08 julho 2013
«conversa 1999» - bagaço amarelo
Ela - Não, obrigado.
Eu - Não queres?! Eu não resisto a uns quadrados dum Cadbury, de vez em quando...
Ela - Estou um bocadinho gorda e entrámos na Primavera. Não posso.
Eu - O que é que a Primavera tem a ver com isso?
Ela - Vem aí o calor e as roupas mais curtas...
Eu - Ah! Percebo...
Ela - Percebes?!
Eu - Sim, queres poder usar umas t-shirts sem se notar o pneu da barriga...
Ela - Dá-me aí um bocadinho. Estou a ficar deprimida.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «O dia seguinte do amor» de Vicente Augusto de Carvalho
Aves fugidias que passais em bando
Pelo azul da tarde sobre o azul do mar,
Aves fugidias que passais cantando,
que fazeis? Passar.
De repente surgis. No vasto céu
Um turbilhão de alvura de repente cresce;
Passa, afasta-se, e ao longe, e como apareceu
Desaparece.
Brancura macia de plumas, rumor leve
De asas que ruflam devagar,
Passais como flocos de neve
Que sussurram no vento e se desfazem no ar.
De tudo isso que resta? Um quase nada: apenas
Em meu olhar distraído
A vaga impressão de uma alvura de penas,
E o eco de um rumor cantando em meu ouvido.
Vicente Augusto de Carvalho
(Santos, 5 de abril de 1866 — Santos, 22 de abril de 1924) foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro.
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Pelo azul da tarde sobre o azul do mar,
Aves fugidias que passais cantando,
que fazeis? Passar.
De repente surgis. No vasto céu
Um turbilhão de alvura de repente cresce;
Passa, afasta-se, e ao longe, e como apareceu
Desaparece.
Brancura macia de plumas, rumor leve
De asas que ruflam devagar,
Passais como flocos de neve
Que sussurram no vento e se desfazem no ar.
De tudo isso que resta? Um quase nada: apenas
Em meu olhar distraído
A vaga impressão de uma alvura de penas,
E o eco de um rumor cantando em meu ouvido.
Vicente Augusto de Carvalho
(Santos, 5 de abril de 1866 — Santos, 22 de abril de 1924) foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro.
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
07 julho 2013
«Timidez em Coimbra» - por Rui Felício
Viam-se todas as manhãs...
Ele, segurando uma pasta de cabedal, a descer a Avenida Sá da Bandeira em direcção à baixa e ela, carteira a tiracolo, a subir a caminho da Praça da República.
O Carlos Marques, elegante, aprumado, bem vestido, era um jovem alto, bonito, bem parecido. Tinha acabado o curso de Direito há um ano, estagiando agora num escritório de advogados da Rua Ferreira Borges. Fazia-o apenas para ganhar tarimba, porque aguardava resposta a um requerimento que fez para ingressar num serviço público adequado à sua formação jurídica, porque era aí que desejava fazer carreira, longe dos holofotes de teatro que considerava ser uma sala de audiências de um tribunal.
Sofria de uma profunda e agoniante timidez, que o fizera passar obscuro pelos bancos da faculdade, fechado em casa às voltas com os livros, longe das folias e da boémia coimbrã. Achava que essa forma de ser o desaconselhava de abraçar a advocacia, profissão para a qual, segundo pensava, não estaria talhado.
A Marília, moça de olhos vivos, cheia de vida e sorriso cativante, olhava aquele belo rapaz ainda ele vinha longe, sempre à espera de um gesto seu, de um sorriso, algo que lhe mostrasse que também ele reparava nela.
Sentia-se atraída pela sua esbelta figura e estaria pronta a aprofundar o conhecimento com ele, talvez um relacionamento, um namoro até, mas os dias sucediam-se e nada da parte dele o proporcionava.
Por vezes os olhares encontravam-se, mas quando assim sucedia ele desviava propositadamente os olhos, parecendo envergonhado, incomodado, como se tivesse sido apanhado em flagrante delito.
O que a Marília não sonhava é que o Carlos estava perdidamente apaixonado por ela e que só a timidez e a insegurança o impediam de o manifestar.
Uma noite, na solidão do seu quarto alugado na Rua Tenente Valadim, o Carlos encheu-se de coragem e decidiu escrever um bilhete que de manhã lhe entregaria quando passasse por ela.
Na manhã seguinte, afrouxou o passo sem parar, deu-lhe o papelinho, dobrado em quatro, quase sem olhar para ela e prosseguiu a marcha cabisbaixo, já intimamente arrependido de o ter feito.
Surpreendida a Marília, desdobrou a bilhete e leu as palavras cuidadosamente desenhadas. Era uma frase simples, mas agradavelmente reveladora: “Gosto muito de si. Desculpe!.”
Olhou para trás mas ele já ia longe. Nem sequer sabia o seu nome, nem onde trabalhava, nada! Especada, ficou a vê-lo desaparecer na curva da Escola Avelar Brotero.
No dia seguinte, a Marília esperou por ele nas escadas do Teatro Avenida, firmemente disposta a enfrentá-lo.
Quando ele se aproximou, colocou-se ostensivamente à sua frente barrando-lhe o caminho e disse-lhe com um sorriso:
- Obrigada pelo seu bilhetinho de ontem. Quero que saiba que também gosto de si.
Pareceu-lhe ver um ligeiro rubor na face quando ele se atreveu a dizer-lhe:
- Gostava que pudéssemos encontrar-nos para nos conhecermos e conversarmos.
- Também gostaria muito, respondeu-lhe a Marília, mas infelizmente, ainda esta noite, vou para as Termas de São Pedro do Sul e ficarei por lá durante um mês. O meu pai todos anos lá vai fazer tratamento a uma doença de varizes que o apoquenta.
- Combinaremos então quando regressar, se estiver de acordo, propôs-lhe o Carlos, pesaroso, mas esperançado.
- Está bem, respondeu a Marília. Até daqui a um mês então...
E seguiram cada um para o seu destino. Na atrapalhação do momento, nem ao menos se lembraram de perguntar um ao outro como se chamavam.
--------------
Uns dias depois o Carlos Marques recebeu um oficio do Ministério do Interior, a comunicar-lhe a sua admissão ao serviço a que concorrera.Era uma boa noticia!
Entretanto, em São Pedro do Sul, a Marília encontrou um antigo colega de escola que não via desde há muitos anos.
Era o Tibúrcio, agora médico a trabalhar nas Termas.
Todos os dias se encontravam e rapidamente a Marília esqueceu o tal rapaz de Coimbra. Começaram a namorar.
Não era um namoro de férias.
Estavam verdadeiramente apaixonados, a tal ponto que decidiram casar-se o mais brevemente possível.
Afinal já se conheciam desde crianças e não tinham quaisquer dúvidas sobre a firmeza do seu amor.
O Carlos é que, já no seu novo trabalho, não conseguia deixar de pensar na sua amada.
Contava os dias para o regresso dela a Coimbra, para a ver, para lhe confessar o delírio da sua paixão, já imaginando deleitado os beijos que um dia trocariam quando começassem a namorar.
Vivia ansioso, de coração apertado pela paixão quase doentia que o acometera.
Mas o mês passou, os dias e as semanas foram correndo, e a Marília nunca mais apareceu pela Avenida Sá da Bandeira.
E ele penalizava-se por, estupidamente, nem sequer lhe ter pedido a morada.
Agora, não fazia a mínima ideia de como a encontrar, de como a procurar.
Mal adivinhava o Carlos que ela deixara o emprego e por isso nunca mais passara na avenida como antes. Andava atarefada a tratar dos preparativos para o casamento com o Tibúrcio.
A data foi aprazada, trataram da papelada e, finalmente, no dia da cerimónia, a Marília e o Tibúrcio foram à Conservatória do Registo Civil para celebrarem o casamento.
Nervosos e irradiando felicidade, os noivos, as testemunhas, os convidados e familiares, entraram na salão de actos da Conservatória.
Esperaram uns minutos e a funcionária informou-os que o Dr. Carlos Marques, Adjunto do Conservador, estava quase a chegar e que seria ele a celebrar o matrimónio.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Além mar
(Foto © J.P. Sousa, 2005, Ousadia)
O mar vivo na ponta de Sagres não dava para andar ali à vela mas que lhe importava isso agora que conhecera aquele pescador de Lagos, com o rosto tisnado pelo sol mas senhor de uma pele jovem e macia pela qual a sua língua aguava.
Aqueles glúteos eram o império que atraía e que era forçoso agarrar com ambas as mãos, espalmando-as para puxar à sua face o padrão das descobertas e dar azo ao prazer do céu da boca. E quando lhe sentia o corpo a ajoelhá-lo no chão e a empurrar-lhe as nádegas com as coxas em vagas altaneiras, toda a linha do horizonte se tornava uma praia paradisíaca.
Mais a mais que desde que contratara a bom preço escudeiros e homens de várias nações para irem rentinhos à costa à cata do Preste João das Índias, que bem lhe tinham ficado de emenda os balanços e os vómitos da vez que foi a Ceuta e depois a Tânger, tinha todo o tempo do mundo para conviver com os rapazes algarvios que eram todos bem apessoados e seguros e despachados no manejo dos mastros, como se fossem espadas como na tropa.
Não fosse estarem sempre a chamá-lo à corte para o retrato de família e seria senhor absoluto da sua vida como num castelo onde todos se prestavam a servi-lo com delícias. Embora tivesse de convir que aquele chapeirão de abas largas com aquela enorme e voluptuosa fita pendurada lhe dava um ar de verdadeiro conquistador, habituado ao exotismo e calores medievais das praças marroquinas.
Aqueles glúteos eram o império que atraía e que era forçoso agarrar com ambas as mãos, espalmando-as para puxar à sua face o padrão das descobertas e dar azo ao prazer do céu da boca. E quando lhe sentia o corpo a ajoelhá-lo no chão e a empurrar-lhe as nádegas com as coxas em vagas altaneiras, toda a linha do horizonte se tornava uma praia paradisíaca.
Mais a mais que desde que contratara a bom preço escudeiros e homens de várias nações para irem rentinhos à costa à cata do Preste João das Índias, que bem lhe tinham ficado de emenda os balanços e os vómitos da vez que foi a Ceuta e depois a Tânger, tinha todo o tempo do mundo para conviver com os rapazes algarvios que eram todos bem apessoados e seguros e despachados no manejo dos mastros, como se fossem espadas como na tropa.
Não fosse estarem sempre a chamá-lo à corte para o retrato de família e seria senhor absoluto da sua vida como num castelo onde todos se prestavam a servi-lo com delícias. Embora tivesse de convir que aquele chapeirão de abas largas com aquela enorme e voluptuosa fita pendurada lhe dava um ar de verdadeiro conquistador, habituado ao exotismo e calores medievais das praças marroquinas.
06 julho 2013
«conversa 1998» - bagaço amarelo
Eu - O que é que têm?
Ela - Estão secas. Será que nunca pões um creme nessa pele?
Eu - Não, nunca ponho.
Ela - Estás a gozar!
Eu - Não estou nada.
Ela - Nunca puseste um creme nas mãos?
Eu - Não.
Ela - Então como é que fazes para as hidratar?
Eu - Bebo coisas. Água, cerveja, vinho, leite, uísque...
Ela - Está explicado porque é que é tão mais fácil ser homem...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Poster do filme «Celles qu'on n'a pas eues»
Um mimo de cartaz de cinema francês, de 1981: «Celles qu'on n'a pas eues» (aquelas que nós não tivemos), de Pascal Thomas.
A partir de agora, esta na minha colecção.
A partir de agora, esta na minha colecção.
05 julho 2013
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