Estatueta em resina de uma artista dos EUA que pediu o anonimato (e eu respeito).
Quando a minha Mãe - católica que por ela nem se importava de viver numa sacristia - visitou a minha colecção, vi-a muito pensativa e não fez qualquer comentário. Eu perguntei-lhe:
- Então, minha Mãe? O que achou da colecção?
- Gostei...
- Mas...
- Só não gostei da imagem do crucifixo.
05 novembro 2013
04 novembro 2013
«conversa 2028» - bagaço amarelo
Eu - Tens a certeza?
Ela - Tenho.
Eu - Como é que podes ter a certeza?
Ela - O meu marido, antes de casar comigo, era namorado da minha melhor amiga.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
03 novembro 2013
«Webcam Venus» - projecto de Pablo Garcia & Addie Wagenknecht
"Questionada se havia uma diferença entre a pintura do Renascimento «O Nascimento de Vénus» (1486) e uma revista Playboy, a maioria pode dizer que não há comparação: uma é a arte e a outra é pornografia exploradora. Uma é um tesouro dos ideais humanos e das suas realizações, a outra é obscenidade. Serão Botticelli e Hugh Hefner realmente diferentes? Ambos projectam fantasia e imagens eróticas através dos meios de comunicação dos seus dias. Ambos são veículos de política de género, definindo padrões de beleza e sexualidade. E se artistas adultos - já objectos sexuais - representassem poses clássicas? Em «Webcam Venus», pedimos a actores de «sexcam on-line» para reproduzirem obras icónicas da arte.
Esta peça é uma homenagem experimental, tanto para obras de arte como do fenómeno das webcams da internet, a que os utilizadores acedem para verem homens, mulheres, transexuais, casais e grupos a transmitir os seus corpos e a sua sexualidade ao vivo para o público, muitas vezes por dinheiro. Para criar esta experiência, passámos algumas horas por dia durante um mês pedindo anonimamente a artistas: «Você gostaria de posar para mim?»"
Webcam Venus [NSFW] from Pablo Garcia on Vimeo.
Esta peça é uma homenagem experimental, tanto para obras de arte como do fenómeno das webcams da internet, a que os utilizadores acedem para verem homens, mulheres, transexuais, casais e grupos a transmitir os seus corpos e a sua sexualidade ao vivo para o público, muitas vezes por dinheiro. Para criar esta experiência, passámos algumas horas por dia durante um mês pedindo anonimamente a artistas: «Você gostaria de posar para mim?»"
Webcam Venus [NSFW] from Pablo Garcia on Vimeo.
«Teatro amador (no Clube Recreativo do Calhabé)» - por Rui Felício
Nas cenas de maior suspense só se ouvia o estalar das pevides e dos amendoins a serem descascados ou os papeis coloridos dos rebuçados de frutas a serem desembrulhados pelos cachopos. Uma miscelânea de perfumes baratos inundava a sala.
Num ou noutro rosto das mulheres percebiam-se lágrimas a correr pelas faces, misturadas com esgares de raiva e de condenação.
Os semblantes dos homens denotavam ansiedade, os maxilares cerrados, tentando conter a comoção. Porque chorar não é próprio dos homens. Os pais iam contendo o irrequietismo das crianças, à custa de uns sopapos disfarçados ou com promessas de um bolo ou de uma laranjada no intervalo.
No palco, os actores, todos vizinhos e conhecidos dos espectadores, representavam a peça o melhor que podiam, em tom declamatório e grandiloquente, enfarpelados em guarda roupa renascentista, alugado numa loja da Rua das Figueirinhas. Um drama cujo enredo era construído à volta da infidelidade de uma mulher que traía o marido com o fidalgo Dom Diogo de Alencastre, rico senhor e dono de grandes propriedades, tido como impenitente mulherengo, sobranceiro e indiferente à quebra dos ancestrais pergaminhos que o seu comportamento indigno lhe acarretava.
Na plateia, de onde em onde, eram irreprimíveis e audíveis alguns comentários:
- Malandro!- sussurrava uma mulher magricela, com o cabelo armado em avantajada forma de ninho de cegonha, para a amiga que se sentava ao lado, na cadeira de pau desengonçada que rangia ao peso dos seus movimentos.
- Uma porca é o que ela é! – retorquia a outra, em voz baixa, abanando a cabeça e as banhas da barriga que lhe inchava o vestido às flores, como se fosse um pudim acabado de desenformar.
- Eu cá, se fosse ao marido, matava-a era a ela, grande vaca!, acrescentava a Dona Leonilde sentada na fila de trás. Solteirona, a Dona Leonilde, sentenciou:
- Um homem não é de pau e o Dom Diogo não fez mais que a obrigação dele!
Um homem que estava na fila da frente, virando a cabeça, beata pendurada nos queixos, de dedo indicador esticado ao pé do nariz, reprimiu-as, sibilando:
- Chiiiuu!
Por vezes conseguia-se ouvir a voz do ponto, encafuado debaixo do palco, que elevava a voz rouca quando os actores se esqueciam das suas falas ou das deixas.
A tensão era grande! Desenrolava-se a última cena do 3º acto.
Em palco, apenas o Felisberto, que era o marido enganado, com um revolver na mão e o fidalgo mulherengo, aterrorizado, procurando uma escapatória para as árvores desenhadas no cenário.
- Vou-te matar como a um cão, desgraçado!, dizia o Felisberto apontando-lhe a arma.
- Não! Não faças isso! Perdoa-me!, suplicava o Dom Diogo com as mãos levantadas.
- Dou-te aquele terreno ao pé do rio para amanhares, se me perdoares!
Mas já louco, fora de si, os olhos raiados de sangue, o Felisberto estava decidido a lavar a sua honra. Puxou o cão da pistola e carregou no gatilho. Mas nada! O fulminante não percutiu e o que se ouviu foi um estalido metálico seco e quase imperceptível.
O fidalgo, deu um pulo para trás, cambaleou e levou a mão ao peito, donde jorrou um líquido vermelho, representando a sua morte, tal e qual como inúmeras vezes tinham ensaiado.
Porém, não tendo saído o som do disparo, endireitou-se à pressa e esperou por novo tiro, para então sim, morrer e estatelar-se no palco.
O Felisberto ainda carregou no gatilho mais duas vezes, sem êxito. Definitivamente os fulminantes deviam estar estragados pela humidade, porque o estrondo do disparo nunca chegou a sair.
O actor, demonstrando um enorme sangue frio, pegou então no revolver pelo cano, dirigiu-se ao Dom Diogo, com o braço levantado, a mão enclavinhada no cano da pistola. Afivelou um ar ameaçador e berrou:
- Não te mato com um tiro, mas mato-te à coronhada, grandessíssimo pulha!
E caiu o pano, sob uma estrondosa salva de palmas.
______________________________________________________________
Uma homenagem, fraca é certo, mas sincera, ao Teatro Amador e aos homens e mulheres que depois dos seus dias de trabalho árduo para ganharem a vida, ainda encontravam ânimo e tempo para, à noite, irem ensaiar e representar no Clube Recreativo do Calhabé.
O protagonista desta peça era meu vizinho no Bairro. Era o Senhor Alberto Bastos, um dos maiores entusiastas do teatro amador e do associativismo a quem o Clube Recreativo do Calhabé muito deveu.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Foi em Setembro...
E ao som da concertina de roga entre parras amadurecidas lá íamos trec-trec cortando os cachos daquele ritual como se trabalhar todos os dias naquela rotina de socalcos sobe e desce fosse divertido e o desporto preferido daqueles moçoilos que carregavam os pesados contentores de plástico negro ao ombro. E foi aí que me passou pela vistinha aquele pedaço de néctar dos deuses de peito descoberto mas sem a paneleirice de ter rapado os pêlos do peito e com as cuecas a espreitar das jeans como se fosse um cordel a sussurrar puxa-me. Aquele moreno latino exalava a pujança da juventude sem músculos excessivamente vincados e a cada passagem sua lá eu desferia cotoveladas ou pisadelas adolescentes na minha amiga entre risinhos e gula aparada quando ela me fechava a boca para não entrar mosca.
Chegada a hora de almoço do tradicional bacalhau frito no chão daquelas vinhas alapei-me a seu lado para beber directamente da sua boca a história de que não era romeno como a maioria dos que ali acartavam mas filho de emigrantes em França que seguindo conselho da sua tia empregada de longa data naquela casa vinícola aproveitava as férias para juntar um pecúlio de 30 euros ao dia para as noitadas parisienses do resto do ano e como quem não quer a coisa deixou escorregar no seu português adocicado de sotaque gaulês que tinha mais de 18 anos. E naquela encosta puxei então da minha predilecção por chats até falar do pisar de uva deles nas roupas da dona em noites enluaradas para o convidar a terminar aquele dia vinhateiro com uma dobradinha alfacinha em que me podia esmagar todos os bagos. E ele disse que sim.
02 novembro 2013
«Jack Sparks» - João
"Jack Sparks. Placa prateada na porta do prédio, com o nome gravado. Campaínha. A entrada de aspecto lúgubre e ao fundo um elevador estreito e de aspecto pouco seguro. Caixas de correio claramente violadas, com sinais óbvios de abandono, onde nenhuma correspondência repousa. Alguns ladrilhos partidos e plantas muito mais mortas que vivas, pardacentas, falta de luz e de água. Jack avança depois de empurrar a porta pesada e pensar, pela enésima vez, que precisa colocar óleo. Profere, para dentro, imprecações várias, e carrega no botão. Sétimo andar. Solavanco, e incerteza caixa acima, enquanto o motor de pouca confiança iça o cubículo onde ele segue, encostado a um canto, enquanto vê passar os pisos e resmunga sozinho “eh… já nem sei se sou eu que subo ou o prédio que se afunda”.
A mão no bolso agita um molho de chaves, algumas das quais herança de passados que se perderam da memória, e agora contribuem apenas para um tilintar irritante, e um peso desnecessário. Chave escolhida, pés vigorosamente esfregados no tapete, e porta aberta. Casaco atirado com desprezo para cima do sofá ignorando o armário de onde havia sido retirado nessa manhã e passos cansados em direcção à janela, com o Sol do final do dia a entrar já oblíquo e alaranjado, descrevendo sombras do mobiliário em padrões longos nas paredes e no soalho. O ar está numa temperatura que beija a pele, mas Jack Sparks não nota. Está longe, com o olhar detido em linhas desenhadas pelas coberturas dos prédios no horizonte, recortadas aqui e ali por antenas antigas, algumas dobradas pelo vento ou quebradas por ferrugem, e cabos coaxiais que ondulam quando lhes bate o vento, caídos sobre as fachadas, testemunhos abandonados.
- Jack!
Silêncio cortado. Que raio!?
- Jack.
A sala é rectangular e muito ampla, com um sofá de duas pessoas, perpendicular à porta de entrada, onde o casaco de Jack jaz, e um outro, maior mas do mesmo modelo e côr, de canto, com uma mesa de apoio entre os dois. Em frente, a janela generosa, desenvolvendo-se em toda a fachada do edifício com vista para a cidade e o rio. O recorte da sala esconde o canto onde está o maior sofá para quem ali entra, e Jack não via nada naquele dia. Estava tudo longe e os sentidos estavam todos reduzidos ao mínimo.
- Jack!
Virou-se com o nome dele a ecoar nas paredes e, mais que isso, nos seus ouvidos. Mas a voz que neles entrava fê-lo esquecer a dor de cabeça. Percebeu que o seu cérebro ordenou aos seus músculos faciais que experimentassem uma expressão de espanto, mas não sabia dizer qual era, e que olhar era o dele. Sapatos pretos, de salto, no chão. Deixados com precisão, junto do sofá. Pernas em meias pretas, interrompidas já muito perto das ancas por uma camisa sua, larga, branca, mal abotoada. Cabelo longo. Gin tónico com gelo quase derretido na mesa de apoio. O espanto deu lugar a um sorriso nervoso, levou a mão à cabeça, esfregou o cabelo, e…
- Jack, Jack… está bom assim para ti?
- Não posso crer. Tu não existes!
- Existo sim. E o teu Gin também existe. Não to bebi todo. Vai buscar gelo para ti, anda. E traz-me duas pedras.
- Então mas isto é assim? Chegas aqui, atiras-te para o meu sofá quase nua, bebes o meu Gin, e ainda me dás ordens?
- Tens algum problema com isso?
- Com que parte?
- Quase nua?
- Não. Estás bem assim.
- Beber o teu Gin?
- Não. Sabes que compro sempre do melhor para ti.
- Dar-te ordens?
- Ora… depende. Se for para te segurar contra a parede podes ordenar à vontade.
- Uma coisa de cada vez. Paredes temos. Não tenho é gelo Jack! Despacha-te!
Passos velozes e uma pulsação galopante. Ela estava ali, a sorrir-lhe, bonita como sempre, e os metros entre a sala e o congelador ficaram reduzidos a centímetros, de tão veloz que se fez, esquecendo o dia de merda e a dor que vinha com ele na cabeça desde pelo menos a hora do almoço. Enquanto preparava o Gin dele e as pedras de gelo para o dela, tentava lembrar-se se tudo estava arrumado. Tinha baixado a tampa da sanita? Teria deixado as toalhas no sítio? A cama estava feita? Paciência. Pensou nas paredes. E voltou à sala. A camisa dele, que a princípio estava pouco abotoada, agora não estava de todo. Botões e casas para cada lado. Sem aprumo.
- Toma amor. Duas pedras. Já agora, estás cá há muito tempo?
- Não, cheguei meia hora antes de ti.
- Conta-me tudo!
- Temos tempo.
- Temos?
- Temos.
- Como assim?
- Olha para cima.
Da sala projectam-se degraus que dão lugar a um piso superior, e uma mezzanine. Há quartos, casa de banho e ainda um escritório. Renovado em tempos, o apartamento desafiava em muito o aspecto paupérrimo do edifício. Algum tempo antes tinha tentado sair dali. Vender. Ir embora. Desaparecer. Mas ninguém fazia negócio. O edifício estava claramente mal tratado, e nas contas de sumir que todos faziam, não apetecia comprar. As pessoas querem prédios bonitos. E novos. E aquele já fora bonito em tempos. E já fora novo. Mas o tempo tinha passado por ele, assim como vidas de gente, e no fim ficaram eles. O prédio. E Jack. Num apartamento grande, renovado, mas num contexto quase industrial e pouco atractivo, à medida que a cidade evoluiu e se deslocou, levando a nobreza para longe.
E olhando para cima viu malas no topo da escada.
- Não me gozes!
- Não estou a gozar. Tens espaço para elas, certo?
- Tenho. E a cama é larga.
- E as paredes? Achas que o prédio aguenta connosco?
- É antigo. Está bem construido!
- Hm. E as janelas? Aguentam que me fodas contra elas?
- Olha lá… mais depressa me partes todo a mim do que ao raio da casa.
- Eu sei.
- Ursa!
- Patife. Fode-me.
- Assim? E o Gin?
- Deita-mo sobre o corpo e lambe-me.
- Doida!
- Tu sabes. A culpa é tua. Mas falas muito tu. Faz juz ao teu nome depressa, pá.
E como tantas vezes, trocando frases em inglês, ela disse-lhe ao ouvido,
- Ignite me, Jack Sparks!
- Give way…"
João
Geografia das Curvas
A mão no bolso agita um molho de chaves, algumas das quais herança de passados que se perderam da memória, e agora contribuem apenas para um tilintar irritante, e um peso desnecessário. Chave escolhida, pés vigorosamente esfregados no tapete, e porta aberta. Casaco atirado com desprezo para cima do sofá ignorando o armário de onde havia sido retirado nessa manhã e passos cansados em direcção à janela, com o Sol do final do dia a entrar já oblíquo e alaranjado, descrevendo sombras do mobiliário em padrões longos nas paredes e no soalho. O ar está numa temperatura que beija a pele, mas Jack Sparks não nota. Está longe, com o olhar detido em linhas desenhadas pelas coberturas dos prédios no horizonte, recortadas aqui e ali por antenas antigas, algumas dobradas pelo vento ou quebradas por ferrugem, e cabos coaxiais que ondulam quando lhes bate o vento, caídos sobre as fachadas, testemunhos abandonados.
- Jack!
Silêncio cortado. Que raio!?
- Jack.
A sala é rectangular e muito ampla, com um sofá de duas pessoas, perpendicular à porta de entrada, onde o casaco de Jack jaz, e um outro, maior mas do mesmo modelo e côr, de canto, com uma mesa de apoio entre os dois. Em frente, a janela generosa, desenvolvendo-se em toda a fachada do edifício com vista para a cidade e o rio. O recorte da sala esconde o canto onde está o maior sofá para quem ali entra, e Jack não via nada naquele dia. Estava tudo longe e os sentidos estavam todos reduzidos ao mínimo.
- Jack!
Virou-se com o nome dele a ecoar nas paredes e, mais que isso, nos seus ouvidos. Mas a voz que neles entrava fê-lo esquecer a dor de cabeça. Percebeu que o seu cérebro ordenou aos seus músculos faciais que experimentassem uma expressão de espanto, mas não sabia dizer qual era, e que olhar era o dele. Sapatos pretos, de salto, no chão. Deixados com precisão, junto do sofá. Pernas em meias pretas, interrompidas já muito perto das ancas por uma camisa sua, larga, branca, mal abotoada. Cabelo longo. Gin tónico com gelo quase derretido na mesa de apoio. O espanto deu lugar a um sorriso nervoso, levou a mão à cabeça, esfregou o cabelo, e…
- Jack, Jack… está bom assim para ti?
- Não posso crer. Tu não existes!
- Existo sim. E o teu Gin também existe. Não to bebi todo. Vai buscar gelo para ti, anda. E traz-me duas pedras.
- Então mas isto é assim? Chegas aqui, atiras-te para o meu sofá quase nua, bebes o meu Gin, e ainda me dás ordens?
- Tens algum problema com isso?
- Com que parte?
- Quase nua?
- Não. Estás bem assim.
- Beber o teu Gin?
- Não. Sabes que compro sempre do melhor para ti.
- Dar-te ordens?
- Ora… depende. Se for para te segurar contra a parede podes ordenar à vontade.
- Uma coisa de cada vez. Paredes temos. Não tenho é gelo Jack! Despacha-te!
Passos velozes e uma pulsação galopante. Ela estava ali, a sorrir-lhe, bonita como sempre, e os metros entre a sala e o congelador ficaram reduzidos a centímetros, de tão veloz que se fez, esquecendo o dia de merda e a dor que vinha com ele na cabeça desde pelo menos a hora do almoço. Enquanto preparava o Gin dele e as pedras de gelo para o dela, tentava lembrar-se se tudo estava arrumado. Tinha baixado a tampa da sanita? Teria deixado as toalhas no sítio? A cama estava feita? Paciência. Pensou nas paredes. E voltou à sala. A camisa dele, que a princípio estava pouco abotoada, agora não estava de todo. Botões e casas para cada lado. Sem aprumo.
- Toma amor. Duas pedras. Já agora, estás cá há muito tempo?
- Não, cheguei meia hora antes de ti.
- Conta-me tudo!
- Temos tempo.
- Temos?
- Temos.
- Como assim?
- Olha para cima.
Da sala projectam-se degraus que dão lugar a um piso superior, e uma mezzanine. Há quartos, casa de banho e ainda um escritório. Renovado em tempos, o apartamento desafiava em muito o aspecto paupérrimo do edifício. Algum tempo antes tinha tentado sair dali. Vender. Ir embora. Desaparecer. Mas ninguém fazia negócio. O edifício estava claramente mal tratado, e nas contas de sumir que todos faziam, não apetecia comprar. As pessoas querem prédios bonitos. E novos. E aquele já fora bonito em tempos. E já fora novo. Mas o tempo tinha passado por ele, assim como vidas de gente, e no fim ficaram eles. O prédio. E Jack. Num apartamento grande, renovado, mas num contexto quase industrial e pouco atractivo, à medida que a cidade evoluiu e se deslocou, levando a nobreza para longe.
E olhando para cima viu malas no topo da escada.
- Não me gozes!
- Não estou a gozar. Tens espaço para elas, certo?
- Tenho. E a cama é larga.
- E as paredes? Achas que o prédio aguenta connosco?
- É antigo. Está bem construido!
- Hm. E as janelas? Aguentam que me fodas contra elas?
- Olha lá… mais depressa me partes todo a mim do que ao raio da casa.
- Eu sei.
- Ursa!
- Patife. Fode-me.
- Assim? E o Gin?
- Deita-mo sobre o corpo e lambe-me.
- Doida!
- Tu sabes. A culpa é tua. Mas falas muito tu. Faz juz ao teu nome depressa, pá.
E como tantas vezes, trocando frases em inglês, ela disse-lhe ao ouvido,
- Ignite me, Jack Sparks!
- Give way…"
João
Geografia das Curvas
«She didn't miss - or fun at the world's fair» - Tijuana bible
Tijuana bibles - bíblias de Tijuana (também conhecidas como eight-pagers, bluesies, gray-backs, Jiggs-and-Maggie books, jo-jo books, Tillie-and-Mac books e two-by-fours) eram pequenos livrinhos de banda desenhada pornográfica produzidos nos Estados Unidos da América entre os anos 1920 e início dos anos 1960.
Para quem tiver curiosidade em saber mais, recomendo o livro «Tijuana Bibles» de Bob Adelman publicado pela editora Taschen (que tenho na minha colecção).
Já tinha mostrado um dos dois exemplares na minha colecção. Aqui está o outro.
Para quem tiver curiosidade em saber mais, recomendo o livro «Tijuana Bibles» de Bob Adelman publicado pela editora Taschen (que tenho na minha colecção).
Já tinha mostrado um dos dois exemplares na minha colecção. Aqui está o outro.
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