26 abril 2015

Luís Gaspar lê «Segredo» de Maria Teresa Horta


Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

Maria Teresa Horta
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Erotismozinho


Não me terem nascido os dentes do siso só pode ter sido um prenúncio que eu passaria a reagir por impulso. Ele cheirava bem, a DKNY e tinha aquele ar lavado de quem toma banho todos os dias e por isso mesmo só podia ter uma pele sedosa e macia que mal eu me prantasse em cima dele seria como um escorrega de cetim.

Conhecia-o de parte nenhuma que é como quem diz que com ele só tinha trocado ideias empresariais embora para o efeito isso também não me parecesse pertinente pelo que aguardei pelo jantar de Natal que incluía os fornecedores e não o meti na mala porque era grande demais para isso, mas levei-o para casa.

Com os preliminares apalpões e beijos molhados no elevador como é da praxe, despimo-nos um ao outro como também convém nestas ocasiões, a demorar a descoberta de toda a pele como aquele pedacinho de bife que se deixa para o fim porque parece mais saboroso e nisto ele sussurra-me, ofegante, que queria provar a minha rata e dar-me o seu pau para eu beber o seu leitinho.

Oh senhores que se eu tivesse tomates, tinham-me caído logo ali que ele há metáforas que parecem saídas do cano de esgoto. É que a carga erótica da cona, uma palavra que se pronuncia sofregamente aberta não existe num bicho malcheiroso e peludo dos subterrâneos. E depois, pau é tão curtinho e leitinho tão infantil que antes de ser acusada de pedofilia, perguntei-lhe se não era melhor pararmos por ali.





Contos de fodas

Por vezes não acreditam que pino todos os dias com uma mulher diferente. Mas é só porque não viram a minha Varinha de Conão.

Patife
@FF_Patife no Twitter

25 abril 2015

Os japoneses conseguem dar um toque... moderno ao karaoke

«Há males que vêm por bem» - por Rui Felício


Elegante, bonito, irrepreensível na forma de se apresentar, o Pedro tem o dom de cativar o elemento feminino, através do seu olhar, da sua simpatia, do seu modo carinhoso, dos sussurros soprados com que derrete e conquista os corações. Um verdadeiro galã, em cujos sonhos voa e se desvanece! Pena que use o seu charme apenas para satisfazer o insaciável apetite de somar conquistas umas a seguir às outras, nunca se deixando enlear ou prender num relacionamento estável, destroçando e descartando, ao fim de pouco tempo, aquelas que se apaixonam por ele.

Há um mês atrás, o Pedro deparou-se com o olhar meigo e submisso da bela Madalena que, com a roupa cingida ao corpo, chapinhava à chuva no tapete relvado da sua casa.

Uma estranha pontada no coração fez sentir ao Pedro uma sensação diferente da habitual, desta vez um tanto dolorosa e ao mesmo tempo doce, muito doce. Algo que nunca antes tinha sentido. O Pedro experimentava pela primeira vez o sortilégio do amor e da paixão. Voltou para a ver no dia seguinte e no outro e no outro...

Percebeu então que a Madalena era casada e parecia feliz pela forma como se acolhia ao abraço protector do Manuel seu marido. O Pedro, pese embora a sua fama de galã e inveterado conquistador, respeitava o casamento e nunca faria nada que pudesse contribuir para a sua destruição. Os seus alvos eram as solteiras, as divorciadas e as viúvas. Jamais as casadas! Fiel aos seus princípios, desistiria portanto da Madalena...

Mas o profundo amor que sentia por ela trazia-o prostrado e, às escondidas atrás dos arbustos, todos os dias a observava, de coração apertado, abafando longos suspiros, sem que ela sonhasse...

Até que um dia, uma desgraça se abateu sobre a pacata Madalena.

O Manuel envolveu-se em mais uma luta feroz com o Carloto, seu inimigo figadal, que volta e meia invadia a propriedade. Essas lutas acabavam normalmente com uns arranhões, mas desta vez o combate teve um desfecho fatal, com a morte do Manuel, deixando a Madalena viúva e inconsolável. Foi a ocasião propícia para o Pedro passar a viver em casa da Madalena, enchendo-a de carinhos, confortando-a e fazendo-a esquecer o marido por quem ela verdadeiramente nunca se sentira apaixonada. Tinha sido um casamento convencional, sem atritos mas também sem o fogo da paixão nem do amor.Hoje, o Pedro e a Madalena vivem felizes como nunca antes nenhum deles sonhara que pudesse ser. A última vez que os vi, estava o Pedro empoleirado numa sebe a desafiar mais uma vez a Madalena a subir para junto dele para depois cavalgarem os seus sonhos e voarem...Sim, o Pedro sabe voar e anda a ensinar a sua amada a voar também, como ele. E com ele! Há males que vêm por bem...

Se naquele dia fatídico o Carloto, que era um cão rafeiro da vizinhança, não tivesse estraçalhado o pobre pato Manuel, deixando-lhe as vísceras e as inúmeras penas espalhadas pelo relvado, ainda hoje o casal de patos amoroso e romântico que são o Pedro e a Madalena, não teria descoberto a felicidade e as delicias do amor...

Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

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Conto baseado numa história verídica ocorrida em casa de Kristina Santos, uma das vozes mais bonitas e límpidas que me foi dado ouvir, numa interpretação inesquecível, num espectáculo memorável dedicado à Canção de Coimbra, acompanhada, entre outros, pelo Rui Pato.

Bill Clinton com uma mulher ao colo

Estatueta em resina da minha colecção.


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Um sábado qualquer... - «Nos bastidores do inferno»



Um sábado qualquer...

24 abril 2015

Chromeo - «Hot Mess»


Chromeo - "Hot Mess" from Paradoxal Inc on Vimeo.

Postalinho de Santiago (2ª série - 5)

"Coisas que se encontram ao longo do Caminho Português pela Costa para Santiago de Compostela.
Dois quadros num café em A Guarda, sendo o do morango intitulado «fruta de la passión» e o outro «soy la leche»."
Antonino S.




«Chilreio» - João

"A parede está pintada num cinzento intermédio, a meio caminho entre o escuro infinito e o branco salvífico, mas há branco no rodapé que contorna todo aquele quarto. O soalho é flutuante, bastante escuro, e as cortinas, ligeiras e alvas, ondulam com a brisa que a porta de correr, ligeiramente aberta, deixa entrar. Dali, há vista para um pequeno jardim, com algumas árvores de fruto e cadeiras dispersas. Há um vidro que separa o quarto da casa-de-banho, e salpicos da água muito quente, essa água que bate no teu corpo e salta, lançada de um chuveiro brilhante que te alisa e cola o cabelo molhado ao corpo. Há uma cama larga, macia, com uma coberta muito branca, quase luminosa, uma mesa de cabeceira onde estão as tuas jóias e o teu telefone. Ao canto, sentado no chão, de costas encostadas à parede cinzenta e pés marcados no pavimento, respiro eu, de algum modo embalado nos salpicos da água, no barulho da torrente, nos gestos que te vejo fazer enquanto a água quente te beija a pele.

O silêncio instala-se quando a tua mão se lança à torneira. E só alguns instantes mais tarde o silêncio dá lugar ao chilreio baixo que passa o pequeno espaço aberto da porta de correr da varanda, e consigo distinguir perfeitamente o som que fazes ao tirar os pés da banheira, saltando cá para fora, nua e brilhante, brilhante como a cama onde te confundes, embrulhada numa toalha presa abaixo dos braços, secando o cabelo devagar, devagar. Há a brisa ligeira, há aquele chilreio que embala, e os teus passos, definidos, seguros. Vens sentar-te à beira da cama, virada para mim. A princípio, apoias os cotovelos nas tuas pernas, de mãos juntas, e com o cabelo pendente fixas os teus olhos no meu sorriso, e eu, o meu olhar no teu. Depois, abrindo bem a toalha, pegas no teu creme, e quase sempre sem deixar de me olhar vais espalhando creme na tua pele, num ritual diário, um ritual meticuloso, bem cartografado, bem coreografado. Sem uma palavra. Nenhuma palavra. A dado momento, deixas de espalhar creme, esticas o braço e deixas a tua mão como um convite, um convite para que me levante e vá até ti. Sorrio, como menino, e subtraio à parede cinzenta as minhas costas, confiro ímpeto aos meus músculos e aproximo-me da tua mão, que toco, do teu ombro, que beijo. Sento-me na cama, atrás de ti, e passo-te o creme nas costas, nos ombros, nos braços.

A brisa cessou, sobra só o chilreio do final da tarde, a vontade de não sair mais dali, e as gotas no vidro, dos salpicos da água quente, a escorrer vagarosamente. E tu, deitada ao meu lado, brilhante, macia, a cheirar a frutos, a fazer-me olhinhos e um beicinho, e enquanto a parede continua cinzenta, o rodapé branco, e o soalho escuro, não são precisas palavras nem pedidos, sei o que queres dizer-me, e naquela cama larga que nos alberga, di-lo-ás, depois, numa frase marcante que nunca passa nem esquece."


João
Geografia das Curvas

«Ora bolas... e pilas!» - Shut up, Cláudia!




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23 abril 2015

«Turn you on in 154.021 seconds!»


Turn You On in 154.021 Seconds! from SugarSweet Ax on Vimeo.

«Lá fora» - bagaço amarelo

Nós, portugueses, temos um contrasenso tão delicioso que só pode ser Amor. Falamos sempre do estrangeiro como o "lá fora". Se não concordamos com alguma coisa, dizemos que lá fora é que é, sem nos apercebermos que esse "lá fora" é o mundo todo, da Coreia do Norte à Patagónia, e que portanto nos estamos a comparar ao mundo inteiro.
É interessante como nos conseguimos criticar constantemente por não sermos tão bons como o resto do mundo, ao mesmo tempo que afirmamos que estamos quase lá. Somos nós e o resto do mundo num permanente e desigual combate.
E eu digo que só pode ser Amor. É como nas discussões Amorosas em que os apaixonados atribuem mil e um defeitos ao outro e o comparam injustamente a alguém. Discutem e argumentam, mas à noite deitam-se juntos e fazem Amor.
É que o Amor é isso, considerar o outro tão bom como o mundo inteiro ou, no meu caso, melhor ainda.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»