Volto ao grupo de teatro amador que pontificou no velho Clube Recreativo do Calhabé e cujos encómios serão sempre insuficientes.
Desta vez, a peça “A Castro”, de António Ferreira, cujo enredo é por demais conhecido de todos e por isso dispensável referir-lhe os pormenores, que agora não vêm ao caso.
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O Sr. Alberto Bastos desempenhava o papel de D. Pedro e a D. Inês de Castro era uma miúda curvilínea, atraente e bonita da Fonte da Cheira, bem composta de carnes, sedutora.
Corria uma cena em que estavam em palco apenas estas duas personagens, sob uma luz ténue e difusa, e um cenário onde se distinguiam, distantes, umas belas árvores e um regato de água límpida, na Quinta das Lágrimas.
Circunstâncias ideais e apropriadas para um ambiente de grande intimidade e romantismo, como sucedia em toda a peça, mas que atingia o auge naquele momento único em que os dois amantes ficavam a sós.
Indiferentes à trama da Corte, obcecados apenas pelo seu grande amor que acabaria em tragédia.
O D. Pedro estava vestido com uma fatiota, alugada no Pícalo da Rua das Figueirinhas, de que se destacavam umas calças brancas muito justas, coladas ao corpo, denunciando todos os mais pequenos contornos, reentrâncias e saliências do corpo viril do actor.
A D. Inês sentada num cadeirão, esperando ansiosa pelo seu amante, estava com um vestido cheio de folhos, sobressaindo um generoso decote por onde pareciam querer saltar uns alvos, fartos, generosos, palpitantes e belos seios que as luzes da teia ajudavam a destacar.
O D. Pedro ( Sr. Alberto Bastos ) quanto mais olhava e se aproximava daquela beleza ao alcance das suas mãos, mais misturava os dizeres e trejeitos decorados durante os ensaios com o carnal desejo que aquela visão feminina lhe despontava.
Encafuado na caixa do palco, o ponto bem lhe sussurrava as deixas, cada vez mais audíveis na plateia, mas as preocupações dele eram outras.
O actor juntava as pernas, unia os joelhos, dobrava-se e encolhia-se corcovado como quem está cheio de vontade de urinar, tentando disfarçar o indisfarçável incómodo que a vestimenta começava a exibir. Parecia aleijadinho...
Mas o problema não era a vontade de urinar!
O que o actor tentava a todo o custo era ocultar a inesperada, exuberante e firme erecção que dele se apoderou e que as calças justas já não permitiam esconder, por mais esforços que fizesse.
A D. Inês apercebendo-se da situação, não conseguiu evitar que uma gargalhada incontida lhe saísse da garganta ecoando pela sala que, por sua vez, explodiu num riso generalizado e incontrolado acompanhado dos mais díspares comentários que aqui me dispenso de enunciar.
Vejam como uma peça de grande intensidade dramática se pode transformar em tragicomédia.
Rui Felicio
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