20 março 2015

mestres...

da manipulaSão
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Chico Buarque - «Tatuagem»

Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é para te dar coragem
Para seguir viagem
Quando a noite vem...
E também para me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...
Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...
E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...
Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...
Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...




Imagina tu

Imagina um amor tão forte que consegue eliminar o segredo, não deixando à mercê da sorte, do ciúme que não passa de um medo, o futuro talhado agora pela determinação com que bate o teu coração agitado pela energia de mil beijos já dados e outros tantos ainda por dar.
Tenta ao menos acreditar que é viável essa entrega incondicional, que é possível renegar o mal expurgando dessa ligação a indecência de julgares excluída a cedência como um elemento fulcral para o amor que pretendas imortal, ignorante daquilo que só quem experimentou saberá explicar.
Talvez consigas apanhar melhor a ideia se eliminares em ti a barreira de pressupostos, se deixares cair os preconceitos que te levam a desdenhar a emoção que não consegues sentir como a descrevem os que sabem de que é feito afinal o amor de que falas porque ouviste contá-lo assim.
Talvez não comeces pelo fim os amores que matas à nascença por impores a desconfiança ou o silêncio comprometedor que inquina, o segredo, transformando cada passo numa mina potencial. Concentra-te no essencial, no objectivo comum em que dois não são a soma de uns mas antes o resultado de um amor que é moldado em função das características que não podes querer anular no outro que tratas como teu.
Procura o caminho para o céu garantido como contrapartida por abraçares um amor para toda a vida, mesmo que receies e tentes proteger a tua resistência contra a agressão como sentes cada desilusão que às tantas podia ser evitada se tivesses essa barreira construída por forma a não impedir esse amor de atingir a fasquia que acreditas ser a ideal.
Desiste de fingir, não é bom, não é normal, uma vontade que não consegues reunir de tão armadilhada pela tua tendência arriscada para o faz de conta, a suspeita que se levanta quando entras em contradição porque não ofereces o coração sem a tutela da cabeça.
Não deixes que isso te impeça de correres o risco que vale a pena, a paixão prolongada pela confiança depositada em quem corresponda ao teu esforço, ao teu empenho, numa relação alheia ao engano que a possa trair.
Alia a esse amor a amizade que pode unir as pontas soltas que vais deixando no coração, a dada desgosto, a cada traição como encaras todas as vezes em que te deparas com algo que pretendeste abafar, a verdade que acaba por ficar à superfície da pessoa que quiseste mudar em função das tuas exigências, sem admitires quaisquer cedências ou compromissos reais que fazem parte do respeito que também entra na equação na hora de acertar as agulhas a dois.

Imagina um amor tão forte que não possa jamais ficar exposto à mentira que o corrói, à cobardia que tanto dói quando revelada pela indiscrição de um simples lapso ou de um nome muitas vezes repetido durante um sonho que partilhas, sem querer, com o amante acordado a quem tentaste esconder essa tua hesitação que um amor a sério, eterno, encaixaria no perdão ou na sua persistência, na sua infinita resistência contra as pequenas fissuras que urge reparar com a frontalidade que te possa poupar à imagem que tanto rejeitas mas acabas por assumir.

Decide de uma vez para onde queres partir em cada viagem, reúne toda a coragem necessária para poderes mudar a história triste que insistes em reescrever sempre igual enquanto sentes o tempo a passar rumo ao final das hipóteses de viveres uma experiência que poderá um dia deitar-se ao teu lado sem que o percebas e siga o seu caminho.

Até ao dia em que pouses o olhar envelhecido nesse tempo mal perdido e te reste imaginar aquilo que podia ter sido se te imaginasses, nessa altura, agora, num dia de sorte, um amor tão forte, tão bom de sentir, que nem a tua alma esquiva consiga desmentir.

«Nocturnamente» - João

"No tecto da sala existe uma roldana. Para quem entra e sai, de visita, serve para suster um vaso que dela pende, com uma planta decorativa. Durante o dia, é uma sala como qualquer outra, com o sofá, os armários, toda a tecnologia de recuar no tempo e ver coisas que a televisão mostra, a mesa e as cadeiras, cortinados, as paredes pintadas ao nosso gosto, com as cores de que gostamos, e a planta decorativa. E a roldana no tecto. Mas depois chega a noite, e com a noite as sombras dominam a luz, ficamos misturados numa penumbra saborosa onde trocamos faíscas, das mãos nas mãos, das mãos em toda a parte. E a pobre planta decorativa é descida e colocada à parte. E a corda que pende da roldana embrulha-se nos teus pulsos que sobem unidos acima, bem acima, da tua cabeça. Nua, de pé, quase em pontas – e eu com ponta, bem o sentes -, a corda na minha mão, que puxo gentilmente, o teu corpo em tensão, em tesão, e quanto mais gemes, mais eu puxo, e quanto mais me pedes que te foda, mais eu puxo, até prender a corda, deixar-te esticada, naquele limiar de dor que conhecemos, e enquanto te amparo o corpo com as mãos nas tuas mamas, enquanto acaricio os teus mamilos, deixo-me entrar de caralho em cona por trás, beijando-te o pescoço, beijando-te os braços esticados, dizendo-te ao ouvido palavras que apenas tu percebes, que só eu posso dizer. No tecto existe uma roldana. Normalmente há um vaso e uma planta. Nocturnamente há amor e foda."

João
Geografia das Curvas

«Não abusem dos lubrificantes»- Shut up, Cláudia!




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19 março 2015

Catarina Furtado diz o poema «Em todas as ruas te encontro» de Mário Cesariny

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny, in "Pena Capital"



«Instantes»- Um programa de interpretação de poesia da RTP em 1996. Uma ideia de Hermínio Monteiro, Margarida Gil e Nuno Artur Silva.

Geoff Mcfetridgetridge - «Some Girls» (algumas raparigas)



Via mon ami Bernard Perroud

Kama-Sutra medicinal

Folhetos de 1973 do laboratório F. Hoffmann - La Roche & Cie. SA de propaganda médica a um medicamento para a fertilidade masculina.
Oferta da São P. para a colecção. "São folhetos de laboratórios que mandavam aos médicos. Foram enviados em 1973 para a minha Mãe. Desculpa a pobreza da oferta mas lembrei-me logo de ti". Uma riqueza!

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)












Há sempre solução

Crica para veres toda a história
Problema de geometria


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