22 dezembro 2014
«Foder e rir» - João
"O sexo é uma coisa séria. Ou, preferiria dizer, uma coisa para levar a sério. Que exige empenho, saber-fazer, que exige atenção, cuidado, a entrega a uma forma de “nós”, a nossa entrega a alguém. Sem isso, o sexo é porventura uma banalidade mecânica, de despejar tomates e invadir o corpo com a electricidade de um orgasmo, um pouco como beber água quando há sede, sabendo nós que a água, ou o copo, se deixam para lá depois da sede resolvida. O sexo, o bom sexo, deve ser diferente disso, ao bom sexo sempre se regressa, nunca se viram as costas. O bom sexo é água que jorra de nascente fresca. Mas se isto é assim, há algo que o sexo não precisa e não deve nunca ser: demasiado sério. Que sério é este? O sério de seráfico. De tão exageradamente praticado como um desporto de alta competição que as pessoas se esqueçam de se olhar nos olhos, dizer coisas, e rir a bandeiras despregadas enquanto o fazem. Porque não? Porque não podemos salpicar o sexo com piadas que fazem dois amantes rir-se enquanto os caralhos se afeiçoam às conas? Porque terão as pessoas de estar sempre caladas, sérias, ou senão caladas, apenas a foder com o linguajar do Cais do Sodré? Notem que nada tenho contra isto. Calem-se quando for de calar, concentrem-se em silêncio quando assim tiver de ser, e digam todas as caralhadas e demais impropérios que sintam querer dizer quando vos apetecer, que um bom impropério no sexo sabe a rebuçado, mas não sintam ter de ser sempre sérios. Não sintam ter de evitar uma piada. Uma expressão engraçada que faça a outra pessoa rir. Sexo também é riso. Sexo também é divertimento. Sexo também é virmo-nos e rebentarmo-nos a rir na cara um do outro. Qualquer que seja a razão. Porque estamos rotos, porque nos aconteceu qualquer coisa que podemos julgar embaraçosa, porque a incredulidade pode dar para tudo e desse tudo o riso é o melhor. Foder e rir, malta. Foder e rir. Muito. Só assim vale mesmo a pena."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
«conversa 2114» - bagaço amarelo

Eu - Estás em paz?
Ela - Sim, é isso. Estou em paz comigo mesma...
Eu - Fixe, então.
Ela - Na verdade...
Eu - Na verdade o quê?
Ela - Na verdade estar em paz é a única coisa que me chateia um bocado e que me pode vir a fazer envolver com alguém.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
21 dezembro 2014
Luís Gaspar lê «Os olhos rasos de água» de Eugénio de Andrade
Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar dentro de ti como num bosque.
É a hora de fazer milagres: posso ressuscitar os
mortos e trazê-los a este quarto branco e
despovoado, onde entro sempre pela primeira
vez, para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas na luz do amanhecer.
Posso prometer uma viagem ao paraíso a
quem se estender ao pé de mim, ou deixar
uma lágrima nos meus olhos ser toda a
nostalgia das areias.
É a hora de adormecer na tua boca,
como um marinheiro num barco naufragado,
o vento na margem das espigas.
[Póvoa de Atalaia, Fundão, 1923]
Eugénio de Andrade
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Troca de pen
Grande poeta é o povo!

Patife
@FF_Patife no Twitter
20 dezembro 2014
«Inatingível» - por Rui Felício

Ao alvorecer, no cimo daquele monte, o sol rompia. Mesmo por cima dos pinheiros. Cá em baixo, parecia-me ao alcance da mão. Se eu lá estivesse...
Ainda pensei em subir o monte para lhe tocar, para sentir o seu calor a aquecer-me a ponta dos dedos, mas percebi que não ia ter tempo porque quando atingisse o cume já a estrela solar iria alta.
Decidi que, na madrugada seguinte, estaria no alto daquele monte, oculto entre os pinheiros, esperando que ela aparecesse. Então sim, poderia tocá-la e sentir a carícia dos seus raios na minha pele, no meu corpo todo...
Levantei-me cedo, ainda de noite, subi o monte e esperei pela alvorada, no exacto local em que a tinha visto aparecer na manhã anterior. Arrepiei-me, ansioso, com a claridade da manhã que anunciava a sua vinda, imaginando e deleitando-me com a antecipação do nosso contacto.
Minutos volvidos vejo romper a fascinante bola dourada. Mas, nesse dia, apareceu na cumeeira do outro monte à minha frente.
Fixei o local e, na madrugada seguinte, lá estava eu, no cimo do outro monte, esperando aquela estrela, cuja luz e calor me fascinavam...
Repeti estas minhas alvoradas vezes em conta, procurando o calor da minha vida cada vez mais longe, cada vez mais inacessível.
Convenço-me que há sonhos inatingíveis...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Capirote - O Capuchón (Semana Santa de Zamora)
Visto de lado, o archote parece outra coisa.
Lá veio parar à «sexão» do que não era suposto ser erótico, da minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Lá veio parar à «sexão» do que não era suposto ser erótico, da minha colecção.
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19 dezembro 2014
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