28 setembro 2014

Luís Gaspar lê «O deputado Morgado» de Natália Correia


«O acto sexual é para ter filhos» – disse na Assembleia da República, no dia 3 de Abril de 1982, o então deputado do CDS, João Morgado, num debate sobre a legalização do aborto.
A resposta de Natália Correia – em poema, publicado depois pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano – fez rir todas as bancadas parlamentares, sem excepção, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:


Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
de cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

Natália Correia
(Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993 ) foi uma intelectual, poeta e deputada à Assembleia da República (1980-1991).
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Escort Nacional - uma nova oportunidade




Garantiu-me ontem à noite um passarinho que o Ministério da Educação vai implementar uma nova oportunidade para os estudantes. A mesma fonte assegurou-me que este apoio se destina a estudantes universitários para lhes garantir o desafogo financeiro necessário ao pagamento das propinas, de todos os materiais de estudo e da estadia, sob o nome provisório de Programa Escort Nacional.

Todos os candidatos de ambos de sexos que se queiram inscrever serão colocados numa residência do Escort Nacional, na localidade da universidade onde entraram e terão apenas de gastar algumas horas do dia ou da noite, num horário à sua escolha, durante os anos em que decorra o curso, para prestarem serviços de acompanhante erótico à comunidade, também qualificado como transmissão de conhecimentos a essa mesma comunidade no seguimento da cena da massagem tailandesa difundida pelo clássico filme Declínio do Império Americano, revertendo os lucros para a bolsa universitária de cada aderente a este Programa.

Este Programa Escort Nacional assume-se também como um investimento futuro pois caso os recém-licenciados não consigam emprego na área em que se especializaram têm uma formação alternativa que desde logo lhes garante emprego imediato.

Fogo de muito artifício



Via Capinaremos

27 setembro 2014

Tito & Tarantula - «After Dark»

Tito & Tarantula - After Dark (DJ Nejtrino & DJ Stranger Remix) from DJ Stranger on Vimeo.

«A Bina e o sexagenário» - por Rui Felício

Na Real República Rapó Taxo tive grandes amigos. Frequentava-a com frequência, muitas vezes para uns copos num anexo da vivenda transformado em adega, menos vezes para estudar com dois colegas que ali viviam.
Certo dia, estava o Guedes a contar à malta que o ouvia atentamente, que tinha engatado uma matrona na Alta que morava numa ruela por trás da Faculdade de Farmácia.
- Uma mulher na casa dos 40 anos, boa, matulona? – perguntou o Noronha.
- Sim, ela já é um bocado descriada, mas é boa, de carnes fartas – assentiu o Guedes.
- Chama-se Bina? – interpelou-o o Noronha, já desconfiado.
- Essa mesmo! Só me deixa lá ir da parte da manhã, que a gaja diz que à tarde tem de trabalhar e que à noite vai lá a casa um velho sexagenário que é quem a sustenta. De mim é que ela nunca levou um tostão. Mas como é que sabes?
- É que a mim ela só me deixa lá ir de tarde, porque de manhã tem um emprego e à noite tem um velho sexagenário que lhe vai dando uns cobres para a sua sobrevivência. Mas olha que a mesada que recebo lá de Mangualde quase nem chega para comer e por isso também nunca lhe dei nada. Além do meu corpo, claro!
As gargalhadas dos circunstantes estalaram e o Guedes e o Noronha não tiveram outro remédio senão admitirem, com risos amarelos, que andavam os dois a ser enganados pela Bina.
Mas um nosso colega houve que em vez de rir, tinha metido a cabeça entre as mãos e as lágrimas corriam-lhe pela cara. Era o Varela, rapaz bem parecido, um tanto ingénuo, caloiro chegado nesse ano a Coimbra vindo de Trás-Os-Montes.
- Eh pá, o que é que se passa. Estás doente? - perguntou um.
- Eu sou o dito sexagenário que vai lá à noite e que a sustenta - foi a resposta sussurrada do Varela...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido


Coco-de-mar, recordação das ilhas Seychelles

Espécie de coco que, com a casca exterior removida, faz lembrar umas ancas femininas.
A palmeira coco-de-mer é a planta dominante de Vallée de Mai, em Praslin, a segunda maior ilha das Seychelles. É uma curiosidade botânica, por ser a maior semente do mundo, mas também é um sucesso turístico pela sua forma. Enquanto as árvores femininas suportam as nozes - que crescem por cerca de sete anos antes de cair - as árvores masculinas desenvolvem tubos em forma fálica cravejados com delicadas flores amarelas que emitem um odor almiscarado.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)


«o striptease das contas» - irmaolucia


Um sábado qualquer... - «Jesus - origens»

26 setembro 2014

«Dystopie de Corps Puisque» - filme de Jonatan Gyllenör

O autor informa:
"Filmado durante um dia, sem um guião. Nenhum animal foi prejudicado na realização deste filme. Os animais incluídos neste filme nunca chegaram perto de um corpo humano nu durante a produção deste filme."


Dystopie de Corps Puisque (2014) from Fennek Film on Vimeo.

Sarasvati


Sarasvati é a deusa hindu da sabedoria, das artes e da música e a shákti, que significa ao mesmo tempo poder e esposa, de Brahmã, o criador do mundo.
É a protetora dos artesãos, pintores, músicos, atores, escritores e artistas em geral. Ela também protege aqueles que buscam conhecimento, os estudantes, os professores, e tudo o que está relacionado com a eloquência, sendo representada como uma mulher muito bela, de pele branca como o leite, e a tocar sitar (um instrumento musical).

Via Kala Ksetram

«O fim do mundo» - João

"O mundo havia começado a acabar há alguns meses. O fim tinha começado com a perda do juízo das gentes, mas logo depois vieram as pragas, as epidemias, a falta do que comer e a revolta das águas. Pelo mundo fora, os vulcões dormentes tinham descoberto nova vida, a terra abanava-se e atirava tudo para toda a parte, abriam-se brechas no solo e as gentes viviam, quase todas pela primeira vez na vida, o mais absoluto pavor. O mundo havia começado a acabar quase sem aviso, e perdera-se muita gente de si mesma e dos outros, surgiram na pele os sinais da auto-preservação, cada um por si, poucos por todos, talvez nenhuns. As distâncias faziam-se imensas, já não se voava, dificilmente se fazia estrada, as mangueiras estavam ressequidas e os tolos que ainda tinham algum combustível procuravam vendê-lo por valores obscenos, como se houvesse ainda alguma coisa, como se lhes valesse ainda de algo, ter dinheiro no bolso. Como se não fossem morrer como todos os outros, na mesma data, ou quase. Quando o brilho no céu começou a ser evidente, o fim estava próximo, e ele abandonou a sua casa já muito danificada com uma mochila às costas, com alguma água e poucos víveres, e fez-se ao caminho. O que teriam sido poucos minutos num dia qualquer das suas vidas, agora eram horas e dias a caminhar, a fazer percursos longos, rendilhados, contornando bolsas de conflito, obstáculos intransponíveis, terras pestilentas. Seguia animado da sua memória, da sua face, da sua voz que lembrava bem, e apavorado, cheio de medo, que ao chegar lá, ela não existisse mais. Ou que tivesse partido para lugar incerto. Que se tivesse esquecido da face dele, da voz dele, das suas mãos. Pés doridos, pernas cansadas, o corpo a desfalecer, mas deu por si à porta dela. Era agora. O mundo havia começado a acabar há alguns meses, mas o mundo dele podia perfeitamente acabar logo ali, à distância de uma porta fechada.
Ouviu ranger no interior, e não precisou sequer bater-lhe. A porta abriu-se, devagarinho, e no meio de tanta morte a vida era a cara dela, que sorria e chorava ao mesmo tempo, pesadíssimas lágrimas tombando dos olhos ao vê-lo, e ele a cair-lhe aos pés, e ela a baixar-se, a ajoelhar-se ao lado dele, a tocar-lhe o rosto, a agarrá-lo, puxando-o para si, abraçando-se como quem se agarra à vida perante morte anunciada, e ele disse que tinham de ir embora, amor, que tinham de procurar refúgio, que o céu já brilhava, o fim vinha aí, estava próximo, que agarrasse as coisas dela, as que fossem essenciais, e que fossem os dois embora, depressa, que não sabia onde chegariam a pé, mas ali era perigoso ficar. E ela finalmente calma, de rosto tranquilo, e ele a insistir, “tens tudo o que precisas querida?”. Segurando-lhe o rosto entre as mãos, respondeu-lhe, “nunca ninguém tem tudo, meu amor, mas tenho-te a ti”."

João
Geografia das Curvas

Edu, você não se cansa?



Dançando sem César