas por baixo da roupa. Eu própria levantei o vestido, colando-me mais a ele, e imagina a surpresa que o tomou quando sentiu nos dedos a verdade do meu ventre!
Sim, minha Melanie, eu estava nua por baixo do vestido! Não me perguntes porquê, mas no bar, por um impulso inexplicável, tinha ido ao toilette com esse propósito. Um presságio? Só sei que estava feliz com o meu instinto, felicíssima. O assombro e o deslumbramento do Gaston-Philippe por aquela surpresa não tiveram limites e eu sentia isso através da sua mão que era grata e ardente. E que hábil, que mão! Que imaginativa e que extensa, Melanie! Penetrava com tais segredos que me levava para lá da ascensão do próprio elevador e logo me esgotava e me fazia afundar à medida que voltávamos a descer.
Impossível calcular as vezes que percorremos para baixo e para cima aqueles cinco andares. Uma verdadeira escalada do paraíso! Subíamos e mergulhávamos, e tornávamos a subir…a nossa viagem parecia não ter fim, pois o Gaston-Philippe era daqueles amantes afortunados nos quais l’amour fou é servido por um talento prático ajustado às circunstâncias e, assim, manobrava o manípulo do elevador no momento exacto em que ele se ia a deter.
Mas entoncededor ainda foi que dei por ele de joelhos, abraçado às minhas pernas e abrindo-me toda ao mesmo tempo, nem sei, com o rosto mergulhado nas minhas coxas! Então senti-me trespassada por algo muito vivo e voraz, por uma espessura revolvente e arguta que me descobria por dentro e me dilatava, sugando-me. E eram mais coisas, minha querida, os dentes percorrendo os pelos e os músculos , o calor do rosto contra o meu ventre, as mãos explorando-me as nádegas, tanta coisa!
Eu, de pé, uma perna em cima do ombro dele, via-me ao espelho e não me reconhecia. Esquecida, esquecida, liberta pelo espaço…»
excerto de A Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires
blog A Pérola
«Há moura na posta» - Patife
Esta semana conheci uma moura. Era algarvia de gema e tinha sangue mourisco, o que me fez de pronto recordar as lendas das mouras encantadas. Estava eu sossegado a passear por Alfama quando a vi, tal e qual como reza a lenda das mouras encantadas, que as descreve como jovens donzelas de grande beleza, perigosamente sedutoras, que aparecem frequentemente cantando e penteando os seus longos cabelos, louros como o ouro ou negros como a noite, e prometem tesouros a quem as libertar do encanto. Assim que a ouvi cantarolar à janela rústica enquanto penteava os cabelos soube que tinha de descobrir onde ela guardava o tesouro, o que, numa lenda contemporânea, seria certamente na pachacha. Convidei-a para passear e ela acedeu. Íamos de eléctrico até ao Chiado quando outra sardanisca me liga a perguntar o que eu estava a fazer, certamente porque queria levar nas bimbas. Como a despachei a bom despachar, começou logo a urdir impropérios e terminou com um: para estares a despachar-me assim é porque há moura na costa. Apeteceu-me dizer-lhe que não, mas que em breve haveria uma moura na minha posta. Mas achei profundamente indelicado, por isso disse-o na mesma. Finalmente lá chego a casa e, oh céus, que a moça era uma cavaleira mourisca de alto gabarito, habituada a cavalgar sem sela nem freio. Montou-me como se não houvesse amanhã, e confesso que durante a cavalgada cheguei mesmo a desejar que não houvesse amanhã, para que aquele cavalganço pélvico nunca mais terminasse. Mas no final apercebi-me que aquela longa e enérgica pinada me tinha deixado uma cova mesmo no meio do colchão. O que foi uma chatice pois, dada a maratona com a moura, acabámos por adormecer e a meio da noite os corpos resvalaram das bordas do colchão para o meio, dando uma ilusão de queridice a todos os títulos de vomitar. Agora a minha cama parece uma pachacha gigante, com duas bordas de lado e uma grande cova no meio. É a minha versão da cova da moura.
Patife
Blog «fode, fode, patife»
Patife
Blog «fode, fode, patife»
«T-shirts Moloko 2» - por Luis Quiles
"Aquí os dejo unos cuantos diseños que tambien podreis encontrar en nuestra tienda de camisetas Moloko . En este caso se trata de (...) hacer un homenaje al porno de los años 80, especialmente cutre y especialmente entrañable, como modelos he utilizado a Traci Lords y Ron Jeremy. Dos de los actores porno mas representativos de la época."
Luis Quiles
28 novembro 2012
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