22 março 2015
Luís Gaspar lê «Contei Primaveras» de Fernando Reis Luís
Já contei muitas primaveras
E outras tantas translações
Repetindo os poros do firmamento
Para fazer as noites e os dias
No corpo transitório
Registado nos sulcos do lenho
Do meu eixo polar
Já cantei a algumas das suas flores
E ao verde das folhas
E às pétalas de todas as cores
Fazendo o palco das íris
E os muitos olhares e desejos
Despertados no cio das primaveras
Pelas encostas viçosas da serra
Levo comigo o cheiro das rosas bravas
E as feridas de alguns acúleos
Para relembrar momentos ambíguos
Das montanhas doces e silvestres
Onde ainda nascem alguns frutos
E alguns pirilampos difusos
Para marcar o caminho na noite
(Poema retirado do livro “Nos socalcos da Serra”, de Fernando Reis Luís e com ilustrações de Leando Lamas Ermida. Ed. arandis)
Fernando Reis Luís
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Arqueologia do pijama
O meu pai interroga-se sobre a escassez de pijamas com bolsos. Não sei se lhe diga que agora as mulheres guardam os preservativos à beira da cama.
[Foto © Nuno Faria, 2008, New]
Ordem unida
Patife
@FF_Patife no Twitter
21 março 2015
«Para evitar o sexo aborrecido, venha inspirar-se»
Duas fotos publicitárias do TOCHKA-G - Museu de Arte Erótica de Moscovo.
Uma campanha descoberta por EmZe.
Uma campanha descoberta por EmZe.
«Pedro e Inês» - por Rui Felício
Volto ao grupo de teatro amador que pontificou no velho Clube Recreativo do Calhabé e cujos encómios serão sempre insuficientes.
Desta vez, a peça “A Castro”, de António Ferreira, cujo enredo é por demais conhecido de todos e por isso dispensável referir-lhe os pormenores, que agora não vêm ao caso.
_______________________________________
O Sr. Alberto Bastos desempenhava o papel de D. Pedro e a D. Inês de Castro era uma miúda curvilínea, atraente e bonita da Fonte da Cheira, bem composta de carnes, sedutora.
Corria uma cena em que estavam em palco apenas estas duas personagens, sob uma luz ténue e difusa, e um cenário onde se distinguiam, distantes, umas belas árvores e um regato de água límpida, na Quinta das Lágrimas.
Circunstâncias ideais e apropriadas para um ambiente de grande intimidade e romantismo, como sucedia em toda a peça, mas que atingia o auge naquele momento único em que os dois amantes ficavam a sós.
Indiferentes à trama da Corte, obcecados apenas pelo seu grande amor que acabaria em tragédia.
O D. Pedro estava vestido com uma fatiota, alugada no Pícalo da Rua das Figueirinhas, de que se destacavam umas calças brancas muito justas, coladas ao corpo, denunciando todos os mais pequenos contornos, reentrâncias e saliências do corpo viril do actor.
A D. Inês sentada num cadeirão, esperando ansiosa pelo seu amante, estava com um vestido cheio de folhos, sobressaindo um generoso decote por onde pareciam querer saltar uns alvos, fartos, generosos, palpitantes e belos seios que as luzes da teia ajudavam a destacar.
O D. Pedro ( Sr. Alberto Bastos ) quanto mais olhava e se aproximava daquela beleza ao alcance das suas mãos, mais misturava os dizeres e trejeitos decorados durante os ensaios com o carnal desejo que aquela visão feminina lhe despontava.
Encafuado na caixa do palco, o ponto bem lhe sussurrava as deixas, cada vez mais audíveis na plateia, mas as preocupações dele eram outras.
O actor juntava as pernas, unia os joelhos, dobrava-se e encolhia-se corcovado como quem está cheio de vontade de urinar, tentando disfarçar o indisfarçável incómodo que a vestimenta começava a exibir. Parecia aleijadinho...
Mas o problema não era a vontade de urinar!
O que o actor tentava a todo o custo era ocultar a inesperada, exuberante e firme erecção que dele se apoderou e que as calças justas já não permitiam esconder, por mais esforços que fizesse.
A D. Inês apercebendo-se da situação, não conseguiu evitar que uma gargalhada incontida lhe saísse da garganta ecoando pela sala que, por sua vez, explodiu num riso generalizado e incontrolado acompanhado dos mais díspares comentários que aqui me dispenso de enunciar.
Vejam como uma peça de grande intensidade dramática se pode transformar em tragicomédia.
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Desta vez, a peça “A Castro”, de António Ferreira, cujo enredo é por demais conhecido de todos e por isso dispensável referir-lhe os pormenores, que agora não vêm ao caso.
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O Sr. Alberto Bastos desempenhava o papel de D. Pedro e a D. Inês de Castro era uma miúda curvilínea, atraente e bonita da Fonte da Cheira, bem composta de carnes, sedutora.
Corria uma cena em que estavam em palco apenas estas duas personagens, sob uma luz ténue e difusa, e um cenário onde se distinguiam, distantes, umas belas árvores e um regato de água límpida, na Quinta das Lágrimas.
Circunstâncias ideais e apropriadas para um ambiente de grande intimidade e romantismo, como sucedia em toda a peça, mas que atingia o auge naquele momento único em que os dois amantes ficavam a sós.
Indiferentes à trama da Corte, obcecados apenas pelo seu grande amor que acabaria em tragédia.
O D. Pedro estava vestido com uma fatiota, alugada no Pícalo da Rua das Figueirinhas, de que se destacavam umas calças brancas muito justas, coladas ao corpo, denunciando todos os mais pequenos contornos, reentrâncias e saliências do corpo viril do actor.
A D. Inês sentada num cadeirão, esperando ansiosa pelo seu amante, estava com um vestido cheio de folhos, sobressaindo um generoso decote por onde pareciam querer saltar uns alvos, fartos, generosos, palpitantes e belos seios que as luzes da teia ajudavam a destacar.
O D. Pedro ( Sr. Alberto Bastos ) quanto mais olhava e se aproximava daquela beleza ao alcance das suas mãos, mais misturava os dizeres e trejeitos decorados durante os ensaios com o carnal desejo que aquela visão feminina lhe despontava.
Encafuado na caixa do palco, o ponto bem lhe sussurrava as deixas, cada vez mais audíveis na plateia, mas as preocupações dele eram outras.
O actor juntava as pernas, unia os joelhos, dobrava-se e encolhia-se corcovado como quem está cheio de vontade de urinar, tentando disfarçar o indisfarçável incómodo que a vestimenta começava a exibir. Parecia aleijadinho...
Mas o problema não era a vontade de urinar!
O que o actor tentava a todo o custo era ocultar a inesperada, exuberante e firme erecção que dele se apoderou e que as calças justas já não permitiam esconder, por mais esforços que fizesse.
A D. Inês apercebendo-se da situação, não conseguiu evitar que uma gargalhada incontida lhe saísse da garganta ecoando pela sala que, por sua vez, explodiu num riso generalizado e incontrolado acompanhado dos mais díspares comentários que aqui me dispenso de enunciar.
Vejam como uma peça de grande intensidade dramática se pode transformar em tragicomédia.
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Mão querida, mão querida…
Pequeno anel em prata 835 com uma mão a segurar num pénis.
Mais um anel a juntar-se às jóias da minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Mais um anel a juntar-se às jóias da minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
20 março 2015
Chico Buarque - «Tatuagem»
Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é para te dar coragem
Para seguir viagem
Quando a noite vem...
E também para me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...
Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...
E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...
Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...
Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...
Imagina tu
Imagina um amor tão forte que consegue eliminar o segredo, não deixando à mercê da sorte, do ciúme que não passa de um medo, o futuro talhado agora pela determinação com que bate o teu coração agitado pela energia de mil beijos já dados e outros tantos ainda por dar.
Tenta ao menos acreditar que é viável essa entrega incondicional, que é possível renegar o mal expurgando dessa ligação a indecência de julgares excluída a cedência como um elemento fulcral para o amor que pretendas imortal, ignorante daquilo que só quem experimentou saberá explicar.
Talvez consigas apanhar melhor a ideia se eliminares em ti a barreira de pressupostos, se deixares cair os preconceitos que te levam a desdenhar a emoção que não consegues sentir como a descrevem os que sabem de que é feito afinal o amor de que falas porque ouviste contá-lo assim.
Talvez não comeces pelo fim os amores que matas à nascença por impores a desconfiança ou o silêncio comprometedor que inquina, o segredo, transformando cada passo numa mina potencial. Concentra-te no essencial, no objectivo comum em que dois não são a soma de uns mas antes o resultado de um amor que é moldado em função das características que não podes querer anular no outro que tratas como teu.
Procura o caminho para o céu garantido como contrapartida por abraçares um amor para toda a vida, mesmo que receies e tentes proteger a tua resistência contra a agressão como sentes cada desilusão que às tantas podia ser evitada se tivesses essa barreira construída por forma a não impedir esse amor de atingir a fasquia que acreditas ser a ideal.
Desiste de fingir, não é bom, não é normal, uma vontade que não consegues reunir de tão armadilhada pela tua tendência arriscada para o faz de conta, a suspeita que se levanta quando entras em contradição porque não ofereces o coração sem a tutela da cabeça.
Não deixes que isso te impeça de correres o risco que vale a pena, a paixão prolongada pela confiança depositada em quem corresponda ao teu esforço, ao teu empenho, numa relação alheia ao engano que a possa trair.
Alia a esse amor a amizade que pode unir as pontas soltas que vais deixando no coração, a dada desgosto, a cada traição como encaras todas as vezes em que te deparas com algo que pretendeste abafar, a verdade que acaba por ficar à superfície da pessoa que quiseste mudar em função das tuas exigências, sem admitires quaisquer cedências ou compromissos reais que fazem parte do respeito que também entra na equação na hora de acertar as agulhas a dois.
Imagina um amor tão forte que não possa jamais ficar exposto à mentira que o corrói, à cobardia que tanto dói quando revelada pela indiscrição de um simples lapso ou de um nome muitas vezes repetido durante um sonho que partilhas, sem querer, com o amante acordado a quem tentaste esconder essa tua hesitação que um amor a sério, eterno, encaixaria no perdão ou na sua persistência, na sua infinita resistência contra as pequenas fissuras que urge reparar com a frontalidade que te possa poupar à imagem que tanto rejeitas mas acabas por assumir.
Decide de uma vez para onde queres partir em cada viagem, reúne toda a coragem necessária para poderes mudar a história triste que insistes em reescrever sempre igual enquanto sentes o tempo a passar rumo ao final das hipóteses de viveres uma experiência que poderá um dia deitar-se ao teu lado sem que o percebas e siga o seu caminho.
Até ao dia em que pouses o olhar envelhecido nesse tempo mal perdido e te reste imaginar aquilo que podia ter sido se te imaginasses, nessa altura, agora, num dia de sorte, um amor tão forte, tão bom de sentir, que nem a tua alma esquiva consiga desmentir.
«Nocturnamente» - João
"No tecto da sala existe uma roldana. Para quem entra e sai, de visita, serve para suster um vaso que dela pende, com uma planta decorativa. Durante o dia, é uma sala como qualquer outra, com o sofá, os armários, toda a tecnologia de recuar no tempo e ver coisas que a televisão mostra, a mesa e as cadeiras, cortinados, as paredes pintadas ao nosso gosto, com as cores de que gostamos, e a planta decorativa. E a roldana no tecto. Mas depois chega a noite, e com a noite as sombras dominam a luz, ficamos misturados numa penumbra saborosa onde trocamos faíscas, das mãos nas mãos, das mãos em toda a parte. E a pobre planta decorativa é descida e colocada à parte. E a corda que pende da roldana embrulha-se nos teus pulsos que sobem unidos acima, bem acima, da tua cabeça. Nua, de pé, quase em pontas – e eu com ponta, bem o sentes -, a corda na minha mão, que puxo gentilmente, o teu corpo em tensão, em tesão, e quanto mais gemes, mais eu puxo, e quanto mais me pedes que te foda, mais eu puxo, até prender a corda, deixar-te esticada, naquele limiar de dor que conhecemos, e enquanto te amparo o corpo com as mãos nas tuas mamas, enquanto acaricio os teus mamilos, deixo-me entrar de caralho em cona por trás, beijando-te o pescoço, beijando-te os braços esticados, dizendo-te ao ouvido palavras que apenas tu percebes, que só eu posso dizer. No tecto existe uma roldana. Normalmente há um vaso e uma planta. Nocturnamente há amor e foda."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
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