20 julho 2014

Calções



Já estava farta de me sentir marginalizada nos cochichos do escritório que é sabido que as gajas e os gajos se unem naquela ideia de que quem não veste igual a mim é contra mim e lá me decidi a comprar uns calções até aos joelhos a bem das relações laborais.

Valha a verdade que já aqui há atrasado os usara iguais ao desta estação e também enfolados como os do Tintim e até curtinhos e largos como uma mini-saia, época esta que foi um maná para a descoberta das largas e fartas coxas deste país.

O frio que se lixe naquele bocadito de joelho que transparece entre o fim dos calções e o início das botas altas de salto para manter o figurino, em prol do aumento da pressão nas coronárias masculinas com a visão de uns glúteos alçados de sobremaneira no arredondado do tecido, tanto mais que a exposição de tanto traseiro assim vestido irmana em juventude todas as mulheres que por aí pululam.

E como os tempos são de crise até se coaduna a poupança do tecido com a espiral de excitação como antigamente quando pouca gente tinha uma televisão em casa e o aumento demográfico disparava.



O princípio do fim



Renan Lima
Dentro da Caveira

18 julho 2014

The Humping Pact - «Mission in Brussels»


The Humping Pact: Mission in Brussels (trailer) from Diego Agulló on Vimeo.

Postalinho pré-histórico

"Recinto Megalítico ("Cromeleque") do Xerez, perto de Monsaraz"
PM







A FODA COMO ELA É (XV) - Salivando Clarice



Clarice gostava de ser insultada enquanto lhe comiam o ensopadinho de cona; apetite mais comum do que julgar se possa. Era uma dessas balzaquianas reprimidas sob casaquinhos de malha cinzentões, olhos aumentados por lentes prodigiosamente espessas, negação do esteticismo, usava sapato de conforto, perfil ortopédico. No entanto, era fã de Judas Priest e todos os anos despedia-se no Verão dos seus colegas na repartição para fazer turismo sexual em alguma localização tropical. Foder, para Clarice, era caso sério, quanto mais encontrar adequado vexame mineteiro que a pusesse num everéstico orgasmo...
Arlindo era engatatão, mas daqueles que não fazem prisioneiras. O dia-a-dia atrás do volante do táxi transformara-o num cínico da cambalhota. Se uma reformada rebentando de varizes se pusesse a jeito, o poltrão ia-lhe às crostas. Certa vez, foi perfumado e com os braços tatuados ao léu a um concerto de heavy metal, algures no Barreiro. Durante a refrega, Clarice caiu-lhe em cima. O seu olho gordo detectou toda a lascívia prometedora dardejando dos olhos de Clarice, perfurando centímetros de vidro ocular. Pensou, com indisfarçável erecção, que mal podia esperar por empalar aquela "Manuela da Conservatória". Antes das alegrias naturais houve cerveja e um passeio de táxi ao luar, pelas ruas da Moita. Já na Pensão Cabinda, Arlindo preparava a língua para bater claras em castela, quando soou tradicionalmente: -"Chama-me nomes." O taxista desfilou, afoito, o seu repertório de baixeza quotidiana, mas nada ressoava naquela libido feminina; tudo muito previsível, burocrático, ópera de construção civil... Tornou a insistir Clarice: -"Insulta-me a sério, com gravidade." Então, o profissional do volante descolou a língua daquela cavidade seca e disse em tom displicente, entre arrotos bufados: -"Ó filha, isso só casando e passados muitos anos..."
Logo de seguida, ao som de urros desumanos, Arlindo descobria que Clarice era dessas que esguicham.

«I like» - por Luis Quiles