09 fevereiro 2014

Orelhas quentes


Àquela hora da manhã não sei que raio de impulso de nossa senhora dos aflitos me deu para largar a bica e me levantar a interpor-me entre o murro certeiro do grandalhão e a cara dele. Talvez a quase certeza de que os homens não batem a uma mulher a não ser no recato doméstico sem audiências mas adiante.

Ele agradeceu-me polidamente com um novo café e fiz das tripas coração para não lhe berrar que a mim gajo nenhum paga coisa alguma. E ele lá foi abrindo as suas asas de deputado desterrado para a capital e circundado de gente por todos os lados, com propostas de acção, de negócio e de troca de favores a abarrotar-lhe os dias. Nem lhe faltava sexo mesmo que depois lhe pedissem um emprego melhor para si ou alguém da família ou um jeitinho para despachar uma licença na câmara daquele gajo que ele até conhecia. Tanto mais que choviam gajas a colarem-se com o corpinho todo pelo prazer de depois passearem o seu estatuto pelo braço. Às vezes até gastava umas notas valentes com meninas de preço tabelado só para escolher à sua maneira o que pagava.

Recolhi os instintos de o despir e de lhe apaziguar as mágoas com muita transpiração numa confusão de sexos na boca e mãos cravadas em nádegas e até da magia de fazer crescer uma pila dentro de mim em toques sincronizados e espasmódicos de vagina porque ele não precisava de uma foda mas de um par de orelhas amorosas que lhe espantasse a solidão dos dias.

«União perfeita» - por Rui Felício


Ao principio, ela só parecia ter um defeito.
Tinha medo do escuro, só se sentia calma e descontraída quando a luz incidia no seu corpo esbelto e atraente.
Nos primeiros dias tive dificuldade em adaptar-me, porque na intimidade do nosso quarto eu gostava mais da cálida modorra da escuridão.
Para a satisfazer, contudo, comprei um candeeiro de luz mortiça que fica aceso toda a noite do lado dela e concluí que afinal aquele seu hábito, em vez de defeito, era uma virtude.
Fez-me descobrir o prazer de admirar as sombras desenhadas pela luz, que marcavam e delineavam os seus contornos apetecíveis em mil nuances que a escuridão só permitia ao tacto, nunca ao olhar.
Ela adora sentir o meu respirar junto do corpo, e eu recebo o dela na minha pele, como um bálsamo viciante, provocador, numa permuta contínua, sincopada, quase perpétua que se alimenta uma da outra, mantendo-nos unidos, à vezes insaciáveis, aumentando as sensações num ritmo crescente dos eflúvios e do sangue, em direcção ao cume da vida, ponto de encontro único dos amantes que os deuses marcaram como o clímax incontrolável do prazer.
Pergunto-me como demorei tantos anos a descobrir que a união perfeita é afinal bem mais simples do que parece.
Basta que saibamos dar a quem amamos o que temos para dar e receber em troca aquilo que nos faz falta.
Ela não prescinde do dióxido de carbono que expiro e eu estaria morto se não aspirasse o oxigénio e a energia química que aquela lindíssima planta me dá através da clorofila e da fotossíntese.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Casalinho mai'lindo...



Via Danish Principle

08 fevereiro 2014

50 anos do calendário Pirelli


50 Jahre Pirelli Kalender from V12media on Vimeo.

«Any given Sunday» - João

"O que eu gosto de estacionar o carro, à beira do mar ou do rio, num final de tarde, e dormir uma sesta, não tem explicação. Também gosto (diria, prefiro) de carícias, mimo, cuddling. Mas por ora, fiquemos em dormir uma sesta. E dei por mim num local que conheço muito bem, ao pé do rio, onde vi a água picada pela brisa e os barcos passar, o Sol a cair sobre o mar, e eu num estado de transe, a dormitar embalado pelo barulho de pessoas que passavam. Quando lá cheguei, estava já um automóvel estacionado em local recuado naquele amplo recinto, local que nada interessava para ver o rio ou as pessoas passar. E quando acordei e por fim me retirei, o carro ainda ali estava. E eu olhei, por escasso instante, para confirmar o que sabia. Lá dentro e no banco de trás uma mulher repousava (forma de expressão, suspeito), sentada ao colo do seu homem, com os cabelos caídos e ela também caindo sobre ele, num beijo que adivinho longo e numa coreografia ritmada. Sorri. Sorri com gosto cá dentro, e deixei-me levar para outros dias no intrincado das minhas sinapses."
João
Geografia das Curvas

Os cartões de telecomunicações também podem ser muito malandrecos...

... e, quando são, sujeitam-se a vir parar à minha colecção, como estes.


Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

Terminando o namoro



Via
Dançando sem Cesar

07 fevereiro 2014

Jim Hast - «Bridges to You»


Jim Hast - Bridges to You (Official Music Video) from mirko zlatar on Vimeo.

«Feita ao bife» - Patife

Este fim-de-semana acordei cedo. Ando um pouco enfadado da fauna nocturna e quis perceber como estava o mercado cabril logo pela fresca. A ver se ficava enfodado. E foi assim que no sábado de manhã saí para o meu campo de caça, vulgo Chiado, para ver se espingardeava alguma. Muitos refugos da noite ainda cambaleavam envoltos num aspecto deplorável, com os vestidos amarfanhados pelo saracotear do corpo durante horas a cio. Maquilhagens outrora aplicadas a rigor davam lugar a uma desfiguração própria de bobos da corte decadentes a tentar acertar o passo titubeante no regresso a casa. Eu estou aprumado e com o charme do costume, além de ter a verga cheia de lume. O que me confere ainda maior distinção. Mas o plano era estar atento às que acordam cedo, assim todas joviais e enérgicas. Sempre desconfiei das mulheres madrugadoras que se apressam a sair à rua cheias de vigor matinal. Mas tinha de ver se são boas de pinar. Uma estava a tomar café, apesar de apresentar uma vivacidade digna de nota. Falava muito mais do que lhe seria exigido àquela hora da manhã e com uma velocidade atroz. A mesma com que lhe quero espetar atrás. E assim que trocámos um olhar intenso ela sentiu que estava feita ao bife. Mas na verdade acabou foi feita pelo Patife.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

«Corpos e Almas - 2004/2013» - compilação de poemas da Helena Fonseca

A c&a (Corpos e Almas) já colabora com o blog «a funda São» quase desde o seu início, partilhando aqui connosco os poemas que tem vindo a publicar no seu blog . A Corpos Editora já tinha publicado um livro seu e agora (depois de muito trabalho ao longo de alguns anos) concluiu esta compilação de todos os poemas do blog:


Obrigada, c&a!

06 fevereiro 2014

Yoga da deusa Maha

A falta de paciência de um Croata

Há uns anos, o meu amigo Carlos Car(v)alho ofereceu-me este desenho feito num envelope dos Correios e que tem uma história muito curiosa: um senhor, imigrante da Croácia, dirigiu-se a uma estação dos Correios para receber o valor de uma transferência internacional. Aquilo demorou muito tempo e, num dado momento, ele pediu a uma funcionária uma folha branca, onde pudesse escrever. O que a senhora tinha era um envelope e ele lá foi de novo sentar-se, a rabiscar algo. Quando, depois de muito mais tempo, o chamaram ao balcão, ele tratou do seu assunto e ofereceu este desenho... "para memória".


Saiu o nº 5 (Janeiro 2014) da revista Erotika

(crica na imagem para acederes à revista online)