27 março 2015

Movement - «Ivory»


Movement | Ivory from DIVISION on Vimeo.

...Até ti

Tacteio o caminho às escuras, no ponto de partida para um caminho feito incógnita cheia de pontos de interrogação. Avanço com os pés bem assentes no chão, cauteloso. Um passo atrás e dois adiante, como dizem melhor. Desconfiado, receoso pelos inúmeros esconderijos possíveis no meio da escuridão, da ignorância acerca da pretensão de quem surja nos cruzamentos.
A hesitação em todos os momentos abalados na coerência pela força da evidência que o raciocínio inventou, os olhos como bode expiatório inocente por pouco ou nada conseguirem ver assim. Às cegas naquele troço do caminho até um ponto indeterminado, um sonho acordado que se confunde com uma miragem no espaço desconhecido, no tempo desprovido de luz.
A penumbra de uma madrugada prestes a expulsar pelo sol que insiste nascer a cada dia que passa, em passo acelerado e sem vontade abrandar. Deixar o tempo passar e acender um cigarro com o isqueiro que explode num clarão. Sombras desenhadas naquele chão mais tangível, iluminado e por instantes visível enquanto solo firme para pisar. Monstros e fantasmas, assombrações alucinadas pelo efeito devastador de uma qualquer obsessão. Desenhadas as sombras naquele chão, ilustrados os medos patéticos de equívocos hipotéticos que podem até nem existir naquele dia tão prestes a surgir sem pressas. Podem ser fruto de uma relação incestuosa entre a cabeça temerosa e o coração bravio.
Uma vela de curto pavio que se transforma no rastilho para uma explosão de emoções quando o vento que a apaga provém de respirações ofegantes de clandestinos amantes na tela da imaginação.
Em cada descoberta o impacto de uma revelação, mais um troço percorrido a direito rumo a um destino incerto, a travessia do deserto humedecida pelo desejo à solta no som da folhagem agitada no oásis a surgir no horizonte cada vez menos distante na realidade como na percepção.
A surpresa e o encanto quando o sol começa a nascer e o dia não tarda em romper os laços com a madrugada que lhe compete expulsar. A luz que permite desvendar mistérios, os pontos de referência agora visíveis à distância num futuro não planeado à partida para aquela estrada que percorro agora quase a correr…

«Try Green instead» - João

"Eu não li os livros e ainda não vi o filme. Refiro-me à trilogia dos tons de cinzento entre Mr. Grey e Miss Steele, e posso assegurar que não tenciono ler os livros, mas espero ver o filme. Tendo eu visto vários filmes em adolescente nas tardes da televisão pública e até alguns filmes de qualidade questionável no cinema, não me cairá nada ao chão se vir este filme, quanto mais não seja para efeitos de argumentação. O que me faz escrever sobre isto não é tanto o burburinho (ou a ansiedade que levou tantas mulheres jovens a comprar bilhetes com grande antecipação e até porventura com acrescida lubrificação vaginal) que se gerou em torno do filme há algumas semanas quando estreou, mas sim a forma como eu interpreto esse mesmo burburinho ou, de outro modo, o desejo por ver em imagem o que a escrita havia levado à imaginação.

Mesmo sem ter lido os livros, o enredo não me é inteiramente desconhecido. Não sei descrever as diversas cenas escritas nas muitas páginas, mas estou a par de que envolve uma sexualidade que se distancia bastante da reprodutiva em posição de missionário e que tem uma boa dose de exercício de controlo e submissão. Diria mesmo, kinky. E não consigo deixar de alternar entre o bocejo e um leve sorriso quando penso nisso, porque diria que quem anda a ler esta geografia há tempo suficiente, tem aqui foda da boa que lhes dispensaria ler as façanhas de Grey e Steele, mas sobretudo fico a pensar que o sucesso que a história desses dois tem é o reflexo do muito mau sexo que se pratica. Gente a foder bem não poderia interessar-se menos por Grey e Steele. Julgo entender, do que fui lendo, ouvindo, conversando, ao longo destas semanas, que um ingrediente basilar do sucesso da história é o exercício do controlo. A clássica cena de foder contra a parede, de um homem determinado e seguro que sabe o que está a fazer e sem piedade alguma, por muito gaja que a gaja seja, a atira contra a parede, segura os pulsos – acima da cabeça ou atrás das costas – e a fode como se não houvesse amanhã.

De certo modo este meu divagar de hoje é mais dirigido aos homens e nem tanto às mulheres. As mulheres podem ser muito fortes. Podem ser muito seguras de si, podem ter o nariz tão empinado que tudo quanto consigam ver seja a Ursa Maior, podem ser as gajas mais fodilhonas ou por oposição as mais castas, mas no fim do dia, quando os minutos se somam, querem ser dominadas, querem sentir a força de um macho que as empurra contra a parede, para cima de uma cama, e as fode bem. Com gosto. Querem ser privadas de alguns sentidos para benefício de outros, aceitam sentir-se dominadas, presas pelos pulsos, pelos tornozelos, aceitam ou suspiram por alguma dor. E sucessos de historietas como as de Grey e Steele demonstram que as mulheres não estão ser bem fodidas. Estão só a ser fodidas. O que não é a mesma coisa nem tem sequer grande piada. Os jogos de controlo, o gato e o rato, a submissão que é mais consentida que imposta, é necessária. É preciso saber fazer? Certamente. Estou inteiramente convencido de que há homens que se atirarem as suas mulheres contra a parede não conseguirão mais senão magoá-las, sem que as suas conas produzam uma única gota, porque nisto das paredes e do controlo, não é a força que conta, e não é para todos. É uma coisa que não se explica e ou se tem, ou se fica a querer ter. A química é fodida, e conta muito nestas coisas – e uma das críticas ao filme que mais encontro é a falta dela entre os protagonistas -, e pode ser a diferença entre tentativas de submissão que só resultam em sofrimento, ou fodas loucas que asseguram uma contagem de orgasmos e um desabafo de “já chega, vem-te por favor”.

É, enfim, isto o que penso. Que com tanta coisa já escrita mas talvez mais densa, o sucesso de Grey e Steele pode estar numa sexualidade má, ou reprimida, que uma escrita acessível inquieta e demonstra que as mulheres querem mais do que aquilo que os homens estão a dar. Devem soar os alarmes e não olhar para o sucesso literário e cinematográfico como um entretenimento passageiro. A trilogia de Grey não é a trilogia Matrix. A trilogia Matrix fodia-nos a cabeça. A trilogia Grey diz-nos que temos de foder mais as conas. E fodê-las bem."


João
Geografia das Curvas

«Recursos escassos» - Shut up, Cláudia!




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26 março 2015

Penetrados


PENETRADOS (Full perfomance) from Nanouk Films on Vimeo.

«delírio erótico» - Licínia Girão

«Prelude» (Prelúdio) - Victor Seremet, Roménia,
acrílico sobre tela - colecção
de arte erótica «a funda São»
deleito os teus beijos
agasalho a alma
no aconchego do teu regaço
serva luz
demente escuridão
silêncio no teu rosto
paz nas tuas mãos
orvalho quente
madrugada de paixão
lágrimas cristalinas de felicidade
arco íris extasiados
vertiginosos de desejo
entrelaçados nos corpos ardentes
morangos doces planeiam
em vagas revoltas de marés calmas
entra o sol em meu peito
arrastando o cantar dos búzios
pelas praias do desejo
teu corpo ávido de segredos
em meus dedos cai

sou liberdade
mas
sem ti
não sou livre

Licínia Girão

Estudante de Coimbra com capa que tapa um segredo

Boneco de cordel tradicional das Caldas da Rainha.
Oferta da malta do Bairro Norton de Matos (Coimbra) na visita à colecção em 14-11-2010.



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A virgem



Testosterona