01 fevereiro 2013

Homens...

... com mais tarefas domésticas têm menos relações sexuais
... é o que diz o estudo.
Raim on Facebook

O toque

A mão escorregou no lençol e ele tocou-lhe na perna. Por momentos, o silêncio que os abafava pareceu-lhes mais espesso. Quase irrespirável. Não se mexeram.
– Então? – perguntou ela, ao fim de um bocado que lhes pareceu uma legislatura com um governo de coligação.
Ele tirou a mão e perguntou, defensivo: – O quê?
– Podes tocar – disse ela, depois de pensar se ainda valia a pena dizê-lo. – Ou não foi por querer?
– Que te toquei?
– Sim.
Ele voltou a fazer a mão escorregar pelo lençol até lhe tocar na pele nua. – Foi de propósito – mentiu.
– Mas paraste… – “Tal como agora”, pensou ela mas não disse.
– Não sabia se querias – justificou ele, sem mexer a mão.
– Mas agora já sabes que quero – disse ela, evitando cuidadosamente o tom ácido que agora lhe saía sempre que falavam os dois.
– Sim, sei – confirmou ele e fez o indicador circular num limitado espaço da perna dela pois quase não mexeu a mão. Chateava-o que ela pudesse dizer que queria que ele lhe tocasse mas que nada fizesse para que isso acontecesse ou continuasse a acontecer. Ao fim de uns segundos, recolheu a mão.
– É isso tudo? – Se se juntasse água, muita água, e gelo, a voz dela fazia uma limonada perfeita.
– É mais do que tu fizeste. – Agora tinham que dividir a água, muita água, pelos dois, e as limonadas eram absolutamente intragáveis.
– Querias o quê?! – Ela respirou fundo. Ele não disse nada. Ela sentou-se na cama e continuou: – Que eu, derretida pela ponta do teu dedo a tocar-me em cinco centímetros da pele da perna, ficasse louca de paixão e te abocanhasse? Que, levada ao cúmulo, ao expoente da loucura, te fizesse vir na minha boca e depois saísse a correr e fosse escrever o teu nome em toda a parte…
– “Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura. Ora amarga, ora doce. Para nos lembrar que o amor é uma doença.”
– Dessa doença já estou eu curada. – Ela levantou-se da cama. – Tu curaste-me, João. Espero que não definitivamente mas curaste-me.
Ele sentou-se na cama a vê-la sair do quarto. Não se lembrava de nada para dizer.
Ela voltou atrás. Ele permaneceu sentado em silêncio, contrariado por não conseguir responder-lhe. Ela deu a volta à cama, agarrou na sua almofada, no telemóvel que estava em cima da mesa de cabeceira e avisou:
– Vou dormir para a sala. É melhor ligares o despertador que eu não te acordo!
– Definitivamente?
Ela parou na ombreira da porta: – Que não te acordo? – A pergunta dele pareceu-lhe despropositada.
– Não…
Como sempre ele não se mexia e parecia impávido e sereno e isso irritava-a mais do que tudo e não conseguiu esperar pela explicação: – Que vou dormir para a sala?
– Não, estava a pensar no teu “não definitivamente”; que eu te curei mas “não definitivamente”.
– Ah!... E?... Não percebeste, foi?
– É dúbio.
– Tu é que és dúbio! – Ela olhou para a almofada que tinha na mão direita e voltou a olhar para ele: – Eu espero voltar a amar ponto final – e virou costas ao quarto. Deu dois passos e pensou que ele era burro e que amanhã ia perguntar-lhe o mesmo e, então, sem parar de andar, disse mais alto: – Mas não a ti.
Ele encolheu os ombros, puxou a sua almofada para o meio da cama e deitou-se. “Tudo isto porque lhe toquei. Que pouca sorte…”

O que é mais obsceno: sexo ou guerra?


Cena do filme O Povo Contra Larry Flynt (1996):

Obscenatório
http://obscenatorio.blogspot.com.br/

A Principezinha!


Teces uma malha cinzenta e opaca
sobre as lágrimas agora embalsamadas...
São duas lentes com que olho o mundo velado,
sem nuvens, sem azul, sem pulsação...
Hastes que me aprisionam o rosto tolhido em pó,
escondido nesta almofada invisível,
clausura de vidro... e uma folha branca.
Desenho um novo planeta pleno de sorrisos,
cardumes em rios critalinos,
florestas sem cinzas ou túmulos humanos.
E escondo-me nessa linha de grafite,
tão fina como a teia que se esconde nos meus cabelos...

Viúva negra caminhas sobre os meus braços,
deténs-te no pescoço delgado!
Vampira que me crava as mandíbulas...

Arqueio sobre a lama quente,
destilo-me sobre a terra embebida em sémen
e ressuscito noutro corpo.

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Lua Cósmica
http://luacosmica.blogspot.pt

Como se gastam dois desejos

Crica para veres toda a história
A extracção da deusa que há em cada mulher


1 página

oglaf.com

31 janeiro 2013

Fala

Heinz Brandenburg

falar do falo
é uma fácil falácia

do príapo é mais própria
a prosápia

quanto ao caralho
não é pau de carvalho

mas engrossa a piça
o chouriço enchoiriça
e a piça incha e estica

mas o tesão
não se compra nem se vende

a cona destes versos
é que o fode!

in Sim… Sim! Poemas Eróticos, de E.M. de Melo e Castro, Vega Editora, 2000

blog A Pérola

«Toucinho-do-céu» - Patife

Ontem tentei uma coisa diferente. O meu terapeuta tem andado a semana toda a chatear-me e a dizer que eu continuo a comportar-me como um puto reguila desmiolado que pensa que não existem consequências para os seus actos e que julga que vai encontrar alguma sabedoria depois de pinar o maior número de pachachas sem sentido. Tentei explicar-lhe que todas as pachachas que comi tiveram algum sentido para mim. Mais não fosse o sentido crescente do meu pincel. Por isso, ele desafiou-me a convidar uma mulher para jantar e depois para a levar a casa sem tentar nenhuma artimanha para a aviar. Gastar um jantar com conversa que depois não leva a lado nenhum pareceu-me parvo, mas aceitei o desafio. Ele dizia que podia levar a um outro lado qualquer, mas não percebi bem qual. E lá fui. Estava tudo a correr bem até à altura da sobremesa. É que ela pega no cardápio e pede de sobremesa um dos muitos cognomes do Pacheco: Toucinho-do-céu. E continuou, claramente a atiçar-me: Ai, está tanto a apetecer-me um toucinho-do-céu. Ai o toucinho-do-céu deixa-me de água na boca. Eu ia apertando a toalha da mesa para me conter mas entretanto chega o doce à mesa. Ela ia metendo o toucinho à boca enquanto soltava onomatopeias de prazer, numa clara provocação a que nenhum homem de sardão rijo conseguiria resistir. Podem dizer que isto é loucura mas um homem vê uma mulher a gemer com um toucinho-do-céu na boca e o seu primeiro instinto é o de a levar ao céu com o seu próprio toucinho. A natureza é mesmo assim. E não me critiquem. Não fui eu que criei as leis da natureza humana. Por isso não descansei enquanto não meti o toucinho-ao-léu. E logo de seguida foi o meu toucinho-no-céu. Da boca da piquena.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

Amanhã ainda mais

Amas de facto se no sulco de cada nova ruga que lhe encontrares redescobrires a paixão pela pessoa com quem irás envelhecer essa certeza.

«SEX» - por Luis Quiles








"El sexo es uno de los temas a de los que mas recurro para expresar ideas o sensaciones, sobre todo porque aunque parezca mentira mucha gente aún se escandaliza por ver pollas y vaginas :s"

Luis Quiles

30 janeiro 2013

Placebo de Paixão


E eis que vejo
que a lado nenhum pertenço,
sem nada meu, apenas este desejo
sempre demasiado intenso,
esta fome de saudade murcha.
Saudade de quê? Saudade de quem?
Não tem alguém, não perde ninguém,
não pinta, só mancha.
E eis que vejo e prevejo
o vazio imenso em mim a crescer,
pois que tanto me despejo
que nada me pode encher,
esta febre de vontade queima.
Vontade de quê? Vontade de quem?
Não aquece ninguém? Não aquece alguém,
não arde, só chama.
E eis que me vejo
lasciva, um corpo de mão em mão.
Amantes? Um cortejo,
são placebo da tua paixão.

«tudo isto é triste» - bagaço amarelo


A Barbie e o Ken encontraram-se finalmente. O problema é que o Ken não compreendeu a Barbie.
Ela, uma ucraniana que não diz quantas cirurgias já fez para se parecer com a boneca lançada em 1959 pela Mattel, viajou até aos Estados Unidos para conhecer um homem que já fez cerca de cem cirurgias plásticas para se assemelhar ao popular boneco lançado nos anos sessenta pela mesma empresa. Conheceram-se, mas o Ken já fez saber que a considera "muito esquisita, muito formal e com falta de personalidade". Parece ser um casal sem futuro, portanto.
Eu defendo que cada um de nós tem direito ao seu próprio corpo e que, por isso, pode fazer com ele o que muito bem entender. Mesmo que esse entendimento passe por ficar igual ao Ken, à Barbie ou até ao Senhor Cabeça de Batata. Não os vou criticar, assim, por isso.
O que me assusta nisto tudo, é a forma como a sociedade mediática nos diz como deve ser o nosso corpo. Uma empresa lançou dois bonecos há mais de cinquenta anos e, entretanto, nasceu uma indústria que decide por nós o que é bonito e feio. Nos Estados Unidos há uma indústria gigantesca à volta de concursos de moda para crianças, em que o objectivo é ser o mais parecido possível com o Ken ou com a Barbie. Alguns pais investem milhares de euros nos seus filhos apenas com o objectivo de os vencer.
A própria moda emagreceu as mulheres, multiplicando os problemas de bulimia e anorexia na adolescência, colocando à margem social aqueles cujo corpo não se presta a tais semelhanças. A beleza deixou de ser uma contemplação e passou a ser uma violência.
Eu, como já referi aqui, defendo o direito de cada um ao seu corpo, e é por isso mesmo que me assusto com esta agressividade da indústria da moda, que nos tira esse mesmo direito sem sequer notarmos. Sem notarmos também, estamos a ceder todos os dias a nossa individualidade a um paradigma social que só tem um objectivo: servir um modelo de crescimento económico em que nada mais cresce a não ser ele mesmo. Nem os nossos salários, nem a nossa qualidade de vida, nem a nossa felicidade.
Tudo isto é triste.

bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»