29 junho 2015

«Frio» - João

"Treme. Podes tremer. Desculpa se te fiz ter frio, mas podes tremer. Porque sabes que o meu corpo é quente. Porque sabes que as minhas mãos te aquecem, sabes que alcançarei o que houver, onde houver, para te cobrir, para te tapar, para te dar conforto, agarrar-te-ei, abraçar-te-ei com força para não tremeres mais ou então para tremermos os dois, para dividirmos e custar menos, até estarmos de novo quentes, prontos para mais, prontos para outra, para partilhar, sem achar que isso é lá contigo e eu satisfeito me afasto enquanto tu tremes a um canto como se nada disso me tocasse. Podes tremer, desculpa se te causei frio vezes demais, mas foram vezes a menos, e em todas elas o teu frio foi o meu, e nunca tremeste sozinha."

João
Geografia das Curvas

Postalinho do... canivete suiço?!

"Boneco articulado que estava num stand da Feira da Vinha e do Vinho deste ano, em Anadia."
Nelson A.



Perante certas coisas a vida perde um pouco do sentido



Capinaremos.com

28 junho 2015


Marlo Marquise - Monster Hunter (NSFW) from steve prue on Vimeo.

Luís Gaspar lê «Pois» de Alexandre O’Neill


O respeitoso membro de azevedo e silva
nunca perpenetrou nas intenções de elisa
que eram as melhores. Assim tudo ficou
em balbúrdias de língua cabriolas de mão.

Assim tudo ficou até que não.

Azevedo e silva ao volante do mini
vê a elisa a ultrapassá-lo alguns anos depois
e pensa pensa com os seus travões
Ah cabra eram tão puras as minhas intenções.

E a elisa passa rindo dentadura aos clarões.

Alexandre O’Neill
Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 - Lisboa, 21 de Agosto de 1986), ou simplesmente Alexandre O'Neill, descendente de irlandeses, foi um importante poeta do movimento surrealista.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

PI das selfies


O bê-á-bá

Acabei de papar uma professora de português. Não sei se será coincidência, mas o certo é que tinha uma fissura de estilo.

Patife
@FF_Patife no Twitter

27 junho 2015

Sondagem - acordar assim é erótico ou é pornográfico?

«lixo» - bagaço amarelo

Aveiro, dia muito quente e as árvores vestidas de cor. Fazem-me confusão.
A minha tendência é vestir-me quando tenho frio e despir-me quando tenho calor. No Verão quente as árvores vestem-se, no Inverno frio despem-se. A natureza é irónica.
Acabei de me analisar, a mim e ao que visto, no reflexo da montra duma pastelaria venezuelana. Sou grande e corpulento, mais do que gostaria. Encolhi a barriga uma série de vezes para gostar mais de mim, até perceber que algumas pessoas lá dentro me olhavam entre sorrisos e curiosidade. Afastei-me.
O Verão é um segredo.
No passeio há garrafas de vinho e de cerveja vazias, espalhadas um pouco por toda a parte. Uma mulher varre da rua esses despojos do dia anterior, pacientemente, colocando-os num carrinho verde onde se dá a mais bela das mortes. A do lixo. É o lixo que me faz lembrar que a vida não é só isto, um passeio solitário por ruas desertas.
Apetecia-me dar a mão a uma mulher. Aliás, percebo agora porque é que as pessoas que se Amam dão as mãos. É para se encherem. As mãos são as mangueiras da vida quando nos sentimos vazios. E eu estou vazio.
Amar é difícil por causa da saudade permanente. Há uns dias, num passeio semelhante, disse-me que conheço mulheres mais fáceis de Amar do que aquela que Amo. Depois respondi-me. A facilidade no Amor significa sempre Amar menos.
Não quero. O Amor intenso é sempre difícil. Tem que o ser para ser Amor.
Dou um pontapé numa lata de cerveja vazia que acorda, com um ruído estridente, o silêncio sepulcral da manhã. Foi sem querer. A mulher que ainda varre o dia anterior olha para mim. Apanho a lata e dou-lha.

- Bom dia! - diz ela.
- Bom dia! - respondo.

E de repente sou outro.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«União perfeita» - por Rui Felício

«Ingemination» (reduplicação)
Silviu Runcanu, Roménia, 2002
Quadro a óleo, 50x70cm
Colecção de arte erótica «a funda São»
Ao principio, ela só parecia ter um defeito. Tinha medo do escuro, só se sentia calma e descontraída quando a luz incidia no seu corpo esbelto e atraente.Nos primeiros dias tive dificuldade em adaptar-me, porque na intimidade do nosso quarto eu gostava mais da cálida modorra da escuridão.
Para a satisfazer, contudo, comprei um candeeiro de luz mortiça que fica aceso toda a noite do lado dela e concluí que afinal aquele seu hábito, em vez de defeito, era uma virtude.
Fez-me descobrir o prazer de admirar as sombras desenhadas pela luz, que marcavam e delineavam os seus contornos apetecíveis em mil nuances que a escuridão só permitia ao tacto, nunca ao olhar.
Ela adora sentir o meu respirar junto do corpo, e eu recebo o dela na minha pele, como um bálsamo viciante, provocador, numa permuta contínua, sincopada, quase perpétua que se alimenta uma da outra, mantendo-nos unidos, à vezes insaciáveis, aumentando as sensações num ritmo crescente dos eflúvios e do sangue, em direcção ao cume da vida, ponto de encontro único dos amantes que os deuses marcaram como o climax incontrolável do prazer.
Pergunto-me como demorei tantos anos a descobrir que a união perfeita é afinal bem mais simples do que parece.Basta que saibamos dar a quem amamos o que temos para dar e receber em troca aquilo que nos faz falta.
Ela não prescinde do dióxido de carbono que expiro e eu estaria morto se não aspirasse o oxigénio e a energia química que aquela lindíssima planta me dá através da clorofila e da fotossíntese.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Era tão boa pessoa...

Crica para veres toda a história
Canto lúgubre


1 página

26 junho 2015

Valesca Popozuda feat. Catra - «Mama»



O livro é um genital onde se morre demasiado e desaparecem clandestinas as mãos que nele submergem. E é assim a literatura. Grande e ousada, tal como eu sou e me quero sem ambições brutais, mas fiel ao que rebenta e ao que me entrego despreocupadamente e tal como acontece em natureza, sem qualquer preconceito abro a minha semente ao amor e seja ela o que for, desejo ou apenas um dedo pastor…



Luísa Demétrio Raposo


blog VERMELHO CANALHA